OLIVEIRA, Selmane Felipe de (2010). Lenda Urbana. Http://profelipego.gmail.com/lenda
Direitos Autorais Protegidos Obra registrada na Fundação Biblioteca Nacional Ministério da Cultura
Protocolo n° 7080/2010/RJ N° Registro: 292.760 Livro: 530 Folha: 420 Livro Didático/Pedagógico
Copyright 2010 / Selmane Felipe de Oliveira
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PREFÁCIO
Este livro trata de temas variados, dispostos em ordem alfabética. O leitor pode escolher ler o livro todo de uma vez ou abrir em uma página qualquer e ler a minha opinião sobre um determinado assunto. Pode pensar numa questão e procurá-la no livro. Pode ser que a encontre. Alguns textos são curtos e outros longos demais. Muitos foram publicados na internet com títulos mais longos ou mesmo títulos diferentes.
Os temas sugiram de maneira aleatória, em noites de pouco sono ou em tardes de tédio. Algumas idéias - talvez até frases - podem aparecer repetidas em textos diferentes. Não importa. Pensei e escrevi. Leio bastante, o que reflete nas minhas idéias. São raras as citações. Quando existe a necessidade, a faço e disponibilizo a fonte (de forma bem simples, sem me preocupar com a ABNT).
Enfim, não é de um livro científico. São textos opinativos. Coisas que surgem nas conversas de bar.
Para quem tiver interesse, tenho teses e livros publicados. Organizei e co-organizei algumas obras também. Tudo foi publicado pela Rápida Editora, de Uberlândia, ou pela Cabral Editora em Taubaté. Os títulos dos livros são: Crescimento Urbano & Ideologia Burguesa, Minas Gerias na Ditadura Militar, Poder e Política em Minas Gerais, Turismo de Negócios, A Família e a Escola e Educação e Cidadania. Escrevi artigos científicos em revistas como Cadernos de História, Ícone, Ágora, Caderno de Turismo e Letrilha.
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ADOLESCENTES
A internet não é um mal em si. Os governos perceberam as dificuldades para censurar ou controlar a rede virtual. Trata-se de um espaço democrático. As críticas procuram associá-la à pornografia ou crimes como pedofilia ou tráfico de drogas. Estas falhas, contudo, dizem respeito ao ser humano e não à internet, que é apenas uma ferramenta de comunicação.
Na prática, tanto para o bem como para o mal, as pessoas ainda aprendem como usar a rede, seja para ganhar dinheiro, conhecer os outros ou mesmo se divertir. Chama a atenção, hoje em dia, os problemas decorrentes das redes sociais, pois as pessoas reais usam os espaços virtuais para marcar encontros e fazer novas amizades ou mesmo desenvolver relações que terminam em namoros e casamentos.
Os problemas são muitos. O mais óbvio seria o uso de dados falsos para enganar o outro. Outra questão que preocupa é o uso das imagens, sobretudo no que diz respeito aos adolescentes. Com as modernas máquinas digitais, são publicadas fotos em posições sensuais, com pouca ou nenhuma roupa. As meninas tiram fotos diante do espelho ou nos clubes e praias, o que acaba fornecendo material para muitos "websites", como o "espelhadas" (http://www.flogao.com.br/espelhadas) - o nome já diz tudo, claro.
São transmitidos, ainda, vídeos ao vivo de casais, durante a relação sexual, com níveis altos de audiência na internet, como se fosse a coisa mais natural do mundo. Os pais ficam preocupados. Alguns casos vão para delegacia.
O fundamental, neste debate, além do mal uso da internet, seria verificar se as pessoas que se expõem desta maneira têm consciência de que a partir do momento que são divulgados, não seria possível apagar as fotos e os vídeos da internet. O arrependimento não tem muito valor na era digital. Ou seja, em qualquer "website" de busca, em qualquer momento, agora ou daqui a 20 anos, basta procurar que a foto ou o vídeo estará lá, disponível para todos.
As atitudes dos jovens hoje não seriam diferentes dos jovens de antigamente. É uma fase de descoberta e rebeldia. A diferença é que na época dos nossos pais e avós, se houvesse algum registro, ele era impresso numa foto, que depois seria destruída ou guardada secretamente.
Atualmente, com a internet, esta possibilidade é remota. O provável é "cair na rede" e tornar-se público, o que deveria ser um momento íntimo de algumas pessoas. Analisando o "sextape" da atriz Lindsay Lohan, o jornal inglês The Daily Mirror comentou: "Este vídeo é dinamite (...) e mostra Lindsay durante um ato sexual particular que deveria, obviamente, permanecer entre quatro paredes." Este é o ponto fundamental: com a internet, aos poucos, desaparecem os limites entre o público e o privado.
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ALMA
Uma vez li uma piada na Playboy norte-americana que, de certa forma, tentava resumir o que seria a vida: "você nasce e você morre, curta o intervalo" (you born and you die - enjoy the interval).
Sobre isso, Heidegger fez uma afirmação interessante: "o espaço de tempo vulgarmente entendido no sentido de distância entre dois pontos do tempo é o resultado do cálculo do tempo. (...) que assim é unidimensional (...) pensado como a sucessão da seqüência de agoras."(os grifos são meus - Os Pensadores, p. 261)
Em outras palavras, a piada pode ser boa, mas não corresponderia à realidade. Na verdade, o processo seria mais complexo. Veremos.
Sem o sol, não existiria vida no planeta terra. Quanto ao indivíduo, dependendo dos estímulos, o seu cérebro pode enviar-lhe informações falsas. Os seus sentidos podem enganá-lo.
O que significa isso? Não existem certezas, exceto a insignificância do ser humano. Afinal, de acordo com Einstein, "(...) tempo e espaço não são absolutos (...) mas variam de acordo com o referencial." (Superinteressante, 101 Livros, p. 78)
A alma e "a matéria são apenas invenções. A característica mais essencial do espírito é a memória, e não há razão para supor que a memória de uma pessoa sobrevive à sua morte. (...) a memória está claramente ligada a um certo tipo de estrutura cerebral que, ao se degradar com a morte, deve fazer cessar também a memória." (os grifos são meus -Bertrand Russell, Elogio ao Ócio, p. 134-136)
Em suma, o indivíduo não existiria vida após a morte. Ou seja, "tempo e espaço NÃO são absolutos" e a alma e "a matéria são apenas invenções".
As constatações de Einstein e Bertrand Russell partem de comprovações científicas.
Entretanto, existe uma questão: se a pessoa possui uma "percepção" do que seria a sua vida neste planeta - assim, ela "sente" prazer, dor, felicidade e raiva, entre outras "emoções" -, não seria "razoável" imaginar que isso poderia ocorrer com ela em outro lugar ou em outra dimensão - após a morte, por exemplo?
Eu sei que termos como razão, emoção e os outros conceitos são questionáveis.
A morte é uma certeza, assim como a constatação de que o indivíduo não é o criador dele mesmo e que a sua condição humana é biologicamente limitada. Complicado? Talvez...
De qualquer maneira, sem chance de querer achar o sentido da vida... Em outras palavras, cabe a cada um construir o seu e utilizá-lo como referencial para as suas ações.
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AMOR
Sexo é óbvio e necessário para a preservação das espécies. Sim, somos animais (também). O amor é escolha - consciente ou não. Na civilização, o amor está associado ao poder, é uma relação de destruição e de morte. A relação romântica é impossível de ser realizada. É uma ilusão. É uma fantasia para fugir de si mesmo.
No entanto, como ela é diferente de outras "fugas do ser", como, por exemplo, o trabalho, o consumismo, a política e a religião. Essas últimas são racionais. Trata-se de usar as bobagens do cotidiano como uma espécie de traição do ser. Basicamente, seria a recusa de se ver e se analisar seriamente. O indivíduo olha no espelho e não consegue se ver, como se fosse um vampiro... O que ele não vê é o que ele não tem - uma alma -, é o que ele não é: um "ser". O que ele vê no espelho são os móveis do quarto, as etiquetas das roupas, os sapatos, as jóias... Como uma fantasma, ele vê o que é material e não percebe que aquilo efetivamente não tem utilidade para ele.
Quanto ao amor, seria uma fuga diferente pois estaria relacionada ao lado emocional. Aqui está o risco de "quebrar o gelo do cotidiano" e de perder o controle das coisas. O risco representa a possibilidade da angústia e ela significa o encontro do indivíduo com ele mesmo. Isso é interessante. O amor não pode ser realizado, não depende da própria pessoa, ao contrário, ela deposita a sua confiança no outro. Viver um romance é depender do outro e é também ter a certeza do fracasso. Então, para quê arriscar?
O sofrimento causado pelo amor pode levar a pessoa a verdadeiramente olhar para ela mesma. Ela não sabe disto. Para a maioria, seria um ato inconsciente. Não importa. Num romance, você arrisca e perde o que mais acredita: a segurança das idiotices repetitivas do cotidiano. Para uma pessoa fria, calculista e consumista, a falta de controle causada pelo fracasso da relação amorosa pode representar um encontro com a sua existência. Nada mal. Se o sexo em si é uma necessidade biológica realizada por qualquer animal, o fracasso do romance entre civilizados não apresenta novidade, mas pode ser uma possibilidade de, com o sofrimento, ir além das aparentes estabilidades proporcionadas pelas fugas inventadas pelos seres auto-denominados racionais.
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AUTOR
Avaliar uma obra a partir da vida cotidiana do autor não seria um caminho adequado. Isso não significa separar autor e obra, apenas quer dizer que devemos ter cuidado em associar automaticamente as duas coisas, ou pior, utilizar uma contra a outra. Um exemplo disso foi o caso de Louis Althusser. Diferente de Michel Foucault, que rejeitou qualquer possibilidade de publicação póstuma - mesmo tendo o quarto volume da "História da Sexualidade" pronto e que até hoje permanece inédito -, o que Althusser deixou em suas gavetas, análises, desabafos e confissões - feitos em clínica psiquiátrica após o marxista ter assassinado a esposa e julgado incapaz de ser responsável por seus atos - veio a público na forma do livro "O futuro dura muito tempo". Querer avaliar o pensamente de Althusser a partir daí, seria uma injustiça com o filósofo. Ele sempre foi um autor polêmico e, certamente, a sua leitura de Marx apresenta falhas graves, mas, ao mesmo tempo, temos que reconhecer que foi a partir dos seus escritos que houve um rompimento teórico com o marxismo dogmático, aquele que os comunistas usavam para justificar as ações autoritárias do "socialismo real".
De fato, algumas vezes, autor e obra se parecem muito. Isaac Berlin, em sua biografia sobre Marx, demonstra isso, revelando um filósofo que era coerente com o que escrevia. Um caso oposto, seria o de Jacques Lacan, cuja vida e interesses cotidianos em quase nada lembravam o brilhante pensador que revolucionou a psicanálise com o seu "retorno a Freud", mas a partir de conceitos e métodos novos. Alan Sokal e Jean Bricmont, em sua denúncia contra o relativismo pós-moderno, no livro "Impostures Intelectuelles" (Odile Jacob, 1997), dedicaram um capítulo inteiro a teoria de Lacan. Mas, houve um "detalhe" por parte destes autores: "nós não entraremos no debate sobre a parte psicanalítica dos seus trabalhos." (p. 55) Os dois autores preocuparam em demonstrar os erros de Lacan no uso dos "termos matemáticos". Ora, o mais importante de Lacan não seria justamente a sua reformulação do papel da psicanálise?
No caso do Brasil, chamou a minha atenção o livro "Leandro Konder - Memórias de um intelectual comunista" (Civilização Brasileira, 2008). Quem conhece as suas teorias e a sua "práxis", reconhece aqui a coerência de um intelectual no que diz respeito a sua obra e a sua vida cotidiana.
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BERLIM
Eu fui à Berlim duas vezes: janeiro de 2005 e janeiro de 2006. É uma cidade interessante, marcada pela história dos vencedores. Sim, porque eu não vi monumentos em homenagem aos soldados alemães mortos na Segunda Guerra Mundial. O que se encontra é o contrário.
No centro, perto do Portão de Brandesburgo, existe um enorme monumento, inclusive com dois tanques de guerra, em homenagem aos russos. Ao lado do Portão, foi construído outro de grandes dimensões - parece mais um cemitério - para os judeus, principais vítimas dos alemães na guerra. Deve ser lembrado ainda o Muro, que por anos dividiu a cidade, representando, de um lado, o capitalismo e do outro, simbolizando o comunismo. Em um passeio de ônibus, passei em frente a um prédio que tinha em destaque a imagem do Lênin e a famosa marca da União Soviética - o martelo e a foice.
Nas livrarias, não era visível essa visão da guerra. Havia vários livros tratando do Hitler e da Segunda Guerra, assim como existiam sobre os outros países. Nada de especial. O tema era tratado como algo comum.
As pessoas imaginam que, nas metrópoles, a maioria fala a língua local e o inglês. Não é o caso de Berlim. Mesmo no aeroporto ou em lanchonetes e restaurantes, nas lojas, o que se fala é o alemão. É diferente de Paris. Tive essa impressão. Na capital francesa, as pessoas sabem inglês, mas preferem falar em francês. Se você chegar num lugar falando inglês direto, muitas vezes, eles não te respondem. Você teria que ser educado e dizer em francês: "bom dia, você fala inglês? por favor". A resposta viria em inglês e pronto. Em Berlim, não funcionava. Mesmo assim, era bom avisar que você não falava bem o alemão. Assim, o atendimento ocorreria normalmente - mas não em inglês.
Diferente de outras cidades que visitei na Europa, nas ruas, percebi uma população mais jovem e aparentemente mais liberal. Por exemplo, na calçada eu vi um casal de homossexuais, passeando de mãos dadas, um loiro e um negro.
Apesar de ouvir falar muito da noite de Berlim, não a conheci. Janeiro é inverno por lá, sempre neva e eu achava melhor sair durante o dia. Lá existe uma ilha de museus. Nenhum deles é tão grandioso como o Louvre, mas é um bom passeio.
Mesmo gostando da cidade, não moraria na Alemanha nem em outro país. Visitar como turista é uma coisa, você sempre é bem tratado. Agora, quando o assunto é imigrante, os europeus mudam o tom e imagino que você deve ser visto como um intruso ou tratado como cidadão de segunda categoria.
Em suma, viajar é bom, mas morar onde você nasceu parece que te dá mais liberdade, você sente que pertence àquele lugar e, neste aspecto, você é respeitado.
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BIOGRAFIA
Ouvi uma sugestão que me levou a pensar: por quê não escrever uma biografia?
O argumento seria que a minha história de vida ajudaria as outras pessoas. A resposta, claro, foi negativa. Primeiro, porque tentei passar as minhas experiências no exercício da minha profissão de docente. Em segundo lugar, eu publiquei livros e artigos. Se alguém quiser saber mais a meu respeito, basta, portanto, pesquisar, associando os meus textos com a época que vivi. Para um bom leitor, rapidamente as coisas ficaram claras e ele poderia se aproximar bastante do que eu fui, do por quê das minhas escolhas e até das dificuldades enfrentadas para a realização dos meus projetos. Finalmente, em terceiro lugar, com a invenção da internet, atualmente todo mundo pode encontrar quase tudo sobre as pessoas - e as coisas - pesquisadas.
Certamente não me preocupo com conclusões precipitadas e equivocadas. Lido com o preconceito das pessoas no meu cotidiano e não seria novidade encontrá-lo em pesquisas superficiais ou mal intencionadas.
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CAOS
Um princípio interessante é tratado no filme "The Butterfly Effect" ("Efeito Borboleta"): os eventos que parecem insignificantes podem criar coisas inesperadas (Constance Kaplan) - ver as entrevistas no making of do filme - informações e citações deste texto são feitas a partir deste documentário; as traduções são minhas pois o áudio do dvd é em inglês, mas as legendas são em alemão.
Henry Brooks Adams afirmava que "o caos era uma lei da natureza; a ordem seria o sonho do homem." Físicos e psicólogos usam a Teoria do Caos - "um mesmo sistema pode funcionar de maneira diferente ou caótica," como os movimentos de um chaotic double pendulum - "pêndulo duplo caótico." (Peter Goldreich)
O que significa isso? A lógica e a ordem são invenções do homem, que visam dar segurança ao indivíduo. Isso não existe, daí vem o medo do caos e do futuro.
De acordo com Richard Garriott, "caos e ordem não são inimigos, são apenas opostos." Isso não resolve a vida prática dos indivíduos. Constance Kaplan afirma que "queremos controlar a vida para nos sentirmos seguros." É verdade, mas é também uma ilusão (a segurança).
Para John D. Biroc, "o medo do caos atrai mais caos." A vida não seria linear ou um processo de causa e efeito. Ele usa o exemplo da infância: não é porque uma mãe fez algo ao filho que ele necessariamente, na vida adulta, agiria de uma tal forma. Na sua opinião, múltiplas possibilidades levam a pessoa a fazer algo. Não existiria uma ordem neste processo. Assim, não seria possível "prever coisas a longo prazo. (...) Se ficássemos no aqui e agora, não precisaríamos tentar controlar o futuro."
Por quê pensamos no futuro? Por quê evitamos questionar várias coisas? Por quê "bloqueamos" o passado? Por quê seria tão difícil se concentrar no aqui e agora?
Medo. Temos medo da vida, da morte, de sermos felizes, de sofrer, do que aconteceu, do que acontecerá... Somos "vampiros", olhamos no espelho e não nos vemos. O problema é admitir que conceitos - segurança, estabilidade, razão, ordem, lógica, entre outros - são invenções dos homens e não verdades absolutas. A letra de uma música dos Sex Pistols, em outro contexto, afirmava: "não existe futuro..." É verdade. Se existe algo, é o aqui e agora. Utilizar o futuro ou o passado, na maioria dos casos, é fugir do presente.
A questão não é ser otimista ou pessimista. Desistir não resolve. A alienação é um erro. Problematizar pode ser o caminho, mesmo sabendo que somos os inventores dos conceitos e dos problemas e sofremos conseqüências provocadas por um mundo em que predomina o caos.
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CATADORES
Quando era criança, morava numa "colônia" - conjunto de casas -, construída para os operários e suas famílias. Eram comuns ruas sem pavimentação e terrenos baldios no bairro. Era periferia, claro, na época que o "chic" era morar no centro da cidade.
Passadas algumas décadas, inventaram o computador pessoal e a internet - sou do tempo do radinho de pilha e do telefone fixo -, e houve uma transformação silenciosa e rápida no mundo. Profissões desapareceram. Milhares de operários eram demitidos de uma só vez em fábricas dos países desenvolvidos. Surgiu a figura do "homeless" - aquele que vivia na rua. Quando fui em Londres - 2000 e 2001 - vi esses pessoas na rua, pedindo dinheiro. Devia ser novidade por lá, aqui no Brasil, já convivíamos com isso.
De certa forma, com a globalização, o mundo ficou parecendo mais o nosso país - nos aspectos negativos. Aqui, surgiu algo que não se via na minha infância: os catadores de lixo. Na minha rua atual, eles sempre passam. São pessoas que tem casas e vestem adequadamente, não são mendigos. Um caso me chamou atenção: um rapaz de moto entre os catadores... Três vezes por semana, ele sobe a minha rua, de manhã, pois a noite o caminhão de lixo da prefeitura passa recolhendo o que sobrou.
O que significa isso? A realidade piorou, para a maioria das pessoas, tanto nos países ricos como nos pobres. Especificamente no caso brasileiro, a conseqüência mais óbvia foi o aumento da violência - arrastões, invasões de shoppings e condomínios fechados, filhos matando pais e avós, alunos atacando fisicamente professores... Idéias com autoridade e respeito desapareceram. O imediatismo e o individualismo predominam por toda parte.
Como aparece no filme "Matrix", o ser humano seria o "câncer" deste planeta, destrói tudo e sempre torna as coisas piores. Freud uma vez deu a entender que se um dia a humanidade deixar de existir, não seria uma grande perda. Ele estava certo.
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CIVILIZAÇÃO
Antonio Gramsci afirmava que não seria possível ser cético. Thomas Bénatouil reconhece o óbvio: "de fato, o ceticismo não é uma escola ou uma tradição intelectual homogênea." (Magazine Littéraire, Janvier 2001, p. 18). Óbvio na medida em que é difícil encontrar alguma doutrina sem divergências, polêmicas e facções. Contudo, não há como negar o auxílio do princípio do ceticismo no modo de pensar do ser humano. Ou seja, questionar permite ao homem ir além dos instintos. Isso é o que diferencia dos outros animais e o coloca diante de duas velhas problemáticas: a própria natureza e e a construção da civilização.
O homem, em sociedade, tem que controlar os seus desejos. Isso gera um mal estar no ser humano, pois ele tem que reprimir o seu "instinto natural" para ser percebido como "homem civilizado". Em outras palavras, o que define o ser humano é o conflito "interno" - id, ego e super ego (Freud) - e a problemática "externa" - as suas relações com os outros indivíduos. Ninguém pode ajudá-lo. Como lembrava Sartre: "même se Dieu existait, ça ne changerait rien. (...) il faul que l'homme se retrouve lui-même et se persuade que rien ne peut le sauver de lui-même." (L'existencialisme est un humanisme, Éditions Gallimard, 1996, p. 77)
Neste ponto de vista, o homem tem que lidar com ele mesmo, com seus problemas e suas dúvidas e não existe resposta fora dele. As respostas, sim no plural, seriam construídas e reconstruídas durante a sua existência. Não é agradável perceber a complexidade do homem na civilização, sobretudo quando ele entende que nada é estável e seguro. Isso pode levá-lo ao ceticismo ou ao niilismo. Ou não. Ele pode "assumir" a vida no que ela é e não no que ela poderia (deveria) ser, isso quer dizer que, ao mesmo tempo, ele abandonaria as ilusões e as fugas cotidianas para lidar com os problemas reais, criados por ele ou não.
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CORDIALIDADE
Foi dito que eu tinha uma voz agressiva. Não era a minha intenção. Isso nem expressava necessariamente o que eu sentia no momento. Foi interessante descobrir esse meu lado, pois quase sempre tentei cordial e educado. No meu lado racional, procuro ser um cavalheiro. Para compensar, claro, nos meus sonhos torno-me um ser agressivo e sem controle. Quanto mais cordial acordado, mais violento fico nos sonhos. Talvez seja um equilíbrio da condição humana.
A história da minha vida lembra um pouco uma frase que ouvi numa série de TV: "I am a pathological people pleaser." Provavelmente eu levei a sério demais o lema cristão de "amar o próximo como a si mesmo." Não faria com uma pessoa algo que não gostasse que acontecesse comigo.
De uma maneira pouco saudável, essa postura leva a ilusão de que todos pensam e agem assim. Aqui começam os problemas. Após um longo tempo, você que é minoria. Pior, que faz aquilo não para agradar o outro e sim porque você acha certo. Não seria uma estratégia de dominação, ao contrário, você acredita emocionalmente que deve ser daquele jeito.
As coisas pioram quando você olha ao seu redor e vê o mundo em que vive: uma sociedade individualista, consumista, imediatista e superficial. Imagina, como naquela música do John Lennon, que as coisas podem melhorar. De fato, pioram. Lembra da frase do jornalista Paulo Francis, quando ele pensava no mundo em que vivia: "eu estou tecnicamente morto." Em outras palavras, esse mundo não me diz respeito... O que fazer se as pessoas não entendem os seus valores e as suas idéias? Deixar para lá, como fazia Nelson Rodrigues, ao dizer que não seria "(...) culpado da burrice humana; aliás 99% da criatura humana é imbecil." Talvez ser cínico e irônico? Não sei. Talvez (sempre talvez) seja por isso que as drogas - no sentido geral do termo, incluindo tanto as legais como as ilegais, tanto as "ideologias" como os placebos -sejam tão necessárias para a sobrevivências das pessoas civilizadas.
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CRIANÇAS
Para as crianças, a mudança do corpo, o crescimento e, internamente, o desejo pelo sexo oposto, surgem como algo que não deve ser pensado. Essas coisas acontecem com todos, imaginam, ou em alguns casos, fantasiam que só ocorrem com eles.
Na infância, todas as temáticas apresentadas serão fundamentais para a formação, posteriormente, de adultos saudáveis. Para isso, o ambiente vivido pelas crianças - como a família, a escola, o clube, e shopping center - é importante e pode influenciar tanto positiva como negativamente.
Além do ambiente "real", atualmente as crianças acessem o ambiente "virtual", os instrumentos tecnológicos que facilitam a comunicação ou colocam-se como símbolos da realidade. Os dois ambientes contribuem decisivamente na formação da personalidade das crianças.
As consideradas más influências podem vir tanto da escola como da internet. Lidar com "dois mundos" - um real e outro "on line" - representa mais riscos para as crianças, o que deveria servir de alerta para os pais.
Entretanto, nem sempre os pais demonstram preocupação. Muitos acham natural os filhos ficarem horas trancados no quarto acessando a internet ou brincando no vídeo game. Acreditam que as crianças estariam mais seguras assim do que na rua, o que nem sempre é verdade.
Muitos pais estão preocupados com a própria carreira e bem estar, achando que bastaria dar bens materiais para satisfazer os filhos. Esquecem que amor, carinho e amizade são essenciais no ponto de vista de qualquer ser humano, independentemente da idade.
Afastar-se desses sentimentos em relação às crianças torna-se um grave risco na criação de adultos conscientes e solidários. Se as mensagens do sistema econômico estão associadas ao individualismo, à competitividade e ao reforço da imagem, em detrimento da essência do caráter das pessoas, caberia aos pais tentar mudar esse processo, questionando tais valores e mostrando que existem outros valores na vida de um indivíduo.
Deixar as crianças abandonadas ao universo de informação disponível hoje, sem que elas possuam critérios para poder selecionar o que seria correto ou não, é um irresponsabilidade dos pais e das autoridades, que, certamente, mais tarde sofrerão as conseqüências de gerações ligadas à violência e ao consumismo, sendo que o desrespeito aos velhos, o assassinato dos pais pelo filhos, o alcoolismo precoce e o abuso de drogas serão cada vez mais comum na sociedade.
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CRISES
No primeiro episódio de "Sex and The City", a personagem principal - Carrie - pergunta: por quê existem tantas mulheres maravilhosas solteiras e não existem tanto homens assim? Talvez entre os 15 e 20 anos, a mulher viva seu "auge" no ponto de vista da beleza e da atração em relação aos homens. Lolita é um dos livros que trata do tema: o fascínio que uma adolescente desperta no homem.
Antigamente, com os 15 anos, a menina era apresentada à sociedade em um baile de debutantes. A preocupação da moça era arrumar um bom casamento. As mulheres de "Sex and The City" sonham com isso também, com a diferença que são mais velhas, críticas e independentes do ponto de vista financeiro. A escolha pela carreira profissional dificultaria a realização do sonho do casamento?
Talvez exista muita expectativa em relação ao papel do homem, tradicionalmente apresentado como "um príncipe encantado"... Sobre este tema, a atriz Marília Pêra disse, uma vez, em uma entrevista: "Ele transa bem? Leva você para comer bons queijos e vinhos? É seu amigo? Então fica com ele. É o máximo que você vai conseguir de um homem."
Os homens passam pela crise da meia-idade, quando chegam aos 50 anos. Querem, de certa forma, fazer o impossível: recuperar a juventude. Assim, compram carros esportes, freqüentam academias, namoram mulheres jovens e, atualmente, contam com o viagra como aliado. Claro que nada disso resolve o inadiável: a velhice... e em seguida, a morte.
As mulheres são lembradas aos 30 anos. Mário Prata, numa crônica na revista Época (Edição 298), cita Balzac - "uma mulher de trinta anos tem atrativos irresistíveis. A mulher jovem tem muitas ilusões, muita inexperiência. Uma nos instrui, a outra quer tudo aprender e acredita ter dito tudo despindo o vestido" e conclui: "são fortes as mulheres de 30. E não têm pressa para nada. Sabem aonde vão chegar. E sempre chegam."
Os elogios, contudo, não resolvem o essencial: a crise aos 30, para as mulheres, ou aos 50 anos, para os homens. Certamente, os problemas graves de dúvidas pessoais não acontecem apenas nestes momentos. A vida é marcada por dilemas e, como diria Freud, por neuroses. Só não percebe quem é alienado, quem insiste acreditar em fantasias, deixando a realidade de lado. Lembra, claro, o filme Matrix: o indivíduo escolhe entre a pílula azul, a ilusão colorida, ou a pílula vermelha, o real, aquilo que está além das aparências. O real está associado também ao sofrimento. A dor faz parte da vida. As crises existem e pronto. A questão é saber se o indivíduo consegue percebê-las ou não. O mito da caverna de Platão permanece.
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CULPA
Existem lugares que são citados como exemplos de riqueza, como Mônaco e Singapura. Todos (?!) são milionários e andam em carros luxuosos. Normalmente, o que não é enfatizado é a origem do dinheiro que é aceito nestes países. Origem duvidosa, reconhecem, o que significa dinheiro de tráfico de drogas, exploração de crianças, prostituição, entre outras coisas. Não é por acaso que os cassinos são atrações turísticas nestes locais.
A associação do cassino com as atividades ilegais é antiga, basta lembrar o caso de Las Vegas, dominada durante muito tempo por grupos mafiosos. Por outro lado, claro, a ausência dos cassinos não quer dizer respeito às leis de um país, como pode ser percebido no Brasil. Aqui o cassino é proibido, mas a corrupção, o contra-bando, o tráfico de drogas, a prostituição e os crimes envolvem até policiais e governantes.
Dizem que a prostituição é a profissão mais antiga do mundo. Até o século XIX, não havia a "indústria da droga", afinal, a cocaína, por exemplo, era usada sem restrições, inclusive receitadas por médicos, entre eles, Sigmund Freud. No século XX, tentaram criar uma "lei seca" nos Estados Unidos. Não deu certo, pois foi criado um comércio ilegal, que enriquecia os intermediários, como no caso do tráfico atualmente.
A questão não é deixar de proibir o uso das drogas ou deixar de reprimir o tráfico. O problema, que as pessoas não querem enfrentar, é o que levaria alguém ao consumo excessivo de álcool ou de drogas. Reprimir o alcoólatra ou o drogado é um erro. Trata-se de ajuda e não de punição. Deveria existir ainda auto-crítica por parte da família e das instituições da sociedade. Cada um deveria assumir a sua responsabilidade no processo e não se esconder do problema ou simplesmente colocar a culpa no outro, como normalmente acontece.
Não é a primeira vez que você lê isso e não será a última. Você pensa: "as coisas funcionam assim e pronto". É cômodo. Só não vale reclamar depois do aumento da criminalidade, dos seqüestros, dos assaltos aos shopping centers (eram seguros, lembra?), da violência contra a mulher... Existem dados que indicam que em torno de 35.000 mulheres apanham dos maridos no Brasil. Você pensa: "isso é um exagero, a mídia é pessimista". Talvez seja o contrário: a realidade da maioria pode ser bem pior e os jornais só selecionam os casos que interessam aos grupos de comunicação.
Melhor do que omitir ou apontar o dedo para o outro quando surge um problema, certamente seria seguir o conselho do personagem "V": "se você procura por um culpado, olhe primeiro para o espelho."
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DEPRESSÃO
A psicóloga da minha irmã afirmou que, quando tenho crise de depressão, uso a tela do computador como uma janela para o mundo, pois fico isolado e evito o contato com as pessoas. Não deveria admitir, mas trata-se de uma frase interessante. Aos que questionam sobre "a psicóloga da minha irmã", esclareço que, claro, eu mesmo fiz psicoterapia por anos - exatamente entre 1995 e 2009. Atualmente, tomo somente anti-depressivo. Estou com esta médica desde 2000. O médico da minha adolescência suicidou em 2007.
Estes são apenas fatos. Não me importo com a depressão. Ela é cíclica, genética, e sei que, qualquer hora, ela pode aparecer. Não acredito em cura. E como disse, nem me importo com isso. É simplesmente algo que tenho que conviver e, que eu me lembre, tenho crises desde os 7 anos de idade. Não suicidei e nem tem intenção de toma tal atitude. Não recrimino quem fez ou faz isso.
Contudo, não concordo com as chamadas "tentativas de suicídio para chamar a atenção". Acredito que por mais grave que seja o problema, se o indivíduo quer chamar a atenção para si, devem existir outros meios, afinal, este tipo de "tentativa" pode acabar mal, pois a pessoa não morre e quando volta a si, os seus problemas aumentaram. Não critico ninguém porque cada um sabe "a dor de ser quem é". Esta é somente a minha opinião e não uma certeza ou uma lei que poderia servir para todos.
Quem me conhece, sabe que eu adoro a vida. Quando falo que tenho depressão, muitos acham difícil de acreditar. Para alguns, sou um "bon vivant". Não nego nem uma coisa - o amor pela vida - e nem a outra - a depressão é a principal causa de suicídio no mundo e é uma doença que eu tenho. Eu sei que as pessoas evitam estes temas: depressão, suicídio e morte. Não faço disto um drama, mas, por motivos óbvios, adoro ler e conversar sobre a morte. Gosto de obras associadas ao tema, como o filme o "Sétimo Selo" de Ingmar Bergman. Na música, gosto de "In My Time of Dying" do Led Zeppelin e "Death is Not the End" do Nick Cave. Nas artes plásticas, me impressionou muito o quadro "Guernica" de Pablo Picasso.
Em suma, a idéia da morte me fascina. Não falo do que acontece depois da morte, mas da idéia de que todos, um dia, deixaram de existir nesta vida. As várias teorias religiosas sobre o pós-morte não me interessam. São apenas teorias associadas ao conhecimento teológico, cujo critério mais importante é a fé. Acredito que isso diz tudo. Cada pessoa tem o direito de ter fé no que quiser e pronto. No meu caso, procuro me concentrar mais no que acontece durante a vida. O fato da morte ser uma certeza somente confirma a minha opção.
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DESEJO
Os indivíduos inventam os conceitos de acordo com que sociedade em que vivem. Assim, tais conceitos podem mudar ou desaparecer em favor de novas concepções. Sexo é um instinto básico de todos animais, incluindo, obviamente, os homens.
O problema nesta área não seria o sexo em si, associado à natureza, mas sim como ele é usado em cada época como forma de civilização ou de exercer o poder. Muitos separam o sexo do amor. Outros criam valores diferentes para os dois conceitos. Nelson Rodrigues, por exemplo, afirmava que "quando há amor, o sexo é de uma irrelevância absoluta."
Michel Foucault, referindo-se à constituição da sociedade ocidental, destacou que "quando os homens, após terem aprendido tantas habilidades úteis, começaram a não negligenciar mais 'nada' em sua pesquisa, a filosofia surgiu, e com ela a pederastia." (O Cuidado de Si, p. 214) Na Grécia Antiga, era discutido, do ponto de vista dos homens, tanto o amor pelas mulheres como o amor pelos rapazes.
O padrão que conhecemos como "normal", a relação homem-mulher, as idéias de casamento e virgindade, predominaram a partir do século IV, com o reforço dos discursos dos religiosos, dos filósofos e dos médicos.
O interessante, contudo, é perceber que mesmo na Grécia Antiga, havia uma distinção entre aquilo que era físico e aquilo que não era. Foucault, no mesmo livro (p. 197), dizia "que, por uma lado se punha o amor vulgar (aquele onde os atos sexuais são preponderantes) e o amor nobre, puro, elevado, celeste (onde a presença desses mesmos atos é, se não anulada, pelo menos velada)." O essencial não seria o tipo de relação, homem-mulher ou homem-rapaz, mas sim o tipo de amor.
Na sociedade moderna, com o elogio da virgindade, para os homens, na prática, o amor seria aquele sentimento que ocorreria no casamento, com a esposa. Com as outras mulheres, seria apenas sexo. Muitos ainda pensam assim.
Enfim, a relação amor e sexo é problemática, ainda mais quando associada aos temas como fidelidade e desejo. Tudo isso torna esse tipo de relação quase impossível, no sentido de se viver efetivamente "o amor verdadeiro" e não uma relação de poder ou uma negociação empresarial, que as duas partes mentem e omitem quanto aos seus verdadeiros sentimentos, interessando somente o resultado prático e material da união conjugal.
Parece que sem o sexo, fica mais fácil entender o amor. Basta pensar nas relações estabelecidas nas amizades, nas famílias e nas religiões ou em outros formas de convívio humano. Com isso, não quero dizer que fazer sexo seja errado. O sexo é natural e necessário, isso é óbvio. No entanto, quando idealizamos sobre algo real, criamos, de fato, um problema sem solução, na medida em que são duas dimensões distintas: fantasia e realidade. O resultado disto, todos conhecemos, é a dor... o sofrimento e a frustração. Sentimentos esses que caracterizam bem os indivíduos civilizados.
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DINHEIRO
Quem efetivamente se preocupa com dinheiro no dia a dia? O jornalista Paulo Francis afirmava: "quem não tem sexo e dinheiro, não pensa em outra coisa". Será? O que importa é que as pessoas que só pensam em dinheiro passam uma imagem de superficiais aos outros. Pior, quem ostenta, com grandes carros e jóias, confirma o rótulo de brega.
Muitas pessoas têm só um objetivo na vida: dinheiro. Elas estão equivocadas, na medida em que o dinheiro em si não é um fim e sim um meio para conseguir coisas. Estas pessoas colocam o dinheiro acima do amor, da amizade e de qualquer valor que não represente algo material. Isso não é novo, claro. Jesus, por exemplo, foi traído por Judas, em troca de "30 dinheiros".
Mulheres casam com milionários velhos, pensando na herança. A modelo do jeans Guess e da Playboy, Anna Nicole Smith, casou com J. Howard Marshall II, de 89 anos, com este objetivo. Depois de sua morte, alguns meses depois do casamento, a modelo entrou em uma batalha judicial para garantir a sua parte na herança de Marshall II. Uma batalha que não produziu resultados, pois a modelo faleceu pouco tempo depois, aos 39 anos.
O que leva a uma pergunta: na morte, de que adianta o que o dinheiro proporciona, os chamados bens materiais, como mansões, carros, iates e aviões? É interessante perceber que algumas pessoas acreditam que estes bens justificariam a superioridade de uma sobre as outras, como se fosse possível um ser humano se melhor do que o outro, seja pelo dinheiro, poder, raça ou sexo.
Contudo, muitos acreditam nesta ideologia e não são apenas os que se consideram "superiores" mas também aqueles que são seus "subordinados". As pessoas, assim, são divididas em classes sociais, como se isso fosse "natural". Entretanto, de fato, somos todos iguais, ninguém é superior ou melhor que ninguém. A morte, como foi dito antes, é o momento mais importante que esta verdade seja revelada.
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DIVERSÃO
É comum se afirmar que as pessoas não têm tempo para visitar os parentes, para conversar com os amigos e até para dar atenção para os filhos. O que acontece? Tempo é um conceito abstrato. O que ocorre é que a fuga de si leva a fuga do outro.
O indivíduo não quer tempo para pensar na sua vida, então ele busca coisas (em excesso) para fazer. Ele inventa a sua própria "falta de tempo". No capitalismo, foi construído o conceito de que você é valorizado pelo seu "trabalho". O relógio tornou-se um instrumento fundamental. Não é necessário um "big brother" para controlar o tempo da pessoa... elas mesma, olhando para o seu pulso, sabe o que tem que fazer, se está atrasada ou adiantada.
Quando chegam as férias, o ócio vira problema. Muitos estressam mais nas férias do que no período de trabalho. Afinal, o que fazer? Nada? E o sentimento de culpa? E o medo de que não sintam a sua falta na empresa?
Será que as pessoas perceberiam o óbvio: você é uma mercadoria (Marx) e, como tal, pode ser descartada e não fará falta, seja na empresa, na família, na amizade ou em outras relações. Claro, esse é o ponto de vista de nossa sociedade capitalista. Não precisaria ser assim. É uma escolha individual num modo de produção em que tudo é definido coletivamente. Complicado? Você fracassa em algo e imagina que a culpa é só sua. Por exemplo, não passa no vestibular ou em um concurso, sente-se mal por isso. Esquece, contudo, quais foram as condições dadas para que você pudesse concorrer com todos os outros candidatos. Aquela história de que todos são iguais e concorrem, portanto, em igualdade de condições é uma lenda burguesa, muito antiga por sinal. Mão invisível do mercado? Adam Smith? Por favor...
Entender o seu papel na comunidade e na sua relação com o outro pressupõe compreender você primeiro. Não dá para criticar algo sem que ocorra, antes, auto-crítica. Você tem que ser capaz de olhar para si mesmo.
Se você fantasia sobre o seu lugar nas relações, se você imagina que tem uma importância para os outros e isso só existe na sua cabeça, bom, quando "as férias" acabarem você realmente poderá ter surpresas desagradáveis. Insistir na fantasia, ainda é uma escolha sua. Insistir demais pode ser o caminho da loucura, da perda da razão, quando você cria uma mundo só para você e não consegue perceber mais a realidade.
Você tem medo do que? Da loucura? Da solidão? Da falta de dinheiro? Da falência? Do desemprego? De não ser amado (a)?
O medo pode te levar à fuga - como alcoolismo, excesso de trabalho, fanatismo religioso, vício em drogas e consumismo - antes de você enfrentar a realidade. Viver na fantasia é fácil. O difícil é conseguir sair dela. O chato é a insônia. O que incomoda é o pesadelo, o seu inconsciente te alertando de coisas que você se esforça bastante para esquecer. Se durante o dia, quando as lembranças desagradáveis tentam aparecer, você bebe ou usa droga, no sono, isso não seria possível. O seu inconsciente é implacável.
Lidar com essas três dimensões - sonho, fantasia e realidade - certamente não é algo simples. No entanto, também não é a morte ou o fim do mundo. Isso não acontece só com você. O capitalismo existe a partir da exploração de uma minoria sobre uma maioria. O mundo não é justo. Toda relação amorosa está fadada ao fracasso (para dizer o mínino). Então, a resposta seria desistir? Claro que não. A resposta estaria no "sussurro do vento", como naquelas músicas do Bob Dylan e do Led Zeppelin? Bem poético, mas sem efeito prático (eu sei que essa não era a intenção dos compositores)... A resposta é não fugir e isso quer dizer simplesmente viver, lidar com os prazeres e os problemas proporcionados pelas relações que inventamos. Sofrer, algumas vezes... Divertir mais, se possível...
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EMPREGO
No dia três de agosto de 2010, a economista Miriam Leitão afirmou, no jornal "Bom Dia Brasil", que as empresas não aceitam currículos de pessoas com mais de 35 anos, mesmo as que falam línguas estrangeiras e têm curso superior. Parece um pouco o movimento hippie da década de 1960, quando se dizia que não se podia confiar em alguém com mais de 30 anos.
De fato, o problema não é a idade. O capitalismo atual enfrenta um impasse. Existem melhores condições de vida do que em outras épocas - como na Idade Média, por exemplo -, portanto, se antes as pessoas viviam até 30 anos, hoje ela vivem bem mais, sendo comum encontrar gente saudável com 100 anos ou mais. Ou seja, atualmente existem mais pessoas que vivem muito mais tempo. Por outro lado, com o avanço da tecnologia, houve uma queda no número de empregos sem significar queda na produção. Em outra palavras, os empregadores precisam de um número bem menos de trabalhadores para obter o mesmo resultado. Assim, aumenta o número de pessoas que não trabalham pois não existem empregos.
Trata-se de um problema social. As conseqüências estão em todos os lugares: 1) pessoas morando na rua, vivendo do lixo dos outros; 2) pessoas que dependem do Estado para sobreviver, com a ajuda de programas como Seguro Desemprego ou Bolsa Família e 3) o aumento da criminalidade, sobretudo entre os jovens, que desejam um caminho rápido para a riqueza.
Quem está empregado se sente um privilegiado, mas é ele que paga toda essa conta e ainda vive estressado com medo de perder o emprego ou de ser roubado por tantos bandidos... Ele tem que pagar caro para morar num condomínio fechado. O shopping center seria o único lugar para passear e para fazer compras. Entretanto, caíram os mitos, pelo menos no Brasil, de que esses seriam lugares seguros: assaltos ocorrem em condomínios e em shopping centers.
Os países ricos têm os seus próprios problemas: somos nós! Em outras palavras, os imigrantes dos países pobres que insistem em "invadir a praia" dos ricos. Isso sem falar que eles também já criaram em grande quantidade os seus mendigos, desempregados e pessoas que moram nas ruas.
Tanto no Brasil como nos outros países, o impasse social deve ser resolvido pelo Estado. Para se fazer qualquer coisa, é necessário dinheiro. Na prática, isso quer dizer aumento de impostos dos que estão empregados. A ironia é essa: os que trabalham sustentam, indiretamente, os que não trabalham - por falta de oportunidade, afinal não existem empregos para todos.
Assim, ocorre um sentimento em comum tanto em que está empregado como quem não está trabalhando: a insatisfação. As pessoas ficam tristes pois não podem sofrer no trabalho. Não precisa, mas elas querem trabalhar mais. Fingem que trabalham. Inventam ocupações improdutivas. Criam ilusões para preencher o vazio de não trabalhar: alcoolismo, drogas, religiões, entre outras coisas.
Tudo é feito para não enfrentar algo que sempre foi considerado nobre na história da humanidade: o ócio. Após séculos da ideologia do trabalho no capitalismo, os indivíduos, hoje em dia, têm dificuldade de lidar com qualquer outra coisa que não seja o trabalho. Um problema social é assimilado ideologicamente como uma culpa individual. O mais grave é que o indivíduo não consegue perceber que neste impasse está justamente a possibilidade de ter mais liberdade, de ser mais feliz e, sobretudo, de cuidar de si mesmo.
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ESTRANHO
Em 1980, eu entrei no chamado Segundo Grau. Neste ano, eu publiquei em anúncio em "inglês" numa revista de rock da Alemanha. (OK, eu sei que apenas na primeira frase já existem diversos elementos para uma análise de discurso). A minha intenção era entrar em contato, por cartas, com as garotas da Europa. Eu não sabia inglês e nem sabia se o anúncio seria publicado. Foi. Comprei um dicionário e tentei responder as dezenas de cartas que chegavam, com fotos e postais.
Assim, comecei meu interesse em saber realmente outra língua. Anteriormente, me interessava mais por causa das letras do rock, mas nunca pensei seriamente que poderia compreender outra língua. Diante das cartas, não tive alternativa. Escrevia errado, naturalmente, e tinha dificuldade de entender o que as garotas escreviam.
Então, entrei numa escola de inglês e aprendi a falar também. Como dizem, peguei "gosto pela coisa", eu fui estudar alemão - a maioria das garotas era deste país - e francês. O meu interesse por esta última língua estava associado à faculdade que eu fazia. Eu achava o espanhol parecido com o português e não quis estudá-lo. Se precisasse ler algo, utilizaria a ajuda de um dicionário, se tivesse que ouvir algo, não teria tanta dificuldade de entender como nos casos das outras línguas. De fato, posteriormente, eu fui na Espanha e não tive problemas com a comunicação. Fui ainda na Alemanha, França e Inglaterra, e aproveitei para comprar livros respeitando o autor e a língua que ele escrevia - por exemplo, Marx em alemão, Sartre em francês e Hobsbawm em inglês.
Pelos exemplos citados, pode-se deduzir a minha escolha na carreira universitária: Ciências Humanas, mais especificamente História. Depois da graduação, ainda fiz uma Especialização em Filosofia na mesma universidade, UFU-MG. Depois fui para o Rio de Janeiro, mais especificamente para a UFF, para realizar o meu mestrado em História. O doutorado eu fiz na PUC-SP. As duas teses foram lançadas como livros (Rápida Editora), respectivamente, "Crescimento Urbano & Ideologia Burguesa" (2002) e "Minas Gerais na Ditadura Militar" (2002). Lancei ainda, pela mesma editora, uma coletânea dos meus artigos - "Poder e Política em Minas Gerais" (2003) - e organizei um livro com o título de "Turismo de Negócios" (2004). Pela Cabral Editora, organizei, juntamente com a professora Valéria R. D. Gomes, os livros "A Escola e a Família" (2003) e "Educação e Cidadania" (2004).
Dei aulas 16 anos no ensino superior. Fui professor de dois centros universitários. Sempre dizia aos meus alunos que você não "escolhe" ser professor. As suas escolhas e as circunstâncias da época em que você vive podem levá-lo a tal profissão. Você acaba se apaixonando pelo ofício, mesmo percebendo que o restante da sociedade não valoriza tal atividade como deveria.
Enfim, uma trajetória de vida como de qualquer outra pessoa. O interessante, no meu caso, é que, aparentemente, o interesse pelas garotas e pelo "rock n' roll" levou-me a tais caminhos. No fundo, sempre quis saber o por quê das coisas. Eu "sabia que era diferente", como diz aquela música da Legião Urbana. Portanto, eu queria entender a minha vida e por que era considerado "estranho", por isso fiz História, por isso escolhi determinadas épocas para estudar. Lendo com atenção os meus livros e artigos, não seria difícil chegar nesta conclusão. Mesmo nos casos das garotas e do "rock n' roll", o leitor poderia associar certas temáticas de meus textos com preocupações do meu cotidiano. Estou pensando, especificamente, em dois artigos: "Turismo, sexo e negócios" (Caderno de Turismo, 2006) e "Comunicação e Música: algumas considerações sobre a história social do rock" (2004).
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EX-NAMORADA (O)
Por quê não é fácil manter uma relação de amizade com uma ex-namorada?
Primeiro, vocês sabem praticamente tudo um do outro. Falar da vida amorosa pós-namoro gera uma mal-estar, mesmo quando os dois tentam fingir que aquilo é natural. De imediato, o ex-namorado faz comparações na sua cabeça, imaginando que o "atual" seria melhor que ele.
Em segundo lugar, existe o problema do ciúme. Os "atuais" não acham natural a amizade de ex-namorados. Desconfiam que ainda existe alguma coisa e, portanto, estariam sendo traídos.
Em terceiro lugar, há o problema de só um dos dois estar namorando. Isso piora a situação. Quem ficou solteiro é visto como fracassado. Claro, isso, como quase tudo neste momento, não é dito, mas é a sensação que fica.
Ocorre ainda uma quarta questão: a sua nova namorada é amiga da sua ex. Para as mulheres, é algo imperdoável. A amizade entre elas acabou e, provavelmente, a sua com a ex também. De uma maneira geral, os homens gostariam de ficar com todas. As amigas e as irmãs são objetos de fantasia, pois, na realidade, eles sabem que podem escolher só uma naquela turma. Há um pacto implícito entre as mulheres neste sentido. Muitos homens acreditam que possam romper isso e namorar, em diferentes momentos, duas amigas ou duas irmãs, e tudo continuará como antes. É uma ilusão. Traição é outro caso. Pode ser até comum, você trair a sua namorada com a melhor amiga dela. Acontece.
Finalmente, em quinto lugar, a amizade entre ex-namorados, muitas vezes transforma-se no oposto: em ódio. Se um dos lados tenta reatar o namoro e é rejeitado, a possibilidade de existir amizade é quase nula. O que sobra, na maioria do casos, é o rancor de quem fracassou. Por isso, é tão comum ex falar mal de ex. Quem ouve, imagina: " se era tão ruim, como essa pessoa namorou dois anos com fulano."
O namoro, basicamente, representa a segunda fase de um processo. A primeira é a sedução e a terceira é o pós-namoro. Se as duas primeiras significam novidade e prazer, a terceira representa a dor, a falsidade, a mágoa ou uma "diplomacia" que beira ao cinismo.
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FANTASMA
Nesta tarde, tive um sonho interessante (sim, durmo à tarde e em vários horários considerados "estranhos"). Meu cabelo parecia diferente, parecia daquelas perucas que o guerrilheiro Carlos Marighela usava na ditadura militar, para disfarçar e parecia que chamava mais a atenção (ler GORENDER). Enfim, no meu caso parecia que eu não queria ser reconhecido também. Isso deve estar associado a um fato que ocorreu na quinta-feira passada. Eu saio pouco, muito pouco. Neste dia, fui ao Praia Clube e achei interessante o esforço que um ex-aluno, que vinha em minha direção, fez para não me cumprimentar. Ele era daqueles que sempre conversava comigo na faculdade, mesmo fora do horário das aulas. Foi uma cena engraçada. Não foi novidade, na medida em que esse tipo de atitude é muito comum em Uberlândia.
Parece que o fato de ter escolhido ficar "isolado" nos últimos meses tenha reforçado esse tipo de atitude. Ou não. Nas poucas vezes que eu saio, sempre sozinho, muitas pessoas não me cumprimentam. Outras olham para mim como se estivessem vendo um "fantasma": "ué, aquele é o profelipe?! mas ele não tinha morrido?.." Lembro-me que esse tipo de comentário era comum quando o prof. Bernard saiu da faculdade. Diferente de outras profissões, os professores tornam-se "fantasmas" ainda em vida. Não quero nem saber o significado disto do ponto de vista freudiano... O desejo de morte do outro (uma espécie de auto-afirmação do indivíduo) parece ser óbvio demais.
Os meu professores, os bons e os maus, de alguma maneira, me marcaram. Não seria por acaso que existe tanto filme de professor, normalmente em tom melancólico (e dramático). A profissão não é isso, mas parece que é assim que quem NÃO é professor vê a vida desses "sofredores".
Algumas pessoas parecem visivelmente curiosas diante "daquele fantasma". É comum ouvir perguntas como: você "ainda" mora em Uberlândia (elas desejavam não te ver mais...)? O que você está fazendo? Dá vontade de responder o óbvio: "ué, nesse momento, estou conversando com você." No entanto, eu sou educado demais para dizer algo assim. Daí respondo: sim, moro em Uberlândia e estou num período sabático. OK, mesmo explicando o que quer dizer sabático, o que deveria ficar claro, parece tornar-se mais complicado: "como assim, você fica lendo e escrevendo, fazendo caminhada, vendo filmes, sem horários definidos? Então, você não faz nada." Hello?!? Nada? Na pergunta está a resposta: ler, escrever, caminhar e ver filmes.
O "nada" em questão é um incômodo do outro, que vive na correria, não sabendo nem para onde está indo e nem o por quê. Na nossa sociedade, as pessoas são identificadas a partir do emprego, parece sobrenome: João da Coca-Cola. Se o João sair da empresa, automaticamente, deixa de existir e vira um "fantasma". Talvez, para muitos, a resposta esteja aí. No meu caso, porém, não me preocupo com rótulos e moro em Uberlândia tempo demais para me chocar com algumas atitudes. Então, por que escrever sobre isso? Porque foi engraçado... irônico... seria algo que você comentaria num bar, se não fosse visto como um "fantasma"...
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FICÇÃO
Alan Moore, na história sobre o Batman, em "A Piada Mortal", utiliza uma frase interessante enquanto o Coringa luta com seu principal inimigo: "se é para ter um passado, prefiro que o meu seja de múltipla escolha..." Pensando nisso, em um momento de, como diria Domenico de Masi, "ócio criativo", resolvi recapitular alguns momentos da minha história de vida.
Passei a minha infância e a minha adolescência nas décadas de 1960 e 1970, portanto, durante a ditadura militar. Lembro-me, que quando criança, fui vestido de anjo numa igreja católica - provavelmente tratava-se de uma data especial. Antes dos 10 anos, fui "Lobinho", que era uma espécie de preparação para depois dessa idade, tornar-se Escoteiro. Depois, fui treinar basquete no ginásio da cidade. Na época, havia os famosos desfiles de 7 de setembro, encerrados com pompa pelos soldados do exército, coisa típica de regime autoritário. Desfilavam as escolas e suas fanfarras e os representantes das instituições da comunidade. Desfilei duas vezes: como Lobinho e como jogador de basquete.
A minha rebeldia adolescente começou com o fascínio ao rock. Durou pouco. Aos 15 anos, entrei para um grupo religioso evangélico, além de passar a freqüentar todos os dias a Igreja Presbiteriana.. Foi uma fase de fanatismo, mas foi positiva, pois me tirou do caminho das drogas.
Ao longo dos anos, tinha as minhas crises cíclicas de depressão, que nem os médicos sabiam definir o que era e nem havia medicamentos adequados na época. Uma vez, o meu médico me perguntou no que eu pensava. Eu respondi o que ouvia nos grupos religiosos que freqüentava: que o apocalipse devia estar próximo e que o anti-cristo seria o comunismo. Essa última palavra não era mencionada abertamente, no período do regime militar, sem gerar desconfianças.
Foi o que aconteceu com o meu médico: ele decidiu, depois da conversa, me internar numa clínica psiquiátrica por uma semana, na qual tomei vários tipos de remédios e de injeções todos os dias. A ameaça era clara: se eu não "melhorasse', seria encaminhado ao hospício, o que amedrontava por causa das grades - parecia mais uma prisão - e dos choques elétricos. Fiquei comportado. Fingi que seria "normal' desde então.
Alguns meses depois que fiz 18 anos, veio outra experiência desastrosa. Eu e a prima de um amigo resolvemos cheirar clorofórmio na periferia da cidade, antes de irmos na inauguração de uma "discotheque". Não deu certo. Passamos a noite na prisão.
A partir daí, meus pais me obrigaram a trabalhar e eu decidi voltar a estudar. Aos 21 anos, entrava na faculdade de História. Com as leituras, descobri que não havia nada errado no meu comportamento e voltei a agir do jeito que queria.
Uma novidade apareceu: a militância política em 1982, ainda na ditadura militar. Assim como havia acreditado na religião, passei a acreditar na política. Essa militância durou até 1986, quando, percebendo os erros práticos dos grupos de esquerda, resolvi sair. Esses grupos eram ligados ao Partido dos Trabalhadores, que, então, se dizia socialista. Muitos anos depois, com a história do mensalão, a minha análise parecia não estar tão equivocada naquele momento.
Depois de 1986, deixei de militar em grupos ou acreditar em mega projetos de transformação social. Passei a me concentrar mais na minha vida de estudante. Formei. Depois fiz uma especialização em Filosofia. Depois, sai de Uberlândia e fui fazer mestrado em História na Universidade Federal Fluminense.
Posteriormente, fiz o doutorado na Pontifícia Universidade Católica. No período, já era professor universitário. Participei de congressos e publiquei 6 livros e alguns artigos científicos. Passei a ser conhecido como professor e pesquisador. Trabalhei 16 anos no ensino superior.
Meus alunos mais antigos lembram de um professor sério e casado, com barba, que vestia socialmente "correto": sem jeans ou tênis. Os alunos mais recentes associam a minha imagem a um professor "light", que brinca muito, usa jeans, tênis e camiseta (sempre preta). O visual havia mudado, mas a seriedade profissional permanecia.
Fiz psicoterapia entre 1995 e 2009. Depois de 2000, outra médica começou a me receitar antidepressivos. O meu médico da adolescência suicidou em 2007.
Fiz algumas viagens para a Europa entre 2000 e 2006. Como havia estudado inglês, francês e alemão, foi interessante visitar esses países.
Passei a adolescência ouvindo rock e foi uma prazer ver aquelas bandas ao vivo, como The Rolling Stones, Jimmy Page & Robert Plant (Led Zeppelin), AC/DC, U2, Bob Dylan, Kiss, Guns n' Roses, Nirvana, The Sisters of Mercy, entre outros.
Depois, divorciado, namorei garotas de 20 anos. Chamam isso de crise de meia idade. Talvez. Gosto de mulheres bonitas e inteligentes. Sempre gostei.
Voltei a freqüentar boites - antes eram chamadas de "discotheques" - e as festas com música alta para dançar - agora eram as tais "raves". Na minha ausência da vida noturna, nada havia mudado realmente, exceto a minha idade, algumas décadas mais velho.
Uma das características da crise da meia idade é o saudosismo, é acreditar que o melhor da vida já passou. É sentir saudades da adolescência ou da época da faculdade. Alguns ainda gostariam de viver todas as fases da vida novamente. Eu não. Sinto tédio só de pensar que teria que passar por tudo novamente. Não sou saudosista, vivo o presente e o que ele pode oferecer. Não acredito em rótulos e assumo o que eu faço e, obviamente, faço o que eu quero.
Erro muito mais que acerto. Contudo, não me incomodaria de ver a minha vida sendo passada no "telão do juízo final" para toda a humanidade assistir. Sim, aquele sou eu e aquela foi a minha vida. Alguns certamente me perguntariam: "como você foi capaz de fazer aquilo?" Eu responderia: "se você achou algo estranho, espere para ver o próximo capítulo..."
A vida deve ser isso: capítulos de uma novela sem novidades, mas, talvez, para você, que acredita que tudo gira em torno de "vossa majestade", ela possa parecer algo maior do que de fato é. Não fique triste. Você não é o único que pensa assim.
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FILMES
O que diferencia o homem dos outros animais? Alguns diriam: o poder ou a política. Outros escolheriam características como amor, dominação, amizade, solidariedade ou religião.
No filme "Blade Runner", o que diferencia os humanos dos que não são seria a memória, o fato de se ter um passado. Em outro filme, "Les Invansions Barbares", diante das dúvidas do personagem diante da morte, a filha de sua amiga diz: "não é a sua vida atual que você não quer deixar; é a sua vida passada; e essa já está morta." Aqui, mais uma vez o passado aparece como uma característica do ser humano.
O que diferencia os homens dos outros homens? A diferença mais óbvia é a questão das classes sociais: uns são ricos e outros são pobres. É uma diferença objetiva e material. Marx acreditava, pelo menos num momento da sua vida, que a criação de uma ideologia tornaria essa diferença social possível. Ricos e pobres acreditam na "ideologia do capitalismo".
Então, o que poderia diferenciar uns dos outros? Nietzsche acreditava que a maioria da humanidade não seria capaz de entender a própria existência. Haveria poucos capazes de ir além das obviedades do cotidiano. No filme "Red Dragon", o personagem - e "psicokiller" - Dr. Lecter diz para o investigador: "você me pegou pois somos parecidos (...) o que nos diferencia dos demais é nossa imaginação." Alguns filósofos diriam que seria a capacidade de pensar sobre a metafísica e sobre o niilismo.
Refletir sobre temas complexos gera ansiedade em muitas pessoas. Não refletir significa alienação. São dois caminhos. São duas opções. Na medida em que você realmente pensa sobre a condição humana, você fez uma escolha e não há caminho de volta. Não seria possível ser superficial novamente e acreditar num mundo perfeito e colorido.
Você, agora, vê além do imediato e da aparência. Por um lado, é bom, pois não te enganam mais tão facilmente como antes. Por outro, porém, você percebe o lado "real" dos indivíduos e de suas relações. O mundo aparece, assim, como um lugar sombrio e sem sentido, o que, de fato, ele é. Você percebe ainda que poucos ao seu redor enxergam aquilo que você vê. Você sente solidão. Você sente saudade do tempo em que acreditava em fantasias e não vivia. Diante do dilema vida ou alienação, você fez sua escolha. Cabe, portanto, saber tirar o melhor dela, mesmo sabendo que sentimentos negativos fazem parte da formação do ser humano.
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FREUD
Quando era adolescente, tive um sonho erótico inesperado. Acordei assustado. Achei um absurdo a tal história.
Algumas décadas depois, lendo Freud e partindo da sua afirmação que você realiza os seus desejos nos sonhos, um dia eu tive a oportunidade de realizar aquilo que imaginava ser uma fantasia.
Na prática, não foi o que eu esperava. Sexualmente falando, eu não gostei. Como no sonho, no dia seguinte, não acordei satisfeito.
Contudo, os outros aspectos da relação, como sempre, foram ótimos: gosto de namorar, curtir a noite, conversar, acordar junto... Nestes aspectos, foi um final de semana e tanto, depois de muito tempo, aprendi muito, ri e me diverti bastante.
Não sei o que Freud diria desta experiência. Nem sei se ela contradiz efetivamente a sua teoria. Pouca importa. O que ficou claro, mais uma vez, é que o sexo, para mim, nunca é o mais importante numa relação amorosa, mesmo que seja somente um final de semana ou "one night stand".
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HOMENS
Jerry Seinfeld, uma vez, fez uma brincadeira sobre a reclamação das mulheres de que não existem homens disponíveis: "como? nós estamos em todos os lugares!!" O problema, ele reconhece em seguida, seria que os homens não sabem como chegar e conversar com as mulheres. É verdade.
As mulheres fascinam e exercem um grande poder sobre o sexo oposto. As mulheres são complexas, o que dificulta a situação de qualquer indivíduo. Elas dizem "não", por exemplo, que não quer dizer, necessariamente, "não", pode ser só uma estratégia, um charme. O "não" pode significar "talvez" ou mesmo, se o homem for um pouco inteligente, pode ser, de fato, um "sim".
Como saber? Não existe um manual. Na verdade, cada situação, com cada pessoa, pode mudar tudo. Não existem modelos ou regras. Seria esse o motivo, provavelmente, da atitude masculina machista de sair por aí cantando todas, muitas vezes, de uma maneira óbvia e vulgar, Do ponto de vista do homem, ele pensa: "uma hora pode dar certo." É a velha história: "se ele não for cara de pau, nunca ficará com alguém."
O problema fica mais grave quando a sedução ocorre ao mesmo tempo que as pessoas estão bebendo muitas cervejas ou doses de vodka e whisky. Se for numa boite ou num bar escuro, as coisas ficam mais difíceis. Algumas vezes, ao chegar no local, os homens estabelecem uma hierarquia para a "caça" - desde a mais bonita, a número 1, até aquela que ele, mesmo bêbado, não aceitaria. Claro que com o efeito do [excesso de] álcool, nenhuma teoria poderia se concretizar. Por isso, no final da noite, assistimos cenas deprimentes, tanto para eles como para elas.
A questão não é só a paquera. Aqueles que vivem um relacionamento monogâmico também sofrem para entender os desejos femininos. Aos olhos dos homens, as mulheres nunca estão satisfeitas.
As mulheres gostam de elogios, mas se ficar fácil demais, elas perdem o interesse. Talvez isso explique o sucesso dos chamados "bad boys". Ser um cavalheiro pode ter o efeito oposto à fantasia feminina. Se ele respeita demais, a mulher suspeita que trata-se de um gay. Se for rápido, seria um safado, que faz isso com todas.
Além disto, existem aqueles momentos que os homens não sabem como reagir. Por exemplo, ela começa chorar sem motivo. O que fazer? Seria TPM? Ele teria feito ou dito algo equivocado? Outro coisa seria a famosa DR - Discutir a Relação. Todo homem odeia DR. Faz tudo para fugir de uma. No entanto, raramente consegue. Horas e horas de conversa... O cara pensa: "então, o namoro vai acabar." Claro que não! Pode ser exatamente o contrário... Pode ser um desabafo ou apenas um teste.
Sim, algumas mulheres adoram testar os homens. O objetivo, é difícil dizer, pode ser que elas queiram verificar se eles são fiéis, se estão mentindo, se querem casar ou se elas realmente têm o controle da relação. Muitos se sentem como ratos de laboratório. Basta um olhar da mulher, que ele pára o que está fazendo: "é um sinal... posso fumar? posso beber mais uma? posso jogar futebol com os amigos?" Na dúvida, ele pergunta: "posso?" Ela responde: "você quem sabe." O homem piora a sua situação e para evitar atritos, leia-se DR, deixa de fazer o estava pretendendo.
Talvez as mulheres achem exagerados os exemplos citados. Talvez alguns homens tenham passado por situações semelhantes. Talvez... talvez... Sim, porque não existe uma única resposta que possa satisfazer plenamente um homem e um mulher numa relação. Por isso, muitos mentem, omitem ou fogem de qualquer forma de compromisso.
Contudo, não há como negar: um preciso do outro. Entretanto, qual seria o preço a ser pago para ter uma vida de casal? Será que vale a pena? A minha resposta, pessoal, seria: "eu não faço a mínima idéia." Estive nos tais três momentos: vida de solteiro, namorando ou casado. Qual seria melhor? Isso, naturalmente, dependerá de cada um.
Viver é lidar com dilemas, dúvidas e problemas. Sozinho ou como casal, a vida não torna-se mais fácil. Trata-se, no final, de uma escolha particular, individual.
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HOSPITAL
Gosto de arquitetura. A idéia de construir um ambiente que acolhe o indivíduo me agrada. Nem sempre é assim, claro. Foucault já citava as arquiteturas das prisões que tinham como função facilitar o "olhar" sobre os detentos. No Brasil, Oscar Niemayer é um grande inovador, com os projetos de Brasília e tantos outros pelo país e pelo mundo.
Estive pensando no caso do hospital. Aquela ambiente me incomoda. Imagino a insatisfação do paciente, dentro daquele prédio bege, com pessoas de branco por todo lado e as caras tristes dos doentes. Acredito que a arquitetura poderia ser uma aliada neste caso. Eu sei que alguns hospitais usam ambientes mais abertos, inclusive com espaços para jardins. Os "doutores da alegria" certamente servem para mudar aquele clima frio proporcionado pelo "saber médico" - o paciente seria apenas um número - e por uma arquitetura sem cor.
O "corredor da morte" é o último caminho realizado por aqueles que possuem a pena máxima. Acredito que esta expressão poderia ser empregada para a maioria dos hospitais. Trata-se de um espaço que você passaria antes da morte. Muitos pacientes devem conhecer este sentimento. A percepção da morte do mundo ocidental provavelmente não facilita o humor daqueles que estão numa situação de fragilidade em relação à saúde.
Dito isso, imagino algo absurdo, mas que poderia mudar o "astral" de um ambiente deste: um bar no meio do hospital. Ou seja, uma sala especial, fechada, com música alegre, bebidas, danças e luzes, tudo o que um bar ou "boite" normalmente oferece. O acesso seria permitido aos pacientes, aos familiares e aos funcionários do hospital, incluindo os médicos e os enfermeiros. Tudo seria controlado com a ficha do paciente, que apresentaria o seu "estado atual" e, portanto, revelaria, por exemplo, aquilo que ele poderia beber. As pessoas teriam uma sala menor para fumantes. Todo o ambiente deveria ser colorido, com luzes, barulho, música, tudo aquilo que o paciente não tem acesso dentro do hospital. A sala seria a prova de som, para não incomodar o ambiente do hospital. Ela representaria uma exceção, uma fuga ou um lugar onde as pessoas iriam para "recarregar as suas energias" e seu "desejo de vida".
Sim, pois o hospital como é concebido hoje, lembra qualquer coisa exceto vida. Atualmente, ele está mais associado à dor, à tristeza e à morte. Trata-se de um ambiente que oprime as pessoas, tanto os pacientes como os familiares. Os médicos e enfermeiros procuram perceber tudo aquilo apenas como mais um "ambiente de trabalho", algo frio e profissional, o que associado à própria arquitetura, cria um "clima" que todos desejam evitar - como no caso das prisões, que com esta mensagem, coloca-se como o lugar da punição e do castigo para uma pessoa que fez algo errado. Entretanto, pacientes não são presidiários. Não fizeram coisas erradas, em sua maioria, nem com os outros nem com eles mesmos. Assim, criar um ambiente de opressão para estas pessoas não seria justo e nem humano.
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IDADE
No primeiro episódio de "Sex and the City", a personagem Miranda conta uma história: "eu tenho uma amiga que só saía com homens bonitos e só se divertia.Um dia, acordou e já tinha 41 anos. Ninguém queria mais saber dela. Teve um ataque, não conseguiu mais trabalhar e voltou para o Wisconsin para viver com a mãe. Confie em mim, isto não aflige os homens."
Realmente, esse tipo de história não comove os homens, porque, por princípio, todos foram educados para querer sempre a "próxima" ou a "outra" mulher. Somente em casos extremos, ele "repete" a garota - como no fim de uma festa em que ele não conseguiu ficar com alguém interessante. Uma ex-namorada parece-lhe um caminho garantido, afinal, ele já conhece o "mapa da mina" (péssimo trocadilho, por sinal).
O que acontece com as mulheres? Elas não confiam nas amigas e, de fato, não acreditam nos homens. Elas querem acreditar, são formadas para isso. Entretanto, diante da realidade, elas fingem que acreditam por não terem alternativas ou por terem medo de ficar sozinhas.
O problema está na fase em que elas deixam de ser crianças em tornam-se moças (termo antigo esse). Dos 15 aos 21 anos, elas vivem a melhor fase: são desejadas, cobiçadas, descobrem o poder da sedução e, naturalmente, acreditam que aquilo durará para sempre. As cantadas dos homens reforçam esse mito.
Lindas, novas, magras - assim, elas entram na faculdade. Aqui, elas escolhem dois caminhos: 1) apaixonam-se por um colega, formam, casam, têm filhos e depois divorciam ou 2) ficam solteiras e aproveitam tudo que essa fase oferece: "ficantes", festas, bebidas, drogas e sexo, muito sexo. As que escolhem o segundo caminho, no fim da faculdade, começam a enfrentar alguns dilemas: as amigas têm filhos, outras casam e elas não apresentam o charme das "calouras" - se consideram velhas diante de uma realidade com meninas cada vez mais novas, bonitas e dispostas a viver aventuras. É um duro golpe na auto-estima.
Depois da formatura, pode vir o pior: voltar a morar com os pais (se a faculdade era em outra cidade) ou continuar morando na casa dos pais, depois de ter vivido tantas experiências... Sair de casa e morar em "repúblicas" passa a sensação de não ter saído da universidade.
Morar sozinha não é fácil: é caro, os pais podem não concordar e ainda existe a solidão. A solução seria casar, mas... como? Depois de formada, com 25 anos, onde acharia um pretendente, mais velho, trabalhador e cujo sonho seria o casamento? Esse homem não existe. Depois dessa idade, formados ou não, mas com carros e melhores salários, os homens querem se divertir e isso pode significar tudo exceto compromisso.
Após essa faixa etária, as mulheres percebem que não são mais o foco de atenção das festas. Se antes dos 21 anos, elas faziam piadas das mais velhas, de suas rugas e de suas roupas, que "não seriam adequadas para pessoas daquela idade", agora, elas tornaram-se aquilo que ridicularizavam. Pior, elas sabem disto. Por isso, bebem mais. No entanto, rapidamente, descobrem que a ilusão criada pelo álcool tem limite. Por isso, é tão comum, no final da noite, encontrar mulheres em prantos, querendo entender o que aconteceu com a vida delas. A resposta é simples: o tempo passou.
Lidar com esse fato quando viveu uma infância e uma adolescência achando que era uma verdadeira princesa e que só faltava encontrar a sua "cara metade" para ser feliz para sempre... Bom, neste caso, a crise pode ser mais séria e a solução, se existir, poderá estar mais distante do que ela gostaria.
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ILUSÃO
As coisas não são o que parecem ser. Nada de novo nesta afirmação. Desde Platão, com seu mito da caverna, passando pelo conceito de alienação em Marx ou mesmo a concepção de inconsciente de Freud, existe esta preocupação.
A divisão entre o que seria e o que é de fato a realidade foi tratada por muitos pensadores e mesmo por produtos de massa, como o filme "Matrix". Quase sempre são dois momentos: um onde a vida é bela e outro no qual o mundo é cinza e cheio de problemas e sofrimentos. Uma música, em especial, retrata esta temática na vida de um indivíduo - "The Logical Song" do Supertramp.
Primeiro, a beleza e a descoberta da juventude:
"Quando eu era jovem
Parecia que a vida era tão maravilhosa
Um milagre, oh ela era tão bonita, mágica
E todos os pássaros nas árvores
Estavam cantando tão felizes
Oh alegres, brincalhões, me observando"
Depois, aparecem os problemas da vida adulta:
"Mas aí eles me mandaram embora
Para me ensinar a ser sensato
Lógico, oh responsável, prático
E me mostraram um mundo
Onde eu poderia ser muito dependente
Doentio, intelectual, cínico"
(Tradução: http://letras.terra.com.br/)
Aliás, três filmes mostram o rompimento destes dois mundos na perda do emprego: "Leaving Las Vegas", "Fight Club" e "American Beauty".
Ser despedido ou abandonar o emprego simboliza, utilizando a letra do Supertramp, "mas aí eles me mandaram embora (...) e me mostraram um mundo onde eu poderia ser muito dependente, doentio, intelectual, cínico." Trata-se de um choque para o indivíduo, que acreditava que trabalhando e seguindo as regras, conseguiria resultados positivos na vida.
O choque tornar-se crise. Muitos desistem. Em "Leaving Las Vegas", o personagem fez a opção pelo alcoolismo. No filme "Fight Club", o excesso, para fugir da crise, foi a luta. Já em "American Beauty", o caminho encontrado foi a paixão platônica por uma garota adolescente.
O problema permanece na nossa sociedade. As pessoas se escondem atrás de suas "obrigações". Elas inventam várias atividades. Assim, não precisam pensar na própria vida.
Os projetos dos jovens são sempre os mesmos: concluir uma faculdade, possuir casa e carro, casar e constituir família. Na crise da meia idade, os filhos cresceram e não precisam mais dos pais, a qualificação que veio com a conclusão da faculdade não parece ser garantia de empregabilidade e o desemprego pode comprometer o pagamento dos financiamentos da casa e do carro.
Assim, a vida parece ser mais complexa e insegura. Pior, com o tempo, desaparece o prazer da novidade: os brinquedos no natal, o primeiro beijo, as festas da faculdade, entre outras coisas. É criado o impasse que o indivíduo deve enfrentar, aquilo que, de forma direta ou indireta, foi tratado nos três filmes citados. Alguns optam pela psicanálise, anti-depressivos, alcoolismo, excesso de trabalho ou um caminho muito comum: a religião. Cada um procura manter viva a antiga "ilusão" - da criança e do adolescente - como se nada tivesse acontecido.
No fundo, contudo, cada pessoa sabe que uma fantasia não resolve a simples realidade do ser humano: a vida não tem sentido e a certeza mais óbvia é a morte. Ela existe para os alienados e para os críticos, para os crentes e para os cínicos. A maioria a vê pelo lado negativo. Tentam adiá-la. Outros a enxergam pelo que ela é: um fato na vida de um indivíduo. Nada mais do que isso. Esta constatação é uma conclusão positiva diante de uma vida que não apresenta a mínima lógica e, muito menos, respostas satisfatórias.
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INGÊNUOS
E. P. Thomspon escreveu uma grande obra: "The Making of Working Class". Foi isso. Eric Hobsbawm disse que ele não tinha um bom editor e fez escolhas equivocadas - como polemizar com Louis Althusser. Não adianta ser um gênio ou ter potencial, se você não sabe o que faz com isso.
Desde os pensadores da Grécia Antiga, a grande questão era como contribuir de tal forma para a humanidade, que você transcenderia a sua existência. Foi o que fez Platão, por exemplo. Neste sentido, Hobsbawm tinha razão em relação ao Thompson: ele poderia ter feito mais.
Por outro lado, para quem vive em uma época que se valoriza o superficial, a imagem e os bens materiais, deveria ser pensado ainda: quem realmente se importa?
De que vale gastar anos em pesquisas e realizar grandes análises e descobertas se, diante dos indivíduos do seu tempo, você não teria valor algum? O que seria melhor, ser manipulador, individualista e obter sucesso em vida, como foi o caso de Bill Gates, ou ser um gênio e viver na miséria, como Van Gogh? Ser os dois não seria possível em nossa sociedade, na medida em que as pessoas que não conseguem perceber o óbvio não poderiam questionar e ir além das aparências.
Não existe solução para tal dilema. Existem, sim, escolhas e conseqüências. E a morte, claro.
De que adiantou toda a "malvadeza" e toda a riqueza de Antônio Carlos Magalhães depois que ele deixou "esse mundo material"? Qual seria o sentido de ser milionário, ter contas na Suíça e possuir aviões, iates e mansões a partir do sofrimento e da exploração de milhões de pessoas, se o indivíduo morre e tudo de material perde o seu valor? Se for pensar efetivamente nessas problemáticas, os "espertos" do capitalismo teriam se esforçado tanto para perder tudo aquele amam - os bens materiais - no final da vida. Eles ainda acham que, por exemplo, os artistas, os religiosos e os intelectuais desperdiçam as suas vidas pois se preocupam com os outros. E ainda se consideram os "espertos"... e os outros seriam apenas "ingênuos"... Irônico.
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INSÔNIA
As pessoas, normalmente, apresentam dificuldades para dormir. Deitam e esperam o sono. Ficam horas acordadas. Tal fato não ocorre somente com os velhos. Adolescentes afirmam que não dormem pois suas mentes não param de funcionar. Pensam em problemas, assim como todos aqueles que não podem ter um sono tranqüilo. Os problemas podem variar com a idade, mas permanecem na mente dos que sofrem de insônia ou daqueles que acham que possuem alguma doença.
Quanto mais velho, maior é a dificuldade de sono. Simples: as pessoas vivem mais experiências e, portanto, mais frustrações. Neuroses, diria Freud. Os desejos não realizados não apenas agravam as dificuldades para dormir, mas podem causar ainda pesadelos. Aqueles fatos que gostaríamos de esquecer, desde a infância, insistem em aparecer nos sonhos. Se durante o dia, criamos todo tipo de atividade para 'fugir' de algo negativo que aconteceu no passado, durante o sono, perdemos este 'controle' sobre a nossa mente e entramos no reino do inconsciente. Sem a razão para nos proteger, nos deparamos com os fracassos e, mais do que isso, com os nossos mais íntimos medos.
A situação piora. Procuramos os médicos e passamos a depender de remédios para dormir. Alguns ficam viciados. O desejo de 'dormir como um bebê' parece cada vez mais distante. Nos damos conta de que ser adulto é um caminho sem volta. Mesmo desejando, não conseguimos mais atingir aqueles níveis 'sinceros' de fantasia e ilusão da infância. Trata-se de um caminho sem volta, que nos coloca frente a frente com o dilema da própria condição humana: a morte.
Alguns diriam que dormir seria como morrer aos poucos. Não importa. O que interessa é que, racionalmente, desejamos dormir e não queremos a morte. Queremos ser otimistas, mesmo sabendo que a única certeza na vida é a morte. Refletir sobre a morte gera insônia? Deixar de questionar garanto o sono? Nada garante uma noite tranqüila. Críticos e alienados sofrem do mesmo mal: o sono não chega durante a noite. Esperamos. Pensamos. Tomamos remédios. A noite parece longa. A vida parece curta. Sono e morte. Velhos problemas sem respostas.
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INSTINTOS
Independente da idade, várias pessoas apresentam dificuldades para dormir. De imediato, lembro-me da parte inicial do filme "Clube da Luta": quando você tem insônia, você tem dificuldade de perceber o que seria real ou não...
Com a idade, claro, aumenta o número de neuroses, o que dificultaria mais o sono do indivíduo, além de produzir pesadelos. Estas neuroses ocorrem, conforme admitia Freud, devido ao conflito entre o desejo básico da pessoa e o seu compromisso com a comunidade, ou seja, instinto individual e responsabilidade social. Em um documento, Carta 105, Freud era claro: "Realidade - realização de desejos. É desse parte de opostos que brota nossa vida mental."
Para superar a insônia, muitos tomam remédios, sobretudo os controlados, aqueles de tarja preta. Funciona bem no início, mas, depois, como qualquer droga, com o uso diário e o aumento das doses, gradativamente, perde o efeito, o que complica ainda mais a situação do indivíduo.
Afinal, algo simples, como dormir, parece algo tão complicado na prática. O que facilitaria esse processo? "A 'precondição essencial' do sono é facilmente reconhecida na criança. As crianças dormem enquanto não são atormentadas por nenhuma necessidade [física] ou estímulo externo (pela fome ou pela sensação de frio causada pela urina). Elas adormecem depois de serem satisfeitas (no seio). Os adultos também adormecem com facilidade 'post coenam e coitum' [depois da refeição e da cópula]." (FREUD, Processos Primários - o Sono e os Sonhos)
Em outras palavras, dormir é algo necessário e natural. Para tanto, devemos reconhecer e satisfazer as necessidades básicas do corpo. Ou seja, alimentação e sexualidade são problemáticas que devem ser analisadas com atenção pelas pessoas que têm insônia.
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JUVENTUDE
Não gosto de discutir coisas óbvias, mas não consigo deixar de implicar com o termo "juventude". Afinal, o que é isso? Utilizamos o conceito de "terceira idade" para nos referirmos a velhice, o que seriam as outras duas idades? Fase adulta e infância. Pronto.
No sistema capitalista, interessa que um produto seja "novo". Um coisa sempre substitui outra. Marx já afirmava que os proletários, neste sistema, são tratados como "coisas", peças que podem ser trocadas por outras mais "novas". É uma verdade válida tanto para o trabalho manual - época do Marx - como para o trabalho intelectual - época atual.
O que isso tem a ver com a "juventude"? Trata-se de um mercado, que no capitalismo, tornou-se "o" mercado, em outras palavras, todos querem ser (parecer) jovens e usar produtos da "moda" - algo novo. A existência da "juventude" parece anular os três períodos da vida: infância, fase adulta e velhice. Atualmente, as crianças querem "parecer" com os mais velhos, nas roupas e nos comportamentos, na maioria dos casos, com o apoio dos pais. Esses querem o contrário: querem "parecer" mais novos: fazem plásticas, pintam os cabelos e usam outros recursos para parecerem jovens.
O indivíduo com 20 anos, o "jovem puro", claro, procura aproveitar ao máximo a sua fase e acredita estar vivendo o melhor que a vida pode oferecer. Na década de 1960, era dito que a "juventude" não poderia confiar em ninguém com mais de 30 anos. Nesta fase de rebeldia, um dos ícones era o Mick Jagger dos Rolling Stones, que continua, atualmente, um avô em plena terceira idade, fazendo exatamente a mesma coisa. A este respeito, em sua última entrevista, antes de morrer, John Lennon, outro ícone daquela época, expressou uma opinião interessante - falando exatamente dos Rolling Stones: "quando você tem 16 anos é certo ter companhias e ídolos masculinos. É coisa de tribo, tudo bem. Mas quando você faz isso aos 40, significa que, na cabeça, você ainda não passou dos 16."
Eu não defenderia algo tão radical. Do lado dos Rolling Stones, o economista Mick Jagger diz que tudo é uma questão de mercado. Ou seja, é capitalismo e pronto. Entretanto, você pensa: esses indivíduos não estão ligados à "arte" ou, na verdade, querem somente ficar milionários? O "empresário" Mick Jagger não sobrevive sozinho, tentou carreira solo e fracassou - daí a ironia de John Lennon -, ele precisa de "arte" sim, necessita de algo que não seja monetário, de algo invisível, associado às emoções das pessoas, essa musicalidade, naturalmente, encontra-se em outro membro da banda: Keith Richards.
Richards, com suas rugas, suas bebedeiras e seu passado de drogado, mostra que ser "velho" não significa ser conservador e "careta". Existiram outros casos, como William Burroughs e Timothy Leary. Ser rebelde não é algo de idade, afinal, muitos indivíduos com 20 anos só pensam em ganhar dinheiro e manipular as pessoas. Muitos velhos fazem isso também. O que confirma que ser ético tem mais a ver com o caráter da pessoa do que com a idade.
A questão é assumir o que você é, seja com 20, 30 ou 60 anos. Trata-se de sentir bem consigo mesmo, não ser levado pelas circunstâncias do mercado - que sempre mudam - e nem ficar preocupado se você pertence ou não ao universo da "juventude" - termo, aliás, que só poderia ganhar sentido numa sociedade fria e superficial como o capitalismo.
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LIVROS
Sem a religião não existiria civilização, na medida em que os indivíduos, para viver coletivamente, precisam de regras. Se a lei vem "fora" da sociedade, claro, ela ganha mais força e credibilidade. A norma feita pelo "homem" gera dúvidas e polêmicas, pois favorece um grupo em detrimento de outro.
O sol é essencial para o funcionamento da natureza e, portanto, vital para a existência da humanidade.
No documentário "Zeitgeist", ele é mostrado como a base das religiões criadas pelos indivíduos, o que explicaria a proximidade entre elas. Em outras palavras, a mesma história é contada com nomes diferentes, em épocas e lugares diferentes: "Horus" no Egito Antigo, 3.000 anos antes de Cristo (a. C.), "Mithra" na Pérsia e "Attis" na Grécia, ambos 1.200 anos a.C., "Krishna" na Índia, 900 anos a. C., "Dionysus" na Grécia, 500 anos a. C. e Jesus Cristo no ano 1 de nosso era.
A minha intenção não é falar da religião em si e muito menos se uma estaria certa e a outra errada. O que me interessa, neste assunto, é a forma da construção de um conhecimento e como ele reflete no cotidiano das pessoas. Neste sentido, os livros religiosos são importantes. Parece que o mais antigo é o "I Ching - O Livro da Mutações", com princípios elaborados a 5.000 anos a. C. Atualmente, a Bíblia - 1.500 anos a. C. - e o Corão - 610 anos d. C. - parecem ser os mais aceitos como definidores de leis para o cotidiano dos indivíduos. O 11 de setembro demonstrou que o conflito fundamental, no mundo de hoje, parte destas duas visões de mundo.
Como norma de comportamento, é difícil separar numa obra aquilo que seria religião, filosofia ou política. Nicolau Maquiavel escreveu em 1.532 d. C. o livro "O Príncipe", com conselhos claros de como se manter um governo e de como agir no sentido de manipular as pessoas. Tal sinceridade em nada tem a ver com religião. Sua praticidade o coloca como uma obra clássica para a Ciência Política.
Bem antes de "O Príncipe", foi elaborado o "Kama Sutra" na Índia, "um trabalho de filosofia e sexologia", que apresentava sugestões específicas para a vida de um casal, definindo como deveria ser o papel do marido, da esposa e da amante ("courtesan"). Apesar de ficar conhecido como o "livro do sexo" da Índia, a intenção era que ele não fosse visto "somente como instrumento para satisfação de nossos desejos." (p. 198)
O livro foi traduzido para o inglês, em 1883, por Sir Richard F. Burton. A edição francesa foi traduzida a partir da versão de Burton. O livro ganhou notoriedade depois da década de 1960, ou seja, após a invenção da pílula anticoncepcional e os conseqüentes movimentos de liberdade sexual e independência da mulher.
Assim como Maquiavel é direto em seus "princípios" para o Príncipe - "e são tão simples os homens e tanto obedecem às necessidades presentes, que aquele que engana encontrará sempre quem se deixe enganar" (p. 122) -, em Kama Sutra existem conselhos desde como os homens podem obter sucesso com as mulheres (p. 122-124) até como a mulher pode perceber, pelo comportamento do seu amante, quando ela deixou de ser importante. (p. 164-165)
As pessoas agem, nas relações sociais, como se tudo fosse natural e espontâneo. Os livros religiosos, filosóficos e políticos demonstram que, ao contrário, desde o início da civilização, sempre houve uma necessidade de se criar normas para seduzir e controlar o outro, seja do ponto de pista particular, de uma relação amorosa, seja do ponto de vista geral, do controle de uma classe social sobre a outra.
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LOLITA
No século XVII, Molière, ator e autor de peças teatrais, casou com a filha de sua amante. No século XX, foi a vez de Woody Allen casar com a sua filha (adotiva), o que enfureceu a sua ex-esposa, Mia Farrow, e escandalizou os Estados Unidos. Trata-se literalmente da "síndrome de Lolita": o pai ou padrasto dorme com a mãe mas, de fato, é apaixonado pela filha.
Vladimir Nabokov, autor do livro Lolita, afirma, sobre o livro, que seria "uma infantilidade estudar uma obra de ficção a fim de informar-se sobre um país, uma classe social ou o próprio autor." Ele escreveu a obra em 1955 e a sua publicação gerou polêmicas.
A fantasia deveria ser percebida como tal. Entretanto, os casos de Molière e Woody Allen são reais. Não são os únicos. Historicamente, tais casos devem ser contextualizados de acordo com as regras de cada sociedade, o que não justificaria o princípio do abuso sexual de uma criança, afinal, é uma relação desigual. O limite (moderno) de 18 anos parece razoável no tratamento da questão, mesmo considerando que muitas meninas de 14 ou 15 anos já tenham vidas sexuais ou sejam mães - casadas ou solteiras.
A lei deve ser respeitada. A relação entre um adulto e uma criança é desigual. Se o adulto for o pai ou a mãe, só complica o processo. A instituição família deveria existir como forma de educação e proteção para as crianças. É inconcebível a idéia do inimigo estar lá dentro e ainda se mostrando como o "protetor" aos olhos da comunidade.
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LULA
O processo de industrialização brasileiro foi intensificado a partir da Era Vargas - 1930 e 1945. Foi nesta fase que foram criadas as leis trabalhistas, com o intuito de controlar a classe trabalhadora.
Antes da criação do Partido Comunista Brasileiro (PCB), em 1922, influenciado pela revolução liderada por Lênin na Rússia em 1917, os operários do país eram liderados sobretudo pelos anarquistas. Posteriormente, o PCB leninista conquistou a hegemonia da classe e em seu discurso demonstrava a intenção de fazer uma revolução proletária no Brasil. Na prática, fracassou. Em termos eleitorais, teve sérios problemas, passando grande parte de sua história da ilegalidade.
O presidente Getúlio Vargas criou Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), já no final de sua primeira fase no poder. O PTB foi criado para concorrer com os comunistas, era identificado com o próprio Vargas e seguia uma linha populista. Após o suicídio de Vargas, aquele que havia sido o seu Ministro do Trabalho, João Goulart, tornou-se uma das principais lideranças do partido, ao lado de Leonel Brizola.
Os presidentes eleitos depois do segundo governo Vargas foram de outros partidos: Juscelino Kubitschek do PSD e Jânio Quadros da UDN. Esse último renunciou e seu vice - João Goulart -, numa situação conturbada, assumiu a presidência da República, primeiro numa fase parlamentarista e depois no em um governo presidencialista. Foi derrubado por um golpe militar em 1964. Era o início de uma ditadura que terminaria somente em 1985. Foi nesse contexto que surgiu o Partido dos Trabalhadores (PT) a partir das greves de 1978, nas quais havia o destaque do sindicalista Luís Inácio da Silva, o Lula. Inicialmente. o PT se colocava como alternativa aos tradicionais partidos que representavam os trabalhadores, principalmente o PCB e o PTB. Era um partido socialista e revolucionário, mas que não seguia a orientação de nenhum país comunista. O objetivo era criar um modelo para o Brasil, seguindo a teoria marxista, sem desprezar as experiências das revoluções dos trabalhadores ocorridas depois de 1917.
Com o fim da ditadura, o PT passou a participar das eleições, com um pequena porcentagem de votos. Nas eleições presidenciais, depois de 1989 - elas eram proibidas durante a ditadura militar -, o presidente do partido, Lula, foi candidato derrotado quatro vezes. Na quinta tentativa, venceu e, em seguida, conseguiu a re-eleição. Em 2010, ele foi fundamental para a vitória de Dilma Roussef do PT. Antes, Fernando Henrique Cardoso (FHC), do PSDB, também re-eleito, não conseguira eleger o seu sucessor.
Na política interna, o presidente Lula foi vitorioso, afinal, saiu do governo com altos índices de popularidade - diferente de FHC e outros presidentes. A sua popularidade talvez fique associada à de Getúlio Vargas. Na política externa, Lula tentou se mostrar como uma grande liderança. Apesar de uma certa repercussão positiva no início, virou motivo de piadas e dúvidas na mídia internacional, em decorrência de suas contradições e pretensões - como querer mediar os conflitos entre o Irã e Israel. Se internamente, o presidente Lula elogiava e procurava respeitar a democracia, as escolhas dos seus aliados internacionais, como Chavez na Venezuela, Castro em Cuba e Mahmoud Ahmadinejad no Irã, eram percebidas com desconfiança. De certa forma, o presidente Vargas, na sua época, fez o contrário: internamente, foi um ditador de 1930 e 1945, mas, externamente, na hora de escolher de que lado ficar na Segunda Guerra Mundial, foi aliado das forças democráticas.
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MACHISMO
Freud estava certo em destacar a infância na formação de um indivíduo. Está tudo lá. Gravado na nossa mente. Na maioria das vezes, de maneira inconsciente, claro. Será por que é tão difícil admitir o óbvio?
Namorei mulheres mais velhas. O que eu queria? Conscientemente, era aprender. Namorei garotas mais novas, bem mais novas. O que elas queriam? Aprender ou "queimar etapas"? Seria só o amor por uma pessoa mais velha (afinal, "ninguém manda no coração")? Ou haveria problemas com a tal figura paterna?
Eu sou uma pessoa que gosta de agradar os outros, sobretudo as namoradas. Tem a ver com a minha infância e o machismo que colocava a mulher num segundo plano enquanto o homem se achava no direito de ter quase tudo, inclusive várias mulheres além da própria esposa.
No Brasil, este tipo de pensamento durou até a década de 1970. Era considerado "normal". Vendo o mundo, por exemplo, na perspectiva da minha mãe, quando eu era criança, claro que não podia aceitar essa visão.
Na vida adulta, tentei ser o contrário: daria todo o poder para as mulheres. Não seria machista. Na faculdade, li livros de autoras feministas. Gostei das idéias de Rosie Marie Muraro na época. Na TV, o seriado Malu Mulher fazia sucesso. Para mim, as coisas faziam mais sentido. A Martha Suplicy era uma das principais defensoras do feminismo no Brasil.
Após décadas, vemos atualmente quem é a Suplicy, a sua arrogância e a sua omissão no que diz respeito aos erros do seu partido político. O feminismo "exagerado" foi desmistificado, no Brasil e em outros países. Não seria a opção adequada diante de outro erro, o machismo.
Hoje, no mundo ocidental, ninguém leva muito a sério nem o machismo nem o feminismo. Existem direitos básicos dos indivíduos que devem ser respeitados e pronto. O problema tornou-se mais específico, ou seja, de cada relação, de cada casal. Os valores sociais ainda influenciam e alguns temas, como o casamento, permanecem.
Na prática, contudo, as mulheres, nas relações amorosas, têm o mesmo poder que os homens. Isso é fato, apesar de muitos ainda desejarem uma "Amélia" - mulher objeto, na visão machista. Homens e mulheres, principalmente os mais jovens, querem tudo e acreditam que podem usar todos os meios - mentira, sedução, dinheiro, poder, entre outros - para realizar os seus objetivos. Não leram "O Príncipe", mas são maquiavélicos. Não leram Freud e muitos nunca fizeram terapia. São narcisistas, egoístas e consumistas. Esses adjetivos são aceitos como "normais" na sociedade atual.
Valores como ética e solidariedade são vistos e mostrados como irreais ou usados como mecanismos em relações de poder. A conseqüência é o cinismo. Todos fingem que acreditam em todos, enquanto os reais interesses não aparecem nas relações. Tudo virou um jogo. Funciona? Sim, durante algum tempo e em algumas relações. Entretanto, usar tantas "máscaras" pode confundir. De tanto representar vários papéis, o indivíduo começa a ter dificuldade de saber quem ele realmente é. Mais grave, o jogo, depois de algumas fases, fica repetitivo e cansa. As pessoas cansam de você também. O resultado é a crise. A resposta seria ser diferente... mas como? Você e seus pares sempre agiram assim. Neste ponto, o indivíduo percebe que a crise é mais séria... ou não. Muitos preferem colocar a culpa nos outros e evitar a auto-crítica. Pode ser. No entanto, o problema permanece e como um fantasma insiste em "passear" pelos seus pensamentos e pelos seus sonhos.
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MARV
(*) Este texto foi escrito originalmente em 2005.
Frank Miller revolucionou a linguagem dos quadrinhos em 1986, apresentando uma versão densa de Batman na história Batman - The dark knight (“Batman – o cavalheiro das trevas”). O seu último projeto foi a série Sin City (“Cidade do Pecado”), recentemente divulgada em sua versão cinematográfica. O filme e a série tratam de vários personagens, nesse artigo, porém, será discutida apenas a importância da figura de Marv no universo criado pelo autor.O filme Sin City foi co-dirigido pelo próprio Frank Miller. Nos depoimentos, ele havia demonstrado a sua descrença com a adaptação de suas histórias para o cinema. Roberto Rodriguez, o outro diretor do filme, contudo, conseguiu convencê-lo, trazendo-o para o projeto do filme: além da co-direção, Miller ainda fez uma participação como ator, interpretando o personagem de um padre, no confessionário, que ouve os pecados de Marv.O resultado de Sin City para o cinema é brilhante.
Quentin Tarantino chegou a dizer que Miller havia “criado” o Michey Rourke com o personagem do Marv. De fato, no filme, a atuação de Rourke é a que mais se aproxima dos quadrinhos. Por outro lado, a postura da atriz Jessica Alba, que fez a stripper Nancy, recusando-se a fazer cenas de nudez, comprometeu um pouco a vida do seu personagem. Nos quadrinhos, claro, não existe esse tipo de “moralismo”. A stripper tira a roupa e seus traços estão mais próximos do tipo de bar que ela trabalha, ou seja, ela não aparece como uma mulher linda e perfeita no estilo “top model”.Contudo, o principal problema da adaptação cinematográfica de Sin City foi a ausência da figura da mãe de Marv. No filme, ela é citada apenas quando os policiais desejam obrigá-lo a assinar a sua confissão. Nos quadrinhos, Miller dedica alguns “quadros” a ela. Poucos, mas fundamentais para entender a importância da personagem na vida de Marv. Ela aparece como uma mãe cuidadosa, que se preocupa com a hora que o filho chega em casa, como se tratasse de um adolescente. Marv também demonstra um cuidado com a mãe, não quer acordá-la, não deseja incomodá-la. Essa relação é importante para entender quem é o Marv, ou seja, mesmo sendo considerado um psicopata, ele era uma pessoa de princípios. Por exemplo, apesar de todas as evidências, quanto ao principal responsável pelos assassinatos, levarem ao Bispo Rork, Marv procura ter certeza antes de assassiná-lo.Outro dilema em Sin City trata do que seria o “real” ou a “imaginação”. Marv precisa de remédios, havia sido preso, era um “marginal”. A normalidade e a lei seriam representadas pelas instituições, como a polícia e a igreja. Entretanto, Marv respeita as mulheres – “I don’t hurt girls” - e não gosta de injustiças. Os policiais são assassinos e corruptos. O bispo é um chefe de todo o processo de assassinatos das prostitutas. No filme, ele afirma: “they were all wores. Nobody cares for them.” Claro que o assassinato de prostitutas “sem valor” remete, de imediato, a figura de Jack, o Estripador. Em outras palavras, para quê prender um assassino se as vítimas seriam “apenas” prostitutas? De certa forma, a imagem que é passada seria a de que o próprio assassino estaria fazendo um “favor” à sociedade na medida em que ele estava “limpando” as ruas...O tema do amor foi retomado como algo “puro”, mesmo considerando o clima de violência e de marginalidade. Para Marv, bastou uma noite com a Goldie para ele se apaixonar e levar adiante o projeto de vingança da morte de sua amada. Apesar dela ter omitido que era prostituta, Marv a agradece por ter revelado as pistas que o levariam a descobrir os crimes do bispo e do seu protegido, Kevin. Esse último é mostrado como um “nerd”, usa óculos, uma blusa de moleton, e nada na sua aparência de “bom menino” poderia revelar que trata-se, de fato, de um “psico-killer”.No embate entre Rork e Marv, aparecem, respectivamente, nos discursos, a sofisticação – “he just didn’t eat their bodies, he ate their souls” – e a simplicidade – “I just know it’s pretty weird to eat people”, o que choca com o conteúdo de cada mensagem, na medida em que o bispo tentava justificar os assassinatos – falando em “almas” – e Marv dizia apenas que não era normal “comer gente”. Ou seja, a forma sofisticada de um discurso omite uma mensagem equivocada, enquanto a fala simples defende uma postura ética. No final do diálogo, Rork não deixa se convencer – ele estaria certo, seria o “normal”, o “bom”, o “civilizado”, e Marv, por outro lado, representaria a “violência”, a “barbárie”, a “anormalidade” – pois, abraçando a cabeça de seu protegido, afirma: “Kevin, we’re going home”, ou seja, estaria indo para o paraíso, para o lugar dos “santos”. Marv é levado preso e, depois, condenado à morte – o que parece não incomodá-lo – “it’s damn time...”, ele afirma no filme.Sin City, o filme, mostra ainda a história de outros personagens de Frank Miller, como Dwight McCarthy e John Hartigan. Mas... essas são outras histórias...
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MEIA-IDADE
Com as melhores condições de saúde e higiene, as inovações tecnológicas e o avanço da medicina, as pessoas passaram a ter uma vida mais longa. Antes, alguém com 30 anos parecia velho, com muitas rugas e o olhar de cansaço. O trabalho manual era predominante, no capitalismo, até fins do século XIX e parte do século XX. Trabalho era sinônimo de sofrimento. Daí, a importância das férias e da aposentadoria.
Atualmente, em muitos países, o trabalho manual, nas fábricas, não é hegemônico mais. Uma pessoa de 30 anos não aparenta ser velha. Hoje, talvez, a mulher "balzaquiana" teria outro perfil ou outra idade. Numa sociedade como a nossa, que tudo tornar-se mercadoria, sendo descartável em seguida, e a imagem é mais importante do que a realidade, os conceitos devem ser repensados.
Quando se fala em crise de meia-idade, tradicionalmente, a definimos considerando a primeira metade vivida pela pessoa, que seria uma fase de ascensão e de realização de projetos - cursar uma faculdade, conseguir um bom emprego, ter casa e carro próprios - e a segunda metade, quando o corpo não responderia mais aos desejos da mente e o indivíduo seria menos interessante para a sociedade, seja em termos de produtividade (não teria a força da juventude) ou mesmo de "atratividade" (a sociedade do consumo seria para jovens e bonitos).
Entretanto, a realidade não é mais a mesma. O rock and roll sempre foi, por definição, uma música da juventude e da rebeldia. Um dos seus ícones, Mick Jagger, com 67 anos, continua gravando e fazendo shows com sua banda, The Rolling Stones, para grandes públicos em estádios, sendo a maioria de jovens na platéia. Jagger, claro, usa todos os recursos disponíveis para mostrar que o "tempo não passou". O que parece apresentar resultados, visto que suas últimas tournées foram sucesso de público.
Os tais recursos de Mick Jagger, como pintar o cabelo, fazer plásticas, manter um corpo magro e saudável, usar tênis e camiseta, são usados por outras pessoas. Aqui, os exemplos clássicos do homem de meia-idade permanecem: tentar parecer jovem, comprar um carro esporte vermelho, arrumar uma namorada jovem, fazer plásticas e, em alguns casos, ostentar suposta riqueza, com pulseiras de ouro. Como em qualquer idade, o uso de recursos e acessórios podem funcionar para uns e podem não ser interessante para outros. Dependerá mais da individualidade de cada um, de sua personalidade, do que da idade. Ser considerada uma pessoa de "mau-gosto" não é exclusividade de alguma idade.
Se os Rolling Stones podem ser considerados bem sucedidos nos objetivos de usar um estilo de música de jovens em proveito próprio, mesmo após os 60 anos, isso, porém não acontece com outros músicos ou bandas, como, para citar um exemplo brasileiro, é o caso do grupo Roupa Nova - o sucesso não é tão grande como antes e em seus shows, predomina um público mais velho.
Assim, o conceito de crise de meia-idade aparece mais com uma problemática, que apresenta variáveis diferentes e contraditórias, e que nem por isso podem ser consideradas simplesmente falsas ou verdadeiras. Alguns diriam que "esta seria mais uma temática do pós-modernismo"... Eu não concordo com esta afirmação, mas isso seria assunto para outro artigo.
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MODELOS
Quem foi meu aluno, sabe que o que escrevo, nesses textos opinativos, era o que eu dizia em sala de aula. Apesar de trabalhar com a disciplina de "Política", alguns achavam que eu falava muito de sexo... Na verdade, eu falava sobre tudo, mas sempre voltava ao conteúdo da disciplina.
Entretanto, não era sobre isso que eu queria escrever. Quero tratar mais uma vez da relação entre o homem e a mulher. Na sociedade atual, parece-me que o ponto de vista masculino poderia ser representado pela série "Two and Half Men". A visão feminina estaria na série "Sex and The City". Estou generalizando, claro. A falta de rigor científico é a grande vantagem dos "textos opinativos"...
Enfim, parece que "Sex and The City" tratou de todos os mitos femininos - e por conseqüência dos tabus masculinos. Não existe novidade alguma nisto. A mulher que quer pensar sobre a sua natureza deve, naturalmente, ler o "Segundo Sexo" de Simone de Beauvoir. O resto seria detalhe.
Como o cartunista Angeli, tenho certa implicância com o termo "politicamente correto". Nunca fui viciado em cigarro - ou outro coisa - na minha vida, mas passei a fumar recentemente, meio por causa disto: não pode! Por favor! Nunca me importei com fumaça de cigarro, mesmo não sendo fumante.
O que não suporto é censura e pseudo-moralismo. Um dos méritos de "Sex and The City" é esse: a personagem principal fuma o tempo todo e tem que lidar com as limitações que a sociedade atual coloca ao seu vício. O modelo masculino da série - Mr. Big (Freud daria risadas com o nome...) - fuma, mas só charuto "Cohiba" (reconheço que ele tem bom gosto...). O personagem Charlie Harper só fuma charutos também. Ele não faz propaganda da marca, mas, visivelmente, a sua caixa de charutos é da "Cohiba".
Em suma, de acordo com a ideologia atual, devemos acreditar num desenvolvimento sustentável, evitar os sacos plásticos e economizar água - mijar durante o banho, como mostra aquela propaganda... Não dá para ser contra a vida. Entretanto, outra coisa é negar a natureza humana. O que significa isso? Simples, com base em Freud, o indivíduo lida com a contradição entre o amor pela vida e o desejo de auto-destruição - o segundo vence, claro, pois, no final, a pessoa morre. Em outras palavras, o chamado "desenvolvimento sustentável" convive com países que possuem bombas atômicas que poderiam destruir o planeta. Reduzir o número de bombas seria como um sedentário começar a fazer exercícios regularmente após os 50 anos, imaginando que isso prolongaria a sua vida... Não esqueça: você foi sedentário até essa idade pelo seu lado auto-destrutivo... Você nasce para morrer. É isso. É tão óbvio e tão difícil de aceitar. O mundo existe sem você. O universo existe sem a humanidade. O que significa o planeta terra? Não somos importantes nem na nossa galáxia, o que dirá do ponto de vista do universo?
Até a Idade Média, fazia sentido acreditar que tudo girava em torno da terra e do homem. Mas, com a o avanço da ciência e da filosofia, acreditar nesses princípios seria como esperar sinceramente o Papel Noel numa noite de natal, com neve, num país tropical...
Ironia. Cinismo. Ceticismo. O que restou ao homem do século XXI ?! ...
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MULHERES - COMO CONQUISTAR AS MULHERES?
Em um artigo publicado na internet - http://www.cracked.com/funny-2607-why-women-love-jerks/ - são apresentados os motivos que levariam as mulheres a ficar com os homens "idiotas" ("jerks"): cocaína, álcool, dinheiro, celebridade, poder, músculos e vingança.
Todos os motivos apresentados estão associados a uma única coisa: ilusão. Essas mulheres imaginam que algo do outro realizaria o seu desejo. O que levaria uma garota ficar com um cara que possui uma Ferrari? O carro não é dela. Ela vai passear no carro, "se mostrar" no carro do outro... É uma ilusão, pois ela poderá fazer isso só enquanto durar a relação com esse homem. Provavelmente, o homem que escolhe andar num carro muito caro e da moda, quer aparecer também e, ao mesmo tempo, usar o seu "objeto de desejo" como "isca" para algumas mulheres viverem suas fantasias. Sim, mulheres no plural, pois dificilmente esse tipo de homem, que fez um investimento tão alto, pensaria em ficar apenas com uma mulher. Ele conta com a ilusão dela para realizar a sua própria fantasia: ficar com todas...
O jovem, algumas vezes, fica indignado: como aquele cara conseguiu ficar com aquela menina (e não com ele)? Primeiro, esse tipo de questão representa um atestado de incompetência. Segundo, pode ser um daqueles motivos citados antes (ou não). Terceiro, pode ser um sentimento verdadeiro ou a garota sentiu-se atraída por algo que o jovem da pergunta não possui (ainda): maturidade, por exemplo.
De fato, essas temáticas têm mais a ver com "a idade mental" do indivíduo do que com a sua certidão de nascimento. Em outras palavras, existem homens com mais de 60 anos que ainda acreditam que o dinheiro pode comprar tudo, inclusive "todas" as mulheres. Ser alienado (e viver de ilusão) não está relacionado à idade. Trata-se de uma escolha de cada um, assim como assumir os atos e evitar colocar a culpa no outro para justificar o próprio fracasso.
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MULHERES - NATURAIS E ARTIFICIAIS
Antes, até a década de 1970, para os brasileiros, sobretudo depois do lançamento da revista "Homem" - que era uma versão da Playboy norte-americana -, havia uma diferença clara entre as mulheres do nosso país daquelas da grande potência capitalista mundial: aqui, valorizava-se a bunda e lá, os seios. Pronto, era isso.
Nos anos 1980, houve o fenômeno Roberta Close - capa, não por caso, de um livro chamado "O que é pós-modernismo" (Editora Brasiliense) -, um travesti, que apareceu várias vezes na Playboy brasileira (a antiga "Homem") e fez "escola", na medida em que muitas mulheres copiavam o seu estilo na época. Foi uma confusão na mentalidade machista brasileira. Desde então, o travesti, com hormônios e o uso de silicone, passou a se parecer cada mais mais com uma bela mulher.
As coisas mudaram depois disto. As mulheres, não só as brasileiras, começaram a utilizar o silicone. No nosso caso, foi uma mudança significativa, afinal, antes, normalmente, "elas tinham bunda, mas peitos pequenos". Com o silicone, acabou esta história. Quem quiser pode ter peito e bunda.
É natural ou não? Quem se importa? A frase "os peitos são meus sim, pois foi eu que comprei" passou a ser comum e demonstrava a falta de constrangimento das mulheres. As revistas masculinas ainda contavam com a ajuda do Photoshop e outros recursos tecnológicos.
Vinicius de Moraes afirmava: "desculpem-me as feias, mas beleza é fundamental." O que antes, para alguns, seria a ditadura da beleza, tornou-se a ditadura da imagem. As mulheres sempre usaram recursos para ficaram mais bonitas: brincos, colocares, roupas... Ultimamente, os recursos aumentaram... Seria apenas isso? O que uma mulher "produzida" para uma capa de revista, com todos os recursos "tradicionais" - maquiagem, cabelo, entre outros - e "tecnológicos" - iluminação, o uso do computador na edição das imagens -, teria a ver com uma mulher "comum", que estuda, trabalha e tem filhos? A mulher não poderia envelhecer mais, apresentar as suas rugas e as marcas da idade?
Na prática cotidiana, parece que as mulheres "comuns" tentam copiar as mulheres "produzidas" pelas revistas e outros meios de comunicação, mesmo sabendo que seria impossível atingir tal beleza, pois ela seria "fabricada", em suma, seria artificial. Com as cirurgias plásticas, a lipoaspiração e o uso de silicone, as mulheres "comuns" sonham em tornar-se "artificiais".
E os homens diante de todas estas mudanças? Aparentemente, para as mulheres, eles não fazem diferença, porque elas usam tudo isso, primeiro, para elas se sentirem bem e, depois, para concorrer com as amigas (ver o sucesso de "Sex and the city"). O olhar masculino é óbvio demais para perceber ou questionar tantos detalhes, não por acaso, muitas mulheres afirmam que "os homens só querem uma coisa e sempre foi assim." Talvez elas estejam certas. O que lembra, aliás, uma afirmação de Nelson Rodrigues: "(...) a mulher é uma potência fantástica, devido à atração sexual. Isso lhe dá um instrumento de domínio, todo sujeito que tem grande atração sexual por uma mulher está liquidado. Ela exerce o poder e ele a submissão."
O poder, neste caso, seria aquele conceito usado por Michel Foucault, relacionado as micro relações na sociedade. De qualquer maneira, homens e mulheres são diferentes. Mudam as sociedades e as épocas, mas esta diferença permanece, pois ela é, antes de tudo, biológica. Nisto, alguns poderiam lembrar do amor... como ele seria possível? Não existe uma resposta única e, muito menos, satisfatória para tal questão. Conviver com as diferenças e as dúvidas faz parte da construção da individualidade de cada um. Saber que não existem respostas definitivas representa um sinal de maturidade.
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MULHERES - SOLTEIRAS E INTELIGENTES?
Se antes dos 18 anos fica a sensação que o tempo não passa, depois da maioridade, para muitos, o tempo "voa"... Numa época como a atual, que os filhos matam os pais por motivos cada vez mais fúteis e que a tecnologia atinge quase todos os níveis sociais - celulares e internet, por exemplo -, aquela sensação permanece, mas de uma maneira diferente.
A crianças encurtam a infância, querem se vestir e comportar como adultos. Na adolescência, com o uso de vários recursos, entre eles as carteiras falsas, todos podem, de fato, passar por adultos, tanto do ponto de vista da sexualidade como quanto ao uso de bebidas alcoólicas, cigarros, drogas, entre outros "privilégios" da maioridade.
É comum a gravidez em meninas com menos de 15 anos. Casos de alcoolismo não são raros. A situação torna-se complicada, na medida em que as pessoas nesta idade ainda não têm experiência para avaliar o que seria certo ou errado e não sabem que os atos geram, necessariamente, conseqüências, podendo ser positivas ou negativas.
Outro fato interessante é que, quando realmente chegam aos 18 anos, parecem cansadas "daquela vida" e nada parece ser novidade. A partir deste momento, os comportamentos divergem, os homens querendo ficar com garotas mais novas e as mulheres achando óbvias as cantadas de "linda e gostosa" e demonstrando tédio naquilo que, antes, era bom: beijar um cara diferente toda noite. Elas ficam mais maduras e seletivas.
Assim, se deparam com um problema realmente novo: os homens, normalmente, preferem aquelas estilo "Marylin Monroe" e não as que questionam e não são ingênuas mais. Com a passar dos anos, a tendência é a situação ficar mais complicada. Quando finalmente elas decidem que querem algo sério, percebem que não existem muitas escolhas no universo masculino. Pior, descobrem que elas deixaram de ser interessantes para os homens de uma maneira geral, que preferem as mais novas e sem tanta experiência.
O dilema pode tornar-se desespero. As alternativas não parecem boas: (1) ficar solteira - mesmo admitindo que o lado emocional ficaria fragilizado e traria problemas como solidão, carência e crises de choro -, (2) admitir que não dá para "concorrer" com as mais novas em condições de igualdade - afinal, elas são "escolhidas" pelos homens - e procurar namorar e casar o quanto antes, para isso, claro, terá que fazer concessões quanto ao "príncipe encantado", o que significa que terá de aceitar um homem com filhos ou divorciado ou paquerador ou desempregado, entre outras características negativas e (3) viver no mundo da fantasia, fingir que a idade não passou, continuar vivendo as noitadas como se nada tivesse mudado, mesmo percebendo que, na prática, é tratada maneira diferente pelas pessoas, sobretudo pelos homens. No caso da terceira alternativa, o excesso de bebidas alcoólicas ajuda na fantasia, mas o dia seguinte sempre chega e, com ele, podem vir a ressaca alcoólica e ainda aquela outra, pior, a ressaca moral.
Muitos podem dizer que eu sou pessimista. Outros podem concordar e afirmar que isso tudo é resultado de uma sociedade machista. De qualquer maneira, estas são as minhas impressões sobre os relacionamentos atuais.
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MUNDO
Gosto de datas relacionadas ao passado.
Recentemente, as pessoas falam sobre datas no futuro.
No filme 2012, claro, a referência é este o ano, como o fim do mundo, conforme a profecia dos Maias. Parece que Nostradamus, em suas profecias, teria escolhido este ano para declarar a mesma coisa.
Hoje, 9 de março de 2010, vi, uma chamada de "Supernatural" (Warner), com a pergunta: "o que você faria se hoje fosse o seu último dia na terra?"
Tudo isso faz lembrar uma antiga música do R.E.M.: "it's the end of the world and I feel fine" ("isso é o fim do mundo e me sinto bem").
O interessante, nesta temática, é como o "fim" é tratado no "coletivo". A morte é percebida como algo "geral", de todos. Portanto, um indivíduo isolado não deveria ficar preocupado, na medida em que não é o fim dele, especificamente, mas é o fim do mundo.
Não pensar em si mesmo e transferir as preocupações para o outro: eis uma forma de fugir dos problemas.
Fazer este exercício, não mais enfatizando o indivíduo especificamente - com nome, endereço e data de nascimento - mas destacando o a sociedade - a humanidade - parece ter a mesma finalidade, ou seja, fuga de si mesmo.
A maioria, aparentemente, não gosta de pensar e conversar sobre a própria morte. Contudo, tratar de uma "morte coletiva" - o fim do mundo - parece algo aceitável no momento.
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NAMORAR
Eu sei que tenho sido muito crítico no que diz respeito às relações amorosas. Estou solteiro, talvez isso explique um pouco o meu ponto de vista. Contudo, quem lê meus textos, reconhece que tenho argumentos razoáveis para defender o meu descrédito. Isso vem da experiência. Minha psicoterapeuta costumava dizer que eu era um "namorador", não daquele tipo que namora muitas, mas do tipo que gosta de namorar, que fica muito tempo com a mesma garota.
Bom, o conceito de namoro parece polêmico hoje em dia. Para mim, ele precisa possuir algumas características básicas:
1. sentimento e uma proposta de exclusividade (que, na prática, raramente é cumprida);
2. precisa durar mais que dois meses;
3. precisa ser assumido e, portanto, ter o consentimento dos pais.
A partir dessa definição, não posso considerar namoro os meus relacionamentos da adolescência. Assim, acredito que o primeiro ocorreu entre 1983 e 1985. Pela duração e pela intensidade, foi fundamental para a minha vida. Depois, outro namoro entre 1985 e 1986. Não citarei nomes, claro. Em 1987, mais um namoro de alguns meses. Entre 1988 e 1989, outra relação importante. Em 1990, uma namoro rápido, sem um envolvimento aprofundado. Entre 1991 e 1992, outro namoro. Em 1993, comecei a namorar uma garota que havia ficado antes. O namoro durou até metade de 1994. Daí, veio outra relação, que de namoro tornou-se casamento. Tudo ocorreu entre 1994 e 2006. Após a separação, voltei a namorar, dessa vez durou entre 2006 e 2008. Depois, o último namoro, entre 2008 e 2009.
Durante todo esse tempo, nos intervalos (ou não) fiquei com muitas outras garotas. Tratava-se do "one night stand". Sempre procurei ser sincero nas relações, o que não me impediu de cometer erros e magoar muitas garotas. No "Two and Half Men", quando falam de amor, o Jake pergunta para o Charlie: "quantas ex-namoradas iriam no seu velório?" Boa pergunta. No meu caso, eu não faço a mínima idéia. Eu sei que muitas não me cumprimentam mais e que outras me odeiam e inventam coisas a meu respeito. Deve ser normal.
Eu não guardo ressentimentos. Adorei os meus namoros e o meu casamento. Tenho o maior respeito pelas pessoas que conviveram comigo. Infelizmente, as minhas relações não deram certo. Por isso, aliás, estou solteiro... Não sou daquele tipo que nunca desiste do amor, tão comum nas novelas e nos filmes. Sou mais prático: não vou dizer que "te amo" no primeiro encontro e "nem que você tem os olhos mais lindos do mundo" (Charlie Harper). Não me importo em ficar sozinho, nem de sair sozinho. Gosto de gente interessante e de conversar. Para isso, não precisa existir namoro. No final, o que fica, então? Não sei. Nem estou preocupado com isso (namorar, ficar ou não)...
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NIILISMO
A história do pensamento ocidental terminou em 1949, com a morte de Freud. O que veio depois disso foram apenas revisões, continuidades e descontinuidades.
O estruturalismo do século XX foi influenciado decisivamente por Nietzsche. Lacan fez uma nova leitura de Freud, assim como Foucault, baseado em Nietzsche, apresentou novos objetos de estudo.
A teoria de Marx influenciou as revoluções comunistas da Rússia, da China e de Cuba. Houve várias re-leituras no marxismo, como Gramsci, Lênin, Trotsky e Lukács. O pensamento de Marx influenciou ainda a Escola de Frankfurt e os historiadores ingleses, como Eric Hobsbawm, E.P. Thompson e Perry Anderson. Na França. Althusser tentou, sem sucesso, apresentar um nova interpretação da teoria o materialismo histórico.
De qualquer maneira, tudo foi feito a partir de bases filosóficas pré-estabelecidas. Neste sentido, o século XX pode ser caracterizado por qualquer coisa, exceto pela originalidade no pensamento. Com o desenvolvimento da indústria cultural, o conhecimento ficou superficial. Tudo tornou-se mercadoria descartável.
No final do século, veio a vitória do marketing, o que transformou a imagem em algo mais importante do que a realidade. O avanço tecnológico contribuiu para esses processo.
O século acabou, efetivamente, em 11 de setembro de 2001, com a derrubada das torres do World Trade Center. Em termos filosóficos, contudo, ele já estava morto. Dostoyevsty estava correto na hipótese de que "o radicalismo político e o pensamento liberal ocidental" (The good life, p. 103) levaria ao niilismo. É isso que vivemos hoje.
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ORGULHOSO
Gosto de ler entrevistas e livros. Isso diminui o meu interesse por conversas longas e sérias com as pessoas. Quando acontece um eventual encontro, como todas as pessoas, falo banalidades até o "ok, nos vemos depois".
Ontem, porém, uma conversa que era para ser assim, educada, com cuidados e elogios mútuos, tornou-se uma discussão. Não foi uma briga. Mas com a quebra da barreira das "banalidades", houve a possibilidade de cada um dizer o que realmente pensa do outro. No meu caso, ouvi coisas interessantes. Fui definido como um indivíduo orgulhoso, rancoroso, que só reclama e vive do passado, e que sonhava em ser filho único (tenho quatro irmãos).
Não rejeito a hipótese do filho único. Você sempre deseja o que não existe. Se eu fosse filho único, reclamaria por não ter tido irmãos.
Sim, eu reclamo. Pelo que percebi, devo reclamar muito das pessoas e das coisas. Não achava que era tanto, mas, enfim...
O "orgulhoso" foi novidade para mim. Sempre achei que era humilde e solidário. Sempre me considerei um "patholical people pleaser", o que seria resultado da minha depressão.
Não troco o modelo das minhas roupas - tênis, jeans e camiseta preta - e não troco de carro e moro no mesmo lugar. Ouvi pessoas falarem que ficavam admiradas de um indivíduo, que possuía doutorado e havia publicados livros, se mostrar um pessoa tão simples e disponível em bate papo, sem demonstrar arrogância ou ares de superioridade.
Assim, ser qualificado de "orgulhoso" foi algo novo. O pior é que eu acredito que deve ter um fundo de verdade... em algum lugar, pelo menos... deve ser algo complexo que recuso admitir ou deixo de me aprofundar em questões dessa natureza.
Agora o que eu não concordo foi com o tal de "rancoroso" e da minha relação com o "passado". Por ser um "patholical people pleaser", sofri muito com as pessoas, que me tratavam como um idiota, na medida em que me sacaneavam, pediam desculpas, depois sacaneavam novamente, e assim por diante. Eu não sou masoquista. Uma hora isso tinha que parar. Não esqueço as coisas boas nem as más que as pessoas façam comigo. Se isso é rancor, tudo bem.
Esquecimento é o ponto fundamental. Está associado, claro, ao "passado". Sim, eu lembro de coisas desde a minha infância até a vida adulta. Eu assumo as minhas experiências boas e ruins. Eu fiz psicoterapia de 1995 a 2009. Eu sou historiador. Portanto, se existe algo que sempre levo em consideração é o "passado". Não existe nada de errado nisto.
Quem deixa de viver é justamente aquele que não assume o que faz ou que "esquece" o que fez. A teoria do inconsciente do Freud tem como base dois pontos: os sonhos e o esquecimento. Nos sonhos, somos livres e realizamos os desejos que não seriam possíveis na vida cotidiana.
Quanto ao segundo ponto, é simples: "esquecemos pois temos medo de lembrar." (Bertrand Russell) É isso. O indivíduo tenta esquecer o passado pois tem medo de perceber o que ele fez de fato. É o mesmo indivíduo que diz que "vive o presente", mas, na verdade, ele vive uma "fantasia do presente", pois ele é um alienado que não consegue ver nada além do imediato.
Por mais que você queira, você não vive o presente sem considerar o passado. A causa da dor que você sente no presente está no passado. Você pode focar no presente, mas o seu inconsciente te busca para o passado, gerando crise, insônia e outras perturbações no seu organismo.
Por isso, você passa mal, vai ao médico, faz inúmeros exames e eles não mostram nada. Você tenta ser racional e fugir do desprazer. Esquece que é humano. O seu inconsciente é o vilão que te lembra - mesmo você não querendo - do que você de fato é, do que você fez consigo e com os outros. Você não consegue "desligar" o seu inconsciente. Ele "ataca" nos seus sonhos e no seu organismo - e não aparece no seu exames médicos.
Em um resumo sobre o pensamento do Heidegger, na coleção "Os Pensadores", é dito que o indivíduo abandona o seu "ser" - uma espécie de traição - fugindo para as "mesquinharias do cotidiano". Ele somente superaria isso com a angústia - quando todas as coisas do mundo perdem o sentido, quando tudo aponta "para o nada. O homem sente-se, assim, como um ser-para-a-morte." Em suma, tudo está associado à temporalidade, "assumindo seu passado e, ao mesmo tempo, seu projeto de ser, o homem afirma sua presença no mundo. Ultrapassa então o estágio da angústia e toma o destino nas próprias mãos." (p. 9)
Voltando a minha conversa: eu não vivo do passado, o que acontece é que eu não desconsidero o passado. Já falei algumas vezes que não sou saudosista e que morreria de tédio se tivesse que repetir as experiências da minha vida. Eu tenho consciência do passado, para entender o presente. É diferente. Quanto ao futuro, trata-se de um conceito, de algo que não existe. Para muitos, a função do futuro é gerar ansiedade ou ser uma desculpa para "fugir" do presente, já que o passado deve ser "esquecido" o quanto antes.
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OSTENTAÇÃO
Está escrito, na Bíblia, que "é mais fácil um camelo passar por um buraco de uma agulha do que um rico entrar no céu." Até a Idade Média, a usura era pecado. (Não cabe aqui discutir a própria riqueza da Igreja Católica, pois isso seria outro assunto.) Na Grécia Antiga, a simplicidade era uma qualidade. O que mudou? Os valores no capitalismo seriam outros. A Reforma Protestante foi, de certa forma, uma "adequação" dos princípios cristãos ao novo modo de produção. Ser rico passou a ser percebido como algo bom. Mais do que isso, passou a ser encorajado. Ser pobre, sofrer e esperar a recompensa após a morte, no paraíso, deixou de ser a palavra de ordem da sociedade.
Na Idade Média, os nobres cultivam o ócio - como os cidadãos na Grécia Antiga. Os burgueses enalteciam o trabalho, apesar de serem os patrões e, portanto, mandar em quem verdadeiramente labutava: o proletariado. Os burgueses eram mal vistos pelos nobres, possuindo tendo o poder econômico. Características com a avareza ou a ostentação eram desprezadas pela nobreza.
Com o tempo, a nobreza tornou-se uma classe em extinção. Entre os burgueses, os detentores do capital, aqueles 10 % da população, assumiram uma postura mais discreta, mesmo considerando as suas grandes fortunas. Coube ao chamado "novo rico" apelar para a ostentação - e o conseqüente desprezo daqueles que tinha mais dinheiro que eles.
A ostentação é identificada, primeiro, pelo carro: tem que ser grande, importado e, se possível, vermelho. Não importa de veio de contra-bando. Não importa nem se é uma Ferrari original. O que vale é mostrar para os outros. Muitos, contrariados, compram carros grandes, mas nacionais, e em infinitas parcelas. O objetivo, claro, seria o mesmo: desfilar e aparecer para a sociedade. Outros têm que escolher entre ter um imóvel próprio ou um carro da moda. O dinheiro do "novo rico" nem sempre dá para possuir as duas coisas. Neste caso, a escolha recaí sobre o carro, pois, com ele, você é visto.
O "novo rico" acha que engana. Acredita que é reconhecido como "rico", por causa do carro ou de suas jóias, que sempre ficam à mostra. Na realidade, isso não acontece. Os tais ricos mesmo - 10 % da população - não dão a mínima para esses que se acham em ascensão. Os mais pobres também não acreditam, acham graça ou fazem piadas das roupas, plásticas e jóias; mas não desprezam as boas gorjetas dadas pelos "novos ricos" e, nesse momento, obviamente, fingem que acreditam em toda aquela encenação.
Não existe defesa da ostentação de riqueza. Nada justifica tal mal gosto. Então, por quê ela acontece? Provavelmente por insegurança, pela necessidade de buscar a aprovação do outro. Seja qual for o motivo, ela é equivocada. Nada justifica tal mal gosto.
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PAIS
Nos filmes e seriados dos Estados Unidos, é passada a imagem de que morar com os pais depois da faculdade seria um sinal de fracasso. Seria o famoso, por lá, "loser". Ou você casa ou mora sozinho. É simples.
Aqui no Brasil, parece ser diferente. Uma vez vi um depoimento de um carioca, na praia, que se orgulhava de nunca ter trabalhado na vida. Eram 25 ou sei lá quantos anos de praia. Literalmente.
Existem os casos das meninas que ficam grávidas, não casam e continuam morando com os pais. Os avós tornam-se pais novamente. Existem ainda aqueles que casam e vão morar "provisoriamente" com os pais.
Existem aquelas que, antigamente, eram chamadas de "solteironas", pois não conseguiam casar e nunca saiam da casa dos pais. O caso oposto é do rapaz que não quer casar e não quer sair da casa dos pais. Afinal, largar as mordomias - roupa passada e lavada, sem pagar aluguel, telefone, energia e água - para quê? Neste caso, ele diz que está cuidando do pai e da mãe. Lembra um pouco um tipo de faculdade no Brasil. Faculdade particular, cobra mensalidades, altos lucros e aparece como "mantenedora" da instituição (e o não o contrário). Irônico.
A questão de sair ou não da casa dos pais é um tema importante na medida em que está associado ao problema da independência do indivíduo. Seus pais podem deixar você dormir com seu parceiro (a) no seu quarto, sem problemas. Entretanto, você ainda vive num "quarto". Esse é o seu espaço. Fora dele, você não tem autonomia. Imagine passar a vida inteira assim? Lembra um pouco a prisão. A pessoa é condenada e tem que limitar toda a sua vida àquele pequeno espaço.
Ser independente é bom, mas é caro e você tem que lidar com um monte de coisas chatas que nem imaginava que existia, afinal, seus pais resolviam esses problemas. Qual seria o caminho, então? Um adolescente responderia rápido: simples, basta casar com uma pessoa rica e sair de casa. OK, porém, você estaria "transferindo" a sua dependência dos seus pais para o seu marido ou sua esposa. Esse é um bom negócio para seu pai e sua mãe, que, finalmente, se livrariam de você. No seu caso, contudo, mudaria pouca coisa. Mudaria o dono, basicamente.
Qual seria a solução? Se você tem mais de 25 anos, você já fez a sua escolha, basta ver onde você mora e quem manda efetivamente na casa. A possibilidade de você mudar de vida é mínima. Continuará assim. É mais cômodo. Portanto, qual seria o problema? Aqui entra o seu futuro namorado ou a sua futura namorada. Como ele (a) fica diante disto? O seu problema passa a ser inventar promessas que nunca serão cumpridas. O problema do outro (a) vem associado a uma velha pergunta: "como vim parar nessa situação?" De imediato, no entanto, a questão seria o café da manhã, feito com todo carinho pelo pai e mãe ou pelo sogro e a sogra. Deprimente.
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PEÃO
Alguém disse que a vida seria uma piada sem graça. Imagine que você fosse um peão em um jogo de xadrez. Seu sentido de existência seria desaparecer primeiro que as outras peças em função de uma estratégia maior - o xeque mate. Você não seria o jogador. Você seria a peça. Mesmo no próprio jogo, você ainda seria a peça menos importante.
A vida não tem sentido, é óbvio. Contudo, é o humor que a faz ficar menos difícil. Rir é fundamental. Rir de si e das situações. Crítica e auto-crítica. Leandro Konder destaca além do humor, a solidariedade, a ética. Concordo.
Dar conta de si e ajudar os outros. Muitos argumentam que isso seria ilusão, que, na sociedade, o que vale é a lei do mais forte. Discordo.
Mesmo se isso fosse verdade, em nada deveria alterar o sentido que o indivíduo dá a sua vida. Ele é o responsável pelos seus atos. E Deus? Sartre estava correto quando afirmava que a existência ou não de um Criador em nada mudaria a postura do indivíduo diante da vida, afinal, "nada pode salvá-lo de si mesmo."
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PhD
Raros são os países nos quais o PhD - aquele que possui doutorado - é valorizado. Ele é visto com respeito, mas, ao mesmo tempo, é percebido ainda como um excêntrico, alguém que estudou muito. Não há novidade nisto.
A universidade foi criada como um espaço de elite, que visava apresentar soluções para a comunidade. Umberto Eco lembra que, na Itália e em muitos países, existem também as
universidades de massa, com cursos noturnos e estudantes pouco preparados para o exercício da pesquisa científica. O Brasil se enquadra neste último padrão. Atualmente, os universitários, em sua maioria, encontram-se em escolas particulares.
Em um artigo publicado na revista Caros Amigos (n. 120), em 2007, Alanna G. Garcia Alaniz afirmava:
"Nos últimos dois anos, a cada fim de semestre, surtos de pânico acometem o corpo docente das instituições particulares de ensino superior. É que esse é o período de "tiro ao doutor' ."
Na sua opinião, essa realidade vinha desde 2005. Estamos em 2010 e nada mudou. O curioso, aqui no Brasil, é que a desvalorização do PhD ocorre dentro da universidade, o seu espaço por excelência. Uma coisa é o cidadão comum não entender exatamente a necessidade e o rigor da produção científica, outra é, dentro de um lugar que lida com o conhecimento, ser valorizado aquele profissional que sabe menos. Trata-se do elogio da ignorância.
O excêntrico, no caso do nosso país, é mostrado como tolo por ter estudado demais. Os outros que não estudaram e enriqueceram ou ocupam lugares importantes - como o presidente Lula - gostam de ressaltar que atingiram os seus objetivos sem ter que estudar e aqueles que fizeram faculdade se deram mal. Claro que por trás deste discurso de "novo rico" existe o recalque de não ter feito algo - um curso superior - na vida. Com seus carros e suas jóias, tentam demonstrar que isso não seria importante - uma negação que apenas reforça algo mal resolvido, o fracasso de não possuir um saber que o outro tem. O dinheiro não conserta isso. O dinheiro não resolve o complexo de inferioridade nem as outras neuroses.
Alguém que fez graduação, especialização, mestrado e doutorado, não o fez somente pensando em retorno financeiro. Quem realmente quer ganhar dinheiro, só isso, procura caminhos mais simples, como carreiras de jogador de futebol ou de celebridades televisivas - o que não são necessariamente atores, músicos ou jornalistas. O problema do PhD não é econômico, como quer fazer crer muitos proprietários de universidades. A questão da sua desvalorização é algo mais complexo. É uma mensagem negativa que é transmitida para a sociedade: "saber menos é bom e ficar rico em um curto espaço de tempo é ser esperto". Não surpreende, portanto, os altos índices de criminalidade de pessoas entre 15 e 21 anos. Além disto, a imagem de um país "pouco sério" só é reforçada no mercado internacional - não foi por acaso que o presidente Lula foi tratado ironicamente por vários meios de comunicação, como o jornal "Washington Post" e uma tv israelense (o vídeo ficou famoso no You Tube).
O lugar de um PhD é na universidade e ela deve apresentar como metas ensino, pesquisa e extensão. Não vamos inventar a roda. É isso. Fugir desta realidade é querer fazer o outro de tolo. É achar que pode enganar a comunidade internacional com índices forjados. É acreditar que é respeitado, quando, na verdade, é motivo de piada. Acreditam nestas ilusões justamente aquelas pessoas que sabem pouco e estudaram menos. Talvez se tivessem feito uma boa graduação, teriam elementos para questionar e ir além dos discursos oficiais.
Escolher "não saber" e "não estudar" é, de certa forma, escolher a fantasia e não a realidade. A fantasia não se refere somente ao outro ou à sociedade. Ela refere-se principalmente a si mesmo.
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PERIGO
Uma característica marcante do ser humano é a covardia. Para salvar a própria pele, o indivíduo é capaz de tudo. A insensibilidade quanto à dor do outro é apenas uma conseqüência disto. Lembra o final do filme "Ligações Perigosas", quando, para justificar aquilo que não tem justificativa, seria usada a frase: "it's beyond my control" ("está além do meu controle"). No filme - como na vida - a indiferença nem sempre dá certo. Uma hora a máscara cai e com ela desaba toda a segurança, estabilidade e orgulho...
Um fator que pode desarmar a proteção racional, criada por uma pessoa, seria a emoção. Ela derruba. Ela insiste em ficar fora de controle.
Outro fator seria o inconsciente. O pesadelo é o lugar no qual, nos indivíduos "normais", ele aflora. Fora do sonho, pode ser embaraçoso: é a histeria ou o pânico, algo que constrange mais o outro do que você mesmo. No livro "História da Loucura", de Michel Foucault, um dos motivos da exclusão do louco seria esse:
"Em sua forma mais geral, o internamento se explica ou, em todo caso se justifica, pela vontade de evitar o escândalo." (p. 145)
A covardia se esconde atrás da aparência. Por isso, em nossa sociedade, parecer é bem mais importante do que ser. Quem se omite não aparece como covarde, ao contrário, é mostrado como esperto. A crueldade, nas raras vezes em que é assumida, vem associada à suposta natureza humana: "não posso fazer nada, eu sou assim". A culpa, então, estaria fora dele. O indivíduo, nesta perspectiva, seria somente um objeto do destino. Trata-se da velha história de que alguém tem que fazer o "serviço sujo".
É cômodo pensar assim. É fácil não assumir os próprios atos. É conveniente colocar a culpa no outro. Afinal, tudo isso "está além do seu controle".
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PESADELOS
Quase sempre tenho pesadelos. Eles são resultados de conflitos internos - id, ego e superego - e externos - as cobranças dos "aparelhos" sociais - família, escola, igreja, mídia, entre outros. Diante de tantas pressões e cobranças, internas e externas, como o indivíduo pode realizar os seus desejos?
Historicamente, a igreja existe para controlar os desejos humanos. São as tais regras. Como esquecer os dez mandamentos? Por outro lado, os meios de comunicação, em especial a propaganda, existem para estimular os desejos, tudo dentro de um certo padrão "civilizado", portanto, controlado. As mulheres semi-nuas em propagandas de cerveja, por exemplo, são associações óbvias entre a libido e o consumo. A edição de um jornal que passa na televisão já não aparece tão claramente ao telespectador, pois aquilo precisar parecer a representação de um fato real, de uma verdade. Indiretamente, o indivíduo é influenciado. Com isso, a intenção é estabelecer padrões de comportamento nas famílias, nas escolas e nas relações gerais da sociedade.
Funciona? Na maioria dos casos, sim, apresenta o resultado esperado. No entanto, a relação social não funciona como a matemática. O que pode causar desequilíbrio é o instinto humano. o modelo familiar entra em crise, os alunos não respeitam os professores nas escolas e a maioria evita ir à igreja todo mundo. A sociedade, contudo, não explodiu. Isso quer dizer que as crises sociais são esperadas e toleradas, desde que estejam sob controle.
Mas, quem controla? Quem ganha com isso? A resposta é simples: num mundo material, existe um minoria de privilegiados cada vez mais rica e uma maioria que sustenta o modelo econômico sem participar dos lucros. Isso acontece no mundo inteiro. O modelo atende efetivamente uma minoria. Todos, porém, sentem os seus efeitos. Muitos acreditam que as coisas negativas só acontecem com eles e, pior, se sentem responsáveis pela própria miséria. Se o modelo é geral, a dor é individual. A maioria não consegue associar uma coisa - o capitalismo - com os seus desejos e fracassos particulares. Aqueles que conseguem, tornam-se "outsiders", ou seja, marginais, não no sentido da criminalidade, mas sim como aparecem e são mostrados na sociedade.
O indivíduo, diante da insegurança, tende a acreditar em algo abstrato: o futuro. Ele vive no presente e sonha com o futuro. Tudo vai melhorar. Não pode ficar pior que isso. Pode sim. Sempre pode piorar. Mas isso é outra história. o que importa é que "a invenção do futuro" é um mecanismo para quem deseja controlar o outro no presente. Pense na política, na religião ou, mais simples, na relação amorosa. "O futuro promete"... sim, desde que você realize o desejo do outro na hora. O futuro, neste sentido, não existe. Trata-se apenas de uma estratégia de controle do outro. Funciona, na maioria dos casos, porque, no desespero, precisamos acreditar em qualquer coisa, por mais absurda e irreal que aquela promessa possa parecer.
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POLÊMICAS
Em 1992, Francis Fukuyama gerou certa polêmica da a idéia do "fim da história". Sem uma argumentação consistente, foi criticado por vários intelectuais em todo o mundo. O mérito dele foi ter criado um polêmica, coisa rara atualmente. A história não acabou, mas o mundo ficou chato.
Fukuyama não foi o único "agitador". Louis Althusser, antes, em sua tentativa de associar as idéias do marxismo com o pressupostos do estruturalismo, também atraiu para si bastante atenção e muitas críticas.
No Brasil, Nelson Rodrigues, José Guilherme Merquior e Paulo Francis eram capazes de gerar debates em relação a vários temas. Não vem ao caso, nesse texto pelo menos, se determinado autor tem razão ou não. O interessa é a capacidade levantar polêmicas e levar as pessoas a pensar. Nos Estados Unidos, se nos últimos anos, havia uma figura como Gore Vidal, por outro, atualmente, Noam Chomsky, um grande intelectual, é incapaz de agitar efetivamente o mundo das idéias fora dos muros das universidades.
Na França, até a década de 1980, havia os casos de Michel Foucault e Jean Paul Sartre, intelectuais consagrados que iam para as ruas, emitiam opiniões e participavam de debates relevantes.
Entre os historiadores, E. P. Thompson ganhou alguma expressão na luta contra as armas nucleares. Contudo, os debates destes pesquisadores são específicos e dificilmente atraem a atenção da sociedade. Talvez uma exceção tenham sido os profissionais da "Nouvelle Histoire" nos setenta do século XX.
Hoje em dia, os grandes intelectuais vivos, como Noam Chomsky, Eric Hobsbawm e Umberto Eco, não demonstram interesse ou capacidade de agitar um debate que movimento a sociedade.
Eles não são culpados, afinal, vivemos uma época em que não existem grandes projetos ou esperanças para a humanidade. Após o fim da segunda guerra Mundial, com a bombas atômicas no Japão, depois da revisão do stalinismo em 1956, da crise dos mísseis em Cuba em 1962, da queda do muro de Berlim em 1989 seguida do fim do socialismo real nos países do leste europeu e, finalmente, com a queda das torres do World Trade Center em 2001, parece que, intelectualmente, o mundo parou. Ou, no mínimo, como foi dito antes, ficou muito chato.
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POSSESSIVO
Bertrand Russell, em "O Elogio ao Ócio" (Editora Sextante, p. 78), afirma que "devido à possessividade conjugal, marido e mulher sacrificam com prazer o desejo eventual de uma vida social mais intensa para que o outro não tenha ocasiões de encontrar membros potencialmente perigosos do sexo oposto." Ele refere-se à época que o homem saia para trabalhar e a esposa era quem cuidava da casa e dos filhos. Isso, porém, mudou, os dois trabalham. Contudo, a possessividade conjugal permaneceu. Muitos casais ainda preferem ficar em casa e não ter uma vida social ativa. No máximo, realizam jantares no lar, convidando outros casais, o que, teoricamente, garantiria a possessividade.
Trata-se de uma ilusão, claro. Não existe segurança de fidelidade em relações amorosas. Neste sentido, o casamento (ou namoro) funciona como a religião: é preciso ter fé, é necessário acreditar no impossível. Sim, porque a fidelidade almejada seria aquela plena, que o parceiro desejasse somente a amada e vice-versa. Por isso, é tão comum perguntas como: você deseja outra pessoa? Se eu morrer, você continuaria me amando? O nosso amor é eterno mesmo? Muitas vezes, essas perguntas levam a discussões intermináveis, a partir de algo totalmente abstrato ou que não aconteceu ainda ("se eu morrer...).
Provavelmente a possessividade tenha a ver com a natureza humana. Certamente, ela faz mais sentido no mundo capitalista, no qual a idéia de posse de algo é tão importante. O problema, na relação amorosa, é que, a princípio, não é algo material. O amor é sentimento, é invisível. Como medir isso? Como ter certeza do amor de outro pessoa? Entre os casais, entre as obviedades, uma interessante é questionar se o outro pensa na pessoa amada durante todo o tempo. Isso seria possível?
Mesmo numa relação amorosa de exclusividade, é normal fantasiar - antes, durante ou depois... O problema é admitir isso sem gerar brigas e polêmicas. Talvez a fantasia mais bizarra seja imaginar que o outro não fantasie... Para não ter uma ejaculação precoce e frustrar a mulher, o homem tem que pensar em algo que corte o seu impulso de orgasmo naquele momento e precisa ser algo nada sexual - como numa cena do filme "Vida de Solteiro" ("Singles").
Por outro lado, fantasia e realidade são coisas diferentes. A fantasia não existe para ser realizada. Ela deveria ficar na imaginação. O perigo é misturar fantasia e realidade. Normalmente, a associação entre estas duas dimensões termina mal. Não me referi ao sonho, que é outra coisa completamente diferente. Os sonhos podem ser bons ou ruins. De qualquer maneira, para Freud, eles tratam dos desejos dos indivíduos.
A possessividade é o avesso do desejo. A pessoa prefere que o companheira seja infeliz do seu lado naquele momento, do que realize o desejo dela com outra pessoa e seja feliz. Neste sentido, a história do "eu só penso no seu prazer" é um mito antigo. O indivíduo parte de si mesmo. A vida em sociedade o obriga a respeitar o outro. Daí vem a ética, o que, basicamente, nos diferencia dos outros animais.
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PRECONCEITO
Freud sabia da existência de Nietzsche. Uma vez, ele comentou que achava que Nietzsche tinha tendências homossexuais. Freud, entre outras coisas, associava o homossexualismo ao narcisismo e ao masoquismo. No filme "Les Invansions Barbares", questionando os grandes pensadores, Freud torna-se objeto de dúvida: uma personagem afirma que ele era gay (sem assumir, claro).
A vida particular de cada um não deveria interessar à ninguém. Nos casos citados, o que importa é que os dois pensadores, junto com Marx, definiram as possibilidades do homem a partir do século XX.
De fato, as pessoais são sexuais. Separá-las em categorias, é uma forma ideológica de reforçar os preconceitos.
A homofobia do personagem Charlie Harper, de "Two and Half Men", é mostrada em vários episódios. Num deles, conversando com a sua psicoterapeuta, ele pergunta: "existe a possibilidade de ser gay sem saber?" Alan, seu irmão, com a mesma dúvida, ouve de um amigo gay: "você sente atração por homem?" Essa é a questão chave. Ela define o seu desejo sexual.
Entretanto, em nossa sociedade, a homofobia acaba sendo uma característica da maioria dos heterossexuais. A crítica ao outro aparece como uma espécie de "segurança" quanto a sua própria sexualidade. Existe um medo de ser considerado "gay", o que é normal, visto que, no mundo atual, as pessoas são efetivamente preconceituosas quando o assunto é sexualidade.
De fato, esse jogo hipócrita de aparências é uma bobagem, trata-se apenas de um pretexto para criticar o outro - assim como a cor da pele ou a escolha religiosa - e fugir de si mesmo, evitando qualquer forma de auto-crítica.
Em suma, exceto no caso dos narcisistas, o desejo sexual está associado ao outro. É algo definido a partir de "dentro" e independente da pessoa ter nascido homem ou mulher. Não é algo absoluto. Pode mudar.
O fato de estar num corpo de homem ou de mulher, pode mostrá-lo como heterossexual ou homossexual. Você não escolheu o corpo que iria nascer. Entretanto, você sabe por que tipo de pessoa sente atração.
O complicador, neste processo, é a sociedade em que você vive. Dependendo dela, do momento histórico, a realização do seu desejo pode ser percebida como natural ou "anormal". No último caso, deve ser criticada e até condenada à morte, como ainda hoje ocorre em alguns países.
O que era simplesmente algo natural, a atração sexual, o desejo do ser humano, tornou-se um instrumento para controlar os indivíduos. Na medida em que o sexo deixou de ser um desejo natural e passou a ser uma estratégia de poder, a pessoa deixou de olhar para si, ficou com medo do seu desejo e de sua sexualidade, preferindo representar um papel em que fosse aceito pelos outros como "normal". Deixou de ser sujeito e tornou-se um objeto, que nem pode ser considerado sexual... Em outras palavras, deixou de existir e virou um "fantoche" do outro, que, nesse teatro de dominação, cumpre um papel também, esquecendo, inclusive, por que era tão importante manipular o próximo e desprezar valores como amor e solidariedade.
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PROZAC
Num episódio de "Sex and The City", Carrie apresenta um rapaz a Charlotte, dizendo que ficou com ele e que seu defeito era que, do ponto de vista sexual, ele era uma maníaco. Em seguida, Charlotte se envolveu com o rapaz, mas, para a sua decepção, não demonstrava interesse por sexo. Questionado por Charlotte, ele afirma que não era uma cara muito sexual. Ela conta o que ouviu de Carrie. Em resposta, ele afirma que aquilo era o passado, que depois que começou a tomar Prozac a sua vida mudou e ele encontrou a tranqüilidade, que nada o abalava mais.
Essa história possui um fundo de verdade. Um dos efeitos colaterais dos modernos antidepressivos é justamente afetar a vida sexual do indivíduo. Não causa impotência, mas pode inibir a ejaculação ou, parece que em alguns casos, torna as pessoas menos sexuais. Contudo, muitos pacientes - como o da história - não se importam com estes efeitos, afinal, deixam de sentir a depressão. Isso contradiz a velha associação de Freud entre eros (sexo) e vida - que entraria em contradição, em cada pessoa, com o instinto de morte.
Após a invenção da pílula anticoncepcional e o avanço do movimento feminista, vários mitos foram destruídos, entre eles, a necessidade da mulher ficar virgem até o casamento. Atualmente, homens e mulheres, no mundo ocidental, atuam em condições de igualdade no que diz respeito à problemática sexual. Exatamente nesse período, o estresse torna-se um problema para um número cada vez maior de indivíduos. O resultado é o aumento no uso de antidepressivos, como Prozac e Zoloft (esse é fabricado pela Pfizer, que produz também o Viagra...).
Em suma, parece que nos tornamos "ratos de laboratórios": somos incentivados a consumir mais, o que nos obriga ao excesso de trabalho e isso gera o estresse, que pode ser resolvido com os novos medicamentos... Os efeitos colaterais, muitas vezes, são "resolvidos" com outros remédios... Aquilo que era básico no homem - o desejo sexual para preservar a espécie - é transformado num mecanismo de controle, ou seja, uma loira numa propaganda de cerveja, por exemplo, "serve" para despertar o desejo sexual, que o excesso de trabalho pode inibir a realização (não é por acaso que quando um indivíduo não consegue ereção, uma das justificativas seria o emprego ou a empresa) e que outra propaganda - a do Viagra - apresenta a solução. Somos usados pelas indústrias como fantoches. Não existe nada de novo nesta afirmação. Talvez a novidade seja o desinteresse pelo sexo em troca do bem-estar.
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RELIGIÃO
O Papa admitiu recentemente (novembro de 2010) o uso de preservativos para alguns casos especiais. Do ponto de vista do catolicismo, foi um marco. Do ponto de vista geral, o discurso pode ser percebido como mais uma adequação dos princípios da igreja à sociedade que tenta representar. Essa mesma igreja, em épocas passadas, estava de acordo com a inquisição e as Cruzadas. Para muitos, a prática da tortura foi inventada pelos representantes do catolicismo.
O uso de preservativo é admitir que o sexo não existe apenas para a procriação. Sexo é também prazer e isso era enfatizado por filósofos da antiguidade. Com o cristianismo e a criação (e avanço) da medicina esse quadro mudou:
"Médicos inquietam-se com os efeitos da prática sexual, recomendam de bom grado a abstenção, e declaram preferir a virgindade ao uso dos prazeres. Filósofos condenam qualquer relação que poderia ocorrer fora do casamento, e prescrevem entre os esposos uma fidelidade rigorosa e sem exceção. Enfim, um certa desqualificação doutrinal parece recair sobre o amor pelos rapazes." (FOUCAULT, O cuidado de si, p. 231)
Esses princípios foram impostos à sociedade ocidental. Houve resistências, lutas e condenações ao longo de séculos até chegarmos na década de 1950, período em que se acreditava como verdades absolutas concepções como virgindade, casamento e fidelidade. Além disto, o amor pelos rapazes que era comum na Grécia Antiga, passaria a ser visto com antinatural.
Na década seguinte, ainda no século XX, os princípios começaram a ser problematizados a partir de vários movimentos sociais: jovens, mulheres, negros e homossexuais. Entretanto, após uma década no século XXI, não podemos afirmar que a crença nestes princípios tenha desaparecido. A maioria ainda coloca a fidelidade como norma básica da relação amorosa. A homofobia permanece. Se, por um lado, o mito da virgindade não faz mais sentido, por outro, a idéia do casamento permanece como objetivo para muitos jovens.
Em suma, mudanças de mentalidade são lentas, podem durar décadas ou séculos. Nem sempre a transformação significa evolução ou bem-estar para a maioria. O comum é exatamente ocorrer o contrário. Talvez uma explicação para isso seja a própria condição humana. Esta é uma boa hipótese.
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ROCK - ALGUMAS CONSIDERAÇÕES SOBRE A HISTÓRIA SOCIAL DO ROCK
Não seria possível escrever a história do século XX sem tratar do rock and roll. Isso não significa dizer que ele representou um movimento revolucionário como aqueles que aconteceram na Rússia (1917) ou em Cuba (1959). As mudanças do rock foram diferentes. Elas representavam mais uma transformação no comportamento da sociedade.
Sabemos que a década de 1950 foi o período da guerra fria. De um lado, havia o comunismo, que era mostrado como uma ditadura e, de outro lado, o capitalismo, que era identificado como sinônimo de democracia. A realidade, contudo, não era tão simples. Por trás do "American way of life", havia o racismo, o preconceito contra os pobres e uma política externa que apoiava as ditaduras na América Latina.
Não existiria o rock sem o blues, sendo que esse último sempre esteve associado ao sofrimento dos escravos. Na verdade, o blues lembra os sons da África e as contradições do processo de colonização. Apesar das origens negras, o primeiro grande ídolo do rock não foi Chuck Berry ou Little Richards, mas sim Elvis Presley. Ser branco, contudo, não facilitou as coisas para Presley nos anos cinqüenta. Em suas entrevistas, ele tentava explicar que o rock não era um movimento perigoso para a sociedade. Tratava-se de um contexto - o da Guerra Fria - em que a juventude americana precisava ser protegida das idéias diferentes. No caso do rock, essas idéias viriam dos negros. Rock e racismo: estes problemas mostravam outra realidade dos Estados Unidos, além daquela ideologia pregada na Guerra Fria. Havia ainda o movimento beatnic. As suas idéias, poesias e experiências foram fundamentais para mudar o comportamento das pessoas.
Provavelmente não existiria o movimento hippie sem as idéias da geração beat. Mas certamente na década de 1960 surgiria um novo movimento social, inclusive, com novos ídolos. Eles viriam da Inglaterra, com destaque para os Beatles e os Rolling Stones. De fato, com os Beatles, o rock acabou tornando-se uma música internacional para adolescentes. Tudo isso significava, claro, uma mudança de comportamento, sobretudo com as bandeiras do sexo, drogas e rock n´roll. Os Beatles, por exemplo, não compunham somente músicas com temáticas amorosas. Eles também escreviam canções como "Lucy in the Sky with Diamonds" (com letras que estavam associadas ao uso de LSD). Havia ainda as letras como "My Generation" do The Who e "Simphaty for Devil" dos Rolling Stones.
De fato, na década de 1960, se de um lado, deve ser considerado que o rock não era uma música para "anjos", de outro, pode ser afirmado que ele tentava apresentar algumas respostas para a sociedade. Os jovens viviam em comunidades hippies, com novos valores e poucas regras. A sexualidade significava liberdade. O feminismo lutava pelos direitos das mulheres. Havia também os protestos contra o racismo. O mundo estava mudando: 1968 na França, protestos na Tchescolováquia contra a ditadura comunista, o festival de Woodstock nos Estados Unidos e existiam os movimentos de esquerda na América Latina (tentando repetir a experiência cubana de 1959).
Não há corno negar que o rock mudou o comportamento das pessoas. Contudo, isso não representou mudanças políticas significativas. Isso é verdade sobretudo se considerarmos o contexto da década de 1970, quando as pessoas deixaram de acreditar na revolução. No rock, tratava-se do período do heavy metal e do som progressivo. A música tornara-se mais importante do que as letras. Isso era claro na sonoridade sinfônica do som progressivo e no "barulho" dos grupos de heavy metal. Um exemplo seria o Led Zeppelin, com a música "The Song Remains The Same", que, apesar da criatividade sonora, apresentava letras simplistas e sem sentido:
"I had a dream. Crazy dream.
Anything I wanted to know, any place
I needed to go
Hear my song. People won´t you listen now? Sing along.
You don't know what you´re missing now."
O que significaria essa letra? Provavelmente nada. O importante era o som. A voz de Robert Plant aparecia corno um instrumento na música e a importância das letras era colocada para um segundo plano. Algumas pessoas poderiam argumentar que, no caso do Led Zeppelin, havia letras interessantes em canções como "Stairway To Heaven" e "Rain Song". Mas, nesses casos, como nas letras do rock progressivo, as músicas tratavam de amor ou de coisas "sobrenaturais" e não do cotidiano das pessoas.
Com o movimento punk, na década de 1970, esse quadro mudou. Eles não eram verdadeiramente músicos. Na verdade, o que importava era o barulho. As letras eram fundamentais, quando eles protestavam contra os "velhos" ídolos do rock (como Led Zeppelin ou Rolling Stones) e mesmo contra as regras da sociedade. O punk era muito mais do que um simples movimento musical - era um estilo de vida. A letra de "Anarchy in the U.K." pode representar bem esse contexto:
"I'm an antichrist
I'm an anarchist
I don't know what I want
But I know how I get it
I wanna destroy"
A combinação entre o anarquismo e o rock não transformam automaticamente o punk num movimento social significativo. Mas, não há como negar que, com o punk, o rock voltava a representar aquilo que era na sua origem: uma música de protesto - quando não só os músicos importavam, mas a reação do público fazia parte do espetáculo. Isso foi verdadeiro nos anos cinqüenta e setenta do século XX. O punk não foi o último movimento do rock. Depois dele, vieram estilos bastante diferentes, como a música disco, a new wave, o hip hop, entre outros. O rock tornou-se importante para a indústria da música. Os músicos ficaram milionários.
A música que tentava mudar a vida das pessoas transformou-se numa máquina de fazer dinheiro no capitalismo. Esse era o problema: usar o rock como protesto era uma forma de gerar mais lucro para as gravadoras e para os artistas. Passou-se a vender de tudo: discos, camisetas, ingressos, refrigerantes... O rock tornou-se um produto como outro qualquer. Os jovens de Woodstock transformaram-se nos pais conservadores da década de 1980. Apesar de ser outro período, o rock deixou de representar uma surpresa ou um símbolo de protesto. Os anos oitenta eram os anos dos yuppies. O dinheiro era a única coisa que importava. A música disco e a new wave eram a trilha sonora desta época.
Em suma, podemos dizer que as letras do rock não tentaram demonstrar um ponto de vista político de esquerda. Havia as canções de Bob Dylan ou as letras do punk, mas elas não representavam a maioria. Isso não significa, porém, que o rock não foi importante na mudança do comportamento da juventude na segunda metade do século XX.
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ROCK - DIVAGAÇÕES SOBRE O ROCK N' ROLL
Se o rock nasceu em 1955, ele morreu com o suicídio de Kurt Cobain e o fim do Nirvana. No início, os ídolos do rock n' roll demonstravam, em suas atitudes algumas, as características que seriam marcantes nesse estilo musical: o "sex symbol" Elvis Presley, a rejeição da imagem do "velho" de Bill Harley, a homossexualidade de Little Richards e o cantor-guitarrista Chuck Berry.
Outro ponto relevante foi a maioria de homens em todas a história do rock. Raros foram os grupos só de mulheres como Runaways e L7. As mulheres ocupavam mais o papel das fãs, desde as adolescentes histéricas da beatlemania às "groupies" da década de 1970. Se o rock foi um movimento, sem dúvida, ele foi machista. O lema "sexo, drogas e rock n' roll" não alterava o modelo tradicional de casal heterossexual. O que mudaria seria a liberdade na vida sexual dos casais. Os méritos das conquistas das mulheres e dos homossexuais pertencem a esses movimentos específicos e não ao rock n' roll.
O rock era algo dos jovens. Havia a idéia de que seria bom morrer antes de envelhecer. Muitos acreditaram nisso. Na década de 1960, era dito que não se podia confiar numa pessoa com mais de 30 anos. O "ser" jovem foi substituído, na prática, faz tempo, pelo "parecer" jovem. Os ídolos do rock não podem ser gordos e caretas. A auto-destruição criou mitos como Jimi Hendrix, Janis Joplin e o próprio Kurt Cobain. As mortes, normalmente, estavam associadas ao uso excessivo de drogas (Hendrix e Joplin) - ou de álcool (Bon Scott e John Bonham) ou mesmo ao suicídio (Ian Curtis e Kurt Cobain).
O rock foi considerado um movimento rebelde. Foi caso de polícia. Várias prisões foram feitas, como as de Keith Richards e Jim Morrison - as cenas dos policiais nos shows do The Doors tornaram-se históricas. Hoje dia, ninguém leva essa premissa do "rebelde" a sério. Uma estrela do rock é milionária e nada há de errado nisso, aos olhos do público e dos meios de comunicação. Os líderes do movimento punk tentaram, sem sucesso, resgatar a figura da "revolta" ligada ao rock. Basta lembrar que Johnny Rotten, dos Sex Pistols, virou John Lydon do PIL.
A auto-destruição leva a depressão... ou seria o contrário? O que importa é que no rock, o movimento "gótico" foi encarregado de levar adiante tal bandeira. Roupas negras, excesso de maquiagem, olhar sério ou triste, elogio ao suicídio, frieza, indiferença eram algumas das características desses músicos e seus seguidores. O grupo precursor foi o Joy Division, com a liderança de Ian Curtis, seguido por bandas como The Sisters of Mercy, Siouxsie and The Banshies e The Cure. Velvet Underground e o mesmo o movimento punk, de alguma forma, influenciaram esse movimento. Outra característica seria a auto-negação: os músicos do "goth rock" não se identificavam com tal estilo musical.
O rock, que sempre foi uma música simples, "de três acordes", como ironizava Tom Jobim, conseguiu ser mais superficial na chamada "pop music". Tratava-se de pura música comercial que usava uma "pose rock n' roll". Os exemplos são inúmeros, como Duran Duran, Eurythmics, B-52's, Tears For Fears, A-ha, entre outros.
Enfim, o rock foi a música da segunda metade do século XX, época em que o mundo viu a crise dos países considerados comunistas e o predomínio efetivo do capitalismo na sua forma de globalização. Nada poderia ser mais coerente, na medida em que esse estilo musical foi identificado também com o narcisismo, o individualismo e a superioridade de uns - os ídolos - sobre os outros - os fãs.
Muitos acreditam nas "verdades" ditas pelos líderes musicais e pelos líderes do sistema econômico. Outros questionam, são marginalizados, isso ocorre mesmo dentro de um movimento que deveria ser considerado, em sua essência, rebelde. Provavelmente, esse rótulo foi supervalorizado por aqueles que teorizavam sobre o rock. Elvis foi nacionalista, casado e serviu o exército. Foi o ídolo branco de uma música criada por negros. Ainda hoje, sobretudo no estilo heavy metal, existe racismo no rock. Revolta contra o sistema? Qual revolta? Quando? Onde? Contra quem? A favor do que? Se for considerado que, de fato, o rock é superficial, levantar tais questões não teriam sentido. O que fica então? O rock produz alienação e o ser humano precisa (também) de fantasia. Portanto, para quem gosta de barulho, "aumenta isso aí que é rock n' roll"...
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RÓTULOS
Uma vez o historiador Eric Hobsbawm foi ao programa de entrevistas do Jô Soares. Fiquei animado, afinal, ele era - e é - um dos principais intelectuais vivos da atualidade. Eu também sou historiador, o que aumentou a minha curiosidade. No entanto, a entrevista foi uma decepção. Hobsbawm possui uma bagagem intelectual enorme. No entanto, o entrevistador fez somente perguntas superficiais, tratando basicamente de jazz, uma das paixões do historiador.
Em seu livro de memórias, Hobsbawm disse que os jornalistas normalmente fazem perguntas óbvias a partir de algumas características do entrevistado:
"(...) a maneira mais rápida de identificar um personagem pela mídia é mediante uma ou duas peculiaridades distintivas: as minhas são ser professor que gosta de jazz e alguém que permaneceu no Partido Comunista por mais tempo do que a maioria." (Tempos interessantes, p. 243)
Isso explica, em parte, a obviedade do entrevistador brasileiro. Se quem trabalha com os meios de comunicação, precisa apenas de uma ou duas informações do indivíduo, imagina o telespectador, que recebe essa mensagem.
Em outras palavras, na nossa sociedade, a pessoa é tratada a partir de um rótulo. Qualquer carreira ou história de vida, por mais complexa que seja, acaba sendo resumida em uma palavra ou em algo mais simples: um símbolo. O cantor Prince usou essa estratégia durante muito tempo. Antes dele, o Led Zeppelin, quando lançou o seu quarto álbum, não usou o nome da banda e sim quatro símbolos, que representariam os membros do grupo.
As pessoas, usando nomes ou símbolos, estão preocupadas com a sua imagem diante da sociedade. O próprio Eric Hobsbawn quis separar a sua carreira de historiador e professor de algo que para ele era mais um hobby: o jazz. Tornou-se crítico de música e publicou o livro História Social do Jazz, mas sob o pseudônimo de Francis Newton.
De fato, numa sociedade em que o marketing predomina, seria difícil negar ou simplesmente ir contra os rótulos. Por outro lado, eles não devem ser levados tão a sério. São referências iniciais sobre uma pessoa, que, inclusive, podem ser equivocadas. O melhor seria problematizar os rótulos e ampliar o número de fontes consultadas sobre esse ou aquele indivíduo. Talvez, assim, poderíamos entender melhor e respeitar mais os outros.
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SABÁTICO
A redução das horas de trabalho proporcionada pela revolução tecnológica dos computadores, desde a década de 1970, transformou o mundo. Domenico de Masi acreditou que isso possibilitaria o "ócio criativo" e a melhoria da qualidade de vida. Foi otimista demais.
Viviane Forrester, em "L'Horreur Économique" e "La dictature de profit" (Editora Fayard), acertou mais ao criticar as grandes corporações e seu "regime político ultraliberal disfarçado ultimamente no termo 'globalização'."
Para produzir algo, não seriam necessárias mais tantas horas de trabalho. No entanto, os empresários optaram pelas demissões dos trabalhadores e seu próprio fortalecimento ideológico, pressionando o Estado no sentido de cortar os benefícios sociais. Isso tornou-se um padrão mundial.
Em meio aos novos acontecimentos, aquilo que era privilégio dos professores universitários dos países ricos - o período sabático - tornou-se uma opção aos executivos de uma maneira geral. O livro "Sabático - um tempo para crescer" de Herbert Steinberg (Editora Infinito), apesar de ser descritivo e reforçar dogmas corporativos, teve o mérito de tentar trazer o tema para o debate no Brasil, afinal, em 2000 - ano da publicação do livro - assim como hoje, poucas pessoas sabem o que seria sabático.
Steinberg trata esse período como uma escolha pessoal e uma possibilidade de se voltar renovado para o mercado produtivo, o que interessaria também às empresas. Ele apresenta a sua experiência e outros relatos, indicando ainda, com o apoio de uma bibliografia sobre o tema, alternativas para quem deseja "sair das (...) zonas de conforto" (p. 105) e arriscar viver um sabático. Ele afirma ainda que isso não seria apenas para pessoas de meia-idade, o que lembra, aliás, a tal "mid-life crisis" que os homens, em geral, enfrentam e tentam resolver com seus carros vermelhos e namoros com garotas bem jovens.
Contudo, o problema é mais complexo e certamente não fica restrito aos que estão na crise da meia-idade. Trata-se de saber o que você faz da sua vida? O comum é fugir da auto-crítica com pretextos como consumismo, excesso de trabalho, religião, drogas, bebidas, sexo, entre outras coisas. Usar o cotidiano como fuga - basta, por exemplo, ver a importância que a TV Globo dá aos horários de seus programas, sobretudo as novelas - seria uma espécie de traição do ser (Heidegger). O ser humano abandona a capacidade de refletir sobre a sua existência e sobre o mundo em que vive. Troca isso pela chamada "zona de conforto", algo que seria frágil e arriscado numa sociedade cada mais mais competitiva e tecnológica.
Em resumo, o indivíduo "foge" da vida. Não arrisca. Sente medo do que está por vir. Recusa ser sujeito de suas próprias mudanças. Recusa assumir o seu verdadeiro ser e suas atitudes. Acredita nas fantasias de "gente grande", como poder, religião e dinheiro.
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SEDUÇÃO
Encontrado bêbado na porta de casa, o personagem Charlie Harper fala para o irmão: "a noite foi ótima, é essa manhã que está me matando." Sim, as noites são maravilhosas. Tudo fica bonito e divertido. Claro que para isso acontecer, as boites utilizam muitos efeitos de luzes e música bastante alta. Tudo deve ser embalado com doses de vodka, whisky, tequila e/ou cerveja. Alguns tomam (mais) energético para agüentar a "balada". Outros ainda usam drogas.
O objetivo, no fim da noite, além de ficar "wasted", é que tudo terminar em sexo. Os homens assumem isso - para eles, pelo menos. As mulheres acham que encontrariam a sua cara metade nestas noitadas. O que faz lembrar aquele velho ditado: "eu não entraria num lugar que me aceitasse como sócio." Em outras palavras, estes ambientes são propícios para qualquer coisa, exceto para uma garota encontrar o seu "príncipe encantando". No final das contas, elas que gostariam de achar o amor, acabam fazendo sexo mesmo.
O filme "Tudo para ficar com ele" ("The sweetest thing"), com a atriz Cameron Diaz, discute de forma bem humorada algumas temáticas deste "jogo" - elas usam esse termo mesmo. De um lado, a garota seduz, beija o rapaz, dá o número do telefone errado e depois vai embora. Do lado do homem, ele fará qualquer coisa para levar a moça, que encontrou na boite, para a cama. Ele falará qualquer coisa e fingirá que está ouvindo tudo o que ela disse, com aquela cara de interessado nos problemas femininos.
No filme, depois de ouvir a personagem da Cameron Diaz desabar, o rapaz fala: "esquece... o que um cara não tem que passar para poder transar?" É esse o jogo, noite após noite. No filme, elas cansam e decidem encontrar "Mr. Right". No fundo, é o que todo mundo deseja, encontrar a sua cara metade e ser feliz. Contudo, as relações de sedução não são simples. Ao invés de encontrar um príncipe, normalmente, no outro dia a mulher se depara com uma ressaca do excesso de bebidas e com um arrependimento de ter ficado com aquele cara - que depois nem a cumprimentará nos lugares. No entanto, novamente, junto com a noite, chega a esperança que desta vez será diferente. Ela acredita nisto pelo simples fato de que não tem outra alternativa, a não ser ficar sozinha.
As pessoas esperam que as noitadas sejam apenas uma fase, que iria até encontrar o seu amado (a), casar, ter filhos e ser feliz para sempre. Entretanto, a vida não funciona assim, pelo menos para a maioria das pessoas. As noitadas podem levar ao alcoolismo e ao vício em drogas. É um risco. O ator Robin Williams passou por isso - alcoolismo e drogas - e, sobre as "baladas", concluiu: "você percebe que se visse as pessoas com as quais sai à noite durante o dia, elas te matariam de susto. Existem insetos que parecem melhor do que isso."
Afinal, a noite pode seduzir, é o momento perfeito para fantasiar, mas a manhã sempre chega. Fantasia e realidade são coisas diferentes. O próprio ator, Charlie Sheen, que faz o sortudo Charlie Harper - no seriado, mesmo com o alcoolismo e o excesso de mulheres, ele sempre se dá bem -, na vida real, passou por sérios problemas por tentar levar esta vida, inclusive, sendo condenado por uso de drogas e violência contra a mulher.
Em suma, não existem grandes novidades nesta área: as noitadas embaladas com excessos de vinhos e mulheres não são invenção recente. Não são também equivocadas e nem devem ser condenadas. Existem riscos, obviamente. Mas, viver não seria exatamente isso, arriscar até acertar?
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SISTERS
The Sisters of Mercy é uma banda criada em 1980, sob a liderança de Andrew Eldritch. Ela é chamada de gótica, rótulo sempre recusado por seus membros. O nome não é muito original, na medida em que está associado ao grupo que praticamente inventou o "gohtic rock": Joy Division.
Isso, contudo, não diminui a importância dos Sisters, sobretudo quando lembramos das letras de Eldritch. Musicalmente, mesmo sendo uma banda de rock and roll, a sua base é uma bateria eletrônica - Doktor Avalanche. Eles gravaram vários compactos, um EP e três CDs - "First, Last and Always", "Floodland" e "Vision Thing". São especialistas em gravar versões diferentes e originais de outros artistas, como "Gimme Shelter" dos Rolling Stones, "Knocking on the Heaven's Door" do Bob Dylan e "Comfortably Dumb" do Pink Floyd.
Na época de "Floodland", Eldritch dizia que a banda não tocaria ao vivo mais. Na década de 1990, com a revolução do MP 3 e a troca de músicas pela internet, a sua visão mudou. Talvez a briga jurídica com a sua gravadora - no período - tenha ajudado. O fato é que o grupo Sisters of Mercy não lançou mais um CD de músicas inéditas e optou por ser uma banda de rock ao vivo, tocando, todos os anos, nos festivais europeus e mesmo fazendo "tours" mundiais - vieram três vezes ao Brasil.
Nos shows, eles apresentam músicas novas. No website oficial, colocam as letras e vídeos das músicas. Não concordam, mas sabem que não precisam se preocupar com a produção de um CD, afinal, na época atual, as suas músicas inéditas são gravadas pelo fãs diretamente dos shows e trocadas livremente na internet.
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SOCIEDADE
Os homens vivem em sociedade. Em linhas gerais, para os anarquistas, não haveria necessidade de governo. Karl Marx defendia que, na fase final da história, o Estado perderia a sua função na medida em que não existiria diferença de classes sociais. No livro "Was ist Politik?" (p. 203), de Hannah Arendt, numa nota, há uma citação interessante: "se os homens fossem anjos, nenhum governo seria necessário." The Federalist No. 51 (Madison)
Apesar de esperar o mesmo fim - a extinção do Estado - os anarquistas e os comunistas divergiam dos meios para atingir tal objetivo. As anarquistas, de uma maneira geral, acreditavam que espontaneamente isso aconteceria. Os comunistas achavam necessário fazer algo - a revolução - para que "história fosse realizada". Os que defendem o Estado como mediador dos homens, esquecem que ele agiria a favor de uns em detrimento de outros.
De qualquer maneira, apesar das generalizações, o tema é complexo. No fundo, lida com a expectativa de uma resposta para o convívio humano. Freud já mostrava que o indivíduo comportava conflitos "internos" - id, ego e supergo. Ele, confuso em seus desejos, e o outro, nas mesmas condições, numa relação social, dificilmente poderiam atingir uma harmonia.
Daí vem a ética, o respeito ao outro. No entanto, o problema já estava colocado mesmo antes da reunião entre os indivíduos. O esforço em ser ético está associado a negação de muitos instintos do próprio indivíduo. Freud já apontava o conflito entre os interesses do indivíduo e do coletivo.
Freud era pessimista quanto ao futuro da humanidade, o que, em outras palavras, queria dizer que anarquismo, comunismo e liberalismo eram apenas ideologias que serviam para uns dominarem os outros. Talvez. Contudo, nenhuma delas teria o poder na religião como discurso hegemônico ao longo da história. Os indivíduos dependem da natureza, sabem que a morte é certa e não sabem por quê estão neste mundo. Nestas condições, não seria difícil de compreender a força do discurso religioso, que aparece como algo elaborado não pelos homens, mas sim algo feito fora da sociedade.
Teorias políticas e religiosas se aproximam quando o assunto é o controle do outro. Pode se argumentar que, atualmente, essas teorias perderam espaço na credibilidade das pessoas. Talvez. No que as pessoas acreditam então? Na mídia? Mas quem estaria por trás dos meios de comunicação? Certo, voltamos ao início: um quer dominar o outro e não existe resposta nem para o indivíduo nem para a sociedade? Talvez.
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SOLIDARIEDADE
Em uma crônica, João Ubaldo Ribeiro pensa sobre quanto anos ainda restariam para ele viver. Eu colocaria o problema de outra forma: o que você fez com o seu tempo antes de morrer? Se você teve uma ataque do coração, provavelmente estava estressado, trabalhando muito ou preocupado demais com as coisas do cotidiano. E a sua vida? O seu prazer?
Tenho a sensação de que nascemos e ao longo da vida, as várias experiências que experimentamos seriam uma espécie de aprendizado para saber o que seria importante ou não, para quando chegarmos mais adiante, podermos usufruir o que nos é oferecido de melhor neste mundo. Depois, vem a morte, claro. No entanto, ela não apareceria como algo assustador e nem você ficaria tão apegado a esse mundo que morrer seria um mal negócio (apesar de você saber que não existe outra saída para tal momento).
A morte irrita as pessoas. É interessante. Não apenas o que seria uma recusa da "sua" morte, mas também no que se refere a morte do outro. Somos egoístas: como ele foi capaz de morrer e nos deixar? O que vale é sempre a "nossa" perspectiva. Quem sabe não seria a morte não seria o melhor para aquela pessoa. Não falo de suicídio, falo de morte natural. Acontece. Ficamos tristes, claro. Contudo, seria possível pensar na perspectiva do outro, por um só momento?
Muitas pessoas têm medo de morrer. Bobagem. Com medo ou sem, vão morrer do mesmo jeito. A morte aparece como algo no "futuro", o indivíduo sente medo no "presente" em virtude do que ele fez no "passado". A consciência pesada não resolve os erros do passado. A falta de consciência dos próprios atos não significa inocência. A alienação é uma opção.
Alguém disse que você deveria viver o seu momento como se ele fosse o último da sua vida. Está certo. O problema não é a morte. Ela é uma certeza. Não existe debate sobre isso. A questão é a vida. Sim, o que você faz dela, como, para usar outra expressão, você "habita" o seu tempo? Ser feliz. Ser solidário. Não são respostas, mas, para refletir, são duas temáticas interessantes.
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SUICÍDIO
Os psiquiatras e psicoterapeutas, por motivos óbvios, não gostam de admitir diante de seus pacientes uma dado óbvio: "a depressão é a principal causa de suicídios."
Nesta problemática, existem aqueles que "tentam o suicídio" como forma de chamar a atenção e os que, de fato, morrem.
No primeiro caso, o mínimo que se pode dizer é que existem formas mais interessantes de chamar a atenção, mesmo consideração, como diria Freud, o componente auto-destrutivo encontrado em todos os indivíduos. O segundo caso é diferente. O suicídio "de fato" é visto, algumas vezes, como um ato de honra, como os "kamikazes" japoneses na Segunda Guerra Mundial ou, mais recentemente, os ataques terroristas de grupos radicais islâmicos, como ocorreu com o World Trade Center em 2001.
A depressão clínica pode ser um elemento relevante neste processo, pois a doença "puxa" o indivíduo para a morte. Viver, assim, seria quase como ir contra a natureza da própria doença. Trata-se de uma doença genética. Pode ser tratada com modernos remédios - Prozac, Zoloft, entre outros - e com a ajuda de profissionais adequados, como os psiquiatras e os psicólogos.
Após as pesquisas de Michel Foucault, com seus livros "História da Loucura" e "Nascimento da Clínica", e o avanço científico da indústria farmacêutica, a associação entre o suicídio e a depressão pôde ser amenizada. Contudo, não foi resolvida, na medida em que ela está relacionada à condição humana.
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TRABALHO
Tive uma crise de estresse, em 2000, devido ao excesso de trabalho. Tirei um mês de licença médica. Eu trabalhava de segunda a sexta, começava as 7h15 e parava 22h35, com intervalo para o almoço e as tardes livres, algumas dias, pelo menos. Trabalhava aos sábados também, mas não era todo semestre. Ganhava bem, claro. No entanto, esse não era o problema. A questão, de fato, era: o que levaria um indivíduo ao excesso de trabalho?
Inconscientemente, seria uma fuga de si. Trata-se de uma boa maneira para fugir dos reais problemas que deveriam ser enfrentados. Conscientemente, o objetivo seria ganhar mais dinheiro e, assim, comprar muitas coisas.
Vivemos numa sociedade capitalista. O consumismo, porém, apresenta algumas contradições. 1) A maioria não possui tempo de usufruir os bens pois passaria a maior parte do tempo na empresa. 2) Qual seria a meta do acúmulo de riquezas materiais? Alguns dizem: a pessoa pensa no futuro. Mesmo? Qual é o futuro final de todo indivíduo? A morte, claro. O que essas riquezas ajudariam neste momento (ou depois dele, se é que existe algo)?
Atualmente, vivemos numa época de cinismo. Os indivíduos não acreditam mais nas ideologias religiosas, econômicas ou políticas. Trata-se de um momento perigoso, na medida em abre espaço para os regimes totalitários. Outro problema seria o saudosismo de uma época que nunca existiu: alguns hippies, na década de 1960, tentaram criar comunidades autônomas, isoladas, como forma de negar a sociedade industrial. Seria possível negar todo o desenvolvimento tecnológico? Não.
Uma coisa que move as pessoas é o medo. Antes, no período da guerra fria, a maioria temia um conflito nuclear, o que levaria ao fim da humanidade. Não aconteceu. Hoje, um indivíduo não acredita em nada e não tem um medo geral que o motivasse no sentido de solidariedade e de se fazer algo. O que sobra? O medo de si. Ou, como diria Heidegger, resta o medo de refletir sobre o próprio ser. Assim, o cotidiano torna-se uma fuga, o que seria secundário passa a ser encarado como fundamental e inventamos "a falta de tempo", mesmo considerando que vivemos numa sociedade tecnológica que não precisaria de tantas horas de trabalho feitas por cada indivíduo.
Aqui entra a importância de parecer que se está ocupado. Ficar sério diante de um computador costumava ser um truque interessante para aqueles que, na empresa, fingiam que trabalhavam. Alguém ainda acredita nisso? São feitas reuniões e seminários para motivar a equipe. Funcionam? Pelo menos, nesses momentos, os indivíduos não estão trabalhando, apesar de estarem trancados dentro da empresa, vendendo sua força de trabalho, sem poder passear num parque, ir ao cinema ou fazer algo efetivamente prazeroso.
Com o capitalismo, foi inventada a sociedade do trabalho. Se até o século XIX, os indivíduos realmente trabalhavam, inclusive, em condições precárias, depois do século XX, o trabalho manual perdeu seu espaço. Atualmente, esse conceito de trabalho existe só do ponto de vista ideológico. Por insegurança ou por escolhas pessoais, não como há negar que muitas pessoas se apegam a esta idéia para viver o seu cotidiano e não ter tempo de pensar.
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TV - THE BIG BANG THEORY
Interessante colocar numa mesma série de TV tanto PhDs, garotas superficiais e gostosas - em especial, a vizinha - como tratar de temas como a origem do universo e a lógica das histórias em quadrinhos, isso sem contar o Transtorno Obsessivo Compulsivo do personagem Sheldon. Certamente, em textos opinativos, como os deste blog, não seria possível tratar de maneira aprofundada a velha problemática da causalidade.
Numa edição da revista Superinteressante (2005), em um resumo, afirma-se: "a teoria desenvolvida por Einstein estabelece que tempo e espaço não são absolutos, como postulava a física de Newton, mas varia de acordo com o referencial."
Para as pessoas comuns, estes princípios - tempo e espaço - aparecem como verdades absolutas. Trata-se do material, daquilo que "existe". Se não for assim, qual seria o sentido de tudo isso? A busca de resposta - mesmo sabendo que não poderá encontrá-la - passa pelas várias religiões e filosofias. Mesmo no cinema, este assunto foi tratado, como em "Matrix" e em "13° Andar". Afinal, existe Deus? O que acontece depois da morte? O homem é realmente sujeito de sua própria história? Em suma, qual seria a origem do universo?
As respostas para tais questões dependem do ponto de vista de quem faz as perguntas. Einstein deve ter razão. No final, sobra o humor de "The Big Bang Theory". Bazzinga!!
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TV - TWO AND A HALF MEN
O personagem principal da série "Two and Half Men" atrai muitas pessoas. No caso dos homens, ele é visto como uma espécie de herói, um modelo a ser seguido. O problema é que, na realidade, não seria possível viver como Charlie Harper. Bem que o ator da série, Charlie Sheen, tentou: noitadas, bebidas, drogas, orgias, prostitutas, namoradas, cassinos, entre outras coisas. Ele não conseguiu, claro. Por quê?
O ser humano é cheio de defeitos. No caso de Charlie Harper, esses defeitos aparecem como virtudes. O ser humano erra. Os pseudo-fracassos de Harper, normalmente, terminam com o personagem sentado na sua casa, em Malibu, tomando um whisky escocês e fumando um charuto cubano.
O que é menos enfatizado no personagem é a emoção. Talvez esta seja a grande diferença com as pessoas "reais".
Não dominamos a nossa emoção. Apaixonamos pela pessoas errada. Sofremos. Na série, são interessantes as conversas dele com a sua psicoterapeuta. Suas "fugas" da realidade tornam-se um pouco mais claras. Contudo, a psicoterapeuta não parece tão interessada. Nela, destacam dois pontos: a ironia com o paciente e o interesse pelo dinheiro da consulta.
No final, as coisas dão certo para Charlie Harper, sem ele se esforçar, pois ele tem sorte. As circunstâncias funcionam a seu favor. Sabemos que, na vida real, as coisas não acontecem assim. A sorte é rara para todos. Para Charlie Harper, ela aparece como uma característica do indivíduo.
O vício do jogo, as mulheres e as bebidas são fugas óbvias de Charlie Harper e nem ele esconde isso. O que fica então? Diversão. Com senso de humor, é possível rir de uma das principais fantasias masculinas: o solteirão com sorte, dinheiro e belas garotas.
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UBERLÂNDIA - A NOITE DE UMA CIDADE DO INTERIOR
A principal diversão da noite de Uberlândia, até a década de 1950, era o cinema. Nos fins de semana, as pessoas ainda passeavam na Praça Tubal Vilela e nas avenidas Afonso Pena e Floriano Peixoto - era o "footing". Durante o dia, havia o Praia Clube. Nas noites, os salões do Uberlândia Clube. Tratava-se de um cidade do interior, conservadora, como tantas outras. Com a criação da Faculdade Federal de Engenharia, depois, veio a Universidade de Uberlândia, em 1968, e sua federalização em 1978. A chegada dos estudantes mudou a noite no município.
No Uberlândia Clube, no início da década de 1970, ainda havia o "soirée" nas noites de domingo. Contudo, os diretórios acadêmicos dos cursos da universidade, criaram as suas próprias casas noturnas, as mais famosas eram o "Dagemp" - da Engenharia - e o "Med's" - da Medicina. No final desta década, com a moda das "discotheques", foram criadas, por empresários, as primeiras discotecas/danceterias de Uberlândia. "Cactus" - Praça do Rosário - e "Joplin" - Rua Tenente Virmondes - estavam entre as primeiras. No próprio Uberlândia Clube, foi criada uma "discotheque", famosa na época. Os shows aconteciam no ginásio do UTC e, no período, as grandes atrações eram os cantores da MPB, como Toquinho e Vinicius, Elis Regina, Gal Costa, Fagner, entre outros.
Com o surgimento de novas bandas no rock nacional, os shows também mudaram na cidade, a partir dos anos 1980, com a chegada de bandas como Legião Urbana, Kid Abelha, Capital Inicial. As "discotheques" ficaram menos em evidência, afinal, as pessoas ouviam rock nacional e preferiam ir a barzinhos. Foi a época do grande sucesso do RPM.
No que diz respeito aos bares, sempre houve os que eram freqüentados pela dita "elite uberlandense" - como Bar da Mineira, Garilbald's - e aqueles conhecidos como "alternativos" - como Batidão, Galpão do DCE, Garibas, entre outros.
Até 1964, apesar de se mostrar como conservadora, Uberlândia também era conhecida como a "Moscou brasileira", por causa da atuação dos comunistas da cidade. A rebeldia associada à política foi expressiva até ocorrer a campanha pelo "impeachment" do Presidente Collor. Depois, esta rebeldia ficou mais associada ao uso de drogas.
Em termos nacionais, a "explosão" do rock nacional foi seguida por outras modas e a formação de outros ídolos, como a música sertaneja - o corte de cabelo dos cantores era idêntico ao modelo usado pelo roqueiros, como exemplo, poderiam ser citados a dupla Chitãozinho & Cororó e o grupo RPM -, o pagode e o axé music.
Depois de 1998, foram criadas várias faculdades particulares no município - até então havia apenas uma -, o que aumentou o número de estudantes e movimentou mais a noite na cidade. "Boites" e bares foram extintos, enquanto surgiam novas casas noturnas. Raros foram os bares que duraram muito tempo e foram representativos para a noite do município, como foram o Public e o London - este último ainda existe. Apesar de se denominar "o lugar de rock and roll", atualmente, aceita outros estilos em seus shows, exceto a música sertaneja.
O que representaria a tradicional "discotheque", ainda existe, como a Lounge, o Vitorios, a Hits e a Zara. No entanto, hoje existe uma diferença importante: toca-se de tudo nestes lugares. Seja com música gravada ou shows ao vivo, você encontra diferentes tipos de música numa mesma noite num mesmo espaço: house, pagode, música sertaneja, pagode e axé music. O calendário de festas foi incrementado com as chamadas "raves" - até com novos tipos de drogas, como as balas (ecstasy) e os doces (LSD) ou mesmo o "crack" (mistura que vem da cocaína) - e com as outras casas abertas na cidade, sendo que estas seriam para grupos diferentes daqueles que se identificam com a elite uberlandense - vale citar algumas: Goma, Ooze, Weekend e Heaven.
Enfim, aquela velha frase dita na noite de Uberlândia - "não existe nada para fazer nesta cidade" - pode ser reconhecida como verdadeira ou não, depende, talvez, de quem resolve sair de casa, com quem e com quais interesses... Para a elite tradicional da cidade, a imagem é tudo. Parecer é mais importante do que ser. Contudo, na noite, até mesmo pessoas desta elite se misturam com aqueles que eles chamam de marginais, mesmo que no dia seguinte, ninguém reconheça ninguém e ninguém assuma nada. Atitude típica de uma cidade conservadora, que tenta se mostrar como moderna e democrática.
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UBERLÂNDIA - O MESMO DE OUTRA MANEIRA
Eu sou da época que não existia "axé music". Havia, principalmente, MPB, samba, música caipira e rock. Eu preferia o último tipo de música, mas gostava do Sambão do Med's que acontecia toda sexta-feira aqui em Uberlândia. Na segunda metade da década de 1970, começaram as festas ao som da música "disco" no Cajubá. Os shows eram com artistas da MPB, como Toquinho & Vinícus, Elis Regina, Caetano Veloso, Gal Gosta, entre outros.
Nos anos 1980, houve a "explosão" do rock brasileiro, simbolizada pelo grupo RPM. O rock virou moda e todos passaram a gostar deste estilo musical. Bom por uma lado, o sucesso, ruim por outro, o fato de ser só uma "moda" havia atraído pessoas que realmente não se identificavam com tal estilo.
Como toda moda, o rock também passou rápido e deu lugar para o "novo": a música sertaneja. Não se consideravam "caipiras", pois eram duplas jovens com corte de cabelo idêntico ao dos músicos do RPM. Obviamente, a massa que curtia o rock mudou para o sertanejo. A mídia, claro, influenciou bastante nesta mudança. A alienação geral das pessoas ajudou a concretizar a transformação...
Depois, vieram outras modas: os grupos de pagode - com músicos de brinco e cabelo na moda, diferentes, portanto, dos velhos sambistas - e ainda as bandas de "axé music" - que conseguiram mudar um fenômeno local (da Bahia) para nacional e que acontecia só numa época do ano (no carnaval) para ocorrer durante todo o ano, nos chamados carnavais fora de época.
Com o sertanejo, o pagode e o "axé", as massas populares teriam o que queriam: música superficial; letras fáceis, óbvias e vulgares; e coreografias que mudavam de acordo com a música - parece que a dança tentava traduzir, com gestos, as letras das músicas.
O resultado pôde ser percebido no Triângulo Music 2010. Os "headliners" do festival foram duas duplas sertanejas seguidas por duas cantoras de "axé music". Nem os lugares que representariam a tradição das antigas "discotheques" - Lounge, Vitorios e Hits, por exemplo - resistiram à moda dos três segmentos musicais.
Em suma, sair na noite de Uberlândia não é fácil. Ainda bem que existem as bebidas alcoólicas, que tornam tudo mais suportável.
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VELHOS
Sêneca refere-se a morte de Cano Júlio, condenado por Caio Calígula, dizendo:
"Tristes estavam os amigos que iam perder tal varão. (...) E ele prometeu que, se descobrisse algo, havia de voltar aos amigos e indicar-lhes qual fosse a condição das almas." (p. 63)
A primeira frase demonstra o que sentimos na perda de alguém. Aqui a questão não é o interesse do outro - se quer ou não, se importa ou não com a morte -, mas sim o que queremos, a utilidade que ele representaria vivo para nós.
A segunda frase trata de uma promessa que não poderia ser cumprida: voltar da morte ao mundo material. Existem várias hipóteses neste sentido. Algumas são religiosas e outras não... Lembro-me de uma fala do personagem George, afirmando que Seinfeld poderia faltar ao velório da avó e ir jogar beisebol, afinal, ela não se importaria, pois diante das infinitas possibilidades que lhe seriam oferecidas no novo ambiente, ela mesma não compareceria ao próprio velório.
Isso pode ser associado à maturidade. Muitos dizem: "ah, se eu soubesse disto antes, quando era jovem." A solução seria os mais velhos transmitir os conhecimentos aos mais jovens. Contudo, isso não funciona.
Primeiro, porque os jovens não querem saber, ou melhor, acham que sabem mais que os velhos
Segundo, quando atingem a maturidade e percebem que tiveram que aprender tudo sozinhos, com experiências terríveis e inevitáveis sofrimentos e fracassos ao longo do caminho, os velhos, por egoísmo ou por tédio, simplesmente não insistem em dar conselhos aos mais jovens. No máximo, ficam com aquele "sorriso Mona Lisa", irônico, como que dizendo: "já vi esse filme antes e esse menino se acha esperto..."
Jovens ou velhos sabem que vivem por um período de tempo, entre o nascimento e a morte. O que podem fazer está neste intervalo. É simples: não existe "replay". Ou você faz ou não. É isso.
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VIAGRA
Antigamente (... início de conversa de velho), a Embratur possuía uma programa específico para a "terceira idade". Depois, o programa mudou o nome para a "maior idade". E, finalmente, antes de ser extinto, os termos utilizados eram "melhor idade". Numa sociedade em que se cultua "o jovem", parece pejorativo admitir a velhice - como se idade fosse categoria ou classe social: nobres e servos ou jovens e velhos. Usei o exemplo da Idade Média para mostrar o que está por trás desta idéia: a idade não é percebida como um processo e sim mostrada como blocos estanques, como se o jovem não fosse virar velho um dia...
O Mick Jagger uma vez ficou irritado pois o repórter da Globo perguntou sobre as suas plásticas. É um jogo. Não adianta parecer jovem, tem que acreditar nisto. Quem me conhece - ou foi meu aluno - sabe que eu não escondia a aliança quando era casado e muito menos me recusava a falar da minha idade: nasci em 1961, século passado, tenho, portanto, 49 anos.
O fato de gostar de heavy metal e, por exemplo, ter assistido AC / DC, Megadeth e Metallica, ao vivo, duas vezes (em diferentes anos e ocasiões) causava estranheza nos meus estudantes. Afinal, o professor não era velho? Depois de divorciado, ir em raves, shows, boites e bares ainda gerava alguma desconfiança. Quando comecei a ficar ou namorar com garotas algumas décadas mais novas, claro, achavam um absurdo. Nos namoros, eu conversava com os pais das meninas - que não achavam a "melhor idéia", mas também não proibiam a relação. No caso das ficantes, a maioria foi "one night stand", ou seja, como todo mundo, aconteceu, ficou ali e pronto.
Raspo semanalmente a cabeça. Adquiri um novo hábito... Muita gente não gostou do meu "novo" visual. Tudo bem. A maioria não gostava do visual anterior também. Pelas minhas atitudes, pode se perceber que, apesar de respeitar a opinião de todos, não estou muito preocupado com o que dizem a meu respeito. Muitos falam mal de mim, como falam das outras pessoas. Em termos de fofocas, não me sinto diferente, pois todo mundo fala mal (e/ou bem) de todo mundo.
Voltando a velhice... Eu não me sinto com quase 50 anos. Isso não significa que eu possa cair do skate como eu caía antes... Tenho que tomar certos cuidados.
Um outro tabu dos velhos é o Viagra. Uma vez li algo que dizia que o remédio proporcionaria uma "ereção artificial". Era uma playmate "dissidente" criticando as noitadas do criador da Playboy, Hugh Hefner. Isso me levou a questionar: se uma moça - sim, uma virgem - faz sexo com um homem, o fato da ereção dele ser "natural" ou "artificial" mudaria alguma coisa? Ela não deixaria de ser virgem? Eu sei que não foi o melhor exemplo - afinal, ela poderia perder a virgindade sem a participação de um órgão sexual masculino -, mas foi o que me ocorreu agora e acredito que tenha ficado claro o que eu queria dizer.
Obviamente, o Viagra não é natural. Mas, por outro lado, o uso de recursos como plásticas, botox e silicone, não deixa a mulher mais "natural", o que não significa que ela, depois de tanto "investimento", não tenha se tornado atraente aos olhos dos homens. Em outras palavras, depois de civilizado, sobrou pouco da "velha" natureza no homem, seja do ponto de vista tanto do seu corpo como da sua mente.
Ah, ainda não tomei Viagra e nem comecei a participar dos bailes ou das excursões do SESC. Acredito que não deve demorar muito para que (1) os bailes tornem-se raves (uma ambulância sempre fica de plantão nas festas da juventude... imagino que no caso da terceira idade, uma só não daria para resolver todos os problemas da noite) e que (2) as excursões sejam organizadas em função de shows de heavy metal em São Paulo. Pensando por esse lado, ficar mais velho pode não ser tão ruim como parece.
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VIDA
Existe um mito (ou seria verdade?) associado a idéia de que o período da faculdade seria a melhor época na vida de um indivíduo. Eu vivi intensamente a fase da minha graduação: festas, bebidas, ficantes/namoradas (tanto colegas como professoras), militância política, viagens e, claro, estudos (eu era o que se chamava de "rato de biblioteca").
Foi uma ótima fase, mas não posso dizer que foi a melhor, pois não acredito neste tipo de hierarquia na vida. De qualquer maneira, muitos acreditam neste mito e é comum ver junto com os calouros nas salas de um curso universitário, pessoas com mais de quarenta anos, a maioria casada (ou divorciada) e com filhos.
O que leva uma pessoa, depois dos 40 ou 50 anos, a fazer uma graduação? Existem duas possibilidades: pode ser realmente a primeira vez do indivíduo, que antes não teve oportunidade de fazer uma faculdade ou pode estar ser a tal da crise da meia-idade, quando a pessoa não sabe para onde ir ou quer "recuperar o tempo perdido" ou reviver a "melhor fase da sua vida".
Qualquer uma destas opções leva a um risco para os casados: o divórcio, claro. É muito comum, aliás. Apesar de ter sido um período ótimo, eu não faria outra graduação. Já disse antes que não sou do tipo que gostaria de viver novamente os momentos de sua vida.
Sem, necessariamente, sair da crise da meia-idade, existe uma outra maneira de viver a "fase da faculdade": basta ser professor universitário. Quando eu era casado, evitava participar de festas ou ir para bares com alunos. Após o divórcio, mudei de atitude. Voltei a ser solteiro e, apesar de algumas décadas mais velho, comecei a freqüentar esses ambientes. O motivo inicial era que, diferente das pessoas da minha idade, gosto de festas com música alta, andar de skate, rock... diversão, basicamente. Não sou do tipo que faz cara fechada o tempo todo e quer passar uma imagem de sério. Dificilmente, com o meio perfil, eu seria feliz, por exemplo, num baile da terceira idade no Sesc.
Pago as minhas contas e os bares ou festas têm idade mínima para entrar - 18 anos -, mas não existe uma idade máxima - algo como: não pode entrar maiores de 30 anos - para ir nesses lugares. Pronto, tenho liberdade de escolha: prefiro ir numa "rave" que num baile de terceira idade. O engraçado é, na portaria, os seguranças insistirem para ver a minha identidade, como fazem com os adolescentes. É irônico, pois quando eu tinha 15 anos e ia em "boites", não me pediam documentos.
Enfim, acredito que as pessoas escolhem "os seus lugares da noite" com base no que gostam e não na idade que possuem. Cada escolha, porém, deveria ser analisada especificamente. Uma menina de 14 anos, por exemplo, que vai numa "rave" com carteira de identidade falsa, quer afirmar e mostrar alguns valores para os outros (inclusive os pais) e para si mesma. O mesmo acontece com um homem de 50 anos que freqüenta a mesmo festa. Os motivos são diferentes, obviamente, mas, no essencial, os dois querem, sobretudo, uma coisa só: diversão.
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WTC
Na manhã de 11 de setembro de 2001, a minha (ex) esposa me disse que passava na TV o incêndio de uma das torres do World Trade Center (WTC). Não dei muita importância, pois estava com depressão na época e, portanto, mais preocupado comigo mesmo do que com o que ocorria no mundo. Logo, todos viram um avião atravessar a segunda torre. A CNN mudou a manchete para "America under attack".
Me interessei, sobretudo pois muitos, no período, achavam que aquilo poderia significar o início de uma guerra nuclear, o que levaria ao fim da humanidade. Internamente, por causa da depressão, a idéia parecia-me interessante, na medida em que a minha morte estaria associada ao fim do mundo. Não foi o que aconteceu, nem comigo, nem com o mundo.
Ainda não se sabe o que realmente aconteceu em Manhattan naquela manhã. Houve discussões, relatórios, polêmicas e nenhuma conclusão efetiva.
Três documentários chamaram a minha atenção: "Zeitgeist", "Fahrenheit 9/11" e "Os dias que abalaram o mundo - 11 de setembro" da BBC. O segundo filme, feito por Michael Moore foi o mais sensacionalista e enfatizou o lado nacionalista do povo norte-americano, as conseqüentes guerras de "vingança" e as inúmeras contradições do governo George W. Bush.
"Zeitgeist" mostrou as falhas do governo dos Estados Unidos e foi além: culpou o próprio Estado pela queda das duas torres. A idéia descabida, para muitos, ganhou sentido quando eles mostraram que o complexo WTC, além das duas torres, possuía ainda cinco prédios, sendo o o WTC 7 desabou sem ser atingido por algum avião. As imagens do WTC 7 parecem mais a implosão de um prédio, feita de maneira programada. Esta seria a tese para as torres gêmeas também. O incrível foi que no relatório oficial, não houve explicação alguma sobre a queda do WTC 7. Foi algo como: "o prédio desabou e não sabemos o que aconteceu".
"Zeitgeist", no entanto, é parcial. Na entrevista do arquiteto que projetou o WTC, é mostrada somente um parte do depoimento, a de que ele comentava que os prédios suportariam o impacto de um grande aeronave. O resto de sua fala foi omitido e era fundamental, pois ele explicaria o que projetou numa época e o que aconteceu décadas depois. Isso foi mostrado no documentário da BBC, o mais técnico de todos, o que evitou análises políticas e focou mais fatos. Isso não queria dizer neutralidade. A forma de edição do documentário foi baseada numa hipótese pré-elaborada. Não foi por acaso que toda a discussão acontece praticamente só sobre as torres gêmeas.
O documentário "Zeitgeist" analisou outros temas, como a religião e o Banco Central dos E.U.A. A intenção era destruir os mitos. Contudo, em um determinado momento, para mostrar uma opinião positiva sobre a história da humanidade foi utilizado um discurso do presidente Kennedy, o que além de reforçar do mito JFK, omitia claramente as falhas e a face autoritária do seu governo, como a aplicação da "Aliança Para o Progresso". Foi a partir dela e do apoio norte-americano que foram criadas as ditaduras latino americanas das décadas de 1960 e 1970.
Em suma, os três documentários são parciais. Assistir aos três ajuda a ter uma visão mais completa do que foi o 11 de setembro. Culpar a C.I.A. por todos os atentados não pode ser levado à sério. É lembrado o atentado de Londres, mas em nenhum documentário é citado o que ocorreu em Madri. Trata-se de uma falha grave, sobretudo para quem defende a idéia de que a Al Kaeda nada teve a ver com o WTC. De qualquer maneira, sendo um ato do governo dos Estados Unidos ou um ataque terrorista de grupos islâmicos, o que importa é que a data tornou-se o marco histórico do início do século XXI.
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Direitos Autorais Protegidos Obra registrada na Fundação Biblioteca Nacional Ministério da Cultura
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PREFÁCIO
Este livro trata de temas variados, dispostos em ordem alfabética. O leitor pode escolher ler o livro todo de uma vez ou abrir em uma página qualquer e ler a minha opinião sobre um determinado assunto. Pode pensar numa questão e procurá-la no livro. Pode ser que a encontre. Alguns textos são curtos e outros longos demais. Muitos foram publicados na internet com títulos mais longos ou mesmo títulos diferentes.
Os temas sugiram de maneira aleatória, em noites de pouco sono ou em tardes de tédio. Algumas idéias - talvez até frases - podem aparecer repetidas em textos diferentes. Não importa. Pensei e escrevi. Leio bastante, o que reflete nas minhas idéias. São raras as citações. Quando existe a necessidade, a faço e disponibilizo a fonte (de forma bem simples, sem me preocupar com a ABNT).
Enfim, não é de um livro científico. São textos opinativos. Coisas que surgem nas conversas de bar.
Para quem tiver interesse, tenho teses e livros publicados. Organizei e co-organizei algumas obras também. Tudo foi publicado pela Rápida Editora, de Uberlândia, ou pela Cabral Editora em Taubaté. Os títulos dos livros são: Crescimento Urbano & Ideologia Burguesa, Minas Gerias na Ditadura Militar, Poder e Política em Minas Gerais, Turismo de Negócios, A Família e a Escola e Educação e Cidadania. Escrevi artigos científicos em revistas como Cadernos de História, Ícone, Ágora, Caderno de Turismo e Letrilha.
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ADOLESCENTES
A internet não é um mal em si. Os governos perceberam as dificuldades para censurar ou controlar a rede virtual. Trata-se de um espaço democrático. As críticas procuram associá-la à pornografia ou crimes como pedofilia ou tráfico de drogas. Estas falhas, contudo, dizem respeito ao ser humano e não à internet, que é apenas uma ferramenta de comunicação.
Na prática, tanto para o bem como para o mal, as pessoas ainda aprendem como usar a rede, seja para ganhar dinheiro, conhecer os outros ou mesmo se divertir. Chama a atenção, hoje em dia, os problemas decorrentes das redes sociais, pois as pessoas reais usam os espaços virtuais para marcar encontros e fazer novas amizades ou mesmo desenvolver relações que terminam em namoros e casamentos.
Os problemas são muitos. O mais óbvio seria o uso de dados falsos para enganar o outro. Outra questão que preocupa é o uso das imagens, sobretudo no que diz respeito aos adolescentes. Com as modernas máquinas digitais, são publicadas fotos em posições sensuais, com pouca ou nenhuma roupa. As meninas tiram fotos diante do espelho ou nos clubes e praias, o que acaba fornecendo material para muitos "websites", como o "espelhadas" (http://www.flogao.com.br/espelhadas) - o nome já diz tudo, claro.
São transmitidos, ainda, vídeos ao vivo de casais, durante a relação sexual, com níveis altos de audiência na internet, como se fosse a coisa mais natural do mundo. Os pais ficam preocupados. Alguns casos vão para delegacia.
O fundamental, neste debate, além do mal uso da internet, seria verificar se as pessoas que se expõem desta maneira têm consciência de que a partir do momento que são divulgados, não seria possível apagar as fotos e os vídeos da internet. O arrependimento não tem muito valor na era digital. Ou seja, em qualquer "website" de busca, em qualquer momento, agora ou daqui a 20 anos, basta procurar que a foto ou o vídeo estará lá, disponível para todos.
As atitudes dos jovens hoje não seriam diferentes dos jovens de antigamente. É uma fase de descoberta e rebeldia. A diferença é que na época dos nossos pais e avós, se houvesse algum registro, ele era impresso numa foto, que depois seria destruída ou guardada secretamente.
Atualmente, com a internet, esta possibilidade é remota. O provável é "cair na rede" e tornar-se público, o que deveria ser um momento íntimo de algumas pessoas. Analisando o "sextape" da atriz Lindsay Lohan, o jornal inglês The Daily Mirror comentou: "Este vídeo é dinamite (...) e mostra Lindsay durante um ato sexual particular que deveria, obviamente, permanecer entre quatro paredes." Este é o ponto fundamental: com a internet, aos poucos, desaparecem os limites entre o público e o privado.
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ALMA
Uma vez li uma piada na Playboy norte-americana que, de certa forma, tentava resumir o que seria a vida: "você nasce e você morre, curta o intervalo" (you born and you die - enjoy the interval).
Sobre isso, Heidegger fez uma afirmação interessante: "o espaço de tempo vulgarmente entendido no sentido de distância entre dois pontos do tempo é o resultado do cálculo do tempo. (...) que assim é unidimensional (...) pensado como a sucessão da seqüência de agoras."(os grifos são meus - Os Pensadores, p. 261)
Em outras palavras, a piada pode ser boa, mas não corresponderia à realidade. Na verdade, o processo seria mais complexo. Veremos.
Sem o sol, não existiria vida no planeta terra. Quanto ao indivíduo, dependendo dos estímulos, o seu cérebro pode enviar-lhe informações falsas. Os seus sentidos podem enganá-lo.
O que significa isso? Não existem certezas, exceto a insignificância do ser humano. Afinal, de acordo com Einstein, "(...) tempo e espaço não são absolutos (...) mas variam de acordo com o referencial." (Superinteressante, 101 Livros, p. 78)
A alma e "a matéria são apenas invenções. A característica mais essencial do espírito é a memória, e não há razão para supor que a memória de uma pessoa sobrevive à sua morte. (...) a memória está claramente ligada a um certo tipo de estrutura cerebral que, ao se degradar com a morte, deve fazer cessar também a memória." (os grifos são meus -Bertrand Russell, Elogio ao Ócio, p. 134-136)
Em suma, o indivíduo não existiria vida após a morte. Ou seja, "tempo e espaço NÃO são absolutos" e a alma e "a matéria são apenas invenções".
As constatações de Einstein e Bertrand Russell partem de comprovações científicas.
Entretanto, existe uma questão: se a pessoa possui uma "percepção" do que seria a sua vida neste planeta - assim, ela "sente" prazer, dor, felicidade e raiva, entre outras "emoções" -, não seria "razoável" imaginar que isso poderia ocorrer com ela em outro lugar ou em outra dimensão - após a morte, por exemplo?
Eu sei que termos como razão, emoção e os outros conceitos são questionáveis.
A morte é uma certeza, assim como a constatação de que o indivíduo não é o criador dele mesmo e que a sua condição humana é biologicamente limitada. Complicado? Talvez...
De qualquer maneira, sem chance de querer achar o sentido da vida... Em outras palavras, cabe a cada um construir o seu e utilizá-lo como referencial para as suas ações.
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AMOR
Sexo é óbvio e necessário para a preservação das espécies. Sim, somos animais (também). O amor é escolha - consciente ou não. Na civilização, o amor está associado ao poder, é uma relação de destruição e de morte. A relação romântica é impossível de ser realizada. É uma ilusão. É uma fantasia para fugir de si mesmo.
No entanto, como ela é diferente de outras "fugas do ser", como, por exemplo, o trabalho, o consumismo, a política e a religião. Essas últimas são racionais. Trata-se de usar as bobagens do cotidiano como uma espécie de traição do ser. Basicamente, seria a recusa de se ver e se analisar seriamente. O indivíduo olha no espelho e não consegue se ver, como se fosse um vampiro... O que ele não vê é o que ele não tem - uma alma -, é o que ele não é: um "ser". O que ele vê no espelho são os móveis do quarto, as etiquetas das roupas, os sapatos, as jóias... Como uma fantasma, ele vê o que é material e não percebe que aquilo efetivamente não tem utilidade para ele.
Quanto ao amor, seria uma fuga diferente pois estaria relacionada ao lado emocional. Aqui está o risco de "quebrar o gelo do cotidiano" e de perder o controle das coisas. O risco representa a possibilidade da angústia e ela significa o encontro do indivíduo com ele mesmo. Isso é interessante. O amor não pode ser realizado, não depende da própria pessoa, ao contrário, ela deposita a sua confiança no outro. Viver um romance é depender do outro e é também ter a certeza do fracasso. Então, para quê arriscar?
O sofrimento causado pelo amor pode levar a pessoa a verdadeiramente olhar para ela mesma. Ela não sabe disto. Para a maioria, seria um ato inconsciente. Não importa. Num romance, você arrisca e perde o que mais acredita: a segurança das idiotices repetitivas do cotidiano. Para uma pessoa fria, calculista e consumista, a falta de controle causada pelo fracasso da relação amorosa pode representar um encontro com a sua existência. Nada mal. Se o sexo em si é uma necessidade biológica realizada por qualquer animal, o fracasso do romance entre civilizados não apresenta novidade, mas pode ser uma possibilidade de, com o sofrimento, ir além das aparentes estabilidades proporcionadas pelas fugas inventadas pelos seres auto-denominados racionais.
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AUTOR
Avaliar uma obra a partir da vida cotidiana do autor não seria um caminho adequado. Isso não significa separar autor e obra, apenas quer dizer que devemos ter cuidado em associar automaticamente as duas coisas, ou pior, utilizar uma contra a outra. Um exemplo disso foi o caso de Louis Althusser. Diferente de Michel Foucault, que rejeitou qualquer possibilidade de publicação póstuma - mesmo tendo o quarto volume da "História da Sexualidade" pronto e que até hoje permanece inédito -, o que Althusser deixou em suas gavetas, análises, desabafos e confissões - feitos em clínica psiquiátrica após o marxista ter assassinado a esposa e julgado incapaz de ser responsável por seus atos - veio a público na forma do livro "O futuro dura muito tempo". Querer avaliar o pensamente de Althusser a partir daí, seria uma injustiça com o filósofo. Ele sempre foi um autor polêmico e, certamente, a sua leitura de Marx apresenta falhas graves, mas, ao mesmo tempo, temos que reconhecer que foi a partir dos seus escritos que houve um rompimento teórico com o marxismo dogmático, aquele que os comunistas usavam para justificar as ações autoritárias do "socialismo real".
De fato, algumas vezes, autor e obra se parecem muito. Isaac Berlin, em sua biografia sobre Marx, demonstra isso, revelando um filósofo que era coerente com o que escrevia. Um caso oposto, seria o de Jacques Lacan, cuja vida e interesses cotidianos em quase nada lembravam o brilhante pensador que revolucionou a psicanálise com o seu "retorno a Freud", mas a partir de conceitos e métodos novos. Alan Sokal e Jean Bricmont, em sua denúncia contra o relativismo pós-moderno, no livro "Impostures Intelectuelles" (Odile Jacob, 1997), dedicaram um capítulo inteiro a teoria de Lacan. Mas, houve um "detalhe" por parte destes autores: "nós não entraremos no debate sobre a parte psicanalítica dos seus trabalhos." (p. 55) Os dois autores preocuparam em demonstrar os erros de Lacan no uso dos "termos matemáticos". Ora, o mais importante de Lacan não seria justamente a sua reformulação do papel da psicanálise?
No caso do Brasil, chamou a minha atenção o livro "Leandro Konder - Memórias de um intelectual comunista" (Civilização Brasileira, 2008). Quem conhece as suas teorias e a sua "práxis", reconhece aqui a coerência de um intelectual no que diz respeito a sua obra e a sua vida cotidiana.
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BERLIM
Eu fui à Berlim duas vezes: janeiro de 2005 e janeiro de 2006. É uma cidade interessante, marcada pela história dos vencedores. Sim, porque eu não vi monumentos em homenagem aos soldados alemães mortos na Segunda Guerra Mundial. O que se encontra é o contrário.
No centro, perto do Portão de Brandesburgo, existe um enorme monumento, inclusive com dois tanques de guerra, em homenagem aos russos. Ao lado do Portão, foi construído outro de grandes dimensões - parece mais um cemitério - para os judeus, principais vítimas dos alemães na guerra. Deve ser lembrado ainda o Muro, que por anos dividiu a cidade, representando, de um lado, o capitalismo e do outro, simbolizando o comunismo. Em um passeio de ônibus, passei em frente a um prédio que tinha em destaque a imagem do Lênin e a famosa marca da União Soviética - o martelo e a foice.
Nas livrarias, não era visível essa visão da guerra. Havia vários livros tratando do Hitler e da Segunda Guerra, assim como existiam sobre os outros países. Nada de especial. O tema era tratado como algo comum.
As pessoas imaginam que, nas metrópoles, a maioria fala a língua local e o inglês. Não é o caso de Berlim. Mesmo no aeroporto ou em lanchonetes e restaurantes, nas lojas, o que se fala é o alemão. É diferente de Paris. Tive essa impressão. Na capital francesa, as pessoas sabem inglês, mas preferem falar em francês. Se você chegar num lugar falando inglês direto, muitas vezes, eles não te respondem. Você teria que ser educado e dizer em francês: "bom dia, você fala inglês? por favor". A resposta viria em inglês e pronto. Em Berlim, não funcionava. Mesmo assim, era bom avisar que você não falava bem o alemão. Assim, o atendimento ocorreria normalmente - mas não em inglês.
Diferente de outras cidades que visitei na Europa, nas ruas, percebi uma população mais jovem e aparentemente mais liberal. Por exemplo, na calçada eu vi um casal de homossexuais, passeando de mãos dadas, um loiro e um negro.
Apesar de ouvir falar muito da noite de Berlim, não a conheci. Janeiro é inverno por lá, sempre neva e eu achava melhor sair durante o dia. Lá existe uma ilha de museus. Nenhum deles é tão grandioso como o Louvre, mas é um bom passeio.
Mesmo gostando da cidade, não moraria na Alemanha nem em outro país. Visitar como turista é uma coisa, você sempre é bem tratado. Agora, quando o assunto é imigrante, os europeus mudam o tom e imagino que você deve ser visto como um intruso ou tratado como cidadão de segunda categoria.
Em suma, viajar é bom, mas morar onde você nasceu parece que te dá mais liberdade, você sente que pertence àquele lugar e, neste aspecto, você é respeitado.
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BIOGRAFIA
Ouvi uma sugestão que me levou a pensar: por quê não escrever uma biografia?
O argumento seria que a minha história de vida ajudaria as outras pessoas. A resposta, claro, foi negativa. Primeiro, porque tentei passar as minhas experiências no exercício da minha profissão de docente. Em segundo lugar, eu publiquei livros e artigos. Se alguém quiser saber mais a meu respeito, basta, portanto, pesquisar, associando os meus textos com a época que vivi. Para um bom leitor, rapidamente as coisas ficaram claras e ele poderia se aproximar bastante do que eu fui, do por quê das minhas escolhas e até das dificuldades enfrentadas para a realização dos meus projetos. Finalmente, em terceiro lugar, com a invenção da internet, atualmente todo mundo pode encontrar quase tudo sobre as pessoas - e as coisas - pesquisadas.
Certamente não me preocupo com conclusões precipitadas e equivocadas. Lido com o preconceito das pessoas no meu cotidiano e não seria novidade encontrá-lo em pesquisas superficiais ou mal intencionadas.
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CAOS
Um princípio interessante é tratado no filme "The Butterfly Effect" ("Efeito Borboleta"): os eventos que parecem insignificantes podem criar coisas inesperadas (Constance Kaplan) - ver as entrevistas no making of do filme - informações e citações deste texto são feitas a partir deste documentário; as traduções são minhas pois o áudio do dvd é em inglês, mas as legendas são em alemão.
Henry Brooks Adams afirmava que "o caos era uma lei da natureza; a ordem seria o sonho do homem." Físicos e psicólogos usam a Teoria do Caos - "um mesmo sistema pode funcionar de maneira diferente ou caótica," como os movimentos de um chaotic double pendulum - "pêndulo duplo caótico." (Peter Goldreich)
O que significa isso? A lógica e a ordem são invenções do homem, que visam dar segurança ao indivíduo. Isso não existe, daí vem o medo do caos e do futuro.
De acordo com Richard Garriott, "caos e ordem não são inimigos, são apenas opostos." Isso não resolve a vida prática dos indivíduos. Constance Kaplan afirma que "queremos controlar a vida para nos sentirmos seguros." É verdade, mas é também uma ilusão (a segurança).
Para John D. Biroc, "o medo do caos atrai mais caos." A vida não seria linear ou um processo de causa e efeito. Ele usa o exemplo da infância: não é porque uma mãe fez algo ao filho que ele necessariamente, na vida adulta, agiria de uma tal forma. Na sua opinião, múltiplas possibilidades levam a pessoa a fazer algo. Não existiria uma ordem neste processo. Assim, não seria possível "prever coisas a longo prazo. (...) Se ficássemos no aqui e agora, não precisaríamos tentar controlar o futuro."
Por quê pensamos no futuro? Por quê evitamos questionar várias coisas? Por quê "bloqueamos" o passado? Por quê seria tão difícil se concentrar no aqui e agora?
Medo. Temos medo da vida, da morte, de sermos felizes, de sofrer, do que aconteceu, do que acontecerá... Somos "vampiros", olhamos no espelho e não nos vemos. O problema é admitir que conceitos - segurança, estabilidade, razão, ordem, lógica, entre outros - são invenções dos homens e não verdades absolutas. A letra de uma música dos Sex Pistols, em outro contexto, afirmava: "não existe futuro..." É verdade. Se existe algo, é o aqui e agora. Utilizar o futuro ou o passado, na maioria dos casos, é fugir do presente.
A questão não é ser otimista ou pessimista. Desistir não resolve. A alienação é um erro. Problematizar pode ser o caminho, mesmo sabendo que somos os inventores dos conceitos e dos problemas e sofremos conseqüências provocadas por um mundo em que predomina o caos.
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CATADORES
Quando era criança, morava numa "colônia" - conjunto de casas -, construída para os operários e suas famílias. Eram comuns ruas sem pavimentação e terrenos baldios no bairro. Era periferia, claro, na época que o "chic" era morar no centro da cidade.
Passadas algumas décadas, inventaram o computador pessoal e a internet - sou do tempo do radinho de pilha e do telefone fixo -, e houve uma transformação silenciosa e rápida no mundo. Profissões desapareceram. Milhares de operários eram demitidos de uma só vez em fábricas dos países desenvolvidos. Surgiu a figura do "homeless" - aquele que vivia na rua. Quando fui em Londres - 2000 e 2001 - vi esses pessoas na rua, pedindo dinheiro. Devia ser novidade por lá, aqui no Brasil, já convivíamos com isso.
De certa forma, com a globalização, o mundo ficou parecendo mais o nosso país - nos aspectos negativos. Aqui, surgiu algo que não se via na minha infância: os catadores de lixo. Na minha rua atual, eles sempre passam. São pessoas que tem casas e vestem adequadamente, não são mendigos. Um caso me chamou atenção: um rapaz de moto entre os catadores... Três vezes por semana, ele sobe a minha rua, de manhã, pois a noite o caminhão de lixo da prefeitura passa recolhendo o que sobrou.
O que significa isso? A realidade piorou, para a maioria das pessoas, tanto nos países ricos como nos pobres. Especificamente no caso brasileiro, a conseqüência mais óbvia foi o aumento da violência - arrastões, invasões de shoppings e condomínios fechados, filhos matando pais e avós, alunos atacando fisicamente professores... Idéias com autoridade e respeito desapareceram. O imediatismo e o individualismo predominam por toda parte.
Como aparece no filme "Matrix", o ser humano seria o "câncer" deste planeta, destrói tudo e sempre torna as coisas piores. Freud uma vez deu a entender que se um dia a humanidade deixar de existir, não seria uma grande perda. Ele estava certo.
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CIVILIZAÇÃO
Antonio Gramsci afirmava que não seria possível ser cético. Thomas Bénatouil reconhece o óbvio: "de fato, o ceticismo não é uma escola ou uma tradição intelectual homogênea." (Magazine Littéraire, Janvier 2001, p. 18). Óbvio na medida em que é difícil encontrar alguma doutrina sem divergências, polêmicas e facções. Contudo, não há como negar o auxílio do princípio do ceticismo no modo de pensar do ser humano. Ou seja, questionar permite ao homem ir além dos instintos. Isso é o que diferencia dos outros animais e o coloca diante de duas velhas problemáticas: a própria natureza e e a construção da civilização.
O homem, em sociedade, tem que controlar os seus desejos. Isso gera um mal estar no ser humano, pois ele tem que reprimir o seu "instinto natural" para ser percebido como "homem civilizado". Em outras palavras, o que define o ser humano é o conflito "interno" - id, ego e super ego (Freud) - e a problemática "externa" - as suas relações com os outros indivíduos. Ninguém pode ajudá-lo. Como lembrava Sartre: "même se Dieu existait, ça ne changerait rien. (...) il faul que l'homme se retrouve lui-même et se persuade que rien ne peut le sauver de lui-même." (L'existencialisme est un humanisme, Éditions Gallimard, 1996, p. 77)
Neste ponto de vista, o homem tem que lidar com ele mesmo, com seus problemas e suas dúvidas e não existe resposta fora dele. As respostas, sim no plural, seriam construídas e reconstruídas durante a sua existência. Não é agradável perceber a complexidade do homem na civilização, sobretudo quando ele entende que nada é estável e seguro. Isso pode levá-lo ao ceticismo ou ao niilismo. Ou não. Ele pode "assumir" a vida no que ela é e não no que ela poderia (deveria) ser, isso quer dizer que, ao mesmo tempo, ele abandonaria as ilusões e as fugas cotidianas para lidar com os problemas reais, criados por ele ou não.
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CORDIALIDADE
Foi dito que eu tinha uma voz agressiva. Não era a minha intenção. Isso nem expressava necessariamente o que eu sentia no momento. Foi interessante descobrir esse meu lado, pois quase sempre tentei cordial e educado. No meu lado racional, procuro ser um cavalheiro. Para compensar, claro, nos meus sonhos torno-me um ser agressivo e sem controle. Quanto mais cordial acordado, mais violento fico nos sonhos. Talvez seja um equilíbrio da condição humana.
A história da minha vida lembra um pouco uma frase que ouvi numa série de TV: "I am a pathological people pleaser." Provavelmente eu levei a sério demais o lema cristão de "amar o próximo como a si mesmo." Não faria com uma pessoa algo que não gostasse que acontecesse comigo.
De uma maneira pouco saudável, essa postura leva a ilusão de que todos pensam e agem assim. Aqui começam os problemas. Após um longo tempo, você que é minoria. Pior, que faz aquilo não para agradar o outro e sim porque você acha certo. Não seria uma estratégia de dominação, ao contrário, você acredita emocionalmente que deve ser daquele jeito.
As coisas pioram quando você olha ao seu redor e vê o mundo em que vive: uma sociedade individualista, consumista, imediatista e superficial. Imagina, como naquela música do John Lennon, que as coisas podem melhorar. De fato, pioram. Lembra da frase do jornalista Paulo Francis, quando ele pensava no mundo em que vivia: "eu estou tecnicamente morto." Em outras palavras, esse mundo não me diz respeito... O que fazer se as pessoas não entendem os seus valores e as suas idéias? Deixar para lá, como fazia Nelson Rodrigues, ao dizer que não seria "(...) culpado da burrice humana; aliás 99% da criatura humana é imbecil." Talvez ser cínico e irônico? Não sei. Talvez (sempre talvez) seja por isso que as drogas - no sentido geral do termo, incluindo tanto as legais como as ilegais, tanto as "ideologias" como os placebos -sejam tão necessárias para a sobrevivências das pessoas civilizadas.
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CRIANÇAS
Para as crianças, a mudança do corpo, o crescimento e, internamente, o desejo pelo sexo oposto, surgem como algo que não deve ser pensado. Essas coisas acontecem com todos, imaginam, ou em alguns casos, fantasiam que só ocorrem com eles.
Na infância, todas as temáticas apresentadas serão fundamentais para a formação, posteriormente, de adultos saudáveis. Para isso, o ambiente vivido pelas crianças - como a família, a escola, o clube, e shopping center - é importante e pode influenciar tanto positiva como negativamente.
Além do ambiente "real", atualmente as crianças acessem o ambiente "virtual", os instrumentos tecnológicos que facilitam a comunicação ou colocam-se como símbolos da realidade. Os dois ambientes contribuem decisivamente na formação da personalidade das crianças.
As consideradas más influências podem vir tanto da escola como da internet. Lidar com "dois mundos" - um real e outro "on line" - representa mais riscos para as crianças, o que deveria servir de alerta para os pais.
Entretanto, nem sempre os pais demonstram preocupação. Muitos acham natural os filhos ficarem horas trancados no quarto acessando a internet ou brincando no vídeo game. Acreditam que as crianças estariam mais seguras assim do que na rua, o que nem sempre é verdade.
Muitos pais estão preocupados com a própria carreira e bem estar, achando que bastaria dar bens materiais para satisfazer os filhos. Esquecem que amor, carinho e amizade são essenciais no ponto de vista de qualquer ser humano, independentemente da idade.
Afastar-se desses sentimentos em relação às crianças torna-se um grave risco na criação de adultos conscientes e solidários. Se as mensagens do sistema econômico estão associadas ao individualismo, à competitividade e ao reforço da imagem, em detrimento da essência do caráter das pessoas, caberia aos pais tentar mudar esse processo, questionando tais valores e mostrando que existem outros valores na vida de um indivíduo.
Deixar as crianças abandonadas ao universo de informação disponível hoje, sem que elas possuam critérios para poder selecionar o que seria correto ou não, é um irresponsabilidade dos pais e das autoridades, que, certamente, mais tarde sofrerão as conseqüências de gerações ligadas à violência e ao consumismo, sendo que o desrespeito aos velhos, o assassinato dos pais pelo filhos, o alcoolismo precoce e o abuso de drogas serão cada vez mais comum na sociedade.
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CRISES
No primeiro episódio de "Sex and The City", a personagem principal - Carrie - pergunta: por quê existem tantas mulheres maravilhosas solteiras e não existem tanto homens assim? Talvez entre os 15 e 20 anos, a mulher viva seu "auge" no ponto de vista da beleza e da atração em relação aos homens. Lolita é um dos livros que trata do tema: o fascínio que uma adolescente desperta no homem.
Antigamente, com os 15 anos, a menina era apresentada à sociedade em um baile de debutantes. A preocupação da moça era arrumar um bom casamento. As mulheres de "Sex and The City" sonham com isso também, com a diferença que são mais velhas, críticas e independentes do ponto de vista financeiro. A escolha pela carreira profissional dificultaria a realização do sonho do casamento?
Talvez exista muita expectativa em relação ao papel do homem, tradicionalmente apresentado como "um príncipe encantado"... Sobre este tema, a atriz Marília Pêra disse, uma vez, em uma entrevista: "Ele transa bem? Leva você para comer bons queijos e vinhos? É seu amigo? Então fica com ele. É o máximo que você vai conseguir de um homem."
Os homens passam pela crise da meia-idade, quando chegam aos 50 anos. Querem, de certa forma, fazer o impossível: recuperar a juventude. Assim, compram carros esportes, freqüentam academias, namoram mulheres jovens e, atualmente, contam com o viagra como aliado. Claro que nada disso resolve o inadiável: a velhice... e em seguida, a morte.
As mulheres são lembradas aos 30 anos. Mário Prata, numa crônica na revista Época (Edição 298), cita Balzac - "uma mulher de trinta anos tem atrativos irresistíveis. A mulher jovem tem muitas ilusões, muita inexperiência. Uma nos instrui, a outra quer tudo aprender e acredita ter dito tudo despindo o vestido" e conclui: "são fortes as mulheres de 30. E não têm pressa para nada. Sabem aonde vão chegar. E sempre chegam."
Os elogios, contudo, não resolvem o essencial: a crise aos 30, para as mulheres, ou aos 50 anos, para os homens. Certamente, os problemas graves de dúvidas pessoais não acontecem apenas nestes momentos. A vida é marcada por dilemas e, como diria Freud, por neuroses. Só não percebe quem é alienado, quem insiste acreditar em fantasias, deixando a realidade de lado. Lembra, claro, o filme Matrix: o indivíduo escolhe entre a pílula azul, a ilusão colorida, ou a pílula vermelha, o real, aquilo que está além das aparências. O real está associado também ao sofrimento. A dor faz parte da vida. As crises existem e pronto. A questão é saber se o indivíduo consegue percebê-las ou não. O mito da caverna de Platão permanece.
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CULPA
Existem lugares que são citados como exemplos de riqueza, como Mônaco e Singapura. Todos (?!) são milionários e andam em carros luxuosos. Normalmente, o que não é enfatizado é a origem do dinheiro que é aceito nestes países. Origem duvidosa, reconhecem, o que significa dinheiro de tráfico de drogas, exploração de crianças, prostituição, entre outras coisas. Não é por acaso que os cassinos são atrações turísticas nestes locais.
A associação do cassino com as atividades ilegais é antiga, basta lembrar o caso de Las Vegas, dominada durante muito tempo por grupos mafiosos. Por outro lado, claro, a ausência dos cassinos não quer dizer respeito às leis de um país, como pode ser percebido no Brasil. Aqui o cassino é proibido, mas a corrupção, o contra-bando, o tráfico de drogas, a prostituição e os crimes envolvem até policiais e governantes.
Dizem que a prostituição é a profissão mais antiga do mundo. Até o século XIX, não havia a "indústria da droga", afinal, a cocaína, por exemplo, era usada sem restrições, inclusive receitadas por médicos, entre eles, Sigmund Freud. No século XX, tentaram criar uma "lei seca" nos Estados Unidos. Não deu certo, pois foi criado um comércio ilegal, que enriquecia os intermediários, como no caso do tráfico atualmente.
A questão não é deixar de proibir o uso das drogas ou deixar de reprimir o tráfico. O problema, que as pessoas não querem enfrentar, é o que levaria alguém ao consumo excessivo de álcool ou de drogas. Reprimir o alcoólatra ou o drogado é um erro. Trata-se de ajuda e não de punição. Deveria existir ainda auto-crítica por parte da família e das instituições da sociedade. Cada um deveria assumir a sua responsabilidade no processo e não se esconder do problema ou simplesmente colocar a culpa no outro, como normalmente acontece.
Não é a primeira vez que você lê isso e não será a última. Você pensa: "as coisas funcionam assim e pronto". É cômodo. Só não vale reclamar depois do aumento da criminalidade, dos seqüestros, dos assaltos aos shopping centers (eram seguros, lembra?), da violência contra a mulher... Existem dados que indicam que em torno de 35.000 mulheres apanham dos maridos no Brasil. Você pensa: "isso é um exagero, a mídia é pessimista". Talvez seja o contrário: a realidade da maioria pode ser bem pior e os jornais só selecionam os casos que interessam aos grupos de comunicação.
Melhor do que omitir ou apontar o dedo para o outro quando surge um problema, certamente seria seguir o conselho do personagem "V": "se você procura por um culpado, olhe primeiro para o espelho."
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DEPRESSÃO
A psicóloga da minha irmã afirmou que, quando tenho crise de depressão, uso a tela do computador como uma janela para o mundo, pois fico isolado e evito o contato com as pessoas. Não deveria admitir, mas trata-se de uma frase interessante. Aos que questionam sobre "a psicóloga da minha irmã", esclareço que, claro, eu mesmo fiz psicoterapia por anos - exatamente entre 1995 e 2009. Atualmente, tomo somente anti-depressivo. Estou com esta médica desde 2000. O médico da minha adolescência suicidou em 2007.
Estes são apenas fatos. Não me importo com a depressão. Ela é cíclica, genética, e sei que, qualquer hora, ela pode aparecer. Não acredito em cura. E como disse, nem me importo com isso. É simplesmente algo que tenho que conviver e, que eu me lembre, tenho crises desde os 7 anos de idade. Não suicidei e nem tem intenção de toma tal atitude. Não recrimino quem fez ou faz isso.
Contudo, não concordo com as chamadas "tentativas de suicídio para chamar a atenção". Acredito que por mais grave que seja o problema, se o indivíduo quer chamar a atenção para si, devem existir outros meios, afinal, este tipo de "tentativa" pode acabar mal, pois a pessoa não morre e quando volta a si, os seus problemas aumentaram. Não critico ninguém porque cada um sabe "a dor de ser quem é". Esta é somente a minha opinião e não uma certeza ou uma lei que poderia servir para todos.
Quem me conhece, sabe que eu adoro a vida. Quando falo que tenho depressão, muitos acham difícil de acreditar. Para alguns, sou um "bon vivant". Não nego nem uma coisa - o amor pela vida - e nem a outra - a depressão é a principal causa de suicídio no mundo e é uma doença que eu tenho. Eu sei que as pessoas evitam estes temas: depressão, suicídio e morte. Não faço disto um drama, mas, por motivos óbvios, adoro ler e conversar sobre a morte. Gosto de obras associadas ao tema, como o filme o "Sétimo Selo" de Ingmar Bergman. Na música, gosto de "In My Time of Dying" do Led Zeppelin e "Death is Not the End" do Nick Cave. Nas artes plásticas, me impressionou muito o quadro "Guernica" de Pablo Picasso.
Em suma, a idéia da morte me fascina. Não falo do que acontece depois da morte, mas da idéia de que todos, um dia, deixaram de existir nesta vida. As várias teorias religiosas sobre o pós-morte não me interessam. São apenas teorias associadas ao conhecimento teológico, cujo critério mais importante é a fé. Acredito que isso diz tudo. Cada pessoa tem o direito de ter fé no que quiser e pronto. No meu caso, procuro me concentrar mais no que acontece durante a vida. O fato da morte ser uma certeza somente confirma a minha opção.
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DESEJO
Os indivíduos inventam os conceitos de acordo com que sociedade em que vivem. Assim, tais conceitos podem mudar ou desaparecer em favor de novas concepções. Sexo é um instinto básico de todos animais, incluindo, obviamente, os homens.
O problema nesta área não seria o sexo em si, associado à natureza, mas sim como ele é usado em cada época como forma de civilização ou de exercer o poder. Muitos separam o sexo do amor. Outros criam valores diferentes para os dois conceitos. Nelson Rodrigues, por exemplo, afirmava que "quando há amor, o sexo é de uma irrelevância absoluta."
Michel Foucault, referindo-se à constituição da sociedade ocidental, destacou que "quando os homens, após terem aprendido tantas habilidades úteis, começaram a não negligenciar mais 'nada' em sua pesquisa, a filosofia surgiu, e com ela a pederastia." (O Cuidado de Si, p. 214) Na Grécia Antiga, era discutido, do ponto de vista dos homens, tanto o amor pelas mulheres como o amor pelos rapazes.
O padrão que conhecemos como "normal", a relação homem-mulher, as idéias de casamento e virgindade, predominaram a partir do século IV, com o reforço dos discursos dos religiosos, dos filósofos e dos médicos.
O interessante, contudo, é perceber que mesmo na Grécia Antiga, havia uma distinção entre aquilo que era físico e aquilo que não era. Foucault, no mesmo livro (p. 197), dizia "que, por uma lado se punha o amor vulgar (aquele onde os atos sexuais são preponderantes) e o amor nobre, puro, elevado, celeste (onde a presença desses mesmos atos é, se não anulada, pelo menos velada)." O essencial não seria o tipo de relação, homem-mulher ou homem-rapaz, mas sim o tipo de amor.
Na sociedade moderna, com o elogio da virgindade, para os homens, na prática, o amor seria aquele sentimento que ocorreria no casamento, com a esposa. Com as outras mulheres, seria apenas sexo. Muitos ainda pensam assim.
Enfim, a relação amor e sexo é problemática, ainda mais quando associada aos temas como fidelidade e desejo. Tudo isso torna esse tipo de relação quase impossível, no sentido de se viver efetivamente "o amor verdadeiro" e não uma relação de poder ou uma negociação empresarial, que as duas partes mentem e omitem quanto aos seus verdadeiros sentimentos, interessando somente o resultado prático e material da união conjugal.
Parece que sem o sexo, fica mais fácil entender o amor. Basta pensar nas relações estabelecidas nas amizades, nas famílias e nas religiões ou em outros formas de convívio humano. Com isso, não quero dizer que fazer sexo seja errado. O sexo é natural e necessário, isso é óbvio. No entanto, quando idealizamos sobre algo real, criamos, de fato, um problema sem solução, na medida em que são duas dimensões distintas: fantasia e realidade. O resultado disto, todos conhecemos, é a dor... o sofrimento e a frustração. Sentimentos esses que caracterizam bem os indivíduos civilizados.
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DINHEIRO
Quem efetivamente se preocupa com dinheiro no dia a dia? O jornalista Paulo Francis afirmava: "quem não tem sexo e dinheiro, não pensa em outra coisa". Será? O que importa é que as pessoas que só pensam em dinheiro passam uma imagem de superficiais aos outros. Pior, quem ostenta, com grandes carros e jóias, confirma o rótulo de brega.
Muitas pessoas têm só um objetivo na vida: dinheiro. Elas estão equivocadas, na medida em que o dinheiro em si não é um fim e sim um meio para conseguir coisas. Estas pessoas colocam o dinheiro acima do amor, da amizade e de qualquer valor que não represente algo material. Isso não é novo, claro. Jesus, por exemplo, foi traído por Judas, em troca de "30 dinheiros".
Mulheres casam com milionários velhos, pensando na herança. A modelo do jeans Guess e da Playboy, Anna Nicole Smith, casou com J. Howard Marshall II, de 89 anos, com este objetivo. Depois de sua morte, alguns meses depois do casamento, a modelo entrou em uma batalha judicial para garantir a sua parte na herança de Marshall II. Uma batalha que não produziu resultados, pois a modelo faleceu pouco tempo depois, aos 39 anos.
O que leva a uma pergunta: na morte, de que adianta o que o dinheiro proporciona, os chamados bens materiais, como mansões, carros, iates e aviões? É interessante perceber que algumas pessoas acreditam que estes bens justificariam a superioridade de uma sobre as outras, como se fosse possível um ser humano se melhor do que o outro, seja pelo dinheiro, poder, raça ou sexo.
Contudo, muitos acreditam nesta ideologia e não são apenas os que se consideram "superiores" mas também aqueles que são seus "subordinados". As pessoas, assim, são divididas em classes sociais, como se isso fosse "natural". Entretanto, de fato, somos todos iguais, ninguém é superior ou melhor que ninguém. A morte, como foi dito antes, é o momento mais importante que esta verdade seja revelada.
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DIVERSÃO
É comum se afirmar que as pessoas não têm tempo para visitar os parentes, para conversar com os amigos e até para dar atenção para os filhos. O que acontece? Tempo é um conceito abstrato. O que ocorre é que a fuga de si leva a fuga do outro.
O indivíduo não quer tempo para pensar na sua vida, então ele busca coisas (em excesso) para fazer. Ele inventa a sua própria "falta de tempo". No capitalismo, foi construído o conceito de que você é valorizado pelo seu "trabalho". O relógio tornou-se um instrumento fundamental. Não é necessário um "big brother" para controlar o tempo da pessoa... elas mesma, olhando para o seu pulso, sabe o que tem que fazer, se está atrasada ou adiantada.
Quando chegam as férias, o ócio vira problema. Muitos estressam mais nas férias do que no período de trabalho. Afinal, o que fazer? Nada? E o sentimento de culpa? E o medo de que não sintam a sua falta na empresa?
Será que as pessoas perceberiam o óbvio: você é uma mercadoria (Marx) e, como tal, pode ser descartada e não fará falta, seja na empresa, na família, na amizade ou em outras relações. Claro, esse é o ponto de vista de nossa sociedade capitalista. Não precisaria ser assim. É uma escolha individual num modo de produção em que tudo é definido coletivamente. Complicado? Você fracassa em algo e imagina que a culpa é só sua. Por exemplo, não passa no vestibular ou em um concurso, sente-se mal por isso. Esquece, contudo, quais foram as condições dadas para que você pudesse concorrer com todos os outros candidatos. Aquela história de que todos são iguais e concorrem, portanto, em igualdade de condições é uma lenda burguesa, muito antiga por sinal. Mão invisível do mercado? Adam Smith? Por favor...
Entender o seu papel na comunidade e na sua relação com o outro pressupõe compreender você primeiro. Não dá para criticar algo sem que ocorra, antes, auto-crítica. Você tem que ser capaz de olhar para si mesmo.
Se você fantasia sobre o seu lugar nas relações, se você imagina que tem uma importância para os outros e isso só existe na sua cabeça, bom, quando "as férias" acabarem você realmente poderá ter surpresas desagradáveis. Insistir na fantasia, ainda é uma escolha sua. Insistir demais pode ser o caminho da loucura, da perda da razão, quando você cria uma mundo só para você e não consegue perceber mais a realidade.
Você tem medo do que? Da loucura? Da solidão? Da falta de dinheiro? Da falência? Do desemprego? De não ser amado (a)?
O medo pode te levar à fuga - como alcoolismo, excesso de trabalho, fanatismo religioso, vício em drogas e consumismo - antes de você enfrentar a realidade. Viver na fantasia é fácil. O difícil é conseguir sair dela. O chato é a insônia. O que incomoda é o pesadelo, o seu inconsciente te alertando de coisas que você se esforça bastante para esquecer. Se durante o dia, quando as lembranças desagradáveis tentam aparecer, você bebe ou usa droga, no sono, isso não seria possível. O seu inconsciente é implacável.
Lidar com essas três dimensões - sonho, fantasia e realidade - certamente não é algo simples. No entanto, também não é a morte ou o fim do mundo. Isso não acontece só com você. O capitalismo existe a partir da exploração de uma minoria sobre uma maioria. O mundo não é justo. Toda relação amorosa está fadada ao fracasso (para dizer o mínino). Então, a resposta seria desistir? Claro que não. A resposta estaria no "sussurro do vento", como naquelas músicas do Bob Dylan e do Led Zeppelin? Bem poético, mas sem efeito prático (eu sei que essa não era a intenção dos compositores)... A resposta é não fugir e isso quer dizer simplesmente viver, lidar com os prazeres e os problemas proporcionados pelas relações que inventamos. Sofrer, algumas vezes... Divertir mais, se possível...
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EMPREGO
No dia três de agosto de 2010, a economista Miriam Leitão afirmou, no jornal "Bom Dia Brasil", que as empresas não aceitam currículos de pessoas com mais de 35 anos, mesmo as que falam línguas estrangeiras e têm curso superior. Parece um pouco o movimento hippie da década de 1960, quando se dizia que não se podia confiar em alguém com mais de 30 anos.
De fato, o problema não é a idade. O capitalismo atual enfrenta um impasse. Existem melhores condições de vida do que em outras épocas - como na Idade Média, por exemplo -, portanto, se antes as pessoas viviam até 30 anos, hoje ela vivem bem mais, sendo comum encontrar gente saudável com 100 anos ou mais. Ou seja, atualmente existem mais pessoas que vivem muito mais tempo. Por outro lado, com o avanço da tecnologia, houve uma queda no número de empregos sem significar queda na produção. Em outra palavras, os empregadores precisam de um número bem menos de trabalhadores para obter o mesmo resultado. Assim, aumenta o número de pessoas que não trabalham pois não existem empregos.
Trata-se de um problema social. As conseqüências estão em todos os lugares: 1) pessoas morando na rua, vivendo do lixo dos outros; 2) pessoas que dependem do Estado para sobreviver, com a ajuda de programas como Seguro Desemprego ou Bolsa Família e 3) o aumento da criminalidade, sobretudo entre os jovens, que desejam um caminho rápido para a riqueza.
Quem está empregado se sente um privilegiado, mas é ele que paga toda essa conta e ainda vive estressado com medo de perder o emprego ou de ser roubado por tantos bandidos... Ele tem que pagar caro para morar num condomínio fechado. O shopping center seria o único lugar para passear e para fazer compras. Entretanto, caíram os mitos, pelo menos no Brasil, de que esses seriam lugares seguros: assaltos ocorrem em condomínios e em shopping centers.
Os países ricos têm os seus próprios problemas: somos nós! Em outras palavras, os imigrantes dos países pobres que insistem em "invadir a praia" dos ricos. Isso sem falar que eles também já criaram em grande quantidade os seus mendigos, desempregados e pessoas que moram nas ruas.
Tanto no Brasil como nos outros países, o impasse social deve ser resolvido pelo Estado. Para se fazer qualquer coisa, é necessário dinheiro. Na prática, isso quer dizer aumento de impostos dos que estão empregados. A ironia é essa: os que trabalham sustentam, indiretamente, os que não trabalham - por falta de oportunidade, afinal não existem empregos para todos.
Assim, ocorre um sentimento em comum tanto em que está empregado como quem não está trabalhando: a insatisfação. As pessoas ficam tristes pois não podem sofrer no trabalho. Não precisa, mas elas querem trabalhar mais. Fingem que trabalham. Inventam ocupações improdutivas. Criam ilusões para preencher o vazio de não trabalhar: alcoolismo, drogas, religiões, entre outras coisas.
Tudo é feito para não enfrentar algo que sempre foi considerado nobre na história da humanidade: o ócio. Após séculos da ideologia do trabalho no capitalismo, os indivíduos, hoje em dia, têm dificuldade de lidar com qualquer outra coisa que não seja o trabalho. Um problema social é assimilado ideologicamente como uma culpa individual. O mais grave é que o indivíduo não consegue perceber que neste impasse está justamente a possibilidade de ter mais liberdade, de ser mais feliz e, sobretudo, de cuidar de si mesmo.
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ESTRANHO
Em 1980, eu entrei no chamado Segundo Grau. Neste ano, eu publiquei em anúncio em "inglês" numa revista de rock da Alemanha. (OK, eu sei que apenas na primeira frase já existem diversos elementos para uma análise de discurso). A minha intenção era entrar em contato, por cartas, com as garotas da Europa. Eu não sabia inglês e nem sabia se o anúncio seria publicado. Foi. Comprei um dicionário e tentei responder as dezenas de cartas que chegavam, com fotos e postais.
Assim, comecei meu interesse em saber realmente outra língua. Anteriormente, me interessava mais por causa das letras do rock, mas nunca pensei seriamente que poderia compreender outra língua. Diante das cartas, não tive alternativa. Escrevia errado, naturalmente, e tinha dificuldade de entender o que as garotas escreviam.
Então, entrei numa escola de inglês e aprendi a falar também. Como dizem, peguei "gosto pela coisa", eu fui estudar alemão - a maioria das garotas era deste país - e francês. O meu interesse por esta última língua estava associado à faculdade que eu fazia. Eu achava o espanhol parecido com o português e não quis estudá-lo. Se precisasse ler algo, utilizaria a ajuda de um dicionário, se tivesse que ouvir algo, não teria tanta dificuldade de entender como nos casos das outras línguas. De fato, posteriormente, eu fui na Espanha e não tive problemas com a comunicação. Fui ainda na Alemanha, França e Inglaterra, e aproveitei para comprar livros respeitando o autor e a língua que ele escrevia - por exemplo, Marx em alemão, Sartre em francês e Hobsbawm em inglês.
Pelos exemplos citados, pode-se deduzir a minha escolha na carreira universitária: Ciências Humanas, mais especificamente História. Depois da graduação, ainda fiz uma Especialização em Filosofia na mesma universidade, UFU-MG. Depois fui para o Rio de Janeiro, mais especificamente para a UFF, para realizar o meu mestrado em História. O doutorado eu fiz na PUC-SP. As duas teses foram lançadas como livros (Rápida Editora), respectivamente, "Crescimento Urbano & Ideologia Burguesa" (2002) e "Minas Gerais na Ditadura Militar" (2002). Lancei ainda, pela mesma editora, uma coletânea dos meus artigos - "Poder e Política em Minas Gerais" (2003) - e organizei um livro com o título de "Turismo de Negócios" (2004). Pela Cabral Editora, organizei, juntamente com a professora Valéria R. D. Gomes, os livros "A Escola e a Família" (2003) e "Educação e Cidadania" (2004).
Dei aulas 16 anos no ensino superior. Fui professor de dois centros universitários. Sempre dizia aos meus alunos que você não "escolhe" ser professor. As suas escolhas e as circunstâncias da época em que você vive podem levá-lo a tal profissão. Você acaba se apaixonando pelo ofício, mesmo percebendo que o restante da sociedade não valoriza tal atividade como deveria.
Enfim, uma trajetória de vida como de qualquer outra pessoa. O interessante, no meu caso, é que, aparentemente, o interesse pelas garotas e pelo "rock n' roll" levou-me a tais caminhos. No fundo, sempre quis saber o por quê das coisas. Eu "sabia que era diferente", como diz aquela música da Legião Urbana. Portanto, eu queria entender a minha vida e por que era considerado "estranho", por isso fiz História, por isso escolhi determinadas épocas para estudar. Lendo com atenção os meus livros e artigos, não seria difícil chegar nesta conclusão. Mesmo nos casos das garotas e do "rock n' roll", o leitor poderia associar certas temáticas de meus textos com preocupações do meu cotidiano. Estou pensando, especificamente, em dois artigos: "Turismo, sexo e negócios" (Caderno de Turismo, 2006) e "Comunicação e Música: algumas considerações sobre a história social do rock" (2004).
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EX-NAMORADA (O)
Por quê não é fácil manter uma relação de amizade com uma ex-namorada?
Primeiro, vocês sabem praticamente tudo um do outro. Falar da vida amorosa pós-namoro gera uma mal-estar, mesmo quando os dois tentam fingir que aquilo é natural. De imediato, o ex-namorado faz comparações na sua cabeça, imaginando que o "atual" seria melhor que ele.
Em segundo lugar, existe o problema do ciúme. Os "atuais" não acham natural a amizade de ex-namorados. Desconfiam que ainda existe alguma coisa e, portanto, estariam sendo traídos.
Em terceiro lugar, há o problema de só um dos dois estar namorando. Isso piora a situação. Quem ficou solteiro é visto como fracassado. Claro, isso, como quase tudo neste momento, não é dito, mas é a sensação que fica.
Ocorre ainda uma quarta questão: a sua nova namorada é amiga da sua ex. Para as mulheres, é algo imperdoável. A amizade entre elas acabou e, provavelmente, a sua com a ex também. De uma maneira geral, os homens gostariam de ficar com todas. As amigas e as irmãs são objetos de fantasia, pois, na realidade, eles sabem que podem escolher só uma naquela turma. Há um pacto implícito entre as mulheres neste sentido. Muitos homens acreditam que possam romper isso e namorar, em diferentes momentos, duas amigas ou duas irmãs, e tudo continuará como antes. É uma ilusão. Traição é outro caso. Pode ser até comum, você trair a sua namorada com a melhor amiga dela. Acontece.
Finalmente, em quinto lugar, a amizade entre ex-namorados, muitas vezes transforma-se no oposto: em ódio. Se um dos lados tenta reatar o namoro e é rejeitado, a possibilidade de existir amizade é quase nula. O que sobra, na maioria do casos, é o rancor de quem fracassou. Por isso, é tão comum ex falar mal de ex. Quem ouve, imagina: " se era tão ruim, como essa pessoa namorou dois anos com fulano."
O namoro, basicamente, representa a segunda fase de um processo. A primeira é a sedução e a terceira é o pós-namoro. Se as duas primeiras significam novidade e prazer, a terceira representa a dor, a falsidade, a mágoa ou uma "diplomacia" que beira ao cinismo.
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FANTASMA
Nesta tarde, tive um sonho interessante (sim, durmo à tarde e em vários horários considerados "estranhos"). Meu cabelo parecia diferente, parecia daquelas perucas que o guerrilheiro Carlos Marighela usava na ditadura militar, para disfarçar e parecia que chamava mais a atenção (ler GORENDER). Enfim, no meu caso parecia que eu não queria ser reconhecido também. Isso deve estar associado a um fato que ocorreu na quinta-feira passada. Eu saio pouco, muito pouco. Neste dia, fui ao Praia Clube e achei interessante o esforço que um ex-aluno, que vinha em minha direção, fez para não me cumprimentar. Ele era daqueles que sempre conversava comigo na faculdade, mesmo fora do horário das aulas. Foi uma cena engraçada. Não foi novidade, na medida em que esse tipo de atitude é muito comum em Uberlândia.
Parece que o fato de ter escolhido ficar "isolado" nos últimos meses tenha reforçado esse tipo de atitude. Ou não. Nas poucas vezes que eu saio, sempre sozinho, muitas pessoas não me cumprimentam. Outras olham para mim como se estivessem vendo um "fantasma": "ué, aquele é o profelipe?! mas ele não tinha morrido?.." Lembro-me que esse tipo de comentário era comum quando o prof. Bernard saiu da faculdade. Diferente de outras profissões, os professores tornam-se "fantasmas" ainda em vida. Não quero nem saber o significado disto do ponto de vista freudiano... O desejo de morte do outro (uma espécie de auto-afirmação do indivíduo) parece ser óbvio demais.
Os meu professores, os bons e os maus, de alguma maneira, me marcaram. Não seria por acaso que existe tanto filme de professor, normalmente em tom melancólico (e dramático). A profissão não é isso, mas parece que é assim que quem NÃO é professor vê a vida desses "sofredores".
Algumas pessoas parecem visivelmente curiosas diante "daquele fantasma". É comum ouvir perguntas como: você "ainda" mora em Uberlândia (elas desejavam não te ver mais...)? O que você está fazendo? Dá vontade de responder o óbvio: "ué, nesse momento, estou conversando com você." No entanto, eu sou educado demais para dizer algo assim. Daí respondo: sim, moro em Uberlândia e estou num período sabático. OK, mesmo explicando o que quer dizer sabático, o que deveria ficar claro, parece tornar-se mais complicado: "como assim, você fica lendo e escrevendo, fazendo caminhada, vendo filmes, sem horários definidos? Então, você não faz nada." Hello?!? Nada? Na pergunta está a resposta: ler, escrever, caminhar e ver filmes.
O "nada" em questão é um incômodo do outro, que vive na correria, não sabendo nem para onde está indo e nem o por quê. Na nossa sociedade, as pessoas são identificadas a partir do emprego, parece sobrenome: João da Coca-Cola. Se o João sair da empresa, automaticamente, deixa de existir e vira um "fantasma". Talvez, para muitos, a resposta esteja aí. No meu caso, porém, não me preocupo com rótulos e moro em Uberlândia tempo demais para me chocar com algumas atitudes. Então, por que escrever sobre isso? Porque foi engraçado... irônico... seria algo que você comentaria num bar, se não fosse visto como um "fantasma"...
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FICÇÃO
Alan Moore, na história sobre o Batman, em "A Piada Mortal", utiliza uma frase interessante enquanto o Coringa luta com seu principal inimigo: "se é para ter um passado, prefiro que o meu seja de múltipla escolha..." Pensando nisso, em um momento de, como diria Domenico de Masi, "ócio criativo", resolvi recapitular alguns momentos da minha história de vida.
Passei a minha infância e a minha adolescência nas décadas de 1960 e 1970, portanto, durante a ditadura militar. Lembro-me, que quando criança, fui vestido de anjo numa igreja católica - provavelmente tratava-se de uma data especial. Antes dos 10 anos, fui "Lobinho", que era uma espécie de preparação para depois dessa idade, tornar-se Escoteiro. Depois, fui treinar basquete no ginásio da cidade. Na época, havia os famosos desfiles de 7 de setembro, encerrados com pompa pelos soldados do exército, coisa típica de regime autoritário. Desfilavam as escolas e suas fanfarras e os representantes das instituições da comunidade. Desfilei duas vezes: como Lobinho e como jogador de basquete.
A minha rebeldia adolescente começou com o fascínio ao rock. Durou pouco. Aos 15 anos, entrei para um grupo religioso evangélico, além de passar a freqüentar todos os dias a Igreja Presbiteriana.. Foi uma fase de fanatismo, mas foi positiva, pois me tirou do caminho das drogas.
Ao longo dos anos, tinha as minhas crises cíclicas de depressão, que nem os médicos sabiam definir o que era e nem havia medicamentos adequados na época. Uma vez, o meu médico me perguntou no que eu pensava. Eu respondi o que ouvia nos grupos religiosos que freqüentava: que o apocalipse devia estar próximo e que o anti-cristo seria o comunismo. Essa última palavra não era mencionada abertamente, no período do regime militar, sem gerar desconfianças.
Foi o que aconteceu com o meu médico: ele decidiu, depois da conversa, me internar numa clínica psiquiátrica por uma semana, na qual tomei vários tipos de remédios e de injeções todos os dias. A ameaça era clara: se eu não "melhorasse', seria encaminhado ao hospício, o que amedrontava por causa das grades - parecia mais uma prisão - e dos choques elétricos. Fiquei comportado. Fingi que seria "normal' desde então.
Alguns meses depois que fiz 18 anos, veio outra experiência desastrosa. Eu e a prima de um amigo resolvemos cheirar clorofórmio na periferia da cidade, antes de irmos na inauguração de uma "discotheque". Não deu certo. Passamos a noite na prisão.
A partir daí, meus pais me obrigaram a trabalhar e eu decidi voltar a estudar. Aos 21 anos, entrava na faculdade de História. Com as leituras, descobri que não havia nada errado no meu comportamento e voltei a agir do jeito que queria.
Uma novidade apareceu: a militância política em 1982, ainda na ditadura militar. Assim como havia acreditado na religião, passei a acreditar na política. Essa militância durou até 1986, quando, percebendo os erros práticos dos grupos de esquerda, resolvi sair. Esses grupos eram ligados ao Partido dos Trabalhadores, que, então, se dizia socialista. Muitos anos depois, com a história do mensalão, a minha análise parecia não estar tão equivocada naquele momento.
Depois de 1986, deixei de militar em grupos ou acreditar em mega projetos de transformação social. Passei a me concentrar mais na minha vida de estudante. Formei. Depois fiz uma especialização em Filosofia. Depois, sai de Uberlândia e fui fazer mestrado em História na Universidade Federal Fluminense.
Posteriormente, fiz o doutorado na Pontifícia Universidade Católica. No período, já era professor universitário. Participei de congressos e publiquei 6 livros e alguns artigos científicos. Passei a ser conhecido como professor e pesquisador. Trabalhei 16 anos no ensino superior.
Meus alunos mais antigos lembram de um professor sério e casado, com barba, que vestia socialmente "correto": sem jeans ou tênis. Os alunos mais recentes associam a minha imagem a um professor "light", que brinca muito, usa jeans, tênis e camiseta (sempre preta). O visual havia mudado, mas a seriedade profissional permanecia.
Fiz psicoterapia entre 1995 e 2009. Depois de 2000, outra médica começou a me receitar antidepressivos. O meu médico da adolescência suicidou em 2007.
Fiz algumas viagens para a Europa entre 2000 e 2006. Como havia estudado inglês, francês e alemão, foi interessante visitar esses países.
Passei a adolescência ouvindo rock e foi uma prazer ver aquelas bandas ao vivo, como The Rolling Stones, Jimmy Page & Robert Plant (Led Zeppelin), AC/DC, U2, Bob Dylan, Kiss, Guns n' Roses, Nirvana, The Sisters of Mercy, entre outros.
Depois, divorciado, namorei garotas de 20 anos. Chamam isso de crise de meia idade. Talvez. Gosto de mulheres bonitas e inteligentes. Sempre gostei.
Voltei a freqüentar boites - antes eram chamadas de "discotheques" - e as festas com música alta para dançar - agora eram as tais "raves". Na minha ausência da vida noturna, nada havia mudado realmente, exceto a minha idade, algumas décadas mais velho.
Uma das características da crise da meia idade é o saudosismo, é acreditar que o melhor da vida já passou. É sentir saudades da adolescência ou da época da faculdade. Alguns ainda gostariam de viver todas as fases da vida novamente. Eu não. Sinto tédio só de pensar que teria que passar por tudo novamente. Não sou saudosista, vivo o presente e o que ele pode oferecer. Não acredito em rótulos e assumo o que eu faço e, obviamente, faço o que eu quero.
Erro muito mais que acerto. Contudo, não me incomodaria de ver a minha vida sendo passada no "telão do juízo final" para toda a humanidade assistir. Sim, aquele sou eu e aquela foi a minha vida. Alguns certamente me perguntariam: "como você foi capaz de fazer aquilo?" Eu responderia: "se você achou algo estranho, espere para ver o próximo capítulo..."
A vida deve ser isso: capítulos de uma novela sem novidades, mas, talvez, para você, que acredita que tudo gira em torno de "vossa majestade", ela possa parecer algo maior do que de fato é. Não fique triste. Você não é o único que pensa assim.
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FILMES
O que diferencia o homem dos outros animais? Alguns diriam: o poder ou a política. Outros escolheriam características como amor, dominação, amizade, solidariedade ou religião.
No filme "Blade Runner", o que diferencia os humanos dos que não são seria a memória, o fato de se ter um passado. Em outro filme, "Les Invansions Barbares", diante das dúvidas do personagem diante da morte, a filha de sua amiga diz: "não é a sua vida atual que você não quer deixar; é a sua vida passada; e essa já está morta." Aqui, mais uma vez o passado aparece como uma característica do ser humano.
O que diferencia os homens dos outros homens? A diferença mais óbvia é a questão das classes sociais: uns são ricos e outros são pobres. É uma diferença objetiva e material. Marx acreditava, pelo menos num momento da sua vida, que a criação de uma ideologia tornaria essa diferença social possível. Ricos e pobres acreditam na "ideologia do capitalismo".
Então, o que poderia diferenciar uns dos outros? Nietzsche acreditava que a maioria da humanidade não seria capaz de entender a própria existência. Haveria poucos capazes de ir além das obviedades do cotidiano. No filme "Red Dragon", o personagem - e "psicokiller" - Dr. Lecter diz para o investigador: "você me pegou pois somos parecidos (...) o que nos diferencia dos demais é nossa imaginação." Alguns filósofos diriam que seria a capacidade de pensar sobre a metafísica e sobre o niilismo.
Refletir sobre temas complexos gera ansiedade em muitas pessoas. Não refletir significa alienação. São dois caminhos. São duas opções. Na medida em que você realmente pensa sobre a condição humana, você fez uma escolha e não há caminho de volta. Não seria possível ser superficial novamente e acreditar num mundo perfeito e colorido.
Você, agora, vê além do imediato e da aparência. Por um lado, é bom, pois não te enganam mais tão facilmente como antes. Por outro, porém, você percebe o lado "real" dos indivíduos e de suas relações. O mundo aparece, assim, como um lugar sombrio e sem sentido, o que, de fato, ele é. Você percebe ainda que poucos ao seu redor enxergam aquilo que você vê. Você sente solidão. Você sente saudade do tempo em que acreditava em fantasias e não vivia. Diante do dilema vida ou alienação, você fez sua escolha. Cabe, portanto, saber tirar o melhor dela, mesmo sabendo que sentimentos negativos fazem parte da formação do ser humano.
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FREUD
Quando era adolescente, tive um sonho erótico inesperado. Acordei assustado. Achei um absurdo a tal história.
Algumas décadas depois, lendo Freud e partindo da sua afirmação que você realiza os seus desejos nos sonhos, um dia eu tive a oportunidade de realizar aquilo que imaginava ser uma fantasia.
Na prática, não foi o que eu esperava. Sexualmente falando, eu não gostei. Como no sonho, no dia seguinte, não acordei satisfeito.
Contudo, os outros aspectos da relação, como sempre, foram ótimos: gosto de namorar, curtir a noite, conversar, acordar junto... Nestes aspectos, foi um final de semana e tanto, depois de muito tempo, aprendi muito, ri e me diverti bastante.
Não sei o que Freud diria desta experiência. Nem sei se ela contradiz efetivamente a sua teoria. Pouca importa. O que ficou claro, mais uma vez, é que o sexo, para mim, nunca é o mais importante numa relação amorosa, mesmo que seja somente um final de semana ou "one night stand".
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HOMENS
Jerry Seinfeld, uma vez, fez uma brincadeira sobre a reclamação das mulheres de que não existem homens disponíveis: "como? nós estamos em todos os lugares!!" O problema, ele reconhece em seguida, seria que os homens não sabem como chegar e conversar com as mulheres. É verdade.
As mulheres fascinam e exercem um grande poder sobre o sexo oposto. As mulheres são complexas, o que dificulta a situação de qualquer indivíduo. Elas dizem "não", por exemplo, que não quer dizer, necessariamente, "não", pode ser só uma estratégia, um charme. O "não" pode significar "talvez" ou mesmo, se o homem for um pouco inteligente, pode ser, de fato, um "sim".
Como saber? Não existe um manual. Na verdade, cada situação, com cada pessoa, pode mudar tudo. Não existem modelos ou regras. Seria esse o motivo, provavelmente, da atitude masculina machista de sair por aí cantando todas, muitas vezes, de uma maneira óbvia e vulgar, Do ponto de vista do homem, ele pensa: "uma hora pode dar certo." É a velha história: "se ele não for cara de pau, nunca ficará com alguém."
O problema fica mais grave quando a sedução ocorre ao mesmo tempo que as pessoas estão bebendo muitas cervejas ou doses de vodka e whisky. Se for numa boite ou num bar escuro, as coisas ficam mais difíceis. Algumas vezes, ao chegar no local, os homens estabelecem uma hierarquia para a "caça" - desde a mais bonita, a número 1, até aquela que ele, mesmo bêbado, não aceitaria. Claro que com o efeito do [excesso de] álcool, nenhuma teoria poderia se concretizar. Por isso, no final da noite, assistimos cenas deprimentes, tanto para eles como para elas.
A questão não é só a paquera. Aqueles que vivem um relacionamento monogâmico também sofrem para entender os desejos femininos. Aos olhos dos homens, as mulheres nunca estão satisfeitas.
As mulheres gostam de elogios, mas se ficar fácil demais, elas perdem o interesse. Talvez isso explique o sucesso dos chamados "bad boys". Ser um cavalheiro pode ter o efeito oposto à fantasia feminina. Se ele respeita demais, a mulher suspeita que trata-se de um gay. Se for rápido, seria um safado, que faz isso com todas.
Além disto, existem aqueles momentos que os homens não sabem como reagir. Por exemplo, ela começa chorar sem motivo. O que fazer? Seria TPM? Ele teria feito ou dito algo equivocado? Outro coisa seria a famosa DR - Discutir a Relação. Todo homem odeia DR. Faz tudo para fugir de uma. No entanto, raramente consegue. Horas e horas de conversa... O cara pensa: "então, o namoro vai acabar." Claro que não! Pode ser exatamente o contrário... Pode ser um desabafo ou apenas um teste.
Sim, algumas mulheres adoram testar os homens. O objetivo, é difícil dizer, pode ser que elas queiram verificar se eles são fiéis, se estão mentindo, se querem casar ou se elas realmente têm o controle da relação. Muitos se sentem como ratos de laboratório. Basta um olhar da mulher, que ele pára o que está fazendo: "é um sinal... posso fumar? posso beber mais uma? posso jogar futebol com os amigos?" Na dúvida, ele pergunta: "posso?" Ela responde: "você quem sabe." O homem piora a sua situação e para evitar atritos, leia-se DR, deixa de fazer o estava pretendendo.
Talvez as mulheres achem exagerados os exemplos citados. Talvez alguns homens tenham passado por situações semelhantes. Talvez... talvez... Sim, porque não existe uma única resposta que possa satisfazer plenamente um homem e um mulher numa relação. Por isso, muitos mentem, omitem ou fogem de qualquer forma de compromisso.
Contudo, não há como negar: um preciso do outro. Entretanto, qual seria o preço a ser pago para ter uma vida de casal? Será que vale a pena? A minha resposta, pessoal, seria: "eu não faço a mínima idéia." Estive nos tais três momentos: vida de solteiro, namorando ou casado. Qual seria melhor? Isso, naturalmente, dependerá de cada um.
Viver é lidar com dilemas, dúvidas e problemas. Sozinho ou como casal, a vida não torna-se mais fácil. Trata-se, no final, de uma escolha particular, individual.
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HOSPITAL
Gosto de arquitetura. A idéia de construir um ambiente que acolhe o indivíduo me agrada. Nem sempre é assim, claro. Foucault já citava as arquiteturas das prisões que tinham como função facilitar o "olhar" sobre os detentos. No Brasil, Oscar Niemayer é um grande inovador, com os projetos de Brasília e tantos outros pelo país e pelo mundo.
Estive pensando no caso do hospital. Aquela ambiente me incomoda. Imagino a insatisfação do paciente, dentro daquele prédio bege, com pessoas de branco por todo lado e as caras tristes dos doentes. Acredito que a arquitetura poderia ser uma aliada neste caso. Eu sei que alguns hospitais usam ambientes mais abertos, inclusive com espaços para jardins. Os "doutores da alegria" certamente servem para mudar aquele clima frio proporcionado pelo "saber médico" - o paciente seria apenas um número - e por uma arquitetura sem cor.
O "corredor da morte" é o último caminho realizado por aqueles que possuem a pena máxima. Acredito que esta expressão poderia ser empregada para a maioria dos hospitais. Trata-se de um espaço que você passaria antes da morte. Muitos pacientes devem conhecer este sentimento. A percepção da morte do mundo ocidental provavelmente não facilita o humor daqueles que estão numa situação de fragilidade em relação à saúde.
Dito isso, imagino algo absurdo, mas que poderia mudar o "astral" de um ambiente deste: um bar no meio do hospital. Ou seja, uma sala especial, fechada, com música alegre, bebidas, danças e luzes, tudo o que um bar ou "boite" normalmente oferece. O acesso seria permitido aos pacientes, aos familiares e aos funcionários do hospital, incluindo os médicos e os enfermeiros. Tudo seria controlado com a ficha do paciente, que apresentaria o seu "estado atual" e, portanto, revelaria, por exemplo, aquilo que ele poderia beber. As pessoas teriam uma sala menor para fumantes. Todo o ambiente deveria ser colorido, com luzes, barulho, música, tudo aquilo que o paciente não tem acesso dentro do hospital. A sala seria a prova de som, para não incomodar o ambiente do hospital. Ela representaria uma exceção, uma fuga ou um lugar onde as pessoas iriam para "recarregar as suas energias" e seu "desejo de vida".
Sim, pois o hospital como é concebido hoje, lembra qualquer coisa exceto vida. Atualmente, ele está mais associado à dor, à tristeza e à morte. Trata-se de um ambiente que oprime as pessoas, tanto os pacientes como os familiares. Os médicos e enfermeiros procuram perceber tudo aquilo apenas como mais um "ambiente de trabalho", algo frio e profissional, o que associado à própria arquitetura, cria um "clima" que todos desejam evitar - como no caso das prisões, que com esta mensagem, coloca-se como o lugar da punição e do castigo para uma pessoa que fez algo errado. Entretanto, pacientes não são presidiários. Não fizeram coisas erradas, em sua maioria, nem com os outros nem com eles mesmos. Assim, criar um ambiente de opressão para estas pessoas não seria justo e nem humano.
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IDADE
No primeiro episódio de "Sex and the City", a personagem Miranda conta uma história: "eu tenho uma amiga que só saía com homens bonitos e só se divertia.Um dia, acordou e já tinha 41 anos. Ninguém queria mais saber dela. Teve um ataque, não conseguiu mais trabalhar e voltou para o Wisconsin para viver com a mãe. Confie em mim, isto não aflige os homens."
Realmente, esse tipo de história não comove os homens, porque, por princípio, todos foram educados para querer sempre a "próxima" ou a "outra" mulher. Somente em casos extremos, ele "repete" a garota - como no fim de uma festa em que ele não conseguiu ficar com alguém interessante. Uma ex-namorada parece-lhe um caminho garantido, afinal, ele já conhece o "mapa da mina" (péssimo trocadilho, por sinal).
O que acontece com as mulheres? Elas não confiam nas amigas e, de fato, não acreditam nos homens. Elas querem acreditar, são formadas para isso. Entretanto, diante da realidade, elas fingem que acreditam por não terem alternativas ou por terem medo de ficar sozinhas.
O problema está na fase em que elas deixam de ser crianças em tornam-se moças (termo antigo esse). Dos 15 aos 21 anos, elas vivem a melhor fase: são desejadas, cobiçadas, descobrem o poder da sedução e, naturalmente, acreditam que aquilo durará para sempre. As cantadas dos homens reforçam esse mito.
Lindas, novas, magras - assim, elas entram na faculdade. Aqui, elas escolhem dois caminhos: 1) apaixonam-se por um colega, formam, casam, têm filhos e depois divorciam ou 2) ficam solteiras e aproveitam tudo que essa fase oferece: "ficantes", festas, bebidas, drogas e sexo, muito sexo. As que escolhem o segundo caminho, no fim da faculdade, começam a enfrentar alguns dilemas: as amigas têm filhos, outras casam e elas não apresentam o charme das "calouras" - se consideram velhas diante de uma realidade com meninas cada vez mais novas, bonitas e dispostas a viver aventuras. É um duro golpe na auto-estima.
Depois da formatura, pode vir o pior: voltar a morar com os pais (se a faculdade era em outra cidade) ou continuar morando na casa dos pais, depois de ter vivido tantas experiências... Sair de casa e morar em "repúblicas" passa a sensação de não ter saído da universidade.
Morar sozinha não é fácil: é caro, os pais podem não concordar e ainda existe a solidão. A solução seria casar, mas... como? Depois de formada, com 25 anos, onde acharia um pretendente, mais velho, trabalhador e cujo sonho seria o casamento? Esse homem não existe. Depois dessa idade, formados ou não, mas com carros e melhores salários, os homens querem se divertir e isso pode significar tudo exceto compromisso.
Após essa faixa etária, as mulheres percebem que não são mais o foco de atenção das festas. Se antes dos 21 anos, elas faziam piadas das mais velhas, de suas rugas e de suas roupas, que "não seriam adequadas para pessoas daquela idade", agora, elas tornaram-se aquilo que ridicularizavam. Pior, elas sabem disto. Por isso, bebem mais. No entanto, rapidamente, descobrem que a ilusão criada pelo álcool tem limite. Por isso, é tão comum, no final da noite, encontrar mulheres em prantos, querendo entender o que aconteceu com a vida delas. A resposta é simples: o tempo passou.
Lidar com esse fato quando viveu uma infância e uma adolescência achando que era uma verdadeira princesa e que só faltava encontrar a sua "cara metade" para ser feliz para sempre... Bom, neste caso, a crise pode ser mais séria e a solução, se existir, poderá estar mais distante do que ela gostaria.
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ILUSÃO
As coisas não são o que parecem ser. Nada de novo nesta afirmação. Desde Platão, com seu mito da caverna, passando pelo conceito de alienação em Marx ou mesmo a concepção de inconsciente de Freud, existe esta preocupação.
A divisão entre o que seria e o que é de fato a realidade foi tratada por muitos pensadores e mesmo por produtos de massa, como o filme "Matrix". Quase sempre são dois momentos: um onde a vida é bela e outro no qual o mundo é cinza e cheio de problemas e sofrimentos. Uma música, em especial, retrata esta temática na vida de um indivíduo - "The Logical Song" do Supertramp.
Primeiro, a beleza e a descoberta da juventude:
"Quando eu era jovem
Parecia que a vida era tão maravilhosa
Um milagre, oh ela era tão bonita, mágica
E todos os pássaros nas árvores
Estavam cantando tão felizes
Oh alegres, brincalhões, me observando"
Depois, aparecem os problemas da vida adulta:
"Mas aí eles me mandaram embora
Para me ensinar a ser sensato
Lógico, oh responsável, prático
E me mostraram um mundo
Onde eu poderia ser muito dependente
Doentio, intelectual, cínico"
(Tradução: http://letras.terra.com.br/)
Aliás, três filmes mostram o rompimento destes dois mundos na perda do emprego: "Leaving Las Vegas", "Fight Club" e "American Beauty".
Ser despedido ou abandonar o emprego simboliza, utilizando a letra do Supertramp, "mas aí eles me mandaram embora (...) e me mostraram um mundo onde eu poderia ser muito dependente, doentio, intelectual, cínico." Trata-se de um choque para o indivíduo, que acreditava que trabalhando e seguindo as regras, conseguiria resultados positivos na vida.
O choque tornar-se crise. Muitos desistem. Em "Leaving Las Vegas", o personagem fez a opção pelo alcoolismo. No filme "Fight Club", o excesso, para fugir da crise, foi a luta. Já em "American Beauty", o caminho encontrado foi a paixão platônica por uma garota adolescente.
O problema permanece na nossa sociedade. As pessoas se escondem atrás de suas "obrigações". Elas inventam várias atividades. Assim, não precisam pensar na própria vida.
Os projetos dos jovens são sempre os mesmos: concluir uma faculdade, possuir casa e carro, casar e constituir família. Na crise da meia idade, os filhos cresceram e não precisam mais dos pais, a qualificação que veio com a conclusão da faculdade não parece ser garantia de empregabilidade e o desemprego pode comprometer o pagamento dos financiamentos da casa e do carro.
Assim, a vida parece ser mais complexa e insegura. Pior, com o tempo, desaparece o prazer da novidade: os brinquedos no natal, o primeiro beijo, as festas da faculdade, entre outras coisas. É criado o impasse que o indivíduo deve enfrentar, aquilo que, de forma direta ou indireta, foi tratado nos três filmes citados. Alguns optam pela psicanálise, anti-depressivos, alcoolismo, excesso de trabalho ou um caminho muito comum: a religião. Cada um procura manter viva a antiga "ilusão" - da criança e do adolescente - como se nada tivesse acontecido.
No fundo, contudo, cada pessoa sabe que uma fantasia não resolve a simples realidade do ser humano: a vida não tem sentido e a certeza mais óbvia é a morte. Ela existe para os alienados e para os críticos, para os crentes e para os cínicos. A maioria a vê pelo lado negativo. Tentam adiá-la. Outros a enxergam pelo que ela é: um fato na vida de um indivíduo. Nada mais do que isso. Esta constatação é uma conclusão positiva diante de uma vida que não apresenta a mínima lógica e, muito menos, respostas satisfatórias.
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INGÊNUOS
E. P. Thomspon escreveu uma grande obra: "The Making of Working Class". Foi isso. Eric Hobsbawm disse que ele não tinha um bom editor e fez escolhas equivocadas - como polemizar com Louis Althusser. Não adianta ser um gênio ou ter potencial, se você não sabe o que faz com isso.
Desde os pensadores da Grécia Antiga, a grande questão era como contribuir de tal forma para a humanidade, que você transcenderia a sua existência. Foi o que fez Platão, por exemplo. Neste sentido, Hobsbawm tinha razão em relação ao Thompson: ele poderia ter feito mais.
Por outro lado, para quem vive em uma época que se valoriza o superficial, a imagem e os bens materiais, deveria ser pensado ainda: quem realmente se importa?
De que vale gastar anos em pesquisas e realizar grandes análises e descobertas se, diante dos indivíduos do seu tempo, você não teria valor algum? O que seria melhor, ser manipulador, individualista e obter sucesso em vida, como foi o caso de Bill Gates, ou ser um gênio e viver na miséria, como Van Gogh? Ser os dois não seria possível em nossa sociedade, na medida em que as pessoas que não conseguem perceber o óbvio não poderiam questionar e ir além das aparências.
Não existe solução para tal dilema. Existem, sim, escolhas e conseqüências. E a morte, claro.
De que adiantou toda a "malvadeza" e toda a riqueza de Antônio Carlos Magalhães depois que ele deixou "esse mundo material"? Qual seria o sentido de ser milionário, ter contas na Suíça e possuir aviões, iates e mansões a partir do sofrimento e da exploração de milhões de pessoas, se o indivíduo morre e tudo de material perde o seu valor? Se for pensar efetivamente nessas problemáticas, os "espertos" do capitalismo teriam se esforçado tanto para perder tudo aquele amam - os bens materiais - no final da vida. Eles ainda acham que, por exemplo, os artistas, os religiosos e os intelectuais desperdiçam as suas vidas pois se preocupam com os outros. E ainda se consideram os "espertos"... e os outros seriam apenas "ingênuos"... Irônico.
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INSÔNIA
As pessoas, normalmente, apresentam dificuldades para dormir. Deitam e esperam o sono. Ficam horas acordadas. Tal fato não ocorre somente com os velhos. Adolescentes afirmam que não dormem pois suas mentes não param de funcionar. Pensam em problemas, assim como todos aqueles que não podem ter um sono tranqüilo. Os problemas podem variar com a idade, mas permanecem na mente dos que sofrem de insônia ou daqueles que acham que possuem alguma doença.
Quanto mais velho, maior é a dificuldade de sono. Simples: as pessoas vivem mais experiências e, portanto, mais frustrações. Neuroses, diria Freud. Os desejos não realizados não apenas agravam as dificuldades para dormir, mas podem causar ainda pesadelos. Aqueles fatos que gostaríamos de esquecer, desde a infância, insistem em aparecer nos sonhos. Se durante o dia, criamos todo tipo de atividade para 'fugir' de algo negativo que aconteceu no passado, durante o sono, perdemos este 'controle' sobre a nossa mente e entramos no reino do inconsciente. Sem a razão para nos proteger, nos deparamos com os fracassos e, mais do que isso, com os nossos mais íntimos medos.
A situação piora. Procuramos os médicos e passamos a depender de remédios para dormir. Alguns ficam viciados. O desejo de 'dormir como um bebê' parece cada vez mais distante. Nos damos conta de que ser adulto é um caminho sem volta. Mesmo desejando, não conseguimos mais atingir aqueles níveis 'sinceros' de fantasia e ilusão da infância. Trata-se de um caminho sem volta, que nos coloca frente a frente com o dilema da própria condição humana: a morte.
Alguns diriam que dormir seria como morrer aos poucos. Não importa. O que interessa é que, racionalmente, desejamos dormir e não queremos a morte. Queremos ser otimistas, mesmo sabendo que a única certeza na vida é a morte. Refletir sobre a morte gera insônia? Deixar de questionar garanto o sono? Nada garante uma noite tranqüila. Críticos e alienados sofrem do mesmo mal: o sono não chega durante a noite. Esperamos. Pensamos. Tomamos remédios. A noite parece longa. A vida parece curta. Sono e morte. Velhos problemas sem respostas.
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INSTINTOS
Independente da idade, várias pessoas apresentam dificuldades para dormir. De imediato, lembro-me da parte inicial do filme "Clube da Luta": quando você tem insônia, você tem dificuldade de perceber o que seria real ou não...
Com a idade, claro, aumenta o número de neuroses, o que dificultaria mais o sono do indivíduo, além de produzir pesadelos. Estas neuroses ocorrem, conforme admitia Freud, devido ao conflito entre o desejo básico da pessoa e o seu compromisso com a comunidade, ou seja, instinto individual e responsabilidade social. Em um documento, Carta 105, Freud era claro: "Realidade - realização de desejos. É desse parte de opostos que brota nossa vida mental."
Para superar a insônia, muitos tomam remédios, sobretudo os controlados, aqueles de tarja preta. Funciona bem no início, mas, depois, como qualquer droga, com o uso diário e o aumento das doses, gradativamente, perde o efeito, o que complica ainda mais a situação do indivíduo.
Afinal, algo simples, como dormir, parece algo tão complicado na prática. O que facilitaria esse processo? "A 'precondição essencial' do sono é facilmente reconhecida na criança. As crianças dormem enquanto não são atormentadas por nenhuma necessidade [física] ou estímulo externo (pela fome ou pela sensação de frio causada pela urina). Elas adormecem depois de serem satisfeitas (no seio). Os adultos também adormecem com facilidade 'post coenam e coitum' [depois da refeição e da cópula]." (FREUD, Processos Primários - o Sono e os Sonhos)
Em outras palavras, dormir é algo necessário e natural. Para tanto, devemos reconhecer e satisfazer as necessidades básicas do corpo. Ou seja, alimentação e sexualidade são problemáticas que devem ser analisadas com atenção pelas pessoas que têm insônia.
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JUVENTUDE
Não gosto de discutir coisas óbvias, mas não consigo deixar de implicar com o termo "juventude". Afinal, o que é isso? Utilizamos o conceito de "terceira idade" para nos referirmos a velhice, o que seriam as outras duas idades? Fase adulta e infância. Pronto.
No sistema capitalista, interessa que um produto seja "novo". Um coisa sempre substitui outra. Marx já afirmava que os proletários, neste sistema, são tratados como "coisas", peças que podem ser trocadas por outras mais "novas". É uma verdade válida tanto para o trabalho manual - época do Marx - como para o trabalho intelectual - época atual.
O que isso tem a ver com a "juventude"? Trata-se de um mercado, que no capitalismo, tornou-se "o" mercado, em outras palavras, todos querem ser (parecer) jovens e usar produtos da "moda" - algo novo. A existência da "juventude" parece anular os três períodos da vida: infância, fase adulta e velhice. Atualmente, as crianças querem "parecer" com os mais velhos, nas roupas e nos comportamentos, na maioria dos casos, com o apoio dos pais. Esses querem o contrário: querem "parecer" mais novos: fazem plásticas, pintam os cabelos e usam outros recursos para parecerem jovens.
O indivíduo com 20 anos, o "jovem puro", claro, procura aproveitar ao máximo a sua fase e acredita estar vivendo o melhor que a vida pode oferecer. Na década de 1960, era dito que a "juventude" não poderia confiar em ninguém com mais de 30 anos. Nesta fase de rebeldia, um dos ícones era o Mick Jagger dos Rolling Stones, que continua, atualmente, um avô em plena terceira idade, fazendo exatamente a mesma coisa. A este respeito, em sua última entrevista, antes de morrer, John Lennon, outro ícone daquela época, expressou uma opinião interessante - falando exatamente dos Rolling Stones: "quando você tem 16 anos é certo ter companhias e ídolos masculinos. É coisa de tribo, tudo bem. Mas quando você faz isso aos 40, significa que, na cabeça, você ainda não passou dos 16."
Eu não defenderia algo tão radical. Do lado dos Rolling Stones, o economista Mick Jagger diz que tudo é uma questão de mercado. Ou seja, é capitalismo e pronto. Entretanto, você pensa: esses indivíduos não estão ligados à "arte" ou, na verdade, querem somente ficar milionários? O "empresário" Mick Jagger não sobrevive sozinho, tentou carreira solo e fracassou - daí a ironia de John Lennon -, ele precisa de "arte" sim, necessita de algo que não seja monetário, de algo invisível, associado às emoções das pessoas, essa musicalidade, naturalmente, encontra-se em outro membro da banda: Keith Richards.
Richards, com suas rugas, suas bebedeiras e seu passado de drogado, mostra que ser "velho" não significa ser conservador e "careta". Existiram outros casos, como William Burroughs e Timothy Leary. Ser rebelde não é algo de idade, afinal, muitos indivíduos com 20 anos só pensam em ganhar dinheiro e manipular as pessoas. Muitos velhos fazem isso também. O que confirma que ser ético tem mais a ver com o caráter da pessoa do que com a idade.
A questão é assumir o que você é, seja com 20, 30 ou 60 anos. Trata-se de sentir bem consigo mesmo, não ser levado pelas circunstâncias do mercado - que sempre mudam - e nem ficar preocupado se você pertence ou não ao universo da "juventude" - termo, aliás, que só poderia ganhar sentido numa sociedade fria e superficial como o capitalismo.
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LIVROS
Sem a religião não existiria civilização, na medida em que os indivíduos, para viver coletivamente, precisam de regras. Se a lei vem "fora" da sociedade, claro, ela ganha mais força e credibilidade. A norma feita pelo "homem" gera dúvidas e polêmicas, pois favorece um grupo em detrimento de outro.
O sol é essencial para o funcionamento da natureza e, portanto, vital para a existência da humanidade.
No documentário "Zeitgeist", ele é mostrado como a base das religiões criadas pelos indivíduos, o que explicaria a proximidade entre elas. Em outras palavras, a mesma história é contada com nomes diferentes, em épocas e lugares diferentes: "Horus" no Egito Antigo, 3.000 anos antes de Cristo (a. C.), "Mithra" na Pérsia e "Attis" na Grécia, ambos 1.200 anos a.C., "Krishna" na Índia, 900 anos a. C., "Dionysus" na Grécia, 500 anos a. C. e Jesus Cristo no ano 1 de nosso era.
A minha intenção não é falar da religião em si e muito menos se uma estaria certa e a outra errada. O que me interessa, neste assunto, é a forma da construção de um conhecimento e como ele reflete no cotidiano das pessoas. Neste sentido, os livros religiosos são importantes. Parece que o mais antigo é o "I Ching - O Livro da Mutações", com princípios elaborados a 5.000 anos a. C. Atualmente, a Bíblia - 1.500 anos a. C. - e o Corão - 610 anos d. C. - parecem ser os mais aceitos como definidores de leis para o cotidiano dos indivíduos. O 11 de setembro demonstrou que o conflito fundamental, no mundo de hoje, parte destas duas visões de mundo.
Como norma de comportamento, é difícil separar numa obra aquilo que seria religião, filosofia ou política. Nicolau Maquiavel escreveu em 1.532 d. C. o livro "O Príncipe", com conselhos claros de como se manter um governo e de como agir no sentido de manipular as pessoas. Tal sinceridade em nada tem a ver com religião. Sua praticidade o coloca como uma obra clássica para a Ciência Política.
Bem antes de "O Príncipe", foi elaborado o "Kama Sutra" na Índia, "um trabalho de filosofia e sexologia", que apresentava sugestões específicas para a vida de um casal, definindo como deveria ser o papel do marido, da esposa e da amante ("courtesan"). Apesar de ficar conhecido como o "livro do sexo" da Índia, a intenção era que ele não fosse visto "somente como instrumento para satisfação de nossos desejos." (p. 198)
O livro foi traduzido para o inglês, em 1883, por Sir Richard F. Burton. A edição francesa foi traduzida a partir da versão de Burton. O livro ganhou notoriedade depois da década de 1960, ou seja, após a invenção da pílula anticoncepcional e os conseqüentes movimentos de liberdade sexual e independência da mulher.
Assim como Maquiavel é direto em seus "princípios" para o Príncipe - "e são tão simples os homens e tanto obedecem às necessidades presentes, que aquele que engana encontrará sempre quem se deixe enganar" (p. 122) -, em Kama Sutra existem conselhos desde como os homens podem obter sucesso com as mulheres (p. 122-124) até como a mulher pode perceber, pelo comportamento do seu amante, quando ela deixou de ser importante. (p. 164-165)
As pessoas agem, nas relações sociais, como se tudo fosse natural e espontâneo. Os livros religiosos, filosóficos e políticos demonstram que, ao contrário, desde o início da civilização, sempre houve uma necessidade de se criar normas para seduzir e controlar o outro, seja do ponto de pista particular, de uma relação amorosa, seja do ponto de vista geral, do controle de uma classe social sobre a outra.
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LOLITA
No século XVII, Molière, ator e autor de peças teatrais, casou com a filha de sua amante. No século XX, foi a vez de Woody Allen casar com a sua filha (adotiva), o que enfureceu a sua ex-esposa, Mia Farrow, e escandalizou os Estados Unidos. Trata-se literalmente da "síndrome de Lolita": o pai ou padrasto dorme com a mãe mas, de fato, é apaixonado pela filha.
Vladimir Nabokov, autor do livro Lolita, afirma, sobre o livro, que seria "uma infantilidade estudar uma obra de ficção a fim de informar-se sobre um país, uma classe social ou o próprio autor." Ele escreveu a obra em 1955 e a sua publicação gerou polêmicas.
A fantasia deveria ser percebida como tal. Entretanto, os casos de Molière e Woody Allen são reais. Não são os únicos. Historicamente, tais casos devem ser contextualizados de acordo com as regras de cada sociedade, o que não justificaria o princípio do abuso sexual de uma criança, afinal, é uma relação desigual. O limite (moderno) de 18 anos parece razoável no tratamento da questão, mesmo considerando que muitas meninas de 14 ou 15 anos já tenham vidas sexuais ou sejam mães - casadas ou solteiras.
A lei deve ser respeitada. A relação entre um adulto e uma criança é desigual. Se o adulto for o pai ou a mãe, só complica o processo. A instituição família deveria existir como forma de educação e proteção para as crianças. É inconcebível a idéia do inimigo estar lá dentro e ainda se mostrando como o "protetor" aos olhos da comunidade.
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LULA
O processo de industrialização brasileiro foi intensificado a partir da Era Vargas - 1930 e 1945. Foi nesta fase que foram criadas as leis trabalhistas, com o intuito de controlar a classe trabalhadora.
Antes da criação do Partido Comunista Brasileiro (PCB), em 1922, influenciado pela revolução liderada por Lênin na Rússia em 1917, os operários do país eram liderados sobretudo pelos anarquistas. Posteriormente, o PCB leninista conquistou a hegemonia da classe e em seu discurso demonstrava a intenção de fazer uma revolução proletária no Brasil. Na prática, fracassou. Em termos eleitorais, teve sérios problemas, passando grande parte de sua história da ilegalidade.
O presidente Getúlio Vargas criou Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), já no final de sua primeira fase no poder. O PTB foi criado para concorrer com os comunistas, era identificado com o próprio Vargas e seguia uma linha populista. Após o suicídio de Vargas, aquele que havia sido o seu Ministro do Trabalho, João Goulart, tornou-se uma das principais lideranças do partido, ao lado de Leonel Brizola.
Os presidentes eleitos depois do segundo governo Vargas foram de outros partidos: Juscelino Kubitschek do PSD e Jânio Quadros da UDN. Esse último renunciou e seu vice - João Goulart -, numa situação conturbada, assumiu a presidência da República, primeiro numa fase parlamentarista e depois no em um governo presidencialista. Foi derrubado por um golpe militar em 1964. Era o início de uma ditadura que terminaria somente em 1985. Foi nesse contexto que surgiu o Partido dos Trabalhadores (PT) a partir das greves de 1978, nas quais havia o destaque do sindicalista Luís Inácio da Silva, o Lula. Inicialmente. o PT se colocava como alternativa aos tradicionais partidos que representavam os trabalhadores, principalmente o PCB e o PTB. Era um partido socialista e revolucionário, mas que não seguia a orientação de nenhum país comunista. O objetivo era criar um modelo para o Brasil, seguindo a teoria marxista, sem desprezar as experiências das revoluções dos trabalhadores ocorridas depois de 1917.
Com o fim da ditadura, o PT passou a participar das eleições, com um pequena porcentagem de votos. Nas eleições presidenciais, depois de 1989 - elas eram proibidas durante a ditadura militar -, o presidente do partido, Lula, foi candidato derrotado quatro vezes. Na quinta tentativa, venceu e, em seguida, conseguiu a re-eleição. Em 2010, ele foi fundamental para a vitória de Dilma Roussef do PT. Antes, Fernando Henrique Cardoso (FHC), do PSDB, também re-eleito, não conseguira eleger o seu sucessor.
Na política interna, o presidente Lula foi vitorioso, afinal, saiu do governo com altos índices de popularidade - diferente de FHC e outros presidentes. A sua popularidade talvez fique associada à de Getúlio Vargas. Na política externa, Lula tentou se mostrar como uma grande liderança. Apesar de uma certa repercussão positiva no início, virou motivo de piadas e dúvidas na mídia internacional, em decorrência de suas contradições e pretensões - como querer mediar os conflitos entre o Irã e Israel. Se internamente, o presidente Lula elogiava e procurava respeitar a democracia, as escolhas dos seus aliados internacionais, como Chavez na Venezuela, Castro em Cuba e Mahmoud Ahmadinejad no Irã, eram percebidas com desconfiança. De certa forma, o presidente Vargas, na sua época, fez o contrário: internamente, foi um ditador de 1930 e 1945, mas, externamente, na hora de escolher de que lado ficar na Segunda Guerra Mundial, foi aliado das forças democráticas.
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MACHISMO
Freud estava certo em destacar a infância na formação de um indivíduo. Está tudo lá. Gravado na nossa mente. Na maioria das vezes, de maneira inconsciente, claro. Será por que é tão difícil admitir o óbvio?
Namorei mulheres mais velhas. O que eu queria? Conscientemente, era aprender. Namorei garotas mais novas, bem mais novas. O que elas queriam? Aprender ou "queimar etapas"? Seria só o amor por uma pessoa mais velha (afinal, "ninguém manda no coração")? Ou haveria problemas com a tal figura paterna?
Eu sou uma pessoa que gosta de agradar os outros, sobretudo as namoradas. Tem a ver com a minha infância e o machismo que colocava a mulher num segundo plano enquanto o homem se achava no direito de ter quase tudo, inclusive várias mulheres além da própria esposa.
No Brasil, este tipo de pensamento durou até a década de 1970. Era considerado "normal". Vendo o mundo, por exemplo, na perspectiva da minha mãe, quando eu era criança, claro que não podia aceitar essa visão.
Na vida adulta, tentei ser o contrário: daria todo o poder para as mulheres. Não seria machista. Na faculdade, li livros de autoras feministas. Gostei das idéias de Rosie Marie Muraro na época. Na TV, o seriado Malu Mulher fazia sucesso. Para mim, as coisas faziam mais sentido. A Martha Suplicy era uma das principais defensoras do feminismo no Brasil.
Após décadas, vemos atualmente quem é a Suplicy, a sua arrogância e a sua omissão no que diz respeito aos erros do seu partido político. O feminismo "exagerado" foi desmistificado, no Brasil e em outros países. Não seria a opção adequada diante de outro erro, o machismo.
Hoje, no mundo ocidental, ninguém leva muito a sério nem o machismo nem o feminismo. Existem direitos básicos dos indivíduos que devem ser respeitados e pronto. O problema tornou-se mais específico, ou seja, de cada relação, de cada casal. Os valores sociais ainda influenciam e alguns temas, como o casamento, permanecem.
Na prática, contudo, as mulheres, nas relações amorosas, têm o mesmo poder que os homens. Isso é fato, apesar de muitos ainda desejarem uma "Amélia" - mulher objeto, na visão machista. Homens e mulheres, principalmente os mais jovens, querem tudo e acreditam que podem usar todos os meios - mentira, sedução, dinheiro, poder, entre outros - para realizar os seus objetivos. Não leram "O Príncipe", mas são maquiavélicos. Não leram Freud e muitos nunca fizeram terapia. São narcisistas, egoístas e consumistas. Esses adjetivos são aceitos como "normais" na sociedade atual.
Valores como ética e solidariedade são vistos e mostrados como irreais ou usados como mecanismos em relações de poder. A conseqüência é o cinismo. Todos fingem que acreditam em todos, enquanto os reais interesses não aparecem nas relações. Tudo virou um jogo. Funciona? Sim, durante algum tempo e em algumas relações. Entretanto, usar tantas "máscaras" pode confundir. De tanto representar vários papéis, o indivíduo começa a ter dificuldade de saber quem ele realmente é. Mais grave, o jogo, depois de algumas fases, fica repetitivo e cansa. As pessoas cansam de você também. O resultado é a crise. A resposta seria ser diferente... mas como? Você e seus pares sempre agiram assim. Neste ponto, o indivíduo percebe que a crise é mais séria... ou não. Muitos preferem colocar a culpa nos outros e evitar a auto-crítica. Pode ser. No entanto, o problema permanece e como um fantasma insiste em "passear" pelos seus pensamentos e pelos seus sonhos.
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MARV
(*) Este texto foi escrito originalmente em 2005.
Frank Miller revolucionou a linguagem dos quadrinhos em 1986, apresentando uma versão densa de Batman na história Batman - The dark knight (“Batman – o cavalheiro das trevas”). O seu último projeto foi a série Sin City (“Cidade do Pecado”), recentemente divulgada em sua versão cinematográfica. O filme e a série tratam de vários personagens, nesse artigo, porém, será discutida apenas a importância da figura de Marv no universo criado pelo autor.O filme Sin City foi co-dirigido pelo próprio Frank Miller. Nos depoimentos, ele havia demonstrado a sua descrença com a adaptação de suas histórias para o cinema. Roberto Rodriguez, o outro diretor do filme, contudo, conseguiu convencê-lo, trazendo-o para o projeto do filme: além da co-direção, Miller ainda fez uma participação como ator, interpretando o personagem de um padre, no confessionário, que ouve os pecados de Marv.O resultado de Sin City para o cinema é brilhante.
Quentin Tarantino chegou a dizer que Miller havia “criado” o Michey Rourke com o personagem do Marv. De fato, no filme, a atuação de Rourke é a que mais se aproxima dos quadrinhos. Por outro lado, a postura da atriz Jessica Alba, que fez a stripper Nancy, recusando-se a fazer cenas de nudez, comprometeu um pouco a vida do seu personagem. Nos quadrinhos, claro, não existe esse tipo de “moralismo”. A stripper tira a roupa e seus traços estão mais próximos do tipo de bar que ela trabalha, ou seja, ela não aparece como uma mulher linda e perfeita no estilo “top model”.Contudo, o principal problema da adaptação cinematográfica de Sin City foi a ausência da figura da mãe de Marv. No filme, ela é citada apenas quando os policiais desejam obrigá-lo a assinar a sua confissão. Nos quadrinhos, Miller dedica alguns “quadros” a ela. Poucos, mas fundamentais para entender a importância da personagem na vida de Marv. Ela aparece como uma mãe cuidadosa, que se preocupa com a hora que o filho chega em casa, como se tratasse de um adolescente. Marv também demonstra um cuidado com a mãe, não quer acordá-la, não deseja incomodá-la. Essa relação é importante para entender quem é o Marv, ou seja, mesmo sendo considerado um psicopata, ele era uma pessoa de princípios. Por exemplo, apesar de todas as evidências, quanto ao principal responsável pelos assassinatos, levarem ao Bispo Rork, Marv procura ter certeza antes de assassiná-lo.Outro dilema em Sin City trata do que seria o “real” ou a “imaginação”. Marv precisa de remédios, havia sido preso, era um “marginal”. A normalidade e a lei seriam representadas pelas instituições, como a polícia e a igreja. Entretanto, Marv respeita as mulheres – “I don’t hurt girls” - e não gosta de injustiças. Os policiais são assassinos e corruptos. O bispo é um chefe de todo o processo de assassinatos das prostitutas. No filme, ele afirma: “they were all wores. Nobody cares for them.” Claro que o assassinato de prostitutas “sem valor” remete, de imediato, a figura de Jack, o Estripador. Em outras palavras, para quê prender um assassino se as vítimas seriam “apenas” prostitutas? De certa forma, a imagem que é passada seria a de que o próprio assassino estaria fazendo um “favor” à sociedade na medida em que ele estava “limpando” as ruas...O tema do amor foi retomado como algo “puro”, mesmo considerando o clima de violência e de marginalidade. Para Marv, bastou uma noite com a Goldie para ele se apaixonar e levar adiante o projeto de vingança da morte de sua amada. Apesar dela ter omitido que era prostituta, Marv a agradece por ter revelado as pistas que o levariam a descobrir os crimes do bispo e do seu protegido, Kevin. Esse último é mostrado como um “nerd”, usa óculos, uma blusa de moleton, e nada na sua aparência de “bom menino” poderia revelar que trata-se, de fato, de um “psico-killer”.No embate entre Rork e Marv, aparecem, respectivamente, nos discursos, a sofisticação – “he just didn’t eat their bodies, he ate their souls” – e a simplicidade – “I just know it’s pretty weird to eat people”, o que choca com o conteúdo de cada mensagem, na medida em que o bispo tentava justificar os assassinatos – falando em “almas” – e Marv dizia apenas que não era normal “comer gente”. Ou seja, a forma sofisticada de um discurso omite uma mensagem equivocada, enquanto a fala simples defende uma postura ética. No final do diálogo, Rork não deixa se convencer – ele estaria certo, seria o “normal”, o “bom”, o “civilizado”, e Marv, por outro lado, representaria a “violência”, a “barbárie”, a “anormalidade” – pois, abraçando a cabeça de seu protegido, afirma: “Kevin, we’re going home”, ou seja, estaria indo para o paraíso, para o lugar dos “santos”. Marv é levado preso e, depois, condenado à morte – o que parece não incomodá-lo – “it’s damn time...”, ele afirma no filme.Sin City, o filme, mostra ainda a história de outros personagens de Frank Miller, como Dwight McCarthy e John Hartigan. Mas... essas são outras histórias...
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MEIA-IDADE
Com as melhores condições de saúde e higiene, as inovações tecnológicas e o avanço da medicina, as pessoas passaram a ter uma vida mais longa. Antes, alguém com 30 anos parecia velho, com muitas rugas e o olhar de cansaço. O trabalho manual era predominante, no capitalismo, até fins do século XIX e parte do século XX. Trabalho era sinônimo de sofrimento. Daí, a importância das férias e da aposentadoria.
Atualmente, em muitos países, o trabalho manual, nas fábricas, não é hegemônico mais. Uma pessoa de 30 anos não aparenta ser velha. Hoje, talvez, a mulher "balzaquiana" teria outro perfil ou outra idade. Numa sociedade como a nossa, que tudo tornar-se mercadoria, sendo descartável em seguida, e a imagem é mais importante do que a realidade, os conceitos devem ser repensados.
Quando se fala em crise de meia-idade, tradicionalmente, a definimos considerando a primeira metade vivida pela pessoa, que seria uma fase de ascensão e de realização de projetos - cursar uma faculdade, conseguir um bom emprego, ter casa e carro próprios - e a segunda metade, quando o corpo não responderia mais aos desejos da mente e o indivíduo seria menos interessante para a sociedade, seja em termos de produtividade (não teria a força da juventude) ou mesmo de "atratividade" (a sociedade do consumo seria para jovens e bonitos).
Entretanto, a realidade não é mais a mesma. O rock and roll sempre foi, por definição, uma música da juventude e da rebeldia. Um dos seus ícones, Mick Jagger, com 67 anos, continua gravando e fazendo shows com sua banda, The Rolling Stones, para grandes públicos em estádios, sendo a maioria de jovens na platéia. Jagger, claro, usa todos os recursos disponíveis para mostrar que o "tempo não passou". O que parece apresentar resultados, visto que suas últimas tournées foram sucesso de público.
Os tais recursos de Mick Jagger, como pintar o cabelo, fazer plásticas, manter um corpo magro e saudável, usar tênis e camiseta, são usados por outras pessoas. Aqui, os exemplos clássicos do homem de meia-idade permanecem: tentar parecer jovem, comprar um carro esporte vermelho, arrumar uma namorada jovem, fazer plásticas e, em alguns casos, ostentar suposta riqueza, com pulseiras de ouro. Como em qualquer idade, o uso de recursos e acessórios podem funcionar para uns e podem não ser interessante para outros. Dependerá mais da individualidade de cada um, de sua personalidade, do que da idade. Ser considerada uma pessoa de "mau-gosto" não é exclusividade de alguma idade.
Se os Rolling Stones podem ser considerados bem sucedidos nos objetivos de usar um estilo de música de jovens em proveito próprio, mesmo após os 60 anos, isso, porém não acontece com outros músicos ou bandas, como, para citar um exemplo brasileiro, é o caso do grupo Roupa Nova - o sucesso não é tão grande como antes e em seus shows, predomina um público mais velho.
Assim, o conceito de crise de meia-idade aparece mais com uma problemática, que apresenta variáveis diferentes e contraditórias, e que nem por isso podem ser consideradas simplesmente falsas ou verdadeiras. Alguns diriam que "esta seria mais uma temática do pós-modernismo"... Eu não concordo com esta afirmação, mas isso seria assunto para outro artigo.
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MODELOS
Quem foi meu aluno, sabe que o que escrevo, nesses textos opinativos, era o que eu dizia em sala de aula. Apesar de trabalhar com a disciplina de "Política", alguns achavam que eu falava muito de sexo... Na verdade, eu falava sobre tudo, mas sempre voltava ao conteúdo da disciplina.
Entretanto, não era sobre isso que eu queria escrever. Quero tratar mais uma vez da relação entre o homem e a mulher. Na sociedade atual, parece-me que o ponto de vista masculino poderia ser representado pela série "Two and Half Men". A visão feminina estaria na série "Sex and The City". Estou generalizando, claro. A falta de rigor científico é a grande vantagem dos "textos opinativos"...
Enfim, parece que "Sex and The City" tratou de todos os mitos femininos - e por conseqüência dos tabus masculinos. Não existe novidade alguma nisto. A mulher que quer pensar sobre a sua natureza deve, naturalmente, ler o "Segundo Sexo" de Simone de Beauvoir. O resto seria detalhe.
Como o cartunista Angeli, tenho certa implicância com o termo "politicamente correto". Nunca fui viciado em cigarro - ou outro coisa - na minha vida, mas passei a fumar recentemente, meio por causa disto: não pode! Por favor! Nunca me importei com fumaça de cigarro, mesmo não sendo fumante.
O que não suporto é censura e pseudo-moralismo. Um dos méritos de "Sex and The City" é esse: a personagem principal fuma o tempo todo e tem que lidar com as limitações que a sociedade atual coloca ao seu vício. O modelo masculino da série - Mr. Big (Freud daria risadas com o nome...) - fuma, mas só charuto "Cohiba" (reconheço que ele tem bom gosto...). O personagem Charlie Harper só fuma charutos também. Ele não faz propaganda da marca, mas, visivelmente, a sua caixa de charutos é da "Cohiba".
Em suma, de acordo com a ideologia atual, devemos acreditar num desenvolvimento sustentável, evitar os sacos plásticos e economizar água - mijar durante o banho, como mostra aquela propaganda... Não dá para ser contra a vida. Entretanto, outra coisa é negar a natureza humana. O que significa isso? Simples, com base em Freud, o indivíduo lida com a contradição entre o amor pela vida e o desejo de auto-destruição - o segundo vence, claro, pois, no final, a pessoa morre. Em outras palavras, o chamado "desenvolvimento sustentável" convive com países que possuem bombas atômicas que poderiam destruir o planeta. Reduzir o número de bombas seria como um sedentário começar a fazer exercícios regularmente após os 50 anos, imaginando que isso prolongaria a sua vida... Não esqueça: você foi sedentário até essa idade pelo seu lado auto-destrutivo... Você nasce para morrer. É isso. É tão óbvio e tão difícil de aceitar. O mundo existe sem você. O universo existe sem a humanidade. O que significa o planeta terra? Não somos importantes nem na nossa galáxia, o que dirá do ponto de vista do universo?
Até a Idade Média, fazia sentido acreditar que tudo girava em torno da terra e do homem. Mas, com a o avanço da ciência e da filosofia, acreditar nesses princípios seria como esperar sinceramente o Papel Noel numa noite de natal, com neve, num país tropical...
Ironia. Cinismo. Ceticismo. O que restou ao homem do século XXI ?! ...
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MULHERES - COMO CONQUISTAR AS MULHERES?
Em um artigo publicado na internet - http://www.cracked.com/funny-2607-why-women-love-jerks/ - são apresentados os motivos que levariam as mulheres a ficar com os homens "idiotas" ("jerks"): cocaína, álcool, dinheiro, celebridade, poder, músculos e vingança.
Todos os motivos apresentados estão associados a uma única coisa: ilusão. Essas mulheres imaginam que algo do outro realizaria o seu desejo. O que levaria uma garota ficar com um cara que possui uma Ferrari? O carro não é dela. Ela vai passear no carro, "se mostrar" no carro do outro... É uma ilusão, pois ela poderá fazer isso só enquanto durar a relação com esse homem. Provavelmente, o homem que escolhe andar num carro muito caro e da moda, quer aparecer também e, ao mesmo tempo, usar o seu "objeto de desejo" como "isca" para algumas mulheres viverem suas fantasias. Sim, mulheres no plural, pois dificilmente esse tipo de homem, que fez um investimento tão alto, pensaria em ficar apenas com uma mulher. Ele conta com a ilusão dela para realizar a sua própria fantasia: ficar com todas...
O jovem, algumas vezes, fica indignado: como aquele cara conseguiu ficar com aquela menina (e não com ele)? Primeiro, esse tipo de questão representa um atestado de incompetência. Segundo, pode ser um daqueles motivos citados antes (ou não). Terceiro, pode ser um sentimento verdadeiro ou a garota sentiu-se atraída por algo que o jovem da pergunta não possui (ainda): maturidade, por exemplo.
De fato, essas temáticas têm mais a ver com "a idade mental" do indivíduo do que com a sua certidão de nascimento. Em outras palavras, existem homens com mais de 60 anos que ainda acreditam que o dinheiro pode comprar tudo, inclusive "todas" as mulheres. Ser alienado (e viver de ilusão) não está relacionado à idade. Trata-se de uma escolha de cada um, assim como assumir os atos e evitar colocar a culpa no outro para justificar o próprio fracasso.
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MULHERES - NATURAIS E ARTIFICIAIS
Antes, até a década de 1970, para os brasileiros, sobretudo depois do lançamento da revista "Homem" - que era uma versão da Playboy norte-americana -, havia uma diferença clara entre as mulheres do nosso país daquelas da grande potência capitalista mundial: aqui, valorizava-se a bunda e lá, os seios. Pronto, era isso.
Nos anos 1980, houve o fenômeno Roberta Close - capa, não por caso, de um livro chamado "O que é pós-modernismo" (Editora Brasiliense) -, um travesti, que apareceu várias vezes na Playboy brasileira (a antiga "Homem") e fez "escola", na medida em que muitas mulheres copiavam o seu estilo na época. Foi uma confusão na mentalidade machista brasileira. Desde então, o travesti, com hormônios e o uso de silicone, passou a se parecer cada mais mais com uma bela mulher.
As coisas mudaram depois disto. As mulheres, não só as brasileiras, começaram a utilizar o silicone. No nosso caso, foi uma mudança significativa, afinal, antes, normalmente, "elas tinham bunda, mas peitos pequenos". Com o silicone, acabou esta história. Quem quiser pode ter peito e bunda.
É natural ou não? Quem se importa? A frase "os peitos são meus sim, pois foi eu que comprei" passou a ser comum e demonstrava a falta de constrangimento das mulheres. As revistas masculinas ainda contavam com a ajuda do Photoshop e outros recursos tecnológicos.
Vinicius de Moraes afirmava: "desculpem-me as feias, mas beleza é fundamental." O que antes, para alguns, seria a ditadura da beleza, tornou-se a ditadura da imagem. As mulheres sempre usaram recursos para ficaram mais bonitas: brincos, colocares, roupas... Ultimamente, os recursos aumentaram... Seria apenas isso? O que uma mulher "produzida" para uma capa de revista, com todos os recursos "tradicionais" - maquiagem, cabelo, entre outros - e "tecnológicos" - iluminação, o uso do computador na edição das imagens -, teria a ver com uma mulher "comum", que estuda, trabalha e tem filhos? A mulher não poderia envelhecer mais, apresentar as suas rugas e as marcas da idade?
Na prática cotidiana, parece que as mulheres "comuns" tentam copiar as mulheres "produzidas" pelas revistas e outros meios de comunicação, mesmo sabendo que seria impossível atingir tal beleza, pois ela seria "fabricada", em suma, seria artificial. Com as cirurgias plásticas, a lipoaspiração e o uso de silicone, as mulheres "comuns" sonham em tornar-se "artificiais".
E os homens diante de todas estas mudanças? Aparentemente, para as mulheres, eles não fazem diferença, porque elas usam tudo isso, primeiro, para elas se sentirem bem e, depois, para concorrer com as amigas (ver o sucesso de "Sex and the city"). O olhar masculino é óbvio demais para perceber ou questionar tantos detalhes, não por acaso, muitas mulheres afirmam que "os homens só querem uma coisa e sempre foi assim." Talvez elas estejam certas. O que lembra, aliás, uma afirmação de Nelson Rodrigues: "(...) a mulher é uma potência fantástica, devido à atração sexual. Isso lhe dá um instrumento de domínio, todo sujeito que tem grande atração sexual por uma mulher está liquidado. Ela exerce o poder e ele a submissão."
O poder, neste caso, seria aquele conceito usado por Michel Foucault, relacionado as micro relações na sociedade. De qualquer maneira, homens e mulheres são diferentes. Mudam as sociedades e as épocas, mas esta diferença permanece, pois ela é, antes de tudo, biológica. Nisto, alguns poderiam lembrar do amor... como ele seria possível? Não existe uma resposta única e, muito menos, satisfatória para tal questão. Conviver com as diferenças e as dúvidas faz parte da construção da individualidade de cada um. Saber que não existem respostas definitivas representa um sinal de maturidade.
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MULHERES - SOLTEIRAS E INTELIGENTES?
Se antes dos 18 anos fica a sensação que o tempo não passa, depois da maioridade, para muitos, o tempo "voa"... Numa época como a atual, que os filhos matam os pais por motivos cada vez mais fúteis e que a tecnologia atinge quase todos os níveis sociais - celulares e internet, por exemplo -, aquela sensação permanece, mas de uma maneira diferente.
A crianças encurtam a infância, querem se vestir e comportar como adultos. Na adolescência, com o uso de vários recursos, entre eles as carteiras falsas, todos podem, de fato, passar por adultos, tanto do ponto de vista da sexualidade como quanto ao uso de bebidas alcoólicas, cigarros, drogas, entre outros "privilégios" da maioridade.
É comum a gravidez em meninas com menos de 15 anos. Casos de alcoolismo não são raros. A situação torna-se complicada, na medida em que as pessoas nesta idade ainda não têm experiência para avaliar o que seria certo ou errado e não sabem que os atos geram, necessariamente, conseqüências, podendo ser positivas ou negativas.
Outro fato interessante é que, quando realmente chegam aos 18 anos, parecem cansadas "daquela vida" e nada parece ser novidade. A partir deste momento, os comportamentos divergem, os homens querendo ficar com garotas mais novas e as mulheres achando óbvias as cantadas de "linda e gostosa" e demonstrando tédio naquilo que, antes, era bom: beijar um cara diferente toda noite. Elas ficam mais maduras e seletivas.
Assim, se deparam com um problema realmente novo: os homens, normalmente, preferem aquelas estilo "Marylin Monroe" e não as que questionam e não são ingênuas mais. Com a passar dos anos, a tendência é a situação ficar mais complicada. Quando finalmente elas decidem que querem algo sério, percebem que não existem muitas escolhas no universo masculino. Pior, descobrem que elas deixaram de ser interessantes para os homens de uma maneira geral, que preferem as mais novas e sem tanta experiência.
O dilema pode tornar-se desespero. As alternativas não parecem boas: (1) ficar solteira - mesmo admitindo que o lado emocional ficaria fragilizado e traria problemas como solidão, carência e crises de choro -, (2) admitir que não dá para "concorrer" com as mais novas em condições de igualdade - afinal, elas são "escolhidas" pelos homens - e procurar namorar e casar o quanto antes, para isso, claro, terá que fazer concessões quanto ao "príncipe encantado", o que significa que terá de aceitar um homem com filhos ou divorciado ou paquerador ou desempregado, entre outras características negativas e (3) viver no mundo da fantasia, fingir que a idade não passou, continuar vivendo as noitadas como se nada tivesse mudado, mesmo percebendo que, na prática, é tratada maneira diferente pelas pessoas, sobretudo pelos homens. No caso da terceira alternativa, o excesso de bebidas alcoólicas ajuda na fantasia, mas o dia seguinte sempre chega e, com ele, podem vir a ressaca alcoólica e ainda aquela outra, pior, a ressaca moral.
Muitos podem dizer que eu sou pessimista. Outros podem concordar e afirmar que isso tudo é resultado de uma sociedade machista. De qualquer maneira, estas são as minhas impressões sobre os relacionamentos atuais.
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MUNDO
Gosto de datas relacionadas ao passado.
Recentemente, as pessoas falam sobre datas no futuro.
No filme 2012, claro, a referência é este o ano, como o fim do mundo, conforme a profecia dos Maias. Parece que Nostradamus, em suas profecias, teria escolhido este ano para declarar a mesma coisa.
Hoje, 9 de março de 2010, vi, uma chamada de "Supernatural" (Warner), com a pergunta: "o que você faria se hoje fosse o seu último dia na terra?"
Tudo isso faz lembrar uma antiga música do R.E.M.: "it's the end of the world and I feel fine" ("isso é o fim do mundo e me sinto bem").
O interessante, nesta temática, é como o "fim" é tratado no "coletivo". A morte é percebida como algo "geral", de todos. Portanto, um indivíduo isolado não deveria ficar preocupado, na medida em que não é o fim dele, especificamente, mas é o fim do mundo.
Não pensar em si mesmo e transferir as preocupações para o outro: eis uma forma de fugir dos problemas.
Fazer este exercício, não mais enfatizando o indivíduo especificamente - com nome, endereço e data de nascimento - mas destacando o a sociedade - a humanidade - parece ter a mesma finalidade, ou seja, fuga de si mesmo.
A maioria, aparentemente, não gosta de pensar e conversar sobre a própria morte. Contudo, tratar de uma "morte coletiva" - o fim do mundo - parece algo aceitável no momento.
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NAMORAR
Eu sei que tenho sido muito crítico no que diz respeito às relações amorosas. Estou solteiro, talvez isso explique um pouco o meu ponto de vista. Contudo, quem lê meus textos, reconhece que tenho argumentos razoáveis para defender o meu descrédito. Isso vem da experiência. Minha psicoterapeuta costumava dizer que eu era um "namorador", não daquele tipo que namora muitas, mas do tipo que gosta de namorar, que fica muito tempo com a mesma garota.
Bom, o conceito de namoro parece polêmico hoje em dia. Para mim, ele precisa possuir algumas características básicas:
1. sentimento e uma proposta de exclusividade (que, na prática, raramente é cumprida);
2. precisa durar mais que dois meses;
3. precisa ser assumido e, portanto, ter o consentimento dos pais.
A partir dessa definição, não posso considerar namoro os meus relacionamentos da adolescência. Assim, acredito que o primeiro ocorreu entre 1983 e 1985. Pela duração e pela intensidade, foi fundamental para a minha vida. Depois, outro namoro entre 1985 e 1986. Não citarei nomes, claro. Em 1987, mais um namoro de alguns meses. Entre 1988 e 1989, outra relação importante. Em 1990, uma namoro rápido, sem um envolvimento aprofundado. Entre 1991 e 1992, outro namoro. Em 1993, comecei a namorar uma garota que havia ficado antes. O namoro durou até metade de 1994. Daí, veio outra relação, que de namoro tornou-se casamento. Tudo ocorreu entre 1994 e 2006. Após a separação, voltei a namorar, dessa vez durou entre 2006 e 2008. Depois, o último namoro, entre 2008 e 2009.
Durante todo esse tempo, nos intervalos (ou não) fiquei com muitas outras garotas. Tratava-se do "one night stand". Sempre procurei ser sincero nas relações, o que não me impediu de cometer erros e magoar muitas garotas. No "Two and Half Men", quando falam de amor, o Jake pergunta para o Charlie: "quantas ex-namoradas iriam no seu velório?" Boa pergunta. No meu caso, eu não faço a mínima idéia. Eu sei que muitas não me cumprimentam mais e que outras me odeiam e inventam coisas a meu respeito. Deve ser normal.
Eu não guardo ressentimentos. Adorei os meus namoros e o meu casamento. Tenho o maior respeito pelas pessoas que conviveram comigo. Infelizmente, as minhas relações não deram certo. Por isso, aliás, estou solteiro... Não sou daquele tipo que nunca desiste do amor, tão comum nas novelas e nos filmes. Sou mais prático: não vou dizer que "te amo" no primeiro encontro e "nem que você tem os olhos mais lindos do mundo" (Charlie Harper). Não me importo em ficar sozinho, nem de sair sozinho. Gosto de gente interessante e de conversar. Para isso, não precisa existir namoro. No final, o que fica, então? Não sei. Nem estou preocupado com isso (namorar, ficar ou não)...
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NIILISMO
A história do pensamento ocidental terminou em 1949, com a morte de Freud. O que veio depois disso foram apenas revisões, continuidades e descontinuidades.
O estruturalismo do século XX foi influenciado decisivamente por Nietzsche. Lacan fez uma nova leitura de Freud, assim como Foucault, baseado em Nietzsche, apresentou novos objetos de estudo.
A teoria de Marx influenciou as revoluções comunistas da Rússia, da China e de Cuba. Houve várias re-leituras no marxismo, como Gramsci, Lênin, Trotsky e Lukács. O pensamento de Marx influenciou ainda a Escola de Frankfurt e os historiadores ingleses, como Eric Hobsbawm, E.P. Thompson e Perry Anderson. Na França. Althusser tentou, sem sucesso, apresentar um nova interpretação da teoria o materialismo histórico.
De qualquer maneira, tudo foi feito a partir de bases filosóficas pré-estabelecidas. Neste sentido, o século XX pode ser caracterizado por qualquer coisa, exceto pela originalidade no pensamento. Com o desenvolvimento da indústria cultural, o conhecimento ficou superficial. Tudo tornou-se mercadoria descartável.
No final do século, veio a vitória do marketing, o que transformou a imagem em algo mais importante do que a realidade. O avanço tecnológico contribuiu para esses processo.
O século acabou, efetivamente, em 11 de setembro de 2001, com a derrubada das torres do World Trade Center. Em termos filosóficos, contudo, ele já estava morto. Dostoyevsty estava correto na hipótese de que "o radicalismo político e o pensamento liberal ocidental" (The good life, p. 103) levaria ao niilismo. É isso que vivemos hoje.
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ORGULHOSO
Gosto de ler entrevistas e livros. Isso diminui o meu interesse por conversas longas e sérias com as pessoas. Quando acontece um eventual encontro, como todas as pessoas, falo banalidades até o "ok, nos vemos depois".
Ontem, porém, uma conversa que era para ser assim, educada, com cuidados e elogios mútuos, tornou-se uma discussão. Não foi uma briga. Mas com a quebra da barreira das "banalidades", houve a possibilidade de cada um dizer o que realmente pensa do outro. No meu caso, ouvi coisas interessantes. Fui definido como um indivíduo orgulhoso, rancoroso, que só reclama e vive do passado, e que sonhava em ser filho único (tenho quatro irmãos).
Não rejeito a hipótese do filho único. Você sempre deseja o que não existe. Se eu fosse filho único, reclamaria por não ter tido irmãos.
Sim, eu reclamo. Pelo que percebi, devo reclamar muito das pessoas e das coisas. Não achava que era tanto, mas, enfim...
O "orgulhoso" foi novidade para mim. Sempre achei que era humilde e solidário. Sempre me considerei um "patholical people pleaser", o que seria resultado da minha depressão.
Não troco o modelo das minhas roupas - tênis, jeans e camiseta preta - e não troco de carro e moro no mesmo lugar. Ouvi pessoas falarem que ficavam admiradas de um indivíduo, que possuía doutorado e havia publicados livros, se mostrar um pessoa tão simples e disponível em bate papo, sem demonstrar arrogância ou ares de superioridade.
Assim, ser qualificado de "orgulhoso" foi algo novo. O pior é que eu acredito que deve ter um fundo de verdade... em algum lugar, pelo menos... deve ser algo complexo que recuso admitir ou deixo de me aprofundar em questões dessa natureza.
Agora o que eu não concordo foi com o tal de "rancoroso" e da minha relação com o "passado". Por ser um "patholical people pleaser", sofri muito com as pessoas, que me tratavam como um idiota, na medida em que me sacaneavam, pediam desculpas, depois sacaneavam novamente, e assim por diante. Eu não sou masoquista. Uma hora isso tinha que parar. Não esqueço as coisas boas nem as más que as pessoas façam comigo. Se isso é rancor, tudo bem.
Esquecimento é o ponto fundamental. Está associado, claro, ao "passado". Sim, eu lembro de coisas desde a minha infância até a vida adulta. Eu assumo as minhas experiências boas e ruins. Eu fiz psicoterapia de 1995 a 2009. Eu sou historiador. Portanto, se existe algo que sempre levo em consideração é o "passado". Não existe nada de errado nisto.
Quem deixa de viver é justamente aquele que não assume o que faz ou que "esquece" o que fez. A teoria do inconsciente do Freud tem como base dois pontos: os sonhos e o esquecimento. Nos sonhos, somos livres e realizamos os desejos que não seriam possíveis na vida cotidiana.
Quanto ao segundo ponto, é simples: "esquecemos pois temos medo de lembrar." (Bertrand Russell) É isso. O indivíduo tenta esquecer o passado pois tem medo de perceber o que ele fez de fato. É o mesmo indivíduo que diz que "vive o presente", mas, na verdade, ele vive uma "fantasia do presente", pois ele é um alienado que não consegue ver nada além do imediato.
Por mais que você queira, você não vive o presente sem considerar o passado. A causa da dor que você sente no presente está no passado. Você pode focar no presente, mas o seu inconsciente te busca para o passado, gerando crise, insônia e outras perturbações no seu organismo.
Por isso, você passa mal, vai ao médico, faz inúmeros exames e eles não mostram nada. Você tenta ser racional e fugir do desprazer. Esquece que é humano. O seu inconsciente é o vilão que te lembra - mesmo você não querendo - do que você de fato é, do que você fez consigo e com os outros. Você não consegue "desligar" o seu inconsciente. Ele "ataca" nos seus sonhos e no seu organismo - e não aparece no seu exames médicos.
Em um resumo sobre o pensamento do Heidegger, na coleção "Os Pensadores", é dito que o indivíduo abandona o seu "ser" - uma espécie de traição - fugindo para as "mesquinharias do cotidiano". Ele somente superaria isso com a angústia - quando todas as coisas do mundo perdem o sentido, quando tudo aponta "para o nada. O homem sente-se, assim, como um ser-para-a-morte." Em suma, tudo está associado à temporalidade, "assumindo seu passado e, ao mesmo tempo, seu projeto de ser, o homem afirma sua presença no mundo. Ultrapassa então o estágio da angústia e toma o destino nas próprias mãos." (p. 9)
Voltando a minha conversa: eu não vivo do passado, o que acontece é que eu não desconsidero o passado. Já falei algumas vezes que não sou saudosista e que morreria de tédio se tivesse que repetir as experiências da minha vida. Eu tenho consciência do passado, para entender o presente. É diferente. Quanto ao futuro, trata-se de um conceito, de algo que não existe. Para muitos, a função do futuro é gerar ansiedade ou ser uma desculpa para "fugir" do presente, já que o passado deve ser "esquecido" o quanto antes.
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OSTENTAÇÃO
Está escrito, na Bíblia, que "é mais fácil um camelo passar por um buraco de uma agulha do que um rico entrar no céu." Até a Idade Média, a usura era pecado. (Não cabe aqui discutir a própria riqueza da Igreja Católica, pois isso seria outro assunto.) Na Grécia Antiga, a simplicidade era uma qualidade. O que mudou? Os valores no capitalismo seriam outros. A Reforma Protestante foi, de certa forma, uma "adequação" dos princípios cristãos ao novo modo de produção. Ser rico passou a ser percebido como algo bom. Mais do que isso, passou a ser encorajado. Ser pobre, sofrer e esperar a recompensa após a morte, no paraíso, deixou de ser a palavra de ordem da sociedade.
Na Idade Média, os nobres cultivam o ócio - como os cidadãos na Grécia Antiga. Os burgueses enalteciam o trabalho, apesar de serem os patrões e, portanto, mandar em quem verdadeiramente labutava: o proletariado. Os burgueses eram mal vistos pelos nobres, possuindo tendo o poder econômico. Características com a avareza ou a ostentação eram desprezadas pela nobreza.
Com o tempo, a nobreza tornou-se uma classe em extinção. Entre os burgueses, os detentores do capital, aqueles 10 % da população, assumiram uma postura mais discreta, mesmo considerando as suas grandes fortunas. Coube ao chamado "novo rico" apelar para a ostentação - e o conseqüente desprezo daqueles que tinha mais dinheiro que eles.
A ostentação é identificada, primeiro, pelo carro: tem que ser grande, importado e, se possível, vermelho. Não importa de veio de contra-bando. Não importa nem se é uma Ferrari original. O que vale é mostrar para os outros. Muitos, contrariados, compram carros grandes, mas nacionais, e em infinitas parcelas. O objetivo, claro, seria o mesmo: desfilar e aparecer para a sociedade. Outros têm que escolher entre ter um imóvel próprio ou um carro da moda. O dinheiro do "novo rico" nem sempre dá para possuir as duas coisas. Neste caso, a escolha recaí sobre o carro, pois, com ele, você é visto.
O "novo rico" acha que engana. Acredita que é reconhecido como "rico", por causa do carro ou de suas jóias, que sempre ficam à mostra. Na realidade, isso não acontece. Os tais ricos mesmo - 10 % da população - não dão a mínima para esses que se acham em ascensão. Os mais pobres também não acreditam, acham graça ou fazem piadas das roupas, plásticas e jóias; mas não desprezam as boas gorjetas dadas pelos "novos ricos" e, nesse momento, obviamente, fingem que acreditam em toda aquela encenação.
Não existe defesa da ostentação de riqueza. Nada justifica tal mal gosto. Então, por quê ela acontece? Provavelmente por insegurança, pela necessidade de buscar a aprovação do outro. Seja qual for o motivo, ela é equivocada. Nada justifica tal mal gosto.
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PAIS
Nos filmes e seriados dos Estados Unidos, é passada a imagem de que morar com os pais depois da faculdade seria um sinal de fracasso. Seria o famoso, por lá, "loser". Ou você casa ou mora sozinho. É simples.
Aqui no Brasil, parece ser diferente. Uma vez vi um depoimento de um carioca, na praia, que se orgulhava de nunca ter trabalhado na vida. Eram 25 ou sei lá quantos anos de praia. Literalmente.
Existem os casos das meninas que ficam grávidas, não casam e continuam morando com os pais. Os avós tornam-se pais novamente. Existem ainda aqueles que casam e vão morar "provisoriamente" com os pais.
Existem aquelas que, antigamente, eram chamadas de "solteironas", pois não conseguiam casar e nunca saiam da casa dos pais. O caso oposto é do rapaz que não quer casar e não quer sair da casa dos pais. Afinal, largar as mordomias - roupa passada e lavada, sem pagar aluguel, telefone, energia e água - para quê? Neste caso, ele diz que está cuidando do pai e da mãe. Lembra um pouco um tipo de faculdade no Brasil. Faculdade particular, cobra mensalidades, altos lucros e aparece como "mantenedora" da instituição (e o não o contrário). Irônico.
A questão de sair ou não da casa dos pais é um tema importante na medida em que está associado ao problema da independência do indivíduo. Seus pais podem deixar você dormir com seu parceiro (a) no seu quarto, sem problemas. Entretanto, você ainda vive num "quarto". Esse é o seu espaço. Fora dele, você não tem autonomia. Imagine passar a vida inteira assim? Lembra um pouco a prisão. A pessoa é condenada e tem que limitar toda a sua vida àquele pequeno espaço.
Ser independente é bom, mas é caro e você tem que lidar com um monte de coisas chatas que nem imaginava que existia, afinal, seus pais resolviam esses problemas. Qual seria o caminho, então? Um adolescente responderia rápido: simples, basta casar com uma pessoa rica e sair de casa. OK, porém, você estaria "transferindo" a sua dependência dos seus pais para o seu marido ou sua esposa. Esse é um bom negócio para seu pai e sua mãe, que, finalmente, se livrariam de você. No seu caso, contudo, mudaria pouca coisa. Mudaria o dono, basicamente.
Qual seria a solução? Se você tem mais de 25 anos, você já fez a sua escolha, basta ver onde você mora e quem manda efetivamente na casa. A possibilidade de você mudar de vida é mínima. Continuará assim. É mais cômodo. Portanto, qual seria o problema? Aqui entra o seu futuro namorado ou a sua futura namorada. Como ele (a) fica diante disto? O seu problema passa a ser inventar promessas que nunca serão cumpridas. O problema do outro (a) vem associado a uma velha pergunta: "como vim parar nessa situação?" De imediato, no entanto, a questão seria o café da manhã, feito com todo carinho pelo pai e mãe ou pelo sogro e a sogra. Deprimente.
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PEÃO
Alguém disse que a vida seria uma piada sem graça. Imagine que você fosse um peão em um jogo de xadrez. Seu sentido de existência seria desaparecer primeiro que as outras peças em função de uma estratégia maior - o xeque mate. Você não seria o jogador. Você seria a peça. Mesmo no próprio jogo, você ainda seria a peça menos importante.
A vida não tem sentido, é óbvio. Contudo, é o humor que a faz ficar menos difícil. Rir é fundamental. Rir de si e das situações. Crítica e auto-crítica. Leandro Konder destaca além do humor, a solidariedade, a ética. Concordo.
Dar conta de si e ajudar os outros. Muitos argumentam que isso seria ilusão, que, na sociedade, o que vale é a lei do mais forte. Discordo.
Mesmo se isso fosse verdade, em nada deveria alterar o sentido que o indivíduo dá a sua vida. Ele é o responsável pelos seus atos. E Deus? Sartre estava correto quando afirmava que a existência ou não de um Criador em nada mudaria a postura do indivíduo diante da vida, afinal, "nada pode salvá-lo de si mesmo."
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PhD
Raros são os países nos quais o PhD - aquele que possui doutorado - é valorizado. Ele é visto com respeito, mas, ao mesmo tempo, é percebido ainda como um excêntrico, alguém que estudou muito. Não há novidade nisto.
A universidade foi criada como um espaço de elite, que visava apresentar soluções para a comunidade. Umberto Eco lembra que, na Itália e em muitos países, existem também as
universidades de massa, com cursos noturnos e estudantes pouco preparados para o exercício da pesquisa científica. O Brasil se enquadra neste último padrão. Atualmente, os universitários, em sua maioria, encontram-se em escolas particulares.
Em um artigo publicado na revista Caros Amigos (n. 120), em 2007, Alanna G. Garcia Alaniz afirmava:
"Nos últimos dois anos, a cada fim de semestre, surtos de pânico acometem o corpo docente das instituições particulares de ensino superior. É que esse é o período de "tiro ao doutor' ."
Na sua opinião, essa realidade vinha desde 2005. Estamos em 2010 e nada mudou. O curioso, aqui no Brasil, é que a desvalorização do PhD ocorre dentro da universidade, o seu espaço por excelência. Uma coisa é o cidadão comum não entender exatamente a necessidade e o rigor da produção científica, outra é, dentro de um lugar que lida com o conhecimento, ser valorizado aquele profissional que sabe menos. Trata-se do elogio da ignorância.
O excêntrico, no caso do nosso país, é mostrado como tolo por ter estudado demais. Os outros que não estudaram e enriqueceram ou ocupam lugares importantes - como o presidente Lula - gostam de ressaltar que atingiram os seus objetivos sem ter que estudar e aqueles que fizeram faculdade se deram mal. Claro que por trás deste discurso de "novo rico" existe o recalque de não ter feito algo - um curso superior - na vida. Com seus carros e suas jóias, tentam demonstrar que isso não seria importante - uma negação que apenas reforça algo mal resolvido, o fracasso de não possuir um saber que o outro tem. O dinheiro não conserta isso. O dinheiro não resolve o complexo de inferioridade nem as outras neuroses.
Alguém que fez graduação, especialização, mestrado e doutorado, não o fez somente pensando em retorno financeiro. Quem realmente quer ganhar dinheiro, só isso, procura caminhos mais simples, como carreiras de jogador de futebol ou de celebridades televisivas - o que não são necessariamente atores, músicos ou jornalistas. O problema do PhD não é econômico, como quer fazer crer muitos proprietários de universidades. A questão da sua desvalorização é algo mais complexo. É uma mensagem negativa que é transmitida para a sociedade: "saber menos é bom e ficar rico em um curto espaço de tempo é ser esperto". Não surpreende, portanto, os altos índices de criminalidade de pessoas entre 15 e 21 anos. Além disto, a imagem de um país "pouco sério" só é reforçada no mercado internacional - não foi por acaso que o presidente Lula foi tratado ironicamente por vários meios de comunicação, como o jornal "Washington Post" e uma tv israelense (o vídeo ficou famoso no You Tube).
O lugar de um PhD é na universidade e ela deve apresentar como metas ensino, pesquisa e extensão. Não vamos inventar a roda. É isso. Fugir desta realidade é querer fazer o outro de tolo. É achar que pode enganar a comunidade internacional com índices forjados. É acreditar que é respeitado, quando, na verdade, é motivo de piada. Acreditam nestas ilusões justamente aquelas pessoas que sabem pouco e estudaram menos. Talvez se tivessem feito uma boa graduação, teriam elementos para questionar e ir além dos discursos oficiais.
Escolher "não saber" e "não estudar" é, de certa forma, escolher a fantasia e não a realidade. A fantasia não se refere somente ao outro ou à sociedade. Ela refere-se principalmente a si mesmo.
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PERIGO
Uma característica marcante do ser humano é a covardia. Para salvar a própria pele, o indivíduo é capaz de tudo. A insensibilidade quanto à dor do outro é apenas uma conseqüência disto. Lembra o final do filme "Ligações Perigosas", quando, para justificar aquilo que não tem justificativa, seria usada a frase: "it's beyond my control" ("está além do meu controle"). No filme - como na vida - a indiferença nem sempre dá certo. Uma hora a máscara cai e com ela desaba toda a segurança, estabilidade e orgulho...
Um fator que pode desarmar a proteção racional, criada por uma pessoa, seria a emoção. Ela derruba. Ela insiste em ficar fora de controle.
Outro fator seria o inconsciente. O pesadelo é o lugar no qual, nos indivíduos "normais", ele aflora. Fora do sonho, pode ser embaraçoso: é a histeria ou o pânico, algo que constrange mais o outro do que você mesmo. No livro "História da Loucura", de Michel Foucault, um dos motivos da exclusão do louco seria esse:
"Em sua forma mais geral, o internamento se explica ou, em todo caso se justifica, pela vontade de evitar o escândalo." (p. 145)
A covardia se esconde atrás da aparência. Por isso, em nossa sociedade, parecer é bem mais importante do que ser. Quem se omite não aparece como covarde, ao contrário, é mostrado como esperto. A crueldade, nas raras vezes em que é assumida, vem associada à suposta natureza humana: "não posso fazer nada, eu sou assim". A culpa, então, estaria fora dele. O indivíduo, nesta perspectiva, seria somente um objeto do destino. Trata-se da velha história de que alguém tem que fazer o "serviço sujo".
É cômodo pensar assim. É fácil não assumir os próprios atos. É conveniente colocar a culpa no outro. Afinal, tudo isso "está além do seu controle".
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PESADELOS
Quase sempre tenho pesadelos. Eles são resultados de conflitos internos - id, ego e superego - e externos - as cobranças dos "aparelhos" sociais - família, escola, igreja, mídia, entre outros. Diante de tantas pressões e cobranças, internas e externas, como o indivíduo pode realizar os seus desejos?
Historicamente, a igreja existe para controlar os desejos humanos. São as tais regras. Como esquecer os dez mandamentos? Por outro lado, os meios de comunicação, em especial a propaganda, existem para estimular os desejos, tudo dentro de um certo padrão "civilizado", portanto, controlado. As mulheres semi-nuas em propagandas de cerveja, por exemplo, são associações óbvias entre a libido e o consumo. A edição de um jornal que passa na televisão já não aparece tão claramente ao telespectador, pois aquilo precisar parecer a representação de um fato real, de uma verdade. Indiretamente, o indivíduo é influenciado. Com isso, a intenção é estabelecer padrões de comportamento nas famílias, nas escolas e nas relações gerais da sociedade.
Funciona? Na maioria dos casos, sim, apresenta o resultado esperado. No entanto, a relação social não funciona como a matemática. O que pode causar desequilíbrio é o instinto humano. o modelo familiar entra em crise, os alunos não respeitam os professores nas escolas e a maioria evita ir à igreja todo mundo. A sociedade, contudo, não explodiu. Isso quer dizer que as crises sociais são esperadas e toleradas, desde que estejam sob controle.
Mas, quem controla? Quem ganha com isso? A resposta é simples: num mundo material, existe um minoria de privilegiados cada vez mais rica e uma maioria que sustenta o modelo econômico sem participar dos lucros. Isso acontece no mundo inteiro. O modelo atende efetivamente uma minoria. Todos, porém, sentem os seus efeitos. Muitos acreditam que as coisas negativas só acontecem com eles e, pior, se sentem responsáveis pela própria miséria. Se o modelo é geral, a dor é individual. A maioria não consegue associar uma coisa - o capitalismo - com os seus desejos e fracassos particulares. Aqueles que conseguem, tornam-se "outsiders", ou seja, marginais, não no sentido da criminalidade, mas sim como aparecem e são mostrados na sociedade.
O indivíduo, diante da insegurança, tende a acreditar em algo abstrato: o futuro. Ele vive no presente e sonha com o futuro. Tudo vai melhorar. Não pode ficar pior que isso. Pode sim. Sempre pode piorar. Mas isso é outra história. o que importa é que "a invenção do futuro" é um mecanismo para quem deseja controlar o outro no presente. Pense na política, na religião ou, mais simples, na relação amorosa. "O futuro promete"... sim, desde que você realize o desejo do outro na hora. O futuro, neste sentido, não existe. Trata-se apenas de uma estratégia de controle do outro. Funciona, na maioria dos casos, porque, no desespero, precisamos acreditar em qualquer coisa, por mais absurda e irreal que aquela promessa possa parecer.
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POLÊMICAS
Em 1992, Francis Fukuyama gerou certa polêmica da a idéia do "fim da história". Sem uma argumentação consistente, foi criticado por vários intelectuais em todo o mundo. O mérito dele foi ter criado um polêmica, coisa rara atualmente. A história não acabou, mas o mundo ficou chato.
Fukuyama não foi o único "agitador". Louis Althusser, antes, em sua tentativa de associar as idéias do marxismo com o pressupostos do estruturalismo, também atraiu para si bastante atenção e muitas críticas.
No Brasil, Nelson Rodrigues, José Guilherme Merquior e Paulo Francis eram capazes de gerar debates em relação a vários temas. Não vem ao caso, nesse texto pelo menos, se determinado autor tem razão ou não. O interessa é a capacidade levantar polêmicas e levar as pessoas a pensar. Nos Estados Unidos, se nos últimos anos, havia uma figura como Gore Vidal, por outro, atualmente, Noam Chomsky, um grande intelectual, é incapaz de agitar efetivamente o mundo das idéias fora dos muros das universidades.
Na França, até a década de 1980, havia os casos de Michel Foucault e Jean Paul Sartre, intelectuais consagrados que iam para as ruas, emitiam opiniões e participavam de debates relevantes.
Entre os historiadores, E. P. Thompson ganhou alguma expressão na luta contra as armas nucleares. Contudo, os debates destes pesquisadores são específicos e dificilmente atraem a atenção da sociedade. Talvez uma exceção tenham sido os profissionais da "Nouvelle Histoire" nos setenta do século XX.
Hoje em dia, os grandes intelectuais vivos, como Noam Chomsky, Eric Hobsbawm e Umberto Eco, não demonstram interesse ou capacidade de agitar um debate que movimento a sociedade.
Eles não são culpados, afinal, vivemos uma época em que não existem grandes projetos ou esperanças para a humanidade. Após o fim da segunda guerra Mundial, com a bombas atômicas no Japão, depois da revisão do stalinismo em 1956, da crise dos mísseis em Cuba em 1962, da queda do muro de Berlim em 1989 seguida do fim do socialismo real nos países do leste europeu e, finalmente, com a queda das torres do World Trade Center em 2001, parece que, intelectualmente, o mundo parou. Ou, no mínimo, como foi dito antes, ficou muito chato.
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POSSESSIVO
Bertrand Russell, em "O Elogio ao Ócio" (Editora Sextante, p. 78), afirma que "devido à possessividade conjugal, marido e mulher sacrificam com prazer o desejo eventual de uma vida social mais intensa para que o outro não tenha ocasiões de encontrar membros potencialmente perigosos do sexo oposto." Ele refere-se à época que o homem saia para trabalhar e a esposa era quem cuidava da casa e dos filhos. Isso, porém, mudou, os dois trabalham. Contudo, a possessividade conjugal permaneceu. Muitos casais ainda preferem ficar em casa e não ter uma vida social ativa. No máximo, realizam jantares no lar, convidando outros casais, o que, teoricamente, garantiria a possessividade.
Trata-se de uma ilusão, claro. Não existe segurança de fidelidade em relações amorosas. Neste sentido, o casamento (ou namoro) funciona como a religião: é preciso ter fé, é necessário acreditar no impossível. Sim, porque a fidelidade almejada seria aquela plena, que o parceiro desejasse somente a amada e vice-versa. Por isso, é tão comum perguntas como: você deseja outra pessoa? Se eu morrer, você continuaria me amando? O nosso amor é eterno mesmo? Muitas vezes, essas perguntas levam a discussões intermináveis, a partir de algo totalmente abstrato ou que não aconteceu ainda ("se eu morrer...).
Provavelmente a possessividade tenha a ver com a natureza humana. Certamente, ela faz mais sentido no mundo capitalista, no qual a idéia de posse de algo é tão importante. O problema, na relação amorosa, é que, a princípio, não é algo material. O amor é sentimento, é invisível. Como medir isso? Como ter certeza do amor de outro pessoa? Entre os casais, entre as obviedades, uma interessante é questionar se o outro pensa na pessoa amada durante todo o tempo. Isso seria possível?
Mesmo numa relação amorosa de exclusividade, é normal fantasiar - antes, durante ou depois... O problema é admitir isso sem gerar brigas e polêmicas. Talvez a fantasia mais bizarra seja imaginar que o outro não fantasie... Para não ter uma ejaculação precoce e frustrar a mulher, o homem tem que pensar em algo que corte o seu impulso de orgasmo naquele momento e precisa ser algo nada sexual - como numa cena do filme "Vida de Solteiro" ("Singles").
Por outro lado, fantasia e realidade são coisas diferentes. A fantasia não existe para ser realizada. Ela deveria ficar na imaginação. O perigo é misturar fantasia e realidade. Normalmente, a associação entre estas duas dimensões termina mal. Não me referi ao sonho, que é outra coisa completamente diferente. Os sonhos podem ser bons ou ruins. De qualquer maneira, para Freud, eles tratam dos desejos dos indivíduos.
A possessividade é o avesso do desejo. A pessoa prefere que o companheira seja infeliz do seu lado naquele momento, do que realize o desejo dela com outra pessoa e seja feliz. Neste sentido, a história do "eu só penso no seu prazer" é um mito antigo. O indivíduo parte de si mesmo. A vida em sociedade o obriga a respeitar o outro. Daí vem a ética, o que, basicamente, nos diferencia dos outros animais.
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PRECONCEITO
Freud sabia da existência de Nietzsche. Uma vez, ele comentou que achava que Nietzsche tinha tendências homossexuais. Freud, entre outras coisas, associava o homossexualismo ao narcisismo e ao masoquismo. No filme "Les Invansions Barbares", questionando os grandes pensadores, Freud torna-se objeto de dúvida: uma personagem afirma que ele era gay (sem assumir, claro).
A vida particular de cada um não deveria interessar à ninguém. Nos casos citados, o que importa é que os dois pensadores, junto com Marx, definiram as possibilidades do homem a partir do século XX.
De fato, as pessoais são sexuais. Separá-las em categorias, é uma forma ideológica de reforçar os preconceitos.
A homofobia do personagem Charlie Harper, de "Two and Half Men", é mostrada em vários episódios. Num deles, conversando com a sua psicoterapeuta, ele pergunta: "existe a possibilidade de ser gay sem saber?" Alan, seu irmão, com a mesma dúvida, ouve de um amigo gay: "você sente atração por homem?" Essa é a questão chave. Ela define o seu desejo sexual.
Entretanto, em nossa sociedade, a homofobia acaba sendo uma característica da maioria dos heterossexuais. A crítica ao outro aparece como uma espécie de "segurança" quanto a sua própria sexualidade. Existe um medo de ser considerado "gay", o que é normal, visto que, no mundo atual, as pessoas são efetivamente preconceituosas quando o assunto é sexualidade.
De fato, esse jogo hipócrita de aparências é uma bobagem, trata-se apenas de um pretexto para criticar o outro - assim como a cor da pele ou a escolha religiosa - e fugir de si mesmo, evitando qualquer forma de auto-crítica.
Em suma, exceto no caso dos narcisistas, o desejo sexual está associado ao outro. É algo definido a partir de "dentro" e independente da pessoa ter nascido homem ou mulher. Não é algo absoluto. Pode mudar.
O fato de estar num corpo de homem ou de mulher, pode mostrá-lo como heterossexual ou homossexual. Você não escolheu o corpo que iria nascer. Entretanto, você sabe por que tipo de pessoa sente atração.
O complicador, neste processo, é a sociedade em que você vive. Dependendo dela, do momento histórico, a realização do seu desejo pode ser percebida como natural ou "anormal". No último caso, deve ser criticada e até condenada à morte, como ainda hoje ocorre em alguns países.
O que era simplesmente algo natural, a atração sexual, o desejo do ser humano, tornou-se um instrumento para controlar os indivíduos. Na medida em que o sexo deixou de ser um desejo natural e passou a ser uma estratégia de poder, a pessoa deixou de olhar para si, ficou com medo do seu desejo e de sua sexualidade, preferindo representar um papel em que fosse aceito pelos outros como "normal". Deixou de ser sujeito e tornou-se um objeto, que nem pode ser considerado sexual... Em outras palavras, deixou de existir e virou um "fantoche" do outro, que, nesse teatro de dominação, cumpre um papel também, esquecendo, inclusive, por que era tão importante manipular o próximo e desprezar valores como amor e solidariedade.
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PROZAC
Num episódio de "Sex and The City", Carrie apresenta um rapaz a Charlotte, dizendo que ficou com ele e que seu defeito era que, do ponto de vista sexual, ele era uma maníaco. Em seguida, Charlotte se envolveu com o rapaz, mas, para a sua decepção, não demonstrava interesse por sexo. Questionado por Charlotte, ele afirma que não era uma cara muito sexual. Ela conta o que ouviu de Carrie. Em resposta, ele afirma que aquilo era o passado, que depois que começou a tomar Prozac a sua vida mudou e ele encontrou a tranqüilidade, que nada o abalava mais.
Essa história possui um fundo de verdade. Um dos efeitos colaterais dos modernos antidepressivos é justamente afetar a vida sexual do indivíduo. Não causa impotência, mas pode inibir a ejaculação ou, parece que em alguns casos, torna as pessoas menos sexuais. Contudo, muitos pacientes - como o da história - não se importam com estes efeitos, afinal, deixam de sentir a depressão. Isso contradiz a velha associação de Freud entre eros (sexo) e vida - que entraria em contradição, em cada pessoa, com o instinto de morte.
Após a invenção da pílula anticoncepcional e o avanço do movimento feminista, vários mitos foram destruídos, entre eles, a necessidade da mulher ficar virgem até o casamento. Atualmente, homens e mulheres, no mundo ocidental, atuam em condições de igualdade no que diz respeito à problemática sexual. Exatamente nesse período, o estresse torna-se um problema para um número cada vez maior de indivíduos. O resultado é o aumento no uso de antidepressivos, como Prozac e Zoloft (esse é fabricado pela Pfizer, que produz também o Viagra...).
Em suma, parece que nos tornamos "ratos de laboratórios": somos incentivados a consumir mais, o que nos obriga ao excesso de trabalho e isso gera o estresse, que pode ser resolvido com os novos medicamentos... Os efeitos colaterais, muitas vezes, são "resolvidos" com outros remédios... Aquilo que era básico no homem - o desejo sexual para preservar a espécie - é transformado num mecanismo de controle, ou seja, uma loira numa propaganda de cerveja, por exemplo, "serve" para despertar o desejo sexual, que o excesso de trabalho pode inibir a realização (não é por acaso que quando um indivíduo não consegue ereção, uma das justificativas seria o emprego ou a empresa) e que outra propaganda - a do Viagra - apresenta a solução. Somos usados pelas indústrias como fantoches. Não existe nada de novo nesta afirmação. Talvez a novidade seja o desinteresse pelo sexo em troca do bem-estar.
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RELIGIÃO
O Papa admitiu recentemente (novembro de 2010) o uso de preservativos para alguns casos especiais. Do ponto de vista do catolicismo, foi um marco. Do ponto de vista geral, o discurso pode ser percebido como mais uma adequação dos princípios da igreja à sociedade que tenta representar. Essa mesma igreja, em épocas passadas, estava de acordo com a inquisição e as Cruzadas. Para muitos, a prática da tortura foi inventada pelos representantes do catolicismo.
O uso de preservativo é admitir que o sexo não existe apenas para a procriação. Sexo é também prazer e isso era enfatizado por filósofos da antiguidade. Com o cristianismo e a criação (e avanço) da medicina esse quadro mudou:
"Médicos inquietam-se com os efeitos da prática sexual, recomendam de bom grado a abstenção, e declaram preferir a virgindade ao uso dos prazeres. Filósofos condenam qualquer relação que poderia ocorrer fora do casamento, e prescrevem entre os esposos uma fidelidade rigorosa e sem exceção. Enfim, um certa desqualificação doutrinal parece recair sobre o amor pelos rapazes." (FOUCAULT, O cuidado de si, p. 231)
Esses princípios foram impostos à sociedade ocidental. Houve resistências, lutas e condenações ao longo de séculos até chegarmos na década de 1950, período em que se acreditava como verdades absolutas concepções como virgindade, casamento e fidelidade. Além disto, o amor pelos rapazes que era comum na Grécia Antiga, passaria a ser visto com antinatural.
Na década seguinte, ainda no século XX, os princípios começaram a ser problematizados a partir de vários movimentos sociais: jovens, mulheres, negros e homossexuais. Entretanto, após uma década no século XXI, não podemos afirmar que a crença nestes princípios tenha desaparecido. A maioria ainda coloca a fidelidade como norma básica da relação amorosa. A homofobia permanece. Se, por um lado, o mito da virgindade não faz mais sentido, por outro, a idéia do casamento permanece como objetivo para muitos jovens.
Em suma, mudanças de mentalidade são lentas, podem durar décadas ou séculos. Nem sempre a transformação significa evolução ou bem-estar para a maioria. O comum é exatamente ocorrer o contrário. Talvez uma explicação para isso seja a própria condição humana. Esta é uma boa hipótese.
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ROCK - ALGUMAS CONSIDERAÇÕES SOBRE A HISTÓRIA SOCIAL DO ROCK
Não seria possível escrever a história do século XX sem tratar do rock and roll. Isso não significa dizer que ele representou um movimento revolucionário como aqueles que aconteceram na Rússia (1917) ou em Cuba (1959). As mudanças do rock foram diferentes. Elas representavam mais uma transformação no comportamento da sociedade.
Sabemos que a década de 1950 foi o período da guerra fria. De um lado, havia o comunismo, que era mostrado como uma ditadura e, de outro lado, o capitalismo, que era identificado como sinônimo de democracia. A realidade, contudo, não era tão simples. Por trás do "American way of life", havia o racismo, o preconceito contra os pobres e uma política externa que apoiava as ditaduras na América Latina.
Não existiria o rock sem o blues, sendo que esse último sempre esteve associado ao sofrimento dos escravos. Na verdade, o blues lembra os sons da África e as contradições do processo de colonização. Apesar das origens negras, o primeiro grande ídolo do rock não foi Chuck Berry ou Little Richards, mas sim Elvis Presley. Ser branco, contudo, não facilitou as coisas para Presley nos anos cinqüenta. Em suas entrevistas, ele tentava explicar que o rock não era um movimento perigoso para a sociedade. Tratava-se de um contexto - o da Guerra Fria - em que a juventude americana precisava ser protegida das idéias diferentes. No caso do rock, essas idéias viriam dos negros. Rock e racismo: estes problemas mostravam outra realidade dos Estados Unidos, além daquela ideologia pregada na Guerra Fria. Havia ainda o movimento beatnic. As suas idéias, poesias e experiências foram fundamentais para mudar o comportamento das pessoas.
Provavelmente não existiria o movimento hippie sem as idéias da geração beat. Mas certamente na década de 1960 surgiria um novo movimento social, inclusive, com novos ídolos. Eles viriam da Inglaterra, com destaque para os Beatles e os Rolling Stones. De fato, com os Beatles, o rock acabou tornando-se uma música internacional para adolescentes. Tudo isso significava, claro, uma mudança de comportamento, sobretudo com as bandeiras do sexo, drogas e rock n´roll. Os Beatles, por exemplo, não compunham somente músicas com temáticas amorosas. Eles também escreviam canções como "Lucy in the Sky with Diamonds" (com letras que estavam associadas ao uso de LSD). Havia ainda as letras como "My Generation" do The Who e "Simphaty for Devil" dos Rolling Stones.
De fato, na década de 1960, se de um lado, deve ser considerado que o rock não era uma música para "anjos", de outro, pode ser afirmado que ele tentava apresentar algumas respostas para a sociedade. Os jovens viviam em comunidades hippies, com novos valores e poucas regras. A sexualidade significava liberdade. O feminismo lutava pelos direitos das mulheres. Havia também os protestos contra o racismo. O mundo estava mudando: 1968 na França, protestos na Tchescolováquia contra a ditadura comunista, o festival de Woodstock nos Estados Unidos e existiam os movimentos de esquerda na América Latina (tentando repetir a experiência cubana de 1959).
Não há corno negar que o rock mudou o comportamento das pessoas. Contudo, isso não representou mudanças políticas significativas. Isso é verdade sobretudo se considerarmos o contexto da década de 1970, quando as pessoas deixaram de acreditar na revolução. No rock, tratava-se do período do heavy metal e do som progressivo. A música tornara-se mais importante do que as letras. Isso era claro na sonoridade sinfônica do som progressivo e no "barulho" dos grupos de heavy metal. Um exemplo seria o Led Zeppelin, com a música "The Song Remains The Same", que, apesar da criatividade sonora, apresentava letras simplistas e sem sentido:
"I had a dream. Crazy dream.
Anything I wanted to know, any place
I needed to go
Hear my song. People won´t you listen now? Sing along.
You don't know what you´re missing now."
O que significaria essa letra? Provavelmente nada. O importante era o som. A voz de Robert Plant aparecia corno um instrumento na música e a importância das letras era colocada para um segundo plano. Algumas pessoas poderiam argumentar que, no caso do Led Zeppelin, havia letras interessantes em canções como "Stairway To Heaven" e "Rain Song". Mas, nesses casos, como nas letras do rock progressivo, as músicas tratavam de amor ou de coisas "sobrenaturais" e não do cotidiano das pessoas.
Com o movimento punk, na década de 1970, esse quadro mudou. Eles não eram verdadeiramente músicos. Na verdade, o que importava era o barulho. As letras eram fundamentais, quando eles protestavam contra os "velhos" ídolos do rock (como Led Zeppelin ou Rolling Stones) e mesmo contra as regras da sociedade. O punk era muito mais do que um simples movimento musical - era um estilo de vida. A letra de "Anarchy in the U.K." pode representar bem esse contexto:
"I'm an antichrist
I'm an anarchist
I don't know what I want
But I know how I get it
I wanna destroy"
A combinação entre o anarquismo e o rock não transformam automaticamente o punk num movimento social significativo. Mas, não há como negar que, com o punk, o rock voltava a representar aquilo que era na sua origem: uma música de protesto - quando não só os músicos importavam, mas a reação do público fazia parte do espetáculo. Isso foi verdadeiro nos anos cinqüenta e setenta do século XX. O punk não foi o último movimento do rock. Depois dele, vieram estilos bastante diferentes, como a música disco, a new wave, o hip hop, entre outros. O rock tornou-se importante para a indústria da música. Os músicos ficaram milionários.
A música que tentava mudar a vida das pessoas transformou-se numa máquina de fazer dinheiro no capitalismo. Esse era o problema: usar o rock como protesto era uma forma de gerar mais lucro para as gravadoras e para os artistas. Passou-se a vender de tudo: discos, camisetas, ingressos, refrigerantes... O rock tornou-se um produto como outro qualquer. Os jovens de Woodstock transformaram-se nos pais conservadores da década de 1980. Apesar de ser outro período, o rock deixou de representar uma surpresa ou um símbolo de protesto. Os anos oitenta eram os anos dos yuppies. O dinheiro era a única coisa que importava. A música disco e a new wave eram a trilha sonora desta época.
Em suma, podemos dizer que as letras do rock não tentaram demonstrar um ponto de vista político de esquerda. Havia as canções de Bob Dylan ou as letras do punk, mas elas não representavam a maioria. Isso não significa, porém, que o rock não foi importante na mudança do comportamento da juventude na segunda metade do século XX.
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ROCK - DIVAGAÇÕES SOBRE O ROCK N' ROLL
Se o rock nasceu em 1955, ele morreu com o suicídio de Kurt Cobain e o fim do Nirvana. No início, os ídolos do rock n' roll demonstravam, em suas atitudes algumas, as características que seriam marcantes nesse estilo musical: o "sex symbol" Elvis Presley, a rejeição da imagem do "velho" de Bill Harley, a homossexualidade de Little Richards e o cantor-guitarrista Chuck Berry.
Outro ponto relevante foi a maioria de homens em todas a história do rock. Raros foram os grupos só de mulheres como Runaways e L7. As mulheres ocupavam mais o papel das fãs, desde as adolescentes histéricas da beatlemania às "groupies" da década de 1970. Se o rock foi um movimento, sem dúvida, ele foi machista. O lema "sexo, drogas e rock n' roll" não alterava o modelo tradicional de casal heterossexual. O que mudaria seria a liberdade na vida sexual dos casais. Os méritos das conquistas das mulheres e dos homossexuais pertencem a esses movimentos específicos e não ao rock n' roll.
O rock era algo dos jovens. Havia a idéia de que seria bom morrer antes de envelhecer. Muitos acreditaram nisso. Na década de 1960, era dito que não se podia confiar numa pessoa com mais de 30 anos. O "ser" jovem foi substituído, na prática, faz tempo, pelo "parecer" jovem. Os ídolos do rock não podem ser gordos e caretas. A auto-destruição criou mitos como Jimi Hendrix, Janis Joplin e o próprio Kurt Cobain. As mortes, normalmente, estavam associadas ao uso excessivo de drogas (Hendrix e Joplin) - ou de álcool (Bon Scott e John Bonham) ou mesmo ao suicídio (Ian Curtis e Kurt Cobain).
O rock foi considerado um movimento rebelde. Foi caso de polícia. Várias prisões foram feitas, como as de Keith Richards e Jim Morrison - as cenas dos policiais nos shows do The Doors tornaram-se históricas. Hoje dia, ninguém leva essa premissa do "rebelde" a sério. Uma estrela do rock é milionária e nada há de errado nisso, aos olhos do público e dos meios de comunicação. Os líderes do movimento punk tentaram, sem sucesso, resgatar a figura da "revolta" ligada ao rock. Basta lembrar que Johnny Rotten, dos Sex Pistols, virou John Lydon do PIL.
A auto-destruição leva a depressão... ou seria o contrário? O que importa é que no rock, o movimento "gótico" foi encarregado de levar adiante tal bandeira. Roupas negras, excesso de maquiagem, olhar sério ou triste, elogio ao suicídio, frieza, indiferença eram algumas das características desses músicos e seus seguidores. O grupo precursor foi o Joy Division, com a liderança de Ian Curtis, seguido por bandas como The Sisters of Mercy, Siouxsie and The Banshies e The Cure. Velvet Underground e o mesmo o movimento punk, de alguma forma, influenciaram esse movimento. Outra característica seria a auto-negação: os músicos do "goth rock" não se identificavam com tal estilo musical.
O rock, que sempre foi uma música simples, "de três acordes", como ironizava Tom Jobim, conseguiu ser mais superficial na chamada "pop music". Tratava-se de pura música comercial que usava uma "pose rock n' roll". Os exemplos são inúmeros, como Duran Duran, Eurythmics, B-52's, Tears For Fears, A-ha, entre outros.
Enfim, o rock foi a música da segunda metade do século XX, época em que o mundo viu a crise dos países considerados comunistas e o predomínio efetivo do capitalismo na sua forma de globalização. Nada poderia ser mais coerente, na medida em que esse estilo musical foi identificado também com o narcisismo, o individualismo e a superioridade de uns - os ídolos - sobre os outros - os fãs.
Muitos acreditam nas "verdades" ditas pelos líderes musicais e pelos líderes do sistema econômico. Outros questionam, são marginalizados, isso ocorre mesmo dentro de um movimento que deveria ser considerado, em sua essência, rebelde. Provavelmente, esse rótulo foi supervalorizado por aqueles que teorizavam sobre o rock. Elvis foi nacionalista, casado e serviu o exército. Foi o ídolo branco de uma música criada por negros. Ainda hoje, sobretudo no estilo heavy metal, existe racismo no rock. Revolta contra o sistema? Qual revolta? Quando? Onde? Contra quem? A favor do que? Se for considerado que, de fato, o rock é superficial, levantar tais questões não teriam sentido. O que fica então? O rock produz alienação e o ser humano precisa (também) de fantasia. Portanto, para quem gosta de barulho, "aumenta isso aí que é rock n' roll"...
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RÓTULOS
Uma vez o historiador Eric Hobsbawm foi ao programa de entrevistas do Jô Soares. Fiquei animado, afinal, ele era - e é - um dos principais intelectuais vivos da atualidade. Eu também sou historiador, o que aumentou a minha curiosidade. No entanto, a entrevista foi uma decepção. Hobsbawm possui uma bagagem intelectual enorme. No entanto, o entrevistador fez somente perguntas superficiais, tratando basicamente de jazz, uma das paixões do historiador.
Em seu livro de memórias, Hobsbawm disse que os jornalistas normalmente fazem perguntas óbvias a partir de algumas características do entrevistado:
"(...) a maneira mais rápida de identificar um personagem pela mídia é mediante uma ou duas peculiaridades distintivas: as minhas são ser professor que gosta de jazz e alguém que permaneceu no Partido Comunista por mais tempo do que a maioria." (Tempos interessantes, p. 243)
Isso explica, em parte, a obviedade do entrevistador brasileiro. Se quem trabalha com os meios de comunicação, precisa apenas de uma ou duas informações do indivíduo, imagina o telespectador, que recebe essa mensagem.
Em outras palavras, na nossa sociedade, a pessoa é tratada a partir de um rótulo. Qualquer carreira ou história de vida, por mais complexa que seja, acaba sendo resumida em uma palavra ou em algo mais simples: um símbolo. O cantor Prince usou essa estratégia durante muito tempo. Antes dele, o Led Zeppelin, quando lançou o seu quarto álbum, não usou o nome da banda e sim quatro símbolos, que representariam os membros do grupo.
As pessoas, usando nomes ou símbolos, estão preocupadas com a sua imagem diante da sociedade. O próprio Eric Hobsbawn quis separar a sua carreira de historiador e professor de algo que para ele era mais um hobby: o jazz. Tornou-se crítico de música e publicou o livro História Social do Jazz, mas sob o pseudônimo de Francis Newton.
De fato, numa sociedade em que o marketing predomina, seria difícil negar ou simplesmente ir contra os rótulos. Por outro lado, eles não devem ser levados tão a sério. São referências iniciais sobre uma pessoa, que, inclusive, podem ser equivocadas. O melhor seria problematizar os rótulos e ampliar o número de fontes consultadas sobre esse ou aquele indivíduo. Talvez, assim, poderíamos entender melhor e respeitar mais os outros.
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SABÁTICO
A redução das horas de trabalho proporcionada pela revolução tecnológica dos computadores, desde a década de 1970, transformou o mundo. Domenico de Masi acreditou que isso possibilitaria o "ócio criativo" e a melhoria da qualidade de vida. Foi otimista demais.
Viviane Forrester, em "L'Horreur Économique" e "La dictature de profit" (Editora Fayard), acertou mais ao criticar as grandes corporações e seu "regime político ultraliberal disfarçado ultimamente no termo 'globalização'."
Para produzir algo, não seriam necessárias mais tantas horas de trabalho. No entanto, os empresários optaram pelas demissões dos trabalhadores e seu próprio fortalecimento ideológico, pressionando o Estado no sentido de cortar os benefícios sociais. Isso tornou-se um padrão mundial.
Em meio aos novos acontecimentos, aquilo que era privilégio dos professores universitários dos países ricos - o período sabático - tornou-se uma opção aos executivos de uma maneira geral. O livro "Sabático - um tempo para crescer" de Herbert Steinberg (Editora Infinito), apesar de ser descritivo e reforçar dogmas corporativos, teve o mérito de tentar trazer o tema para o debate no Brasil, afinal, em 2000 - ano da publicação do livro - assim como hoje, poucas pessoas sabem o que seria sabático.
Steinberg trata esse período como uma escolha pessoal e uma possibilidade de se voltar renovado para o mercado produtivo, o que interessaria também às empresas. Ele apresenta a sua experiência e outros relatos, indicando ainda, com o apoio de uma bibliografia sobre o tema, alternativas para quem deseja "sair das (...) zonas de conforto" (p. 105) e arriscar viver um sabático. Ele afirma ainda que isso não seria apenas para pessoas de meia-idade, o que lembra, aliás, a tal "mid-life crisis" que os homens, em geral, enfrentam e tentam resolver com seus carros vermelhos e namoros com garotas bem jovens.
Contudo, o problema é mais complexo e certamente não fica restrito aos que estão na crise da meia-idade. Trata-se de saber o que você faz da sua vida? O comum é fugir da auto-crítica com pretextos como consumismo, excesso de trabalho, religião, drogas, bebidas, sexo, entre outras coisas. Usar o cotidiano como fuga - basta, por exemplo, ver a importância que a TV Globo dá aos horários de seus programas, sobretudo as novelas - seria uma espécie de traição do ser (Heidegger). O ser humano abandona a capacidade de refletir sobre a sua existência e sobre o mundo em que vive. Troca isso pela chamada "zona de conforto", algo que seria frágil e arriscado numa sociedade cada mais mais competitiva e tecnológica.
Em resumo, o indivíduo "foge" da vida. Não arrisca. Sente medo do que está por vir. Recusa ser sujeito de suas próprias mudanças. Recusa assumir o seu verdadeiro ser e suas atitudes. Acredita nas fantasias de "gente grande", como poder, religião e dinheiro.
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SEDUÇÃO
Encontrado bêbado na porta de casa, o personagem Charlie Harper fala para o irmão: "a noite foi ótima, é essa manhã que está me matando." Sim, as noites são maravilhosas. Tudo fica bonito e divertido. Claro que para isso acontecer, as boites utilizam muitos efeitos de luzes e música bastante alta. Tudo deve ser embalado com doses de vodka, whisky, tequila e/ou cerveja. Alguns tomam (mais) energético para agüentar a "balada". Outros ainda usam drogas.
O objetivo, no fim da noite, além de ficar "wasted", é que tudo terminar em sexo. Os homens assumem isso - para eles, pelo menos. As mulheres acham que encontrariam a sua cara metade nestas noitadas. O que faz lembrar aquele velho ditado: "eu não entraria num lugar que me aceitasse como sócio." Em outras palavras, estes ambientes são propícios para qualquer coisa, exceto para uma garota encontrar o seu "príncipe encantando". No final das contas, elas que gostariam de achar o amor, acabam fazendo sexo mesmo.
O filme "Tudo para ficar com ele" ("The sweetest thing"), com a atriz Cameron Diaz, discute de forma bem humorada algumas temáticas deste "jogo" - elas usam esse termo mesmo. De um lado, a garota seduz, beija o rapaz, dá o número do telefone errado e depois vai embora. Do lado do homem, ele fará qualquer coisa para levar a moça, que encontrou na boite, para a cama. Ele falará qualquer coisa e fingirá que está ouvindo tudo o que ela disse, com aquela cara de interessado nos problemas femininos.
No filme, depois de ouvir a personagem da Cameron Diaz desabar, o rapaz fala: "esquece... o que um cara não tem que passar para poder transar?" É esse o jogo, noite após noite. No filme, elas cansam e decidem encontrar "Mr. Right". No fundo, é o que todo mundo deseja, encontrar a sua cara metade e ser feliz. Contudo, as relações de sedução não são simples. Ao invés de encontrar um príncipe, normalmente, no outro dia a mulher se depara com uma ressaca do excesso de bebidas e com um arrependimento de ter ficado com aquele cara - que depois nem a cumprimentará nos lugares. No entanto, novamente, junto com a noite, chega a esperança que desta vez será diferente. Ela acredita nisto pelo simples fato de que não tem outra alternativa, a não ser ficar sozinha.
As pessoas esperam que as noitadas sejam apenas uma fase, que iria até encontrar o seu amado (a), casar, ter filhos e ser feliz para sempre. Entretanto, a vida não funciona assim, pelo menos para a maioria das pessoas. As noitadas podem levar ao alcoolismo e ao vício em drogas. É um risco. O ator Robin Williams passou por isso - alcoolismo e drogas - e, sobre as "baladas", concluiu: "você percebe que se visse as pessoas com as quais sai à noite durante o dia, elas te matariam de susto. Existem insetos que parecem melhor do que isso."
Afinal, a noite pode seduzir, é o momento perfeito para fantasiar, mas a manhã sempre chega. Fantasia e realidade são coisas diferentes. O próprio ator, Charlie Sheen, que faz o sortudo Charlie Harper - no seriado, mesmo com o alcoolismo e o excesso de mulheres, ele sempre se dá bem -, na vida real, passou por sérios problemas por tentar levar esta vida, inclusive, sendo condenado por uso de drogas e violência contra a mulher.
Em suma, não existem grandes novidades nesta área: as noitadas embaladas com excessos de vinhos e mulheres não são invenção recente. Não são também equivocadas e nem devem ser condenadas. Existem riscos, obviamente. Mas, viver não seria exatamente isso, arriscar até acertar?
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SISTERS
The Sisters of Mercy é uma banda criada em 1980, sob a liderança de Andrew Eldritch. Ela é chamada de gótica, rótulo sempre recusado por seus membros. O nome não é muito original, na medida em que está associado ao grupo que praticamente inventou o "gohtic rock": Joy Division.
Isso, contudo, não diminui a importância dos Sisters, sobretudo quando lembramos das letras de Eldritch. Musicalmente, mesmo sendo uma banda de rock and roll, a sua base é uma bateria eletrônica - Doktor Avalanche. Eles gravaram vários compactos, um EP e três CDs - "First, Last and Always", "Floodland" e "Vision Thing". São especialistas em gravar versões diferentes e originais de outros artistas, como "Gimme Shelter" dos Rolling Stones, "Knocking on the Heaven's Door" do Bob Dylan e "Comfortably Dumb" do Pink Floyd.
Na época de "Floodland", Eldritch dizia que a banda não tocaria ao vivo mais. Na década de 1990, com a revolução do MP 3 e a troca de músicas pela internet, a sua visão mudou. Talvez a briga jurídica com a sua gravadora - no período - tenha ajudado. O fato é que o grupo Sisters of Mercy não lançou mais um CD de músicas inéditas e optou por ser uma banda de rock ao vivo, tocando, todos os anos, nos festivais europeus e mesmo fazendo "tours" mundiais - vieram três vezes ao Brasil.
Nos shows, eles apresentam músicas novas. No website oficial, colocam as letras e vídeos das músicas. Não concordam, mas sabem que não precisam se preocupar com a produção de um CD, afinal, na época atual, as suas músicas inéditas são gravadas pelo fãs diretamente dos shows e trocadas livremente na internet.
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SOCIEDADE
Os homens vivem em sociedade. Em linhas gerais, para os anarquistas, não haveria necessidade de governo. Karl Marx defendia que, na fase final da história, o Estado perderia a sua função na medida em que não existiria diferença de classes sociais. No livro "Was ist Politik?" (p. 203), de Hannah Arendt, numa nota, há uma citação interessante: "se os homens fossem anjos, nenhum governo seria necessário." The Federalist No. 51 (Madison)
Apesar de esperar o mesmo fim - a extinção do Estado - os anarquistas e os comunistas divergiam dos meios para atingir tal objetivo. As anarquistas, de uma maneira geral, acreditavam que espontaneamente isso aconteceria. Os comunistas achavam necessário fazer algo - a revolução - para que "história fosse realizada". Os que defendem o Estado como mediador dos homens, esquecem que ele agiria a favor de uns em detrimento de outros.
De qualquer maneira, apesar das generalizações, o tema é complexo. No fundo, lida com a expectativa de uma resposta para o convívio humano. Freud já mostrava que o indivíduo comportava conflitos "internos" - id, ego e supergo. Ele, confuso em seus desejos, e o outro, nas mesmas condições, numa relação social, dificilmente poderiam atingir uma harmonia.
Daí vem a ética, o respeito ao outro. No entanto, o problema já estava colocado mesmo antes da reunião entre os indivíduos. O esforço em ser ético está associado a negação de muitos instintos do próprio indivíduo. Freud já apontava o conflito entre os interesses do indivíduo e do coletivo.
Freud era pessimista quanto ao futuro da humanidade, o que, em outras palavras, queria dizer que anarquismo, comunismo e liberalismo eram apenas ideologias que serviam para uns dominarem os outros. Talvez. Contudo, nenhuma delas teria o poder na religião como discurso hegemônico ao longo da história. Os indivíduos dependem da natureza, sabem que a morte é certa e não sabem por quê estão neste mundo. Nestas condições, não seria difícil de compreender a força do discurso religioso, que aparece como algo elaborado não pelos homens, mas sim algo feito fora da sociedade.
Teorias políticas e religiosas se aproximam quando o assunto é o controle do outro. Pode se argumentar que, atualmente, essas teorias perderam espaço na credibilidade das pessoas. Talvez. No que as pessoas acreditam então? Na mídia? Mas quem estaria por trás dos meios de comunicação? Certo, voltamos ao início: um quer dominar o outro e não existe resposta nem para o indivíduo nem para a sociedade? Talvez.
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SOLIDARIEDADE
Em uma crônica, João Ubaldo Ribeiro pensa sobre quanto anos ainda restariam para ele viver. Eu colocaria o problema de outra forma: o que você fez com o seu tempo antes de morrer? Se você teve uma ataque do coração, provavelmente estava estressado, trabalhando muito ou preocupado demais com as coisas do cotidiano. E a sua vida? O seu prazer?
Tenho a sensação de que nascemos e ao longo da vida, as várias experiências que experimentamos seriam uma espécie de aprendizado para saber o que seria importante ou não, para quando chegarmos mais adiante, podermos usufruir o que nos é oferecido de melhor neste mundo. Depois, vem a morte, claro. No entanto, ela não apareceria como algo assustador e nem você ficaria tão apegado a esse mundo que morrer seria um mal negócio (apesar de você saber que não existe outra saída para tal momento).
A morte irrita as pessoas. É interessante. Não apenas o que seria uma recusa da "sua" morte, mas também no que se refere a morte do outro. Somos egoístas: como ele foi capaz de morrer e nos deixar? O que vale é sempre a "nossa" perspectiva. Quem sabe não seria a morte não seria o melhor para aquela pessoa. Não falo de suicídio, falo de morte natural. Acontece. Ficamos tristes, claro. Contudo, seria possível pensar na perspectiva do outro, por um só momento?
Muitas pessoas têm medo de morrer. Bobagem. Com medo ou sem, vão morrer do mesmo jeito. A morte aparece como algo no "futuro", o indivíduo sente medo no "presente" em virtude do que ele fez no "passado". A consciência pesada não resolve os erros do passado. A falta de consciência dos próprios atos não significa inocência. A alienação é uma opção.
Alguém disse que você deveria viver o seu momento como se ele fosse o último da sua vida. Está certo. O problema não é a morte. Ela é uma certeza. Não existe debate sobre isso. A questão é a vida. Sim, o que você faz dela, como, para usar outra expressão, você "habita" o seu tempo? Ser feliz. Ser solidário. Não são respostas, mas, para refletir, são duas temáticas interessantes.
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SUICÍDIO
Os psiquiatras e psicoterapeutas, por motivos óbvios, não gostam de admitir diante de seus pacientes uma dado óbvio: "a depressão é a principal causa de suicídios."
Nesta problemática, existem aqueles que "tentam o suicídio" como forma de chamar a atenção e os que, de fato, morrem.
No primeiro caso, o mínimo que se pode dizer é que existem formas mais interessantes de chamar a atenção, mesmo consideração, como diria Freud, o componente auto-destrutivo encontrado em todos os indivíduos. O segundo caso é diferente. O suicídio "de fato" é visto, algumas vezes, como um ato de honra, como os "kamikazes" japoneses na Segunda Guerra Mundial ou, mais recentemente, os ataques terroristas de grupos radicais islâmicos, como ocorreu com o World Trade Center em 2001.
A depressão clínica pode ser um elemento relevante neste processo, pois a doença "puxa" o indivíduo para a morte. Viver, assim, seria quase como ir contra a natureza da própria doença. Trata-se de uma doença genética. Pode ser tratada com modernos remédios - Prozac, Zoloft, entre outros - e com a ajuda de profissionais adequados, como os psiquiatras e os psicólogos.
Após as pesquisas de Michel Foucault, com seus livros "História da Loucura" e "Nascimento da Clínica", e o avanço científico da indústria farmacêutica, a associação entre o suicídio e a depressão pôde ser amenizada. Contudo, não foi resolvida, na medida em que ela está relacionada à condição humana.
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TRABALHO
Tive uma crise de estresse, em 2000, devido ao excesso de trabalho. Tirei um mês de licença médica. Eu trabalhava de segunda a sexta, começava as 7h15 e parava 22h35, com intervalo para o almoço e as tardes livres, algumas dias, pelo menos. Trabalhava aos sábados também, mas não era todo semestre. Ganhava bem, claro. No entanto, esse não era o problema. A questão, de fato, era: o que levaria um indivíduo ao excesso de trabalho?
Inconscientemente, seria uma fuga de si. Trata-se de uma boa maneira para fugir dos reais problemas que deveriam ser enfrentados. Conscientemente, o objetivo seria ganhar mais dinheiro e, assim, comprar muitas coisas.
Vivemos numa sociedade capitalista. O consumismo, porém, apresenta algumas contradições. 1) A maioria não possui tempo de usufruir os bens pois passaria a maior parte do tempo na empresa. 2) Qual seria a meta do acúmulo de riquezas materiais? Alguns dizem: a pessoa pensa no futuro. Mesmo? Qual é o futuro final de todo indivíduo? A morte, claro. O que essas riquezas ajudariam neste momento (ou depois dele, se é que existe algo)?
Atualmente, vivemos numa época de cinismo. Os indivíduos não acreditam mais nas ideologias religiosas, econômicas ou políticas. Trata-se de um momento perigoso, na medida em abre espaço para os regimes totalitários. Outro problema seria o saudosismo de uma época que nunca existiu: alguns hippies, na década de 1960, tentaram criar comunidades autônomas, isoladas, como forma de negar a sociedade industrial. Seria possível negar todo o desenvolvimento tecnológico? Não.
Uma coisa que move as pessoas é o medo. Antes, no período da guerra fria, a maioria temia um conflito nuclear, o que levaria ao fim da humanidade. Não aconteceu. Hoje, um indivíduo não acredita em nada e não tem um medo geral que o motivasse no sentido de solidariedade e de se fazer algo. O que sobra? O medo de si. Ou, como diria Heidegger, resta o medo de refletir sobre o próprio ser. Assim, o cotidiano torna-se uma fuga, o que seria secundário passa a ser encarado como fundamental e inventamos "a falta de tempo", mesmo considerando que vivemos numa sociedade tecnológica que não precisaria de tantas horas de trabalho feitas por cada indivíduo.
Aqui entra a importância de parecer que se está ocupado. Ficar sério diante de um computador costumava ser um truque interessante para aqueles que, na empresa, fingiam que trabalhavam. Alguém ainda acredita nisso? São feitas reuniões e seminários para motivar a equipe. Funcionam? Pelo menos, nesses momentos, os indivíduos não estão trabalhando, apesar de estarem trancados dentro da empresa, vendendo sua força de trabalho, sem poder passear num parque, ir ao cinema ou fazer algo efetivamente prazeroso.
Com o capitalismo, foi inventada a sociedade do trabalho. Se até o século XIX, os indivíduos realmente trabalhavam, inclusive, em condições precárias, depois do século XX, o trabalho manual perdeu seu espaço. Atualmente, esse conceito de trabalho existe só do ponto de vista ideológico. Por insegurança ou por escolhas pessoais, não como há negar que muitas pessoas se apegam a esta idéia para viver o seu cotidiano e não ter tempo de pensar.
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TV - THE BIG BANG THEORY
Interessante colocar numa mesma série de TV tanto PhDs, garotas superficiais e gostosas - em especial, a vizinha - como tratar de temas como a origem do universo e a lógica das histórias em quadrinhos, isso sem contar o Transtorno Obsessivo Compulsivo do personagem Sheldon. Certamente, em textos opinativos, como os deste blog, não seria possível tratar de maneira aprofundada a velha problemática da causalidade.
Numa edição da revista Superinteressante (2005), em um resumo, afirma-se: "a teoria desenvolvida por Einstein estabelece que tempo e espaço não são absolutos, como postulava a física de Newton, mas varia de acordo com o referencial."
Para as pessoas comuns, estes princípios - tempo e espaço - aparecem como verdades absolutas. Trata-se do material, daquilo que "existe". Se não for assim, qual seria o sentido de tudo isso? A busca de resposta - mesmo sabendo que não poderá encontrá-la - passa pelas várias religiões e filosofias. Mesmo no cinema, este assunto foi tratado, como em "Matrix" e em "13° Andar". Afinal, existe Deus? O que acontece depois da morte? O homem é realmente sujeito de sua própria história? Em suma, qual seria a origem do universo?
As respostas para tais questões dependem do ponto de vista de quem faz as perguntas. Einstein deve ter razão. No final, sobra o humor de "The Big Bang Theory". Bazzinga!!
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TV - TWO AND A HALF MEN
O personagem principal da série "Two and Half Men" atrai muitas pessoas. No caso dos homens, ele é visto como uma espécie de herói, um modelo a ser seguido. O problema é que, na realidade, não seria possível viver como Charlie Harper. Bem que o ator da série, Charlie Sheen, tentou: noitadas, bebidas, drogas, orgias, prostitutas, namoradas, cassinos, entre outras coisas. Ele não conseguiu, claro. Por quê?
O ser humano é cheio de defeitos. No caso de Charlie Harper, esses defeitos aparecem como virtudes. O ser humano erra. Os pseudo-fracassos de Harper, normalmente, terminam com o personagem sentado na sua casa, em Malibu, tomando um whisky escocês e fumando um charuto cubano.
O que é menos enfatizado no personagem é a emoção. Talvez esta seja a grande diferença com as pessoas "reais".
Não dominamos a nossa emoção. Apaixonamos pela pessoas errada. Sofremos. Na série, são interessantes as conversas dele com a sua psicoterapeuta. Suas "fugas" da realidade tornam-se um pouco mais claras. Contudo, a psicoterapeuta não parece tão interessada. Nela, destacam dois pontos: a ironia com o paciente e o interesse pelo dinheiro da consulta.
No final, as coisas dão certo para Charlie Harper, sem ele se esforçar, pois ele tem sorte. As circunstâncias funcionam a seu favor. Sabemos que, na vida real, as coisas não acontecem assim. A sorte é rara para todos. Para Charlie Harper, ela aparece como uma característica do indivíduo.
O vício do jogo, as mulheres e as bebidas são fugas óbvias de Charlie Harper e nem ele esconde isso. O que fica então? Diversão. Com senso de humor, é possível rir de uma das principais fantasias masculinas: o solteirão com sorte, dinheiro e belas garotas.
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UBERLÂNDIA - A NOITE DE UMA CIDADE DO INTERIOR
A principal diversão da noite de Uberlândia, até a década de 1950, era o cinema. Nos fins de semana, as pessoas ainda passeavam na Praça Tubal Vilela e nas avenidas Afonso Pena e Floriano Peixoto - era o "footing". Durante o dia, havia o Praia Clube. Nas noites, os salões do Uberlândia Clube. Tratava-se de um cidade do interior, conservadora, como tantas outras. Com a criação da Faculdade Federal de Engenharia, depois, veio a Universidade de Uberlândia, em 1968, e sua federalização em 1978. A chegada dos estudantes mudou a noite no município.
No Uberlândia Clube, no início da década de 1970, ainda havia o "soirée" nas noites de domingo. Contudo, os diretórios acadêmicos dos cursos da universidade, criaram as suas próprias casas noturnas, as mais famosas eram o "Dagemp" - da Engenharia - e o "Med's" - da Medicina. No final desta década, com a moda das "discotheques", foram criadas, por empresários, as primeiras discotecas/danceterias de Uberlândia. "Cactus" - Praça do Rosário - e "Joplin" - Rua Tenente Virmondes - estavam entre as primeiras. No próprio Uberlândia Clube, foi criada uma "discotheque", famosa na época. Os shows aconteciam no ginásio do UTC e, no período, as grandes atrações eram os cantores da MPB, como Toquinho e Vinicius, Elis Regina, Gal Costa, Fagner, entre outros.
Com o surgimento de novas bandas no rock nacional, os shows também mudaram na cidade, a partir dos anos 1980, com a chegada de bandas como Legião Urbana, Kid Abelha, Capital Inicial. As "discotheques" ficaram menos em evidência, afinal, as pessoas ouviam rock nacional e preferiam ir a barzinhos. Foi a época do grande sucesso do RPM.
No que diz respeito aos bares, sempre houve os que eram freqüentados pela dita "elite uberlandense" - como Bar da Mineira, Garilbald's - e aqueles conhecidos como "alternativos" - como Batidão, Galpão do DCE, Garibas, entre outros.
Até 1964, apesar de se mostrar como conservadora, Uberlândia também era conhecida como a "Moscou brasileira", por causa da atuação dos comunistas da cidade. A rebeldia associada à política foi expressiva até ocorrer a campanha pelo "impeachment" do Presidente Collor. Depois, esta rebeldia ficou mais associada ao uso de drogas.
Em termos nacionais, a "explosão" do rock nacional foi seguida por outras modas e a formação de outros ídolos, como a música sertaneja - o corte de cabelo dos cantores era idêntico ao modelo usado pelo roqueiros, como exemplo, poderiam ser citados a dupla Chitãozinho & Cororó e o grupo RPM -, o pagode e o axé music.
Depois de 1998, foram criadas várias faculdades particulares no município - até então havia apenas uma -, o que aumentou o número de estudantes e movimentou mais a noite na cidade. "Boites" e bares foram extintos, enquanto surgiam novas casas noturnas. Raros foram os bares que duraram muito tempo e foram representativos para a noite do município, como foram o Public e o London - este último ainda existe. Apesar de se denominar "o lugar de rock and roll", atualmente, aceita outros estilos em seus shows, exceto a música sertaneja.
O que representaria a tradicional "discotheque", ainda existe, como a Lounge, o Vitorios, a Hits e a Zara. No entanto, hoje existe uma diferença importante: toca-se de tudo nestes lugares. Seja com música gravada ou shows ao vivo, você encontra diferentes tipos de música numa mesma noite num mesmo espaço: house, pagode, música sertaneja, pagode e axé music. O calendário de festas foi incrementado com as chamadas "raves" - até com novos tipos de drogas, como as balas (ecstasy) e os doces (LSD) ou mesmo o "crack" (mistura que vem da cocaína) - e com as outras casas abertas na cidade, sendo que estas seriam para grupos diferentes daqueles que se identificam com a elite uberlandense - vale citar algumas: Goma, Ooze, Weekend e Heaven.
Enfim, aquela velha frase dita na noite de Uberlândia - "não existe nada para fazer nesta cidade" - pode ser reconhecida como verdadeira ou não, depende, talvez, de quem resolve sair de casa, com quem e com quais interesses... Para a elite tradicional da cidade, a imagem é tudo. Parecer é mais importante do que ser. Contudo, na noite, até mesmo pessoas desta elite se misturam com aqueles que eles chamam de marginais, mesmo que no dia seguinte, ninguém reconheça ninguém e ninguém assuma nada. Atitude típica de uma cidade conservadora, que tenta se mostrar como moderna e democrática.
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UBERLÂNDIA - O MESMO DE OUTRA MANEIRA
Eu sou da época que não existia "axé music". Havia, principalmente, MPB, samba, música caipira e rock. Eu preferia o último tipo de música, mas gostava do Sambão do Med's que acontecia toda sexta-feira aqui em Uberlândia. Na segunda metade da década de 1970, começaram as festas ao som da música "disco" no Cajubá. Os shows eram com artistas da MPB, como Toquinho & Vinícus, Elis Regina, Caetano Veloso, Gal Gosta, entre outros.
Nos anos 1980, houve a "explosão" do rock brasileiro, simbolizada pelo grupo RPM. O rock virou moda e todos passaram a gostar deste estilo musical. Bom por uma lado, o sucesso, ruim por outro, o fato de ser só uma "moda" havia atraído pessoas que realmente não se identificavam com tal estilo.
Como toda moda, o rock também passou rápido e deu lugar para o "novo": a música sertaneja. Não se consideravam "caipiras", pois eram duplas jovens com corte de cabelo idêntico ao dos músicos do RPM. Obviamente, a massa que curtia o rock mudou para o sertanejo. A mídia, claro, influenciou bastante nesta mudança. A alienação geral das pessoas ajudou a concretizar a transformação...
Depois, vieram outras modas: os grupos de pagode - com músicos de brinco e cabelo na moda, diferentes, portanto, dos velhos sambistas - e ainda as bandas de "axé music" - que conseguiram mudar um fenômeno local (da Bahia) para nacional e que acontecia só numa época do ano (no carnaval) para ocorrer durante todo o ano, nos chamados carnavais fora de época.
Com o sertanejo, o pagode e o "axé", as massas populares teriam o que queriam: música superficial; letras fáceis, óbvias e vulgares; e coreografias que mudavam de acordo com a música - parece que a dança tentava traduzir, com gestos, as letras das músicas.
O resultado pôde ser percebido no Triângulo Music 2010. Os "headliners" do festival foram duas duplas sertanejas seguidas por duas cantoras de "axé music". Nem os lugares que representariam a tradição das antigas "discotheques" - Lounge, Vitorios e Hits, por exemplo - resistiram à moda dos três segmentos musicais.
Em suma, sair na noite de Uberlândia não é fácil. Ainda bem que existem as bebidas alcoólicas, que tornam tudo mais suportável.
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VELHOS
Sêneca refere-se a morte de Cano Júlio, condenado por Caio Calígula, dizendo:
"Tristes estavam os amigos que iam perder tal varão. (...) E ele prometeu que, se descobrisse algo, havia de voltar aos amigos e indicar-lhes qual fosse a condição das almas." (p. 63)
A primeira frase demonstra o que sentimos na perda de alguém. Aqui a questão não é o interesse do outro - se quer ou não, se importa ou não com a morte -, mas sim o que queremos, a utilidade que ele representaria vivo para nós.
A segunda frase trata de uma promessa que não poderia ser cumprida: voltar da morte ao mundo material. Existem várias hipóteses neste sentido. Algumas são religiosas e outras não... Lembro-me de uma fala do personagem George, afirmando que Seinfeld poderia faltar ao velório da avó e ir jogar beisebol, afinal, ela não se importaria, pois diante das infinitas possibilidades que lhe seriam oferecidas no novo ambiente, ela mesma não compareceria ao próprio velório.
Isso pode ser associado à maturidade. Muitos dizem: "ah, se eu soubesse disto antes, quando era jovem." A solução seria os mais velhos transmitir os conhecimentos aos mais jovens. Contudo, isso não funciona.
Primeiro, porque os jovens não querem saber, ou melhor, acham que sabem mais que os velhos
Segundo, quando atingem a maturidade e percebem que tiveram que aprender tudo sozinhos, com experiências terríveis e inevitáveis sofrimentos e fracassos ao longo do caminho, os velhos, por egoísmo ou por tédio, simplesmente não insistem em dar conselhos aos mais jovens. No máximo, ficam com aquele "sorriso Mona Lisa", irônico, como que dizendo: "já vi esse filme antes e esse menino se acha esperto..."
Jovens ou velhos sabem que vivem por um período de tempo, entre o nascimento e a morte. O que podem fazer está neste intervalo. É simples: não existe "replay". Ou você faz ou não. É isso.
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VIAGRA
Antigamente (... início de conversa de velho), a Embratur possuía uma programa específico para a "terceira idade". Depois, o programa mudou o nome para a "maior idade". E, finalmente, antes de ser extinto, os termos utilizados eram "melhor idade". Numa sociedade em que se cultua "o jovem", parece pejorativo admitir a velhice - como se idade fosse categoria ou classe social: nobres e servos ou jovens e velhos. Usei o exemplo da Idade Média para mostrar o que está por trás desta idéia: a idade não é percebida como um processo e sim mostrada como blocos estanques, como se o jovem não fosse virar velho um dia...
O Mick Jagger uma vez ficou irritado pois o repórter da Globo perguntou sobre as suas plásticas. É um jogo. Não adianta parecer jovem, tem que acreditar nisto. Quem me conhece - ou foi meu aluno - sabe que eu não escondia a aliança quando era casado e muito menos me recusava a falar da minha idade: nasci em 1961, século passado, tenho, portanto, 49 anos.
O fato de gostar de heavy metal e, por exemplo, ter assistido AC / DC, Megadeth e Metallica, ao vivo, duas vezes (em diferentes anos e ocasiões) causava estranheza nos meus estudantes. Afinal, o professor não era velho? Depois de divorciado, ir em raves, shows, boites e bares ainda gerava alguma desconfiança. Quando comecei a ficar ou namorar com garotas algumas décadas mais novas, claro, achavam um absurdo. Nos namoros, eu conversava com os pais das meninas - que não achavam a "melhor idéia", mas também não proibiam a relação. No caso das ficantes, a maioria foi "one night stand", ou seja, como todo mundo, aconteceu, ficou ali e pronto.
Raspo semanalmente a cabeça. Adquiri um novo hábito... Muita gente não gostou do meu "novo" visual. Tudo bem. A maioria não gostava do visual anterior também. Pelas minhas atitudes, pode se perceber que, apesar de respeitar a opinião de todos, não estou muito preocupado com o que dizem a meu respeito. Muitos falam mal de mim, como falam das outras pessoas. Em termos de fofocas, não me sinto diferente, pois todo mundo fala mal (e/ou bem) de todo mundo.
Voltando a velhice... Eu não me sinto com quase 50 anos. Isso não significa que eu possa cair do skate como eu caía antes... Tenho que tomar certos cuidados.
Um outro tabu dos velhos é o Viagra. Uma vez li algo que dizia que o remédio proporcionaria uma "ereção artificial". Era uma playmate "dissidente" criticando as noitadas do criador da Playboy, Hugh Hefner. Isso me levou a questionar: se uma moça - sim, uma virgem - faz sexo com um homem, o fato da ereção dele ser "natural" ou "artificial" mudaria alguma coisa? Ela não deixaria de ser virgem? Eu sei que não foi o melhor exemplo - afinal, ela poderia perder a virgindade sem a participação de um órgão sexual masculino -, mas foi o que me ocorreu agora e acredito que tenha ficado claro o que eu queria dizer.
Obviamente, o Viagra não é natural. Mas, por outro lado, o uso de recursos como plásticas, botox e silicone, não deixa a mulher mais "natural", o que não significa que ela, depois de tanto "investimento", não tenha se tornado atraente aos olhos dos homens. Em outras palavras, depois de civilizado, sobrou pouco da "velha" natureza no homem, seja do ponto de vista tanto do seu corpo como da sua mente.
Ah, ainda não tomei Viagra e nem comecei a participar dos bailes ou das excursões do SESC. Acredito que não deve demorar muito para que (1) os bailes tornem-se raves (uma ambulância sempre fica de plantão nas festas da juventude... imagino que no caso da terceira idade, uma só não daria para resolver todos os problemas da noite) e que (2) as excursões sejam organizadas em função de shows de heavy metal em São Paulo. Pensando por esse lado, ficar mais velho pode não ser tão ruim como parece.
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VIDA
Existe um mito (ou seria verdade?) associado a idéia de que o período da faculdade seria a melhor época na vida de um indivíduo. Eu vivi intensamente a fase da minha graduação: festas, bebidas, ficantes/namoradas (tanto colegas como professoras), militância política, viagens e, claro, estudos (eu era o que se chamava de "rato de biblioteca").
Foi uma ótima fase, mas não posso dizer que foi a melhor, pois não acredito neste tipo de hierarquia na vida. De qualquer maneira, muitos acreditam neste mito e é comum ver junto com os calouros nas salas de um curso universitário, pessoas com mais de quarenta anos, a maioria casada (ou divorciada) e com filhos.
O que leva uma pessoa, depois dos 40 ou 50 anos, a fazer uma graduação? Existem duas possibilidades: pode ser realmente a primeira vez do indivíduo, que antes não teve oportunidade de fazer uma faculdade ou pode estar ser a tal da crise da meia-idade, quando a pessoa não sabe para onde ir ou quer "recuperar o tempo perdido" ou reviver a "melhor fase da sua vida".
Qualquer uma destas opções leva a um risco para os casados: o divórcio, claro. É muito comum, aliás. Apesar de ter sido um período ótimo, eu não faria outra graduação. Já disse antes que não sou do tipo que gostaria de viver novamente os momentos de sua vida.
Sem, necessariamente, sair da crise da meia-idade, existe uma outra maneira de viver a "fase da faculdade": basta ser professor universitário. Quando eu era casado, evitava participar de festas ou ir para bares com alunos. Após o divórcio, mudei de atitude. Voltei a ser solteiro e, apesar de algumas décadas mais velho, comecei a freqüentar esses ambientes. O motivo inicial era que, diferente das pessoas da minha idade, gosto de festas com música alta, andar de skate, rock... diversão, basicamente. Não sou do tipo que faz cara fechada o tempo todo e quer passar uma imagem de sério. Dificilmente, com o meio perfil, eu seria feliz, por exemplo, num baile da terceira idade no Sesc.
Pago as minhas contas e os bares ou festas têm idade mínima para entrar - 18 anos -, mas não existe uma idade máxima - algo como: não pode entrar maiores de 30 anos - para ir nesses lugares. Pronto, tenho liberdade de escolha: prefiro ir numa "rave" que num baile de terceira idade. O engraçado é, na portaria, os seguranças insistirem para ver a minha identidade, como fazem com os adolescentes. É irônico, pois quando eu tinha 15 anos e ia em "boites", não me pediam documentos.
Enfim, acredito que as pessoas escolhem "os seus lugares da noite" com base no que gostam e não na idade que possuem. Cada escolha, porém, deveria ser analisada especificamente. Uma menina de 14 anos, por exemplo, que vai numa "rave" com carteira de identidade falsa, quer afirmar e mostrar alguns valores para os outros (inclusive os pais) e para si mesma. O mesmo acontece com um homem de 50 anos que freqüenta a mesmo festa. Os motivos são diferentes, obviamente, mas, no essencial, os dois querem, sobretudo, uma coisa só: diversão.
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WTC
Na manhã de 11 de setembro de 2001, a minha (ex) esposa me disse que passava na TV o incêndio de uma das torres do World Trade Center (WTC). Não dei muita importância, pois estava com depressão na época e, portanto, mais preocupado comigo mesmo do que com o que ocorria no mundo. Logo, todos viram um avião atravessar a segunda torre. A CNN mudou a manchete para "America under attack".
Me interessei, sobretudo pois muitos, no período, achavam que aquilo poderia significar o início de uma guerra nuclear, o que levaria ao fim da humanidade. Internamente, por causa da depressão, a idéia parecia-me interessante, na medida em que a minha morte estaria associada ao fim do mundo. Não foi o que aconteceu, nem comigo, nem com o mundo.
Ainda não se sabe o que realmente aconteceu em Manhattan naquela manhã. Houve discussões, relatórios, polêmicas e nenhuma conclusão efetiva.
Três documentários chamaram a minha atenção: "Zeitgeist", "Fahrenheit 9/11" e "Os dias que abalaram o mundo - 11 de setembro" da BBC. O segundo filme, feito por Michael Moore foi o mais sensacionalista e enfatizou o lado nacionalista do povo norte-americano, as conseqüentes guerras de "vingança" e as inúmeras contradições do governo George W. Bush.
"Zeitgeist" mostrou as falhas do governo dos Estados Unidos e foi além: culpou o próprio Estado pela queda das duas torres. A idéia descabida, para muitos, ganhou sentido quando eles mostraram que o complexo WTC, além das duas torres, possuía ainda cinco prédios, sendo o o WTC 7 desabou sem ser atingido por algum avião. As imagens do WTC 7 parecem mais a implosão de um prédio, feita de maneira programada. Esta seria a tese para as torres gêmeas também. O incrível foi que no relatório oficial, não houve explicação alguma sobre a queda do WTC 7. Foi algo como: "o prédio desabou e não sabemos o que aconteceu".
"Zeitgeist", no entanto, é parcial. Na entrevista do arquiteto que projetou o WTC, é mostrada somente um parte do depoimento, a de que ele comentava que os prédios suportariam o impacto de um grande aeronave. O resto de sua fala foi omitido e era fundamental, pois ele explicaria o que projetou numa época e o que aconteceu décadas depois. Isso foi mostrado no documentário da BBC, o mais técnico de todos, o que evitou análises políticas e focou mais fatos. Isso não queria dizer neutralidade. A forma de edição do documentário foi baseada numa hipótese pré-elaborada. Não foi por acaso que toda a discussão acontece praticamente só sobre as torres gêmeas.
O documentário "Zeitgeist" analisou outros temas, como a religião e o Banco Central dos E.U.A. A intenção era destruir os mitos. Contudo, em um determinado momento, para mostrar uma opinião positiva sobre a história da humanidade foi utilizado um discurso do presidente Kennedy, o que além de reforçar do mito JFK, omitia claramente as falhas e a face autoritária do seu governo, como a aplicação da "Aliança Para o Progresso". Foi a partir dela e do apoio norte-americano que foram criadas as ditaduras latino americanas das décadas de 1960 e 1970.
Em suma, os três documentários são parciais. Assistir aos três ajuda a ter uma visão mais completa do que foi o 11 de setembro. Culpar a C.I.A. por todos os atentados não pode ser levado à sério. É lembrado o atentado de Londres, mas em nenhum documentário é citado o que ocorreu em Madri. Trata-se de uma falha grave, sobretudo para quem defende a idéia de que a Al Kaeda nada teve a ver com o WTC. De qualquer maneira, sendo um ato do governo dos Estados Unidos ou um ataque terrorista de grupos islâmicos, o que importa é que a data tornou-se o marco histórico do início do século XXI.
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