OLIVEIRA, Selmane Felipe de (2011). Zeit. Http://profelipego.weebly.com/zeit.html
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Direitos Autorais Protegidos
Obra registrada na Fundação Biblioteca Nacional
Copyright 2011 / Selmane Felipe de Oliveira
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FILOSOFIA DE BAR
SECRETÁRIAS E PRECONCEITO
TÍTULOS E CONTEÚDOS
REFLEXÃO E SILÊNCIO
THE MONKEES & JIMI HENDRIX
PODER E EXPECTATIVAS
BENS MATERIAIS
AS INVASÕES BÁRBARAS
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FILOSOFIA DE BAR
Li o "Pequeno Príncipe" uma vez, em inglês... Irônico. Lembro algo como você seria responsável por aquela pessoa que cativa. Em outras palavras, você seria culpado pelo que prova no outro. Seria isso? Afirmação problemática e... infantil. Trata-se simplesmente de transferência de responsabilidade. A relação humana é mais do que isso. Todos provocam todos. Claro que alguns possuem ferramentas mais eficazes - os meios de comunicação, por exemplo. Outros preferem - de maneira consciente ou não - a alienação, ou seja, querem ser enganados.
Tudo isso complica o que acontece numa relação e dificulta achar "o culpado". Isso não significa, porém, que seria algo relativo, que dependeria do ponto de vista de cada um. Como sempre digo, "um murro na cara é um murro na cara", não existe dúvida de quem foi o sujeito e de quem foi o objeto em tal acontecimento. Os motivos para o murro, quem estava certo, quem estava errado, o contexto social, etc, etc... representam outro debate, que não tiram a objetividade do fato em si.
As pessoas pensam pouco nesta questão: o que você provoca no outro? Ou talvez pensem pouco nas conseqüências de suas escolhas e de seus atos. O resultado? Confusão. Briga. Raiva. Arrependimento. Sentimentos que todos conhecem. Daí, após o erro, aparece a filosofia de bar: "e se...??" Pois é, como dizem, o "se" não resolve coisa alguma. Serve, no máximo, para desviar a atenção do que efetivamente ocorreu.
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SECRETÁRIAS E PRECONCEITO
Dei aulas na faculdade para alunas do Secretariado. Respeito a profissão. Entretanto, não há como negar que existe preconceito quanto às secretárias.
Entre 1954 e 1956, Roland Barthes escreveu vários ensaios sobre o cotidiano na França (publicados no livro "Mitologias"). Na época, havia concursos de "strip tease" e as candidatas eram "situadas socialmente." Neste sentido, Barthes destacava que existiam "muitas secretárias no 'Clube de Strip tease'." (p. 96) Isso pode ser associado a idéia de que para ser secretária a mulher deve ter "boa aparência".
Em outro momento, 2004, no mesmo país, Corinne Maier dizia que as secretárias "padecem de um enorme complexo de inferioridade vinculado ao desprezo injusto que a sociedade francesa tem pelas tarefas ditas 'servis'." (p. 131) Os dois fatores - "boa aparência" e o complexo de inferioridade - podem ser relacionados com o mito de que toda secretária tem um caso com o patrão. Nesta fantasia, ela seria bonita, ingênua e acreditaria que o amante estaria casado só por causa dos filhos e que, um dia, abandonaria a esposa para ficar exclusivamente com ela.
Alguns podem afirmar que isso não seria fantasia e sim representaria um fato, na medida em que conheceriam várias mulheres nesta situação. No entanto, fatos dessa natureza reforçam uma idéia que não é verdadeira: toda secretária tem um caso com o patrão. Assim, é também correto afirmar que nem toda secretária tem complexo de inferioridade. Esses mitos, na verdade, funcionam mais para preencher um expectativa dos homens. Seria como classificar as profissões e definir em quais poderiam ser encontradas "as mulheres mais fáceis". Trata-se de uma bobagem. É apenas mais uma ilusão machista que serve para reforçar a suposta superioridade masculina. O pior, contudo, é reconhecer que muita gente acredita nisso.
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TÍTULOS E CONTEÚDOS
Não penso muito na criação dos títulos dos meus textos opinativos. Não tenho critério. Acabo de escrever, escolho umas duas palavras e pronto. Acredito que o que era para ser dito ficou no conteúdo do texto.
Eu sei que o resultado não é dos melhores. Não me importo. Pelo menos, não são tão estranho como os títulos dos cds do Robert Plant, como "o princípio dos momentos" ou o "destino das nações". Também não é um processo tão anárquico como o feito pelos produtores da série "Two and Half Men", que escolhem o título do episódio a partir do que existe que de mais ridículo no roteiro
Num texto científico, sobretudo numa dissertação ou tese, o título é uma coisa muito séria. Tem que, de certa forma, resumir o conteúdo do trabalho. Não pode ser algo definido aleatoriamente. Quantos aos textos opinativos, acredito que exista mais liberdade tanto quanto ao próprio texto - sem se preocupar com o rigor das regras da ABNT - como no que diz respeito aos títulos. É isso.
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REFLEXÃO E SILÊNCIO
As pessoas não entendem uma atitude que não possa ser enquadrada nas ideologias do trabalho e do consumismo. Precisar do silêncio, ficar isolado em casa, lendo e escrevendo parece, aos olhos da maioria, algo estranho. provavelmente, como diria Byron, trata-se da "afirmação da vontade do indivíduo que não se realiza no mundo e se volta à sua interioridade como única forma possível de expressão."
Sêneca associa o isolamento aos infortúnios do destino, quando "a alma deve recolher-se a si mesma (...) ela não se ressente das perdas materiais e interprete com benevolência até mesmo as coisas adversas."
Os conselhos de Sêneca visam a busca da tranqüilidade. São importantes e deveriam ser lembrados na atualidade, quando se valoriza a acumulação de capital e a ostentação.
Acredito que o processo de reflexão se realiza melhor com simplicidade e humildade. Escolher o silêncio, algumas vezes, é fundamental. O convívio social deve ser retomado, mas no momento que o indivíduo achar efetivamente adequado.
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THE MONKEES & JIMI HENDRIX
Quando eu era adolescente, costumava ver a série dos Monkees na TV. Tratava-se de um grupo criado pela indústria cultural para aproveitar o sucesso de bandas como os Beatles.
The Monkees era uma cópia dos rapazes de Liverpool. O simulacro ainda ganhou "vida" em discos e shows. O pior foi que, na época, o Jimi Hendrix foi escalado para abrir os shows dos garotos. Como isso seria possível? Seria algo como o AC/DC ou o Megadeth abrir um show para grupos como New Kids on The Block ou Backstreet Boys... Certamente o empresário de Hendrix deve ter achado que daria certo. Não deu. Em 29 de julho de 1967, saiu a notícia no New Music Express:
"Problemão com as garotinhas. Hendrix ligou para o NME para dizer que deixou a tour dos Monkees nos Estados Unidos. (...) Ele disse que os pais das jovens fãs dos Monkees o acusavam de ser vulgar."
Certamente você já ouviu falar de Jimi Hendrix e sabe a sua importância na história do rock. E os Monkees? Foi uma moda passageira como seriam os outros grupos criados pela indústria fonográfica, como Menudo, Bros (sucesso só na Europa), New Kids on The Block, Backstreet Boys, entre tantos outros.
Uma vez, vi um show de um grupo de mulheres, Go Go's, que eram acusadas de não tocar os próprios instrumentos. No show, atrás da meninas, dava para ver os verdadeiros músicos fazendo o trabalho. Isso foi em 1985. Atualmente, é comum cantores, cantoras e grupos que tocam "playback" em shows que deveriam ser ao vivo. Britney Spears não é a única. Patético.
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PODER E EXPECTATIVAS
A fantasia que alguém pode ter a meu respeito é só isso: uma ilusão inventada por um indivíduo que deseja fugir de suas próprias fraquezas. Não sou obrigado a atender a expectativa de uma pessoa ou de uma instituição, seja família, igreja ou qualquer outra.
Não tenho interesse em fazer "profiles" dos outros. Talvez seja um erro, pois nem sempre percebo que alguém age de má fé.
Acredito que o risco vale a pena. Parece ser melhor do que gastar o tempo analisando estratégias infantis que visam - ingenuamente - usá-lo como objeto. Quem utiliza essas estratégias, olha para o outro para não enxergar a si mesmo. É uma fuga. É irônico que gente assim ainda acredita que tem o poder.
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BENS MATERIAIS
Quem nunca viajou para o exterior, não entrou, por exemplo, no Coliseu de Roma, não entende por que uma pessoa gasta tanto com uma viagem ao invés de trocar de carro ou obter outro objeto da moda. A mesma lógica persegue aquele que não fez um curso superior. Costuma dizer: "de que adianta fazer uma faculdade, se o indivíduo ganha tão pouco depois?" Normalmente, este tipo de pessoa trabalha em excesso para adquirir os seus bens materiais. Com eles, se julga superior àquele que estudou, viajou e adquiriu cultura. De fato, não entende o conceito de cultura. Acha que seria algo inútil.
"Educação, para quê? Eu ganho mais do que esses médicos por aí..." Alguém já ouviu isso ou algo parecido? "A educação quer dizer enriquecer as coisas de significados." (Dewey, apud, Masi) Em outras palavras, as coisas não são riquezas. Elas são meios. A utilidade de uma coisa acaba no momento em que se adquire algo melhor. Os objetos são descartáveis. Assim, qual seria o sentido de acumular bens materiais? A pessoa trabalha em excesso para possuir mansões, carros, iates, aviões e... daí? A noção de posse é ilusória. O indivíduo não é dono dos objetos e nem do seu próprio corpo. Como dizem, "após a morte, ele não leva coisa alguma."
Então, para quê desperdiçar o tempo da vida em atividades inúteis para comprar coisas que a pessoa não precisa e que - mesmo nesse ponto de vista - não podem ser efetivamente dela? Ideologia. Ela acredita no que vê. Ela quer ser como a maioria. Ela não quer problematizar a sua condição humana e aproveita o discurso hegemônico da sociedade para fugir dela mesma. Ela teme tanto a morte que esquece de viver o presente. Não olha para o passado, pois tem medo de lembrar o que aconteceu. No máximo, ela olha o passado como enxerga o presente: de forma ilusória, ou seja, o que era fracasso é visto como vitória, o que era dor é amenizado ou omitido. Ela diz que vive o cotidiano, mas está sempre ocupada, não tem tempo para ela mesma. Ela sempre corre... para onde? Ela foge... do quê? Refletir? Não existe tempo para isso. Ela acredita que o importante é só aquilo ela vê. Esquece que um dia, aquilo que a representa com um "ser material" - o seu corpo - necessariamente desaparecerá.
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AS INVASÕES BÁRBARAS
No filme "Les Invansions Barbares", um professor universitário é afastado por causa do câncer. No hospital, ele reclama que o reitor no foi despedir dele. Na sua última aula, era clara a indiferença dos alunos.
Para piorar, numa discussão com o filho, o velho professor tem que ouvir a seguinte crítica: "... o que é melhor que mofar em uma universidade medíocre em uma província atrasada." Para quem trabalhou tanto tempo em duas faculdades do interior, como foi o meu caso, trata-se de uma crítica e tanto.
Em suas reflexões, ele afirma que sentirá saudades sobretudo dos livros e das mulheres. Arrependimento? Ele diz que gostaria de ter escrito livros. Esse é um problema do professor de faculdade pequena: ele tem que dar muitas aulas e atividades como pesquisa e extensão não são valorizadas. Em resumo, ele torna-se uma "máquina repetidora de conhecimento", que vende o seu tempo em troca do salário. Normalmente, ele usa isso como desculpa para não produzir. É uma desculpa interessante, se pensarmos as condições de trabalho que ele tem. No entanto, não deixa de ser uma desculpa.
Obviamente, me identifiquei com a história do professor do filme. Existem pontos comuns e divergentes. Apesar das faculdades não valorizarem, eu fiz duas teses, publiquei seis livros e escrevi artigos para revistas científicas. Produzi algo. Existem falhas nos trabalhos, reconheço, mas isso acontece com todos. O que importa é que arrisquei e publiquei. Arrependimento? Conscientemente, nenhum... Hoje em dia, costumo dizer que trabalhei tempo demais (a tal ideologia do trabalho...). Não sei, contudo, se isso seria um arrependimento.
O comum é ouvir perguntas sobre quando voltarei a dar aulas. As pessoas não acreditam que você possa viver sem estar associado a uma empresa ou instituição. Por quê não? Não sei se voltarei a dar aulas. Quando surge esse assunto, digo que sou formado para ser professor e pesquisador, ou seja, dou aulas, pesquiso e escrevo. Das três coisas, atualmente, só não trabalho em sala de aula.
Nas reuniões que participava como docente, era comum ouvir gente dizendo que gostaria de ter tempo para ler e escrever, sem se preocupar com o cumprimento de horários e com o cartão de ponto. Hoje eu tenho esse tempo. E leio e escrevo.
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Direitos Autorais Protegidos
Obra registrada na Fundação Biblioteca Nacional
Copyright 2011 / Selmane Felipe de Oliveira
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FILOSOFIA DE BAR
SECRETÁRIAS E PRECONCEITO
TÍTULOS E CONTEÚDOS
REFLEXÃO E SILÊNCIO
THE MONKEES & JIMI HENDRIX
PODER E EXPECTATIVAS
BENS MATERIAIS
AS INVASÕES BÁRBARAS
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FILOSOFIA DE BAR
Li o "Pequeno Príncipe" uma vez, em inglês... Irônico. Lembro algo como você seria responsável por aquela pessoa que cativa. Em outras palavras, você seria culpado pelo que prova no outro. Seria isso? Afirmação problemática e... infantil. Trata-se simplesmente de transferência de responsabilidade. A relação humana é mais do que isso. Todos provocam todos. Claro que alguns possuem ferramentas mais eficazes - os meios de comunicação, por exemplo. Outros preferem - de maneira consciente ou não - a alienação, ou seja, querem ser enganados.
Tudo isso complica o que acontece numa relação e dificulta achar "o culpado". Isso não significa, porém, que seria algo relativo, que dependeria do ponto de vista de cada um. Como sempre digo, "um murro na cara é um murro na cara", não existe dúvida de quem foi o sujeito e de quem foi o objeto em tal acontecimento. Os motivos para o murro, quem estava certo, quem estava errado, o contexto social, etc, etc... representam outro debate, que não tiram a objetividade do fato em si.
As pessoas pensam pouco nesta questão: o que você provoca no outro? Ou talvez pensem pouco nas conseqüências de suas escolhas e de seus atos. O resultado? Confusão. Briga. Raiva. Arrependimento. Sentimentos que todos conhecem. Daí, após o erro, aparece a filosofia de bar: "e se...??" Pois é, como dizem, o "se" não resolve coisa alguma. Serve, no máximo, para desviar a atenção do que efetivamente ocorreu.
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SECRETÁRIAS E PRECONCEITO
Dei aulas na faculdade para alunas do Secretariado. Respeito a profissão. Entretanto, não há como negar que existe preconceito quanto às secretárias.
Entre 1954 e 1956, Roland Barthes escreveu vários ensaios sobre o cotidiano na França (publicados no livro "Mitologias"). Na época, havia concursos de "strip tease" e as candidatas eram "situadas socialmente." Neste sentido, Barthes destacava que existiam "muitas secretárias no 'Clube de Strip tease'." (p. 96) Isso pode ser associado a idéia de que para ser secretária a mulher deve ter "boa aparência".
Em outro momento, 2004, no mesmo país, Corinne Maier dizia que as secretárias "padecem de um enorme complexo de inferioridade vinculado ao desprezo injusto que a sociedade francesa tem pelas tarefas ditas 'servis'." (p. 131) Os dois fatores - "boa aparência" e o complexo de inferioridade - podem ser relacionados com o mito de que toda secretária tem um caso com o patrão. Nesta fantasia, ela seria bonita, ingênua e acreditaria que o amante estaria casado só por causa dos filhos e que, um dia, abandonaria a esposa para ficar exclusivamente com ela.
Alguns podem afirmar que isso não seria fantasia e sim representaria um fato, na medida em que conheceriam várias mulheres nesta situação. No entanto, fatos dessa natureza reforçam uma idéia que não é verdadeira: toda secretária tem um caso com o patrão. Assim, é também correto afirmar que nem toda secretária tem complexo de inferioridade. Esses mitos, na verdade, funcionam mais para preencher um expectativa dos homens. Seria como classificar as profissões e definir em quais poderiam ser encontradas "as mulheres mais fáceis". Trata-se de uma bobagem. É apenas mais uma ilusão machista que serve para reforçar a suposta superioridade masculina. O pior, contudo, é reconhecer que muita gente acredita nisso.
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TÍTULOS E CONTEÚDOS
Não penso muito na criação dos títulos dos meus textos opinativos. Não tenho critério. Acabo de escrever, escolho umas duas palavras e pronto. Acredito que o que era para ser dito ficou no conteúdo do texto.
Eu sei que o resultado não é dos melhores. Não me importo. Pelo menos, não são tão estranho como os títulos dos cds do Robert Plant, como "o princípio dos momentos" ou o "destino das nações". Também não é um processo tão anárquico como o feito pelos produtores da série "Two and Half Men", que escolhem o título do episódio a partir do que existe que de mais ridículo no roteiro
Num texto científico, sobretudo numa dissertação ou tese, o título é uma coisa muito séria. Tem que, de certa forma, resumir o conteúdo do trabalho. Não pode ser algo definido aleatoriamente. Quantos aos textos opinativos, acredito que exista mais liberdade tanto quanto ao próprio texto - sem se preocupar com o rigor das regras da ABNT - como no que diz respeito aos títulos. É isso.
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REFLEXÃO E SILÊNCIO
As pessoas não entendem uma atitude que não possa ser enquadrada nas ideologias do trabalho e do consumismo. Precisar do silêncio, ficar isolado em casa, lendo e escrevendo parece, aos olhos da maioria, algo estranho. provavelmente, como diria Byron, trata-se da "afirmação da vontade do indivíduo que não se realiza no mundo e se volta à sua interioridade como única forma possível de expressão."
Sêneca associa o isolamento aos infortúnios do destino, quando "a alma deve recolher-se a si mesma (...) ela não se ressente das perdas materiais e interprete com benevolência até mesmo as coisas adversas."
Os conselhos de Sêneca visam a busca da tranqüilidade. São importantes e deveriam ser lembrados na atualidade, quando se valoriza a acumulação de capital e a ostentação.
Acredito que o processo de reflexão se realiza melhor com simplicidade e humildade. Escolher o silêncio, algumas vezes, é fundamental. O convívio social deve ser retomado, mas no momento que o indivíduo achar efetivamente adequado.
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THE MONKEES & JIMI HENDRIX
Quando eu era adolescente, costumava ver a série dos Monkees na TV. Tratava-se de um grupo criado pela indústria cultural para aproveitar o sucesso de bandas como os Beatles.
The Monkees era uma cópia dos rapazes de Liverpool. O simulacro ainda ganhou "vida" em discos e shows. O pior foi que, na época, o Jimi Hendrix foi escalado para abrir os shows dos garotos. Como isso seria possível? Seria algo como o AC/DC ou o Megadeth abrir um show para grupos como New Kids on The Block ou Backstreet Boys... Certamente o empresário de Hendrix deve ter achado que daria certo. Não deu. Em 29 de julho de 1967, saiu a notícia no New Music Express:
"Problemão com as garotinhas. Hendrix ligou para o NME para dizer que deixou a tour dos Monkees nos Estados Unidos. (...) Ele disse que os pais das jovens fãs dos Monkees o acusavam de ser vulgar."
Certamente você já ouviu falar de Jimi Hendrix e sabe a sua importância na história do rock. E os Monkees? Foi uma moda passageira como seriam os outros grupos criados pela indústria fonográfica, como Menudo, Bros (sucesso só na Europa), New Kids on The Block, Backstreet Boys, entre tantos outros.
Uma vez, vi um show de um grupo de mulheres, Go Go's, que eram acusadas de não tocar os próprios instrumentos. No show, atrás da meninas, dava para ver os verdadeiros músicos fazendo o trabalho. Isso foi em 1985. Atualmente, é comum cantores, cantoras e grupos que tocam "playback" em shows que deveriam ser ao vivo. Britney Spears não é a única. Patético.
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PODER E EXPECTATIVAS
A fantasia que alguém pode ter a meu respeito é só isso: uma ilusão inventada por um indivíduo que deseja fugir de suas próprias fraquezas. Não sou obrigado a atender a expectativa de uma pessoa ou de uma instituição, seja família, igreja ou qualquer outra.
Não tenho interesse em fazer "profiles" dos outros. Talvez seja um erro, pois nem sempre percebo que alguém age de má fé.
Acredito que o risco vale a pena. Parece ser melhor do que gastar o tempo analisando estratégias infantis que visam - ingenuamente - usá-lo como objeto. Quem utiliza essas estratégias, olha para o outro para não enxergar a si mesmo. É uma fuga. É irônico que gente assim ainda acredita que tem o poder.
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BENS MATERIAIS
Quem nunca viajou para o exterior, não entrou, por exemplo, no Coliseu de Roma, não entende por que uma pessoa gasta tanto com uma viagem ao invés de trocar de carro ou obter outro objeto da moda. A mesma lógica persegue aquele que não fez um curso superior. Costuma dizer: "de que adianta fazer uma faculdade, se o indivíduo ganha tão pouco depois?" Normalmente, este tipo de pessoa trabalha em excesso para adquirir os seus bens materiais. Com eles, se julga superior àquele que estudou, viajou e adquiriu cultura. De fato, não entende o conceito de cultura. Acha que seria algo inútil.
"Educação, para quê? Eu ganho mais do que esses médicos por aí..." Alguém já ouviu isso ou algo parecido? "A educação quer dizer enriquecer as coisas de significados." (Dewey, apud, Masi) Em outras palavras, as coisas não são riquezas. Elas são meios. A utilidade de uma coisa acaba no momento em que se adquire algo melhor. Os objetos são descartáveis. Assim, qual seria o sentido de acumular bens materiais? A pessoa trabalha em excesso para possuir mansões, carros, iates, aviões e... daí? A noção de posse é ilusória. O indivíduo não é dono dos objetos e nem do seu próprio corpo. Como dizem, "após a morte, ele não leva coisa alguma."
Então, para quê desperdiçar o tempo da vida em atividades inúteis para comprar coisas que a pessoa não precisa e que - mesmo nesse ponto de vista - não podem ser efetivamente dela? Ideologia. Ela acredita no que vê. Ela quer ser como a maioria. Ela não quer problematizar a sua condição humana e aproveita o discurso hegemônico da sociedade para fugir dela mesma. Ela teme tanto a morte que esquece de viver o presente. Não olha para o passado, pois tem medo de lembrar o que aconteceu. No máximo, ela olha o passado como enxerga o presente: de forma ilusória, ou seja, o que era fracasso é visto como vitória, o que era dor é amenizado ou omitido. Ela diz que vive o cotidiano, mas está sempre ocupada, não tem tempo para ela mesma. Ela sempre corre... para onde? Ela foge... do quê? Refletir? Não existe tempo para isso. Ela acredita que o importante é só aquilo ela vê. Esquece que um dia, aquilo que a representa com um "ser material" - o seu corpo - necessariamente desaparecerá.
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AS INVASÕES BÁRBARAS
No filme "Les Invansions Barbares", um professor universitário é afastado por causa do câncer. No hospital, ele reclama que o reitor no foi despedir dele. Na sua última aula, era clara a indiferença dos alunos.
Para piorar, numa discussão com o filho, o velho professor tem que ouvir a seguinte crítica: "... o que é melhor que mofar em uma universidade medíocre em uma província atrasada." Para quem trabalhou tanto tempo em duas faculdades do interior, como foi o meu caso, trata-se de uma crítica e tanto.
Em suas reflexões, ele afirma que sentirá saudades sobretudo dos livros e das mulheres. Arrependimento? Ele diz que gostaria de ter escrito livros. Esse é um problema do professor de faculdade pequena: ele tem que dar muitas aulas e atividades como pesquisa e extensão não são valorizadas. Em resumo, ele torna-se uma "máquina repetidora de conhecimento", que vende o seu tempo em troca do salário. Normalmente, ele usa isso como desculpa para não produzir. É uma desculpa interessante, se pensarmos as condições de trabalho que ele tem. No entanto, não deixa de ser uma desculpa.
Obviamente, me identifiquei com a história do professor do filme. Existem pontos comuns e divergentes. Apesar das faculdades não valorizarem, eu fiz duas teses, publiquei seis livros e escrevi artigos para revistas científicas. Produzi algo. Existem falhas nos trabalhos, reconheço, mas isso acontece com todos. O que importa é que arrisquei e publiquei. Arrependimento? Conscientemente, nenhum... Hoje em dia, costumo dizer que trabalhei tempo demais (a tal ideologia do trabalho...). Não sei, contudo, se isso seria um arrependimento.
O comum é ouvir perguntas sobre quando voltarei a dar aulas. As pessoas não acreditam que você possa viver sem estar associado a uma empresa ou instituição. Por quê não? Não sei se voltarei a dar aulas. Quando surge esse assunto, digo que sou formado para ser professor e pesquisador, ou seja, dou aulas, pesquiso e escrevo. Das três coisas, atualmente, só não trabalho em sala de aula.
Nas reuniões que participava como docente, era comum ouvir gente dizendo que gostaria de ter tempo para ler e escrever, sem se preocupar com o cumprimento de horários e com o cartão de ponto. Hoje eu tenho esse tempo. E leio e escrevo.
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