OLIVEIRA, Selmane Felipe de (2011). Ocean. Http://profelipe.weebly.com/ocean.html
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Direitos Autorais Protegidos
Obra registrada na Fundação Biblioteca Nacional
Copyright 2011 / Selmane Felipe de Oliveira
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O INDIVÍDUO E A SUA CONSCIÊNCIA
AS ESCOLHAS CERTAS
AS FASES DA VIDA
SORRISO MONA LISA
PRESENTE, PASSADO E FUTURO
ÓCIO E TRABALHO
JUSTIÇA, ÉTICA E FUTURO
PROFESSORES E LÍNGUAS ESTRANGEIRAS
QUANTO AO "ÜBER COCA" DE FREUD...
LACAN, JAGUAR E PAULO FRANCIS
TRADUTOR
SUPERSTIÇÕES E RELIGIÕES
A HERANÇA DO GOVERNO LULA
DROGAS ILEGAIS
THE ROVER
MÁSCARAS E POLÊMICAS
CD, VINIL OU MP 3?
FAQ - 2 DE FEVEREIRO DE 2011
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O INDIVÍDUO E A SUA CONSCIÊNCIA
Um indivíduo não pode destruir o outro e nem ele mesmo. Nesta perspectiva, a partir da sua existência, ele afeta (vive) no (s) outro (s). Não há como apagar isso, nem com assassinato, nem com suicídio, nem com demissão. O existir não depende do ser humano.
Isso, porém, não significa que o indivíduo não seja responsável por suas escolhas. Como diz Sartre: "ninguém pode salvá-lo dele mesmo." Quem erra deseja perdão. Entretanto, mesmo perdoando-o, o outro não pode resolver a sua consciência. A morte, a loucura, a droga, o álcool ou outra fuga... em algum momento, o indivíduo encontra consigo, não há como fugir. Ele é (e sempre foi) o seu principal problema.
Culpa? Olhe no espelho. Pelo menos, comece pelo espelho. Empresas, governos, religiões, meios de comunicação, sistemas educacionais... tudo contribui para piorar a situação do indivíduo.
Carregar a culpa do outro é inútil. Quem faz isso, pensa em si e não no outro. É mais uma forma de fuga. O seu sorriso irônico agora, nesse momento, diante dessas palavras, não resolve o que você faz, não acaba com o seu medo, não o impede de, um dia, em algum momento, na solidão da existência, talvez diante da morte, enfrentar a própria consciência.
Enganar a si mesmo? Quanto esforço inútil... tantos anos... tantas fugas... e as manipulações? Perceber que, sempre, era um só: o indivíduo e sua consciência.
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AS ESCOLHAS CERTAS
As pessoas ficam velhas. É assim que a natureza funciona. Muitas tentam evitar este processo com silicone, botox e cirurgias plásticas. Entretanto, estes artifícios disfarçam somente o corpo. E a mente? Não existe cirurgia para apagar o passado. Em outras palavras, ninguém chega aos 50 anos sem ter perdas como: divórcio, rejeição dos filhos, falência, desemprego, problemas de saúde, morte de um parente ou fracasso de um grande projeto.
O mundo desaba (ou quase isso). As primeiras reações são as fugas dos problemas com excesso de trabalho, bebidas alcoólicas, drogas, sexo, religião, militância política, entre outras. As fugas adiam o enfrentamento do problemas reais. Em outras palavras, ajudam mas não resolvem o essencial.
Para agravar o quadro, a partir deste momento a possibilidade da morte, que antes era algo distante, parece cada vez mais real. A insegurança quanto ao desconhecido é complicada com o passado do indivíduo. Ou seja, se ele conscientemente prejudicou os outros e pensou só em si mesmo, isso pode tornar-se um peso no final da vida. Não precisa ser algo consciente. A pessoa sente que existe algo errado. Ela não admite que o problema está nela e procura vários médicos, faz muitos exames e nenhum resultado aparece. Os antigos diriam que as cicatrizes da alma não aparecem em radiografias.
Na mesma medida em que o corpo, que parecia tão real, perde a sua força com o tempo, o que era desprezado - o lado emocional - ganha espaço. O indivíduo dorme menos. Dorme mal. Tem pesadelos. Sabe que a morte é uma certeza.
Poderia ter sido diferente? Talvez. Contudo, agora parece tarde demais para fazer certas escolhas... ou melhor, fazer as "escolhas certas".
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AS FASES DA VIDA
Vladimir Zhirinovsky, um populista russo, definia a melhor fase da vida de um homem entre os 40 e 60 anos. ( Playboy, Chicago, 42 (3): 61, march 1995). A expectativa de vida, atualmente, é em torno de 80 anos. Na opinião de Zhirinovsky, a experiência e o conhecimento seriam as bases dos "anos dourados" do homem. Ainda na sua opinião, após os 60 anos, viria a decadência.
Para o mercado de trabalho, a idade produtiva seria entre os 20 e os 40 anos. Existe uma valorização do jovem. Ou seja, de acordo com Maier (Bom Dia, Preguiça! p. 64):
"No plano histórico, a seleção dos 'empregáveis' (...) na área dos planos sociais ou dos cortes de empregados atingiu, de cara, os assalariados com mais de 50 anos. (...) É preciso que se diga que a exclusão dos trabalhadores 'idosos' é um meio hábil para evitar as fontes de contestação: o cinqüentão é menos flexível que o sujeito de 30 anos que descola o seu primeiro emprego estável e que acredita ter sido escolhido para o grande 'casting' da companhia."
Em outras palavras, o jovem, por falta de experiência, é mais ingênuo e, assim, mais fácil de ser manipulado pelos dirigentes das empresas. A relação é desigual na medida em que coloca, de um lado, um indivíduo sozinho, e, de outro, uma corporação organizada a partir de um discurso ideológico que associa a sua proposta como a "modernidade". A força dos meios de comunicação e a alienação (geral) da população confirmam esta ideologia como hegemônica.
A questão que fica, portanto, seria: como sair desta, numa época em que as soluções religiosas e políticas aparecem desacreditadas? As pessoas não acreditam mais em projetos coletivos. O que fica é o consumismo. Isso vem associado ao individualismo e ao cinismo. Sozinho, o indivíduo não consegue derrubar a ideologia que favorece as grandes empresas. É um jogo injusto. Mas, o que pode ser feito?
Se a perspectiva coletiva é descartada, a margem de ação de cada um fica restrita. Na prática, cada um faz o que pode, tenta ajudar e esclarecer o próximo para que todos vivam uma cotidiano melhor. É difícil ser ético num mundo que predominam o consumismo, o individualismo e o cinismo. No fundo, é uma escolha pessoal. O problema é que, principalmente quando somos muito jovens, acreditamos em sonhos e que as perdas e coisas negativas acontecem só com os outros. A elite, que ganha com o jogo atual, conta com esta ilusão.
O resultado deste processo é um jovem que acredita ser um herói, um indivíduo intocável que será sempre feliz. Se hoje se vive até aos 80 anos ou mais, poderia se estabelecer três grandes fases. A primeira iria até aos 19 anos, quando uma pessoa ainda estuda, mora com os pais e, no final, estaria vivendo as primeiras experiências da vida adulta.
Depois viria a fase "produtiva", quando o indivíduo é valorizado pelo mercado, entre os 20 e os 50 anos. É a fase que ele deveria aproveitar para conseguir a independência, sobretudo adquirindo um imóvel para morar, ficando sem depender do outro e sem ter que pagar aluguel. Basicamente, seria como o dito popular: você teria, ao menos, "um lugar para cair morto".
Por último, cada um passaria pela fase entre os 51 e 80 anos (ou mais). É interessante perceber que são duas fases distintas que duram 30 anos: uma que a pessoa é aceita pela sociedade e a outra em que ela é descartada e é percebida como um fardo pelos outros. O indivíduo deveria usar a primeira para se preparar para a segunda. Isso nem sempre acontece por causa da ingenuidade dos jovens e ainda porque existem vários acontecimentos que não são (e nem poderiam ser) previstos nos planejamentos. Ou seja, planejar não é garantia de estabilidade e segurança no futuro. Por outro lado, parece não existir outra alternativa. Admitir as infinitas possibilidades que podem acontecer na vida não significa deixar de (tentar) ser sujeito e atuar para que as conseqüências não sejam negativas. É necessário ainda admitir as limitações biológicas e sociais de cada um. Sêneca (Sobre a Tranqüilidade da Alma, p. 35) dizia: "mas o que haverá de ser feito, se encontrares em época menos dócil da república, é consagrares-te mais ao ócio e às letras." Talvez essas sejam as melhores formas de viver após os 51 anos.
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SORRISO MONA LISA
Para quem realmente tem depressão, estar vivo não representa grande coisa. Pelo menos, sobra um certo "sorriso mona lisa", como alguém que vai contra a natureza do próprio corpo e de suas tendências suicidas. Estar vivo, neste caso, não representa o medo da morte, ao contrário, é comum o depressivo desejar estar morto - o que não significa suicídio. A possibilidade da morte aparece como a segurança de que tudo, aqui neste mundo (não quer dizer que exista outro), tem um fim. Isso é bom. É confortante saber que, independente de como tudo aconteceu, a vida, que teve um início, terá também um desfecho final. O que era antes dela e o que será depois não importa. Mesmo se importasse, são áreas que não dizem respeito aos seres humanos... esses seres que são tão limitados biologicamente e... se consideram deuses, como se tudo no universo existisse em função desta espécie. Hilário.
O homem, assim, lida com o que lhe parece "real" e o que existe entre os tais dois pontos - nascimento e morte. A "evolução" da espécie proporcionou o desenvolvimento da razão e da civilização. Os instrumentos criados para dominar a natureza foram fundamentais neste processo. O resto é detalhe. Foi uma, para os homens, longa "evolução" - as aspas continuam pois nem todos tiveram os benefícios dessas mudanças - sem, contudo, sair do lugar: o planeta terra. OK, o homem foi a lua... e ? Na prática, quanto mais ele desenvolve a ciência, mais ele descobre que sabe menos, que não tem controle sobre o seu destino e que não tem a mínima idéia da causalidade ou da origem dele mesmo, da natureza e de todo o resto. Ele descobre que a razão foi uma ferramenta importante para inventar coerência onde, na verdade, sempre existiu o caos - a começar por sua própria existência.
A emoção faz parte do ser humano, apesar de muitos negarem este lado. Com ela, o convívio com a possibilidade de caos aparece como uma coisa mais tranqüila. Com ela, aquilo que seria uma certeza torna-se dúvida e aquilo que teria uma lógica, fica sem sentido. Não é por acaso que tantos fogem deste lado, pois não existe controle. O problema é que, no lado racional, quando se procura explicar e estabelecer regras para todas as coisas, também, de fato, não representa estabilidade e segurança. Com a emoção, pelo menos, se assume que "é assim e pronto"... que, pelo menos, sentindo algo, pode existir prazer e felicidade, mesmo que seja em momentos rápidos, que passariam como insignificantes se não fossem vividos por aqueles "personagens". É isso. Talvez.
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PRESENTE, PASSADO E FUTURO
Dizem que coisas ruins acontecem com pessoas boas. Se você se considera uma pessoa do "bem", existem dias que você se pergunta se tal premissa não seria diferente, ou algo como: SÓ coisas ruins acontecem com pessoas boas... Claro que isso não é verdade. Os indivíduos são mais complexos e não seria adequado tentar colocá-los em apenas duas categorias.
Não seria razoável dizer que toda relação estaria baseada em causa e efeito, o que significa afirmar que você pode fazer coisas certas, por exemplo, num namoro e, ao mesmo tempo, sofrer conseqüências negativas. Você se sente injustiçado. Entretanto, você não pode fazer nada quanto a isso, afinal, a decisão do outro não depende de você.
Tais fatos geram insegurança. Daí, muitos procuram respostas em, como já afirmei em outros textos, horóscopo, superstição ou alguma religião. Outros acreditam que seus atos são "ditados" pelo destino ou pela sorte. Tudo isso pode ser resumido no medo de admitir que não temos algum controle sobre a vida.
A insegurança e o medo estão associadas à ansiedade. Com o passar dos anos e o aumento das experiências - fracassadas, em sua maioria -, os indivíduos tendem a ficar neuróticos, o que apenas complicaria este quadro. Talvez por isso, por exemplo, você lê notícias sobre suicídios que ocorrem com pessoas com mais de 60 anos (inicialmente, você imaginaria: "se elas agüentaram a vida até os 60, por que desistir no final?).
Uma pessoa que se considera "normal", evitaria procurar um psicólogo ou um psiquiatra, mesmo sofrendo de insônia, falta de apetite, desinteresse quanto ao envolvimento sexual ou algum outro distúrbio. Essa pessoa sempre diz que prefere resolver os seus problemas com familiares ou com os amigos em bares e restaurantes.
O problema é que nem sempre eles - os familiares ou os amigos - podem ou querem ajudar. A resistência em procurar "ajuda profissional" continua e a pessoa procura algumas alternativas que só pioram a situação: alcoolismo, drogas ou auto-medicação.
Não adianta evitar admitir que tem problema no presente, evitar pensar no passado e temer o futuro. O melhor seria esquecer os rótulos - ser "normal" ou não - deixar de se preocupar tanto com as opiniões - sobretudo as críticas - dos outros indivíduos. Agindo desta maneira, você pode não resolver o problema, mas estará conhecendo melhor a sua própria realidade e criando condições para enfrentá-la de um jeito mais saudável.
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ÓCIO E TRABALHO
Já fui um entusiasta de Domenico de Masi. Hoje reconheço que ele soube associar idéias originais de outros autores com o contexto do século XXI. Falo dos pensadores da Grécia Antiga, Sêneca, por exemplo, e de duas obras "clássicas" sobre o ócio no capitalismo: os livros de Paul Lafargue e Bertrand Russell.
O próprio Domenico de Masi reuniu as duas obras, respectivamente, "O Direito ao Ócio" e " O Elogio ao Ócio", em uma coletânea, "A Economia do Ócio", publicada pela editora Sextante.
Gosto das obras de Lafargue e Russell. Talvez a única restrição que eu faria seria em relação ao Russell, que utilizou boa parte do livro analisando 9 pontos em defesa do socialismo. Penso que alguém que queira saber sobre esse tema, seria melhor ler Marx e Engels do que um resumo de suas propostas.
Um livro mais recente, "Direito à Preguiça", de Corinne Maier, pode não ser um clássico, mas é atual e de outra fácil, devido, sobretudo, ao estilo bem humorado e irônico da autora.
No que diz respeito as condições dos trabalhadores, recomendaria outras obras fundamentais, escritas em momentos diferentes: "The Condition of Working Class in England" (London, Granada) em 1845 e "The Making of The English Working Class" (London, Penguin) em 1963.
Acredito que a leitura do conjunto destas obras ajude a entender a ideologia do trabalho e o medo do ócio na nossa sociedade.
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JUSTIÇA, ÉTICA E FUTURO
Algumas vezes, temos a impressão que não existe justiça no mundo. Isso acontece, por exemplo, quando vemos políticos corruptos não pagarem por seus erros e banqueiros prejudicarem os seus clientes e, em seguida, fugirem para outros países.
Muitos religiosos acreditam que essas pessoas devem pagar por seus crimes após a morte, indo sofrer, eternamente, no inferno. É uma forma de consolo. No entanto, continua o incômodo da sensação de que as coisas deveriam ser diferentes, afinal, como seria possível certos indivíduos passarem a maior parte de suas vidas prejudicando, conscientemente, os outros? Qual seria o prazer de ter cada vez mais dinheiro - sem, inclusive, saber o que fazer com tamanha fortuna - a partir do sofrimento de milhares de pessoas?
Aparentemente, as condições criadas pelos homens favorecem aqueles que metem, roubam e matam. Então, por que ser ético? Simples: trata-se de uma escolha pessoal. Não foram os seus pais ou a escola ou os meios de comunicação que determinaram o que você seria. Existem influências, mas, no final, existe a sua escolha também.
Escolher ser honesto não tem a ver com uma recompensa no futuro - aqui ou depois da morte. É uma escolha, o indivíduo acredita que é melhor ser assim. Ele têm escolhas e conscientemente define o seu caminho. Aqui encontra-se a problemática essencial deste processo. Em outras palavras, como diria Sartre, a situação do homem não é definida a partir da existência ou não de Deus. Ela é definida pelo próprio homem e "nada pode salvá-lo dele mesmo." Ou seja, mesmo considerando que os indivíduos usam várias fugas para não lidar com isso, como o excesso de trabalho, bebidas, sexo, casamento, filhos, drogas e religiões, querendo ou não, cada um, sozinho, terá que lidar com seus atos e com a sua consciência.
O homem não pode fugir de si mesmo. Ele pode até optar pela ilusão, mas, num momento, ele terá que enfrentar a "sua" realidade. Ninguém poderá fazer isso por ele. Muitas vezes, esse momento acontece com a proximidade da morte.
Sim, aquele que se julgava dono do mundo, intocável, nunca pagou por seus crimes e dizia que tinha "o poder" e que fazia o que queria... Bem, provavelmente, ele não gostaria de morrer, mas, como todo indivíduo, vai morrer mesmo assim. E o poder que ele julgava ter? E os bens materiais que ele acumulou? A quantidade de dinheiro nas suas contas na Suíça? E todo aquele investimento feito no próprio corpo, com cirurgias plásticas, silicones, entre outros artifícios? Tudo desmanchará no ar?
Diante da morte, nada disto tem valor. Além do mais, existirá um problema: ele terá que enfrentar a sua consciência. Tudo o que acumulou, ele perdeu no final. Valeu a pena matar, levar tantas pessoas ao sofrimento? O que acontecerá com ele depois da morte? Ele sabe que foi desonesto e mal... e se realmente existir punição para o que ele fez em outro lugar ou em outra vida? O que poderia ser uma dúvida (daí todas as fugas que ele buscou...), finalmente, apesar dele não concordar, será um fato: a morte. Ninguém poderá resolver isso por ele. O dinheiro não terá valor. Os milhares de funcionários não poderão assumir o seu lugar. Ele estará sozinho diante da certeza - a morte - e, no máximo, com um passado de atos, de tudo que ele fez na vida... Não será considerado o que ele prometeu, o que ele falou mas não fez, as suas intenções...
De fato, você é o que você faz, você é a sua prática.. Em suma, diante da vida, das escolhas feitas, que justiça maior poderia ser o fato de que você é o seu passado e o seu futuro é a morte. Coisas ruins acontecem com pessoas boas. A diferença, contudo, está na consciência: aquele que foi ético - sinceramente bom e tentou ajudar o próximo - não terá problemas em enfrentar o futuro. A sua consciência estará tranqüila e essa paz não terá preço, independente do que seja a morte ou do que possa acontecer com a humanidade. Você que fez a coisa certa... "welcome to the club!"
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PROFESSORES E LÍNGUAS ESTRANGEIRAS
No Brasil, para fazer o mestrado, é necessário ser aprovado em uma língua estrangeira e, no doutorado, são duas línguas. Nas principais universidades do país, o espanhol não é aceito nos exames. A primeira opção dos candidatos é o inglês. A segunda depende do candidato, mas acredito que o francês deve ser uma das mais escolhidas.
Entretanto, isso não significa que os mestres e doutores brasileiros saibam, de fato, as línguas estrangeiras. O comum é a leitura das traduções e não das obras originais. É comum ver, por exemplo, em um congresso de especialistas, a palestra de um professor da Inglaterra sendo acompanhada por uma platéia que, em sua maioria, usa fones de ouvido para tradução simultânea.
Nos livros, mesmo tendo acesso a obra original, o autor deve traduzir o trecho que pretende citar. Isso não é comum fora do Brasil, especialmente nos livros científicos publicados nos países da Europa Ocidental. Um exemplo seriam os livros de bolso publicados pela editora Reclam da Alemanha. Jürgen Habermas publicou um coletânea de ensaios neste formato com o título de "Politil, Kunst, Religion" (1978). Em um dos textos, "Hanna Arendts Begriff der Macht", ele cita um trecho da autora escrito originalmente em inglês. A citação é feita nessa língua, sem tradução, mesmo que o resto do ensaio esteja em alemão.
No Brasil, isso não acontece. Entretanto, podemos encontrar publicações bilíngües - texto original e a respectiva tradução - no país. É um bom começo.
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QUANTO AO "ÜBER COCA" DE FREUD...
Para quem mora na rua, sem família e sem qualquer perspectiva de vida, o "crack" aparece com uma alternativa razoável para encarar o cotidiano. É uma forma de auto-destruição, claro, assim como o alcoolismo.
O crack foi criado a partir dos restos da cocaína, para ser mais barato e ser consumido pelas massas populares. É mais destrutivo também. A cocaína é muito cara, é a droga de artistas famosos - Charlie Sheen, antes de agredir a esposa e ser preso, havia consumido cocaína - e dos executivos - esses a utilizam para trabalhar.
Provavelmente, a droga de hoje não é mesma que os índios usavam antes da colonização e nem a que fascinou muitos médicos dos países "desenvolvidos" no século XIX. Em seu artigo "Über Coca", escrito em 1884, Freud escreveu:
"No momento, parece haver nos Estados Unidos indícios de amplo reconhecimento e utilização dos preparativos da coca, enquanto na Europa os médicos mal os conhecem de nome, O fracasso da coca em fixar-se na Europa, fato que, na minha opinião, é imerecido, talvez possa ser atribuído a informes de conseqüências desfavoráveis resultantes de sua utilização e veiculados pouco depois de sua introdução na Europa; ou à qualidade duvidosa dos preparos, sua relativa escassez e preço elevado decorrente." (p. 78)
Sim, Freud foi um dos entusiasta do uso da cocaína, tanto nele como em seus pacientes. Nesse artigo (em 1884) , ele reconhecia que "a pessoa sente um aumento do autocontrole, maior vigor e capacidade para o trabalho." (p. 75) Talvez por isso ela seja a droga mais utilizada pelos executivos até hoje.
Freud estava correto quanto aos efeitos imediatos da droga. Contudo, a cocaína não apresentava somente características positivas. Imagino que, por isso, deve ter sido proibida na maioria dos países. Deve ser considerado ainda que Freud escreveu outros artigos sobre a droga e que as suas experiências ocorreram, basicamente, no final do século XIX e hoje vivemos no século XXI.
Falar do uso livre de drogas na Holanda, atualmente, é óbvio demais. Nos Estados Unidos - um dos grandes líderes na luta contra as drogas -, a maconha é usada, na Califórnia, como forma de remédio para algumas doenças. De fato, o problema é complexo. Lá tentaram proibir as bebidas alcoólicas e não deu certo. Os efeitos práticos do alcoolismo não são tão diferentes do que acontece com os usuários de drogas. Isso não significa, porém, que tudo deve ser livre.
Em suma, não defendo a liberalização do uso das drogas. O que eu sou contra é a hipocrisia dos executivos e dos políticos, que consomem a droga "em particular" e se apresentam como conservadores e moralistas "em público".
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LACAN, JAGUAR E PAULO FRANCIS
Lacan nunca foi claro em seus textos. Nunca se preocupou com isso. Contudo, isso não parece afetar o seu grande número de seguidores e admiradores.
Ainda prefiro Freud, mas reconheço que Lacan traz algumas problemáticas interessantes para o debate. Alguns exemplos:
"A análise demonstra que o amor, em sua essência, é narcísico. (...) O amor é impotente, ainda que seja recíproco, (...) o que nos conduz ao impossível de estabelecer a relação dos... A relação dos quem? - dois sexos. (...) "Vocês não vêem que o essencial do mito feminino de Don Juan é que ele as tem uma a uma? (...) Da última vez eu disse que o gozo do Outro não é signo de amor. (...) Joguei ano passado com o lapso ortográfico que fiz numa carta endereçada a uma mulher - jamais saberás o quanto eu tenho te amada - a em vez de o. Quiseram me apontar depois que aquilo queria talvez dizer que eu era homossexual. Mas o que articulei precisamente no ano passado foi que, quando a gente ama, não se trata de sexo." (os grifos são meus - Livro 20 - mais, ainda -, p. 14, 19, 27 e 37)
Primeiro, no que diz respeito ao amor: você ama, basicamente, você mesmo. A relação amorosa entre duas pessoas não seria possível. O amor é abstrato.
Em segundo lugar, quanto ao sexo: ele é real. Trata de preservar a espécie. Todos os animais, por instinto, realizam tal ato. Daí que "o gozo do Outro não é signo de amor." É, na verdade, a realização de um desejo "natural". Gozar é o resultado do sexo.
A citação da homossexualidade é óbvia: "quando a gente ama, não se trata de sexo." Afinal, o amor seria "outra" coisa.
As pessoas, como os animais, são sexuais. Eu diria mais, estão sendo sexuais, ou seja, querer colocá-las em categorias fechada, como heterossexualidade ou homossexualidade, seria um erro. O cartunista Jaguar perdeu a amizade do jornalista Paulo Francis após insinuar, numa pergunta, que o amigo poderia ter tido uma aventura homossexual. Na minha opinião, os dois estariam errados: Jaguar por ter usado uma fofoca contra um velho amigo e Francis por ter se sentido indignado com a pergunta. Se a aventura aconteceu ou não, pouco importa. O fundamental é como, mesmo no caso de dois intelectuais, a questão dos rótulos parece ser mais relevante do que outros valores - amizade, respeito, ética, amor, entre outros - em nossa sociedade.
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TRADUTOR
O Caetano Veloso, em uma de suas músicas, diz que só seria possível filosofar em alemão. Essa idéia, se eu não me engano, era defendida originalmente por Martin Heidegger.
Eu fiz o curso básico de alemão, na época que fazia faculdade. Fui na Alemanha três vezes e, especialmente em Berlim, não era fácil encontrar alguém que falasse em inglês. Assim, não havia alternativa a não ser utilizar a língua original. Fiz isso. Contudo, não significa que eu fale alemão. É difícil encontrar algum brasileiro que realmente fale essa língua. O Jô Soares, que estudou na Suíça e diz que fala alemão, na hora que foi entrevistar o Beckbauer, "preferiu" que a entrevista fosse em inglês.
Eu não sou tradutor, nem de inglês nem de alemão.Também não sou daqueles que odeiam tecnologia e rejeitam as suas facilidades. Eu sei que cada vez fica mais fácil traduzir um texto "automaticamente" de uma língua para outra, mesmo considerando que a tradução não seja lá essas coisas. Não sou do tipo implicante que acredita que você só pode ler um texto na língua em que ele foi escrito.
Assim, quando posso, leio o original, mas não me importo em ler também as traduções. Naturalmente, algumas vezes eu comparo os textos e aqui realmente surge um problema: assim como nos filmes, algumas vezes, o que é traduzido não representa o original. Trata-se da imaginação do tradutor. Posso dar um exemplo: o texto "Fausto" de Goethe. Numa das falas da personagem "Lustige Person", é dito:"Wenn mit Gewalt an deinen Hals / Sich allerliebste Mädchen hängen." Isto é traduzido por: "Ou quando em teu pescoço apóiam-se amorosas / As jovens que tanto gostas." Apesar da tradução do "se" (wenn) por "ou", o sentido original da frase permanece. Agora em seguida aparece o trecho:
"Wenn nach dem heft'gen Wirbeltanz
Die Nächte schmausend man vertrinket,
Doch ins bekannte Saintenspiel
Mit Mut und Anmut einzugreifen,
Nach einem selbstgesteckten Ziel
Mit holdem Irren hinzuschweifen."
TRADUÇÃO:
"Ou se ficas em danças loucas, violentas,
Toda noite a comer e beber em alegria,
Entregue a orgia.
Hoje, a música de outrora podes lembrar,
Fazê-la ressoar com vigor, sem parar
Para um fim almejado
Por suas atalhos alcançados."
Como seria possível tal "liberdade" do tradutor? Não digo apenas no sentido das palavras, mas no contexto das frase e de todo o parágrafo. Onde o tradutor foi encontrar, por exemplo, no texto original, a frase: "toda noite a comer e beber em alegria, entregue a orgia." (?!)
Imagino que esta não deve ser uma profissão fácil, sobretudo, se for levado em consideração o ponto de vista da consciência do próprio profissional, claro. Afinal, a maioria lê pouco e praticamente apenas as traduções, sem se preocupar, muitas vezes, com o sentido do texto... Imagino se este tipo de leitor questionaria se o autor alemão queria realmente dizer aquilo...
De qualquer maneira, quando você resolve pesquisar um pouco mais, questionar, acaba descobrindo ou lidando com tais dúvidas ou polêmicas. Isso não é ruim. Como em quase tudo, saber mais é sempre útil, na medida em que ajuda o indivíduo a ver melhor a realidade das coisas e das pessoas, podendo, assim, separar as cópias superficiais dos originais.
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SUPERSTIÇÕES E RELIGIÕES
Algumas superstições, aparentemente, em nada tem a ver com o zodíaco, como o número 4 para os chineses ou passar embaixo de escada ou jogar o sal sobre o ombro.
Outras, porém, estão associadas à cruz do zodíaco, como, quando bocejar, você deveria tampar a boca para o diabo não entrar, principalmente se for uma sexta 13. O zodíaco possui 12 signos e daí vem a importância dada ao número 13.
Existe gente que acredita que por ter nascido em uma época do ano, que corresponde a um signo, seria possível prever os acontecimentos de sua vida.
A construção da cruz do zodíaco foi feita, sobretudo, a partir da observação feita pelo homem em relação aos movimentos do sol, durante o dia, e das constelações, à noite. A partir disto, seria possível prever, por exemplo, as estações do ano: primavera, verão, outono e inverno.
De acordo com o documentário "Zeitgeist", muitas religiões foram criadas a partir disto.
De fato, religiões e superstições foram inventadas pelos seres humanos com o objetivo de estabelecer algum tipo de controle sobre o futuro. Acreditar no horóscopo faz parte deste processo.
Tudo isso está associado à falta de sentido na vida - você não sabe por que está neste mundo e nem o que acontecerá após a sua morte - e a insegurança de cada pessoa. É complicado admitir "o nada" ou a "não existência". É difícil aceitar que as coisas, no universo, existem sem a humanidade.
Qual seria a solução, então? Como diria Jean-Paul Sratre:
"il faut qui l'homme se retrouve lui même et se persuade que rien ne peut le sauver de lui-même, fût-ce une preuve valable de l'existence de Dieu." (Gallimard, p. 77-78)
Se Deus existe ou não, deixa de ser o ponto principal, na medida em que "nada pode salvar o homem dele mesmo." A resposta, talvez, esteja aí. Não era por acaso que Sartre considerava a sua teoria, o "humanismo", uma forma de otimismo.
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A HERANÇA DO GOVERNO LULA*
(*) Este texto foi escrito em 3 de janeiro de 2011.
Diferente da idéia que o ex-presidente Lula tentava passar para a população, o a história do Brasil não começou em 2003. A estabilidade da economia não foi mérito do governo petista e sim dos governos de Itamar Franco e de Fernando Henrique Cardoso (FHC). Nesta área, Lula deu continuidade ao que fizeram os outros dois presidentes.
A educação é marcada pelo descaso no país. No ensino superior, a palavra "medo" mudou de lugar nas manchetes dos jornais: na época de FHC, havia o medo dos donos de faculdades de verem suas instituições fechadas por causa das notas ruins no provão e, no governo Lula, existiu o medo de demissão por parte dos professores-doutores em cada fim de semestre. Durante os oito anos de Lula, foi criada a mentalidade de que fazer doutorado significaria desemprego e que saber menos era melhor.
Em 2011, começam propagandas do MEC dizendo que "ser professor é bom". Seria uma mudança de postura no governo Dilma? A presidente terá que fazer cortes no orçamento do governo e parece que uma das áreas será a educação. Se for isso, a velha contradição entre o discurso e a prática será uma marca de continuidade dos governos petistas. Por outro lado, se o "novo" dizer for levado a sério, Dilma Rousself perceberá que precisará bem mais de quatro anos para consertar o estrago foi pela administração de Lula. A mentalidade de uma população não é alterada com decreto lei. A herança de Lula foi clara: ser professor é ruim e estudar, sobretudo fazer mestrado e doutorado, seria um erro.
Entre os excessos de gastos ocorridos nos 8 anos de Lula, o funcionalismo foi um destaque. A presidente atual terá que administrar isso. Lula criou novos institutos e universidades federais. Fez uma interiorização do ensino superior. Isso demandou a contratação de inúmeros profissionais por parte do governo federal. Essa conta terá que ser paga. Lula sempre enfatizou a quantidade. Isso custa caro e prejudica a qualidade: de que adianta você manipular os índices de educação se o Brasil continua entre os últimos colocados no ranking mundial?
Dilma Rousself terá que fazer escolhas. Sofrerá críticas de Lula e talvez do PT. Não será possível continuar na linha administrativa de Lula sem prejudicar a economia do país, inclusive com o risco do retorno da inflação. Na prática, "escolher" será "consertar" os erros de Lula. Isso significará problemas: impopularidade e críticas do agora antigo governo. Mas, existe outro caminho? Se a opção for não mudar a linha administrativa, o resultado será um desastre para o país. Entretanto, poderá ser "bom" para Lula que aparecerá, em 2014, como o "salvador da pátria". Se esse for o plano do PT, a questão que fica, obviamente, é: funcionará?
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DROGAS ILEGAIS
Frank Sinatra defendia a idéia de que seria válido o uso de qualquer coisa para se conseguir "passar a noite" (os adultos conhecem bem os problemas associados à insônia), desde o uso de pílulas até às doses de Jack Daniel's. Concordo. Depois dos 30 anos, com uma bagagem razoável de experiências e frustrações, dificilmente um indivíduo civilizado consegue dormir sem o uso de algum "artifício". Não é por acaso que o Rivotril é o remédio mais vendido do Brasil.
No que diz respeito às "drogas ilegais", existe muito falso moralismo e polêmicas desnecessárias. Freud defendia, durante uma fase, o uso da cocaína. Atualmente, utilizam maconha com fins médicos. De fato, o caráter da legalidade ou não de determinada droga depende do país e de sua legislação - o exemplo "clássico" é a liberdade de uso na Hollanda.
Uma polêmica engraçada é a defesa da maconha contra o uso de outras drogas. A base da argumentação seria que a maconha seria natural. Existe religião - o rastafari - que permite o seu uso e é contra a utilização de bebidas alcoólicas. No Brasil, o Santo Daime existe a partir de uma bebida alucinógena que não é considerada ilegal.
Na década de 1960, as drogas significavam libertação e eram divulgadas por artistas e intelectuais. A partir dos anos 1990, houve um aumento significativo do uso de drogas "não-naturais", que, por um lado, era criticado por gente como Selton Melo (revista Veja) - "esses jovens estão loucos (...) Aí, chega o final de semana e eles correm para as raves. É a geração da droga sintética." - e por outro, era elogiado como uma novidade interessante por artistas como Noel Gallageer do Oasis (revista Vox) - "no início da década de 80, não havia Ecstasy ou drogas pesadas como existem agora. Era só cheirar, fumar cigarros, beber (...) e ouvir os Sex Pistols."
O que permanece em comum, nas últimas décadas, é a intolerância, na maioria dos países, quanto ao uso das "drogas ilegais". o discurso homogêneo que coloca a droga com a principal causa dos males da sociedade possui uma forte base ideológica e serve para desviar a atenção sobre os reais problemas das pessoas. Por outro lado, não há como negar que "a indústria da droga" - sobretudo o tráfico - esteja associada aos altos índices de criminalidade e de violência que ocorrem principalmente nas grandes cidades. E aí? Por enquanto, parece não existir "uma solução geral" para o problema. Cada país, de maneira democrática, deve estabelecer as suas normas quanto ao uso e ao comércio das drogas, definindo o que seria legal ou não.
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THE ROVER
Eu sempre fui fã do Led Zeppelin. houve uma época que não havia fã-clube do grupo no Brasil. Então, decidi criar The Rover, que foi um fanzine trimestral - existiu entre 1984 e 1986. Eu datilografava o jornal e traduzia as matérias. No final, colocava as fontes e os agradecimentos quanto aos que me ajudavam naquele volume.
Havia as "newsletters", com uma folha apenas. Elas eram enviadas quando havia algo especial, como uma entrevista e alguma notícia de última hora. Eu assinava um jornal norte-americano chamado Feathers in The Wind, que era uma fonte importante sobre as atualidades dos músicos do Zeppelin.
No período - 1984-1986 -, o computador pessoal não era comum e não havia internet. Eu estudava inglês, francês e alemão, mas ainda cometia muitos erros em relação ao português - que apareciam no The Rover. No Brasil, os shows de bandas internacionais eram raros - o que mudaria com o Rock in Rio em 1985. Estive lá para prestigiar "a noite do heavy metal", com Whitesnake, Ozzy Osbourne, Scorpins e AC/DC.
O surgimento de outros fã-clubes do Led Zeppelin no Brasil e o fim do jornal Feathers in The Wind foram os principais fatores que levaram-me a encerrar as atividades do The Rover.
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MÁSCARAS E POLÊMICAS
O grupo Secos & Molhados revolucionou a MPB na sua curta existência. Em plena ditadura militar, músicos mascarados e andróginos confundiram e excitaram o imaginário nacional. O auge foi em 1973. Nos Estados Unidos, em fevereiro de 1974, era lançado o primeiro álbum de outra banda de mascarados: o Kiss. A primeira diferença seria que o grupo norte-americano existe até hoje. Existe uma certa polêmica se eles copiaram a idéia das máscaras dos Secos & Molhados ou não. Os membros do Kiss já falaram que eles foram influenciados pelo teatro japonês. De fato, porém, antes deles lançar o primeiro LP, a banda brasileira já era um grande sucesso e a hipótese de cópia do Kiss não parece ser absurda.
O músicos do Kiss tiraram as máscaras a partir do álbum "Lick It Up". Antes eles escondiam as suas identidades e não apareciam em público sem as máscaras. Foi o disco sem dois membros originais da banda: o baterista Peter Criss e o guitarrista Ace Frehley. Foi também o início de um período de decadência do grupo, reconhecida atualmente pelos próprios músicos. Foram quase duas décadas de discos e músicas inexpressivas, além de ocorrer a troca de músicos, exceto os considerados donos do Kiss: o baixista Gene Simmons e o guitarrista Paul Stanley.
As coisas mudaram quando foram gravar o "unppluged" da MTV e convidaram os antigos músicos da fase original. Fizeram uma apresentação usando as máscaras, como na década de 1970 e foi uma grande sucesso. Gravaram um cd com os quatro músicos - "Psico Circus" - e fizeram uma "tour" mundial. Entretanto, mesmo com o sucesso, como havia ocorrido antes, os conflitos internos predominaram e houve as saídas de Peter Criss e Ace Frehley. A diferença, desta vez, foi que os novos músicos utilizariam as mesmas máscaras de Criss e Frehley, representados, respectivamente, como "The Catman" e "Space Ace". Os outros personagens seriam "The Demon" (Gene Simmons) e "Starchild" (Paul Stanley). Na primeira vez que foram substituídos no Kiss, a opção havia sido outra: o guitarrista Vinnie Vincent usou a sua própria máscara e o mesmo aconteceu com o baterista Eric Carr.
Uma observação sobre os personagens originais: apesar de ser "The Catman", Peter Criss utilizava um grande crucifixo no peito, nos primeiros shows. Posteriormente, ele tatuaria o crucifixo no braço. Talvez ele tentasse ser um contra-ponto ao personagem de Gene Simmons - "The Demon" -, que gerava mais polêmica e levava as pessoas a associaram a banda com o ocultismo, descrevendo as iniciais do nome do grupo como "Kings (ou Kids) In Satan's Service". O último show dos músicos, usando máscaras, foi no Brasil, no Maracanã. Na época, em Belo Horizonte, houve protestos de religiosos contra os shows do grupo no país.
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CD, VINIL OU MP 3?
The Sisters of Mercy é uma banda adequada à realidade: as pessoas não compram mais cds ou dvds, elas fazem "download" do que desejam e pronto. O grupo existe desde de 1980, lançou diversos "singles", duas coletâneas, um EP, três álbuns - "First, Last and Always", "Floodland" e "Vision Thing". O último CD foi lançado comercialmente em 1990.
Eles continuam criando novas músicas e tocando-as em shows que fazem todos os anos - não é o tipo de banda que toca só os "clássicos". No website oficial, disponibilizam as letras e, algumas vezes, vídeos das músicas. Na prática, os fãs gravam os shows e trocam as músicas - inclusive as inéditas - na internet. Os músicos ganham dinheiro com os shows.
Não existe a velha polêmica sobre os direitos autorais ou como punir os fãs que fazem "download" - o que as gravadoras tentaram, sem sucesso. Com as novas tecnologias, sobretudo a internet, existe uma nova forma de ouvir música. A famosa Tower Records de Londres fechou as portas.
É bom ou é ruim? A qualidade do vinil seria melhor que a do cd, que seria melhor que a do MP 3? Bobagem. Existe uma nova realidade. A questão é como viver nela sem fazer papel de ridículo, como foi o caso dos músicos do Metallica que tentaram, desesperadamente, lutar contra a troca de música gratuita na internet. "Welcome to the new world." Talvez não seja tão novo assim... Afinal, sempre existiu, existe e existirá quem realmente sabe fazer as coisas e aquele tipo de indivíduo faz algo só pelo dinheiro.
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FAQ - 2 DE FEVEREIRO DE 2011
1 PERGUNTA: O que você faz?
. RESPOSTA: Eu sou professor e pesquisador.
2 P: O que você tem feito?
. R: Leio, escrevo livros e artigos. Publiquei três livros no meu website: "Lenda Urbana", "Auras & Horus" e "Elder".
3 P: E as aulas?
. R: Eu trabalhei 16 anos no ensino superior. Agora estou no sabático.
4 P: Por quê?
. R: Atualmente, as pessoas não valorizam o doutorado no Brasil. Na maioria das escolas de ensino superior, eles não contratam doutores pois acreditam que são caros. Eles não se importam com a qualidade ou a pesquisa científica.
5 P: O que você disto?
. R: Esta é a mentalidade dos proprietários de faculdades, centros universitários e universidades. Eles pensam só no lucro. O último governo não era contra esta política. A educação brasileira é quase a pior do mundo. Isso é serio e ruim. Entretanto, as pessoas não se importam...
6 P: Se você você vivesse em outro país, seria diferente?
. R: Provavelmente. Mas eu vivo num país tropical e aqui as pessoas preferem coisas como as novelas, o BBB, o axé, o pagode e o sertanejo. A ciência não é a principal preocupação.
7 P: Então, por que você estudou tanto?
. R: Eu sei como a ideologia funciona. Isso é possível quando você tem a capacidade de ler. Eu sou historiador. Eu sou Doutor pela PUC de São Paulo. Publiquei 6 livros. Gosto de estudar. Se a maioria não concorda com este estilo de vida, tudo bem, é o que eu faço.
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