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OLIVEIRA, Selmane Felipe de (2014) Considerações sobre o Led Zeppelin. http://profelipe.weebly.com/zeppelin.html
PREFÁCIO
Escrevi, entre os anos de 2011 e 2014, vários textos sobre o Led Zeppelin. Resolvi, aqui, reunir todos num único bloco. Pode ser encontrada uma ou outra citação repetida (da revista Musician - por exemplo) na medida em que eu queria defender uma ideia diferente. Mesmo assim, optei em manter tudo como foi escrito originalmente. Talvez existam contradições, afinal, são textos opinativos. O que permanece claro, no entanto, é que eu considero o Led Zeppelin a maior e a melhor banda de rock de todos os tempos.
Selmane Felipe de Oliveira, Junho de 2014.
OBVIEDADES SOBRE O LED ZEPPELIN
Apesar de serem músicos talentosos, dificilmente o Led Zeppelin passaria despercebido no universo do rock n roll. Jimmy Page e John Page Jones eram músicos de estúdios, que prestaram serviços para diversas bandas de rock nos anos 1960, como The Rolling Stones e The Who, entre outros.
Robert Plant e John Bonham não eram famosos e eram bastante jovens. Jimmy Page, criador e líder incontestável do Led Zeppelin, no início, não sabia qual linha musical seguir: algo mais “folk” ou alguma coisa mais pesada. Quando Page ouviu John Bonham pela primeira vez, claro, estaria definido o som do grupo.
A ideia de formar a banda vinha de uma necessidade prática: Jimmy Page era guitarrista no Yardbirds e os outros músicos desistiram da banda e ainda faltavam shows a cumprir na Escandinávia.
Page e o empresário do Yardbirds decidiram convocar os novos músicos para cumprir o contrato.
Os primeiros shows, com a formação do Led Zeppelin, foram, assim, sob o nome New Yardbirds. O grupo teria que se apresentar com outro nome só mais uma vez e foi na Alemanha, no início da carreira porque uma senhora da tradicional família associada ao Zeppelin não admitia o uso do nome em shows no país. Com o sucesso, isso deixou de ser problema.
Jimmy Page e Peter Grant sabiam exatamente o que queriam para o Led Zeppelin. O lugar da banda tinha que ser os Estados Unidos e não a Inglaterra. Sabiam que tinham que trabalhar muito para construir uma identidade para o grupo.
Foram nove “tours” (excursões) pelos Estados Unidos entre 1968 e 1973.
Jimmy Page já era famoso antes do Led Zeppelin. Isso e a experiência do empresário Peter Grant garantiram um excelente contrato com a gravadora Atlantic.
Se na primeira “tour”, a banda passou um pouco despercebida em alguns lugares, depois da segunda excursão, não havia dúvida, todos sabiam da fama do Led Zeppelin.
Para tanto, do ponto de vista empresarial, Peter Grant adotou algumas estratégias: o grupo não apareceria na televisão (que tinha um som péssimo na década de 1970), não seriam lançados compactos (quem quisesse, teria que comprar os álbuns), fretou um avião (“The Starship”) que daria mais liberdade para o grupo nos Estados Unidos, todos deveriam evitar a imprensa e os músicos eram intocáveis (mesmo considerando as confusões envolvendo coisas como magia negra, violência, mortes, sadomasoquismo, garotas menores de idade e orgias).
O segundo álbum do Led Zeppelin foi gravado na estrada, o que significaria que, ali, seria sistematizada a imagem da banda: som pesado, letras sexuais e “blues”.
O disco mais as lendas em torno das histórias de bastidores do grupo não deixavam dúvida: nascia um mito.
O contexto histórico era a favor ao Led Zeppelin, afinal, acabara fase “paz e amor” dos anos sessenta e a nova década “pedia” novos estilos para uma nova juventude.
Não tinha como errar. E não houve erro. Led Zeppelin e década de 1970, em termos de rock n roll, tornaram-se sinônimos.
THE POWER STATION & LED ZEPPELIN
Quando ainda fazia faculdade, eu era bem radical em termos de gostos musicais: adorava som pesado e odiava “pop music”. Isso foi até um amigo, na lanchonete da universidade, elogiar o Power Station. Ele também era fã do Led Zeppelin e eu disse que ele tinha ficado louco porque os músicos do Duran Duran representavam a metade do Power Station. Ele insistiu: “cara, eu sei, mas essa banda é boa e pesada.”
Resolvi ouvir e gostei e comecei a deixar o preconceito musical de lado. Publiquei um anúncio numa revista chamada “Som Três” e escrevi que queria ter contato com pessoas que gostassem de determinados grupos, entre eles o Power Station. Para a minha surpresa, recebi diversas cartas com fotos de garotas fãs do Duran Duran. Elas eram as duranies.
Adorei, claro, afinal, algumas eram muito bonitas. Na época, me encontrei com elas principalmente em São Paulo. Fique com algumas e até cheguei a namorar uma delas. Quando o Duran veio ao Brasil em 1988, eu já sabia tudo sobre a banda (fui ao show no Rio) e foi um momento especial para todos.
Em resumo, muitos não entendem como que alguém que é fanático pelo Led Zeppelin pode ouvir uma música tão simples e “pop” como a do Duran. No meu caso, esse foi um dos motivos.
Um detalhe: o baterista do Power Station chamava-se Tony Thompson. Quando os músicos do Led Zeppelin decidiram se reunir pela primeira vez após o fim do grupo (no projeto Live Aid em 1985) escolheram o Tony Thompson para ser o baterista. O Phil Collins participou também mas porque, por algum motivo, ele queria participar de vários shows do evento tanto nos Estados Unidos como na Inglaterra. O cara mesmo era o Tony Thompson, tanto é verdade que os músicos do Led Zeppelin ensaiaram com ele para uma possível volta do grupo. O projeto foi interrompido após um acidente sofrido por Tony Thompson.
PETER GRANT & BILL GRAHAM
Bill Graham foi promotor de shows de rock nas décadas de 1960 e 1970. Tinha fama de durão e de se impor nas negociações com os empresários dos grupos de rock, exceto, claro, com Peter Grant do Led Zeppelin.
Os dois se odiavam, mas eles tinham que negociar, afinal, o Zeppelin era a maior banda nos anos 1970 e Graham era o mais importante promotor de shows nos Estados Unidos no período.
Era meio previsível que, numa hora qualquer, um atrito entre os dois iria ocorrer. E aconteceu em 1977. De acordo Chris Welch:
“Foi durante essa turnê que o incidente ocorreu e que rendeu ao grupo má imprensa e um mal-estar dentro da indústria da música. Em 23 de julho em Oakland (Califórnia), Peter Grant, o homem que fazia a sua segurança - John Bindon -, John Bonham e Richard Cole se envolveram num briga séria com um empregado do Bill Graham. Eles foram acusados de agressão e liberados sob fiança.” (The Story of Led Zeppelin. In.: HM Photo Book)
Simples?! Claro que não. Se Graham gostava de manter uma imagem de durão, Peter Grant, na prática, era esse homem, tanto que aparecem cenas dele dando broncas em várias pessoas no show do Madison Square Garden no filme “The Song Remains The Same”. Para defender os interesses do Led Zeppelin, Grant fazia de tudo, até interromper shows de outros grupos em festivais para não atrapalhar a hora de entrada de seus músicos.
Peter Grant era autoritário e violento. Não foi por acaso que quis ser retratado como um mafioso no filme oficial do Led Zeppelin. O seu braço direito – Richard Cole – era pior. Os dois mais o baterista John Bonham protagonizaram várias cenas de violências nos bastidores dos shows do grupo.
Quando ocorriam problemas com o Led Zeppelin (e eram muitos – drogas, orgias, envolvimento com garotas com menos de 18 anos, brigas e ataques violentos até contra jornalistas – que, por sinal, insistiam em falar mal do grupo -, magia negra, destruição de hotéis...), Peter Grant colocava os músicos em limousines e os encaminhavam direto para o avião particular da banda. O empresário ficava e resolvia – normalmente com muito dinheiro – o que precisava ser resolvido.
Jimmy Page tentava amenizar a fama do Led Zeppelin na década de 1970:
"Havia apenas a coisa com Bill Graham e houve só um caso de briga fora do palco. Mas eu não sei como aconteceu. Eu sei que essa coisa de vibração pesada cercou-nos, mas era mais em tom de gozação. De fato, você não poderia encontrar um homem mais gentil do que Peter Grant, mas as pessoas não compreendiam o estilo dele.” (Chris Welch, The Story of Led Zeppelin. In.: HM Photo Book)
Certamente Grant era gentil e fazia tudo por seus músicos. Entretanto (e talvez exatamente por isso), isso não significava ser cordial com os outros fora do universo do Led Zeppelin. Quanto ao incidente relatado por Chris Welch e Jimmy Page, maiores detalhes aparecem no livro “Hammer of the Gods”:
“Durante dez anos, Peter Grant e Bill Graham acusavam um ao outro serem só blefes. Em 23 de julho, a noite do primeiro show de Oakland, houve finalmente um confronto entre eles. Tudo começou com o filho de Peter Grant, Warren, que estava acompanhando a turnê. Havia uma placa escrita à mão (dizendo) 'Led Zeppelin' na porta de um dos trailers, e o jovem Grant pediu a um dos seguranças de Bill Graham se ele poderia levar a placa. De acordo com Richard Cole, o segurança empurrou Warren para mantê-lo distante. Bonzo, fora do palco por um momento, viu, aproximou-se, amaldiçoou o segurança e o chutou algumas vezes antes de voltar ao palco. Em seguida, foi dito ao Peter Grant que alguém tinha machucado seu filho, e Grant e John Bindon levaram esse segurança para dentro de um trailer, enquanto Richard Cole vigiava tudo do lado de fora. A equipe de Graham veio em auxílio do colega e foi espancada por Cole quando tentou entrar no trailer. Quando a equipe de Graham finalmente entrou no trailer, havia sangue para todo o lado, sendo que o segurança havia sido vítima de uma prolongada e firme surra. Ele, então, foi levado para um hospital.” (Stephen Davis, Hammer of the Gods, p. 197)
O Led Zeppelin ainda tocou mais duas noites no mesmo lugar. Peter Grant obrigou Graham a assinar um documento tirando a responsabilidade da equipe do Led Zeppelin no espancamento do segurança. Na medida em que tal documento não tinha valor jurídico, Graham tentou processar os envolvidos. O resultado final saiu só no ano seguinte:
“Em fevereiro de 1978, por meio de seus advogados, John Bonham, Peter Grant, Richard Cole e John Bindon procuraram se defender das acusações decorrentes do episódio no Oakland Coliseum em julho do ano anterior. Todos os quatro foram considerados culpados e obrigados a pagar multas e as penas foram suspensas. Desde que os quatro não foram obrigados a comparecer no tribunal, as acusações contra eles, de fato, nunca foram ouvidas. Bill Graham ficou furioso porque, mais uma vez, o Led Zeppeln tinha se safado perante a lei.” (Stephen Davis, Hammer of the Gods, p. 200)
Na verdade, o que importa mesmo é que todo esse clima era típico dos anos 1970. Aliás, é por isso que o Led Zeppelin tornou-se símbolo da década. As tentativas de reunir o grupo não deram certo não só por causa da morte de John Bonham – que era “o motor da máquina” – mas também pela falta de Peter Grant.
Deve ser considerado ainda que os anos 1970 acabaram. O mundo mudou. O estilo de vida do Led Zeppelin não caberia mais nas décadas seguintes. E, muito importante, ficou a lenda com uma trilha sonora perfeita. Isso não é pouco no universo do rock n’ roll.
GUITARRISTAS & VOCALISTAS
São raras as bandas que não dependem dos seus vocalistas. Quando foi lançada a edição especial de Exile On Main Street, Keith Richards achava que os Rolling Stones deveriam fazer uma tour para comemorar. Mick Jagger discordou. Não houve tour.
Jimmy Page, recentemente, após muito trabalho, lançou edições especiais dos três primeiros álbuns do Led Zeppelin. Ele também achava que o grupo deveria se reunir e fazer shows. Robert Plant, na prática, rejeitou a ideia. Page perdeu a paciência e disse numa entrevista ao The New York Times:
"Foi-me dito no ano passado que Robert Plant falou que não tinha nada para fazer em 2014, e o que os outros dois vocês achariam disto? Bem, ele sabe o que os outros caras pensam. Todos gostariam de fazer mais shows com a banda. Ele está apenas jogando jogos, e eu estou farto disso, para ser honesto com você. Eu não canto, então eu não posso fazer muita coisa. Tudo parece, portanto, muito improvável, não é? "*
É verdade. Dificilmente a tour acontecerá. Robert Plant tem seus motivos, alguns talvez nem sejam tão conscientes assim, como quando, para compreender os acidentes sofridos por sua família na década de 1970 (inclusive com a morte de seu filho Karac), disse que a má sorte do grupo na época seria culpa do envolvimento de Jimmy Page com a magia negra; ou ainda, quando era hostilizado pelos outros no início da banda, época que foi muito criticado pela imprensa dos Estados Unidos e que quase perdeu o emprego de vocalista do Led Zeppelin:
"Dos quatro membros do Led Zeppelin, Robert Plant foi o mais brutalmente criticado (...) Cole relembra: ‘Foi uma coisa muito real se Robert ficaria mesmo no grupo após a primeira turnê, porque ele não parecia atender a expectativa de Pagey. Na época, havia uma possibilidade de que ele não faria outra turnê. Essa era a verdade. " **
A situação foi invertida. A palavra final agora depende do Robert Plant (mesmo considerando que o Led Zeppelin foi sempre a banda do Jimmy Page).
(*)http://www.stereogum.com/1682190/jimmy-page-is-fed-up-with-robert-plants-refusal-to-play-led-zeppelin-concerts-meanwhile-theyre-finally-getting-sued-for-ripping-off-stairway/news/
“I was told last year that Robert Plant said he is doing nothing in 2014, and what do the other two guys think? Well, he knows what the other guys think. Everyone would love to play more concerts for the band. He’s just playing games, and I’m fed up with it, to be honest with you. I don’t sing, so I can’t do much about it. It just looks so unlikely, doesn’t it?”*
(**) Stephen Davis, Hammer of Gods, p. 64.
"Of the four members of Led Zeppelin, it was Robert Plant savagely critized. (...) Cole recalls: 'It was a very touch-and-go thing whether Robert would even be in the group after the first tour, because he didn't quite seem to make it up to Pagey's expectation. At the time, there was a possibility he woudn't do another tour. That was the truth."**
LED ZEPPELIN: SÍMBOLO DA DÉCADA DE 1970
Não existe dúvida quanto ao Led Zeppelin ser o símbolo da década de 1970. O grupo representava o oposto da geração “Paz & Amor” dos anos 1960.
Em sua trajetória, a banda esteve envolvida com violência (a maior parte envolvia o baterista John Bonham), sexo com as fãs (uma das namoradas do guitarrista Jimmy Page, na época, tinha só 13 anos de idade), misticismo (magia negra) e a condução dos negócios lembrava o autoritarismo da máfia (não foi por acaso, aliás, que foi dessa maneira que o empresário Peter Grant quis ser retratado no filme oficial “The Song Remains The Same”.
O filme “Laranja Mecânica” gerou bastante polêmica nos anos 1970. O motivo seria “o elogio” da ultraviolência do personagem principal, Alex, interpretado pelo ator Malcolm McDowell no filme do Stanley Kubrick. John Bonham se identificou tanto com o personagem que mandou fazer uma roupa idêntica a do filme e a usava nos shows do Led Zeppelin.
A identificação com o nazismo também chamava a atenção. Jimmy Page, em vários shows, fazia questão de se vestir como um oficial do “Reich”.
O nome do grupo, porém, em nada tinha a ver com essas problemáticas. Tratou-se de uma sugestão do baterista Keith Moon, que gostaria de formar um grupo que fosse, ao mesmo tempo, “pesado e capaz de voar”. O guitarrista desse grupo (imaginado por Moon) seria o Jimmy Page.
As letras das músicas do Led Zeppelin não apresentavam elogios à violência. Ao contrário, canções como “Going To California” ainda retratavam o período de “Paz & Amor”:
“Decidi fazer um novo começo,
Indo para a Califórnia com uma dor no meu coração.
Alguém me disse que há uma garota por lá
Com amor em seus olhos e flores em seu cabelo”*
Já o misticismo aparecia constantemente nas letras do grupo (e mesmo nos símbolos dos músicos, nas fotos dos álbuns e no roteiro do filme “The Song Remains The Same”). Não seria possível dissociar o grupo dos boatos de magia negra, o que era reforçado por algumas letras ambíguas.
Talvez o livro que mais reforce o que foi Led Zeppelin na década de 1970 tenha sido “Hammer of Gods”. A fonte principal das informações foi Richard Cole, braço direito do empresário Peter Grant. Deve ter ocorrido exagero numa história ou em outra, mas, claro, mesmo isso só reforçaria o mito que foi criado em torno da banda e de sua trajetória os anos 1970.
AS REUNIÕES DO LED ZEPPELIN
Todos sabem que a morte do baterista John Bonham decretou o fim do Led Zeppelin. Depois vieram as carreiras individuais e algumas tentativas de reunir o Zeppelin. Robert Plant, que sempre apareceu como o responsável pelo insucesso de tal empreitada, já disse que o problema não seria só com ele e que ele estaria disposto a fazer shows com a banda em 2014 (caso Jimmy Page e John Paul Jones aceitassem). Jones, porém, afirmou que não poderia porque estaria compondo uma ópera.
Essa história de não reunir o grupo, aparentemente, tem mais a ver com fatores externos à vontade dos próprios músicos. Em outras palavras, Page, Jones e Plant tentaram algumas vezes reunir o grupo para shows, mas sempre acontecia algo que impedia a realização do projeto.
Em 1985, houve a maior expectativa da reunião do grupo (que não usou o nome Led Zeppelin) no projeto Live Aid (os bateristas foram Phil Collins e Tony Thompson).
Com o sucesso do show, em 1986, Page, Jones, Plant e Tony Thompson ensaiaram algumas horas no Bath Studios com a intenção de reunir a banda. O projeto não deu certo na época por causa de um acidente de carro sofrido por Tony Thompson.
Em 1988, haveria uma reunião (com Jason Bonham) para a comemoração dos 40 anos da gravadora Atlantic. Em abril de 1990, eles tocaram juntos novamente no casamento de Jason Bonham. Em junho, Jimmy Page participou do show do Plant em Knebworth. Na época, Plant tentou reunir o grupo com o baterista Mike Bordin do Faith No More. No entanto, não deu certo mais uma vez porque o Page não ficou satisfeito com a performance de Bordin.
Em 1994, o Robert Plant veio ao Brasil pela primeira vez (eu vi o show no Morumbi em São Paulo). Aconteceu, neste ano, o projeto para MTV “No Quarter Unledded”, com Page e Plant. Os dois saíram para a “tour” e vieram para a América do Sul em 1996. Eu vi os shows em São Paulo e no Rio de Janeiro.
Page e Plant gravaram mais um álbum, o “Walking To Clarksdale”. Não vieram ao Brasil, mas tocaram nos Estados Unidos e na Europa, mas as datas dos shows da Austrália e do Japão foram canceladas porque o Robert Plant disse que estaria cansado do projeto.
Na revista inglesa Classic Rock (January 2001, p. 58), Jimmy Page afirmou:
“Robert disse que não quer cantar as canções do Led Zeppelin, mas eu adoro tocar a música do Zeppelin. Por mim, deveríamos estar por aí tocando as canções do grupo.”
Após a desistência do Plant, Jimmy Page reuniu com The Black Crowes para vários shows, o que resultou no álbum duplo Jimmy Page & The Black Crowes – Live At The Greek.
Em termos de reunião do Led Zeppelin, a história voltou em 2007 (usando o nome do grupo pela primeira vez), quando os músicos ensaiaram por semanas e tocaram um “set” completo que, posteriormente, foi lançado em CD e DVD, com grande sucesso. Na bateria, estava Jason Bonham.
PAUL RODGERS & JIMMY PAGE
Paul Rodgers foi vocalista do Free (década de 1960) e do Bad Company (anos 1970). Essa última banda foi uma das contratações da Swan Song, criada pelo Led Zeppelin e por seu empresário Peter Grant.
Houve uma época que o Zeppelin estava sem fazer shows e o Jimmy Page e o Robert Plant participaram de alguns shows do Bad Company. Na década de 1980, eu tive uma cópia de um pirata do grupo de Paul Rodgers nos anos 1970. No final, Jimmy Page participava tocando na música “Rock Me Baby”. Inacreditável!!! Era óbvia e maravilhosa a sonoridade da guitarra de Page (o que, claro, compensava todo o pirata do Bad Company). Na época, troquei esse e mais duas cópias de outros piratas com uma garota dos Estados Unidos. Em troca, ela enviou todas as letras do Led Zeppelin escritas a mão.
Jimmy Page, em 1980, com a perda de John Bonham e o fim do Led Zeppelin, entrou de vez no mundo das drogas. Ficou um bom tempo sem tocar guitarra.
Ao vivo, Page voltaria a tocar nos shows da ARMS, com Jeff Beck e Eric Clapton. O guitarrista do Led Zeppelin encerrava o show com uma versão acústica (e fantástica) de Stairway To Heaven (só guitarra, sem vocais). Foi neste período que tocou novamente com Paul Rodgers e resolveram criar uma banda, The Firm, que gravou dois álbuns na década de 1980.
Parece que quando Paul Rodgers fez um show solo no Brasil, ele não tocou músicas do The Firm. Pouca Importa. Nos shows da carreira solo de Jimmy Page, ele tocava músicas de todas as suas fases como Yardbirds, Led Zeppelin e, claro, The Firm.
Paul Rodgers voltou a ser notícia quando ocupou o lugar (se é que isso seria possível) do Freddy Mercury no Queen. Gravaram CD inédito e fizeram shows sob o nome de “Queen + Paul Rodgers” (na verdade, o baixista John Deacon não entrou nesta furada).
Jimmy Page, uma vez, chegou a afirmar que, em termos técnicos, o Paul Rodgers era melhor do que o Robert Plant. Talvez. Mas falta ao vocalista do Bad Company aquilo que sobraria no vocalista do Led Zeppelin: carisma (e isso conta muito no universo do rock n’ roll).
JIMMY PAGE – OUTRIDER 1988
Vi o Jimmy Page (com Robert Plant) duas vezes ao vivo, em São e no Rio de Janeiro em 1996. O meu sonho, porém, era ver um show da carreira solo do Page, como a “tour” que ele fez para o “Outrider” em 1988, quando ele tocou músicas de diferentes fases de sua carreira, como Yardbirds, Led Zeppelin, The Firm, além de músicas da trilha sonora de “Death Wish II” e, claro, músicas do “Outrider”.
Depois disto, Jimmy Page tocou e gravou com outros músicos. Gosto bastante do projeto “Coverdale-Page”, do ao vivo Jimmy Page & Black Crowes, do filme “Might Get Loud” (com Jack White e The Edge), dos álbuns Jimmy Page & Robert Plant e, claro, do CD-DVD “Celebration Day”.
Contudo, para quem é realmente fá do músico, como é o meu caso, nada seria tão satisfatório como ver um show solo dele, com Page tocando canções de todas as suas fases, mostrando a sua contribuição para o universo do rock n’ roll.
O CASO DE “WHOLE LOTTA LOVE”
Primeiro, Robert Plant admite que a polêmica foi por sua causa, nas letras, e que a música de Jimmy Page nada teria a ver com o plágio (hoje o nome do Willie Dixion já aparece nos créditos:
“O som do Page sempre foi o som do Page. Ele estava lá antes de qualquer coisa. Diante da música do Page, eu pensei: ‘bem, o que eu vou cantar?’ Foi só isso.” No original: “Page’s riff was Page’s riff. It was here before anything else. I just thought, ‘Well, what am I going to sing? That was it, a nick.” (Musician, June 1990, p. 47)
Segundo, Robert Plant reconhece a importância da música e por isso tenta justificar o plágio nas letras:
“‘Whole Lotta Love’ representou um avanço no rock ‘n’ roll. Se a outra não tivesse sido roubada, a música não pareceria tão boa. O erro foi não dar os créditos ao Dixion na época.” (Musician, June 1990, p. 47)
Terceiro, Robert Plant admitiu ainda que copiou o estilo de Steve Marriot em “Whole Lotta Love”:
“Foi engraçado ouvir o Robert admitindo que ele imitou o estilo de Steve Marriott em ‘Whole Lotta Love’. Não é engraçado que Jimmy queria tanto que o Steve Marriott fosse o vocalista e ao invés disso conseguiu um imitador do Steve Marriott?” (April 25, 2014. By: http://www.ledzeppelinnews.com/)
Pode parecer que fico no pé do vocalista do Led Zeppelin. Mas eu acho a banda perfeita!! Eu só não gosto quando o próprio Plant fala mal do Zeppelin por saber que a grande estrela e responsável pelo som da banda era o Jimmy Page.
Aliás, acho razoável o Robert Plant recusar fazer shows com Page, Jones e o Jason Bonham utilizando o nome do Led Zeppelin. Isso não é só porque a sonoridade e a criatividade de John Bonham eram únicas. Muitos esquecem a importância do empresário Peter Grant na história do Led Zeppelin. O mito em torno do grupo não aconteceria sem a maneira “particular” de Grant lidar com os negócios da banda.
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Sobre a reunião do grupo, o assunto seria discutido novamente em 2013, mas de uma forma diferente. Robert Plant admitiu, no programa “60 Minutes”,* que voltaria a reunir com Jimmy Page e John Paul Jones.
Na época, quem descartou a possibilidade foi Jones, afirmando que tinha que compor uma ópera. A seguir, as palavras de Robert Plant na entrevista:
“Os outros dois são de capricórnio... Eles estão confortáveis em seus próprios mundos e deixaram para mim o papel de... [‘bad guy’?] Eu não sou o garoto mal da história... [mas você é para os fãs do Led Zeppelin quando o assunto é reunir o grupo...] Nós necessitaríamos falar com os dois capricornianos porque eu não tenho nada para fazer em 2014... [voltaria a fazer shows com o Led Zeppelin?] Yeah, se você encontrá-los (Jimmy Page e John Paul Jones)... Sim.”*
(*) Robert Plant to Jimmy Page – I am available in2014.http://www.youtube.com/watch?v=erQZRlFeGOM
JASON BONHAM E O LED ZEPPELIN
Imagine ter aprendido a tocar bateria com o seu pai, John Bonham, e ter convivido na infância e na adolescência com “tios” como Jimmy Page, John Paul Jones, Robert Plant e Peter Grant. Jason Bonham foi esse garoto.
Deve ser considerado que na sua perspectiva, Bonzo era o “dad” que vivia com a família numa fazenda na Inglaterra e, durante alguns meses, viajava para trabalhar com a sua banda. Isso quer dizer que Jason (e nem o resto da família) fazia ideia do que efetivamente acontecia nos bastidores dos shows do Led Zeppelin, quando Bonzo transformava-se em “The Beast” (por causa dos excessos com bebidas, drogas, mulheres e brigas).
Jason conhece os piratas do grupo e o que eles tocaram em quase todos os shows. Ele é meio uma enciclopédia do Led Zeppelin. Nem podia ser diferente. Aqui está o seu dilema. Ele nunca se libertará da “figura paterna”. Talvez nem queira.
Após algumas experiências depois do fim do Led Zeppelin (inclusive ter criado um grupo com Paul Rodgers, The Firm), Jimmy Page gravou o seu disco solo “Outrider” e saiu em uma “tour” pelos Estados Unidos. Robert Plant cantou em uma faixa do álbum. Page havia participado também dos discos solos do Plant, que naquela época (1988) começava a se livrar do trauma do passado e começava a cantar músicas do Zeppelin em seus shows. O baterista do projeto do Jimmy Page era o Jason Bonham.
Se for comparar, é completamente diferente a atuação de Jason nos shows de “Outrider” e sua performance no evento do O2 Arena em 2007. Fica claro que ele era o músico ideal para tocar em qualquer show que se usasse o nome “Led Zeppelin”. Ele sabe tudo sobre a banda e é um ótimo baterista. Entretanto, quando ele faz um solo de bateria dele mesmo no show de “Outrider”, em termos de criatividade, o que se vê ali seria muita limitação e nem de longe poderia ser comparado com as inovações do pai (principalmente ao vivo) em “Moby Dick”.
Jason nunca será John Bonham. Robert Plant, de certa forma, explicou isso a ele quando definiu o que era o Led Zeppelin. Não precisava. Provavelmente Jason (contrariando a teoria freudiana) nunca tenha acreditado, de fato, que poderia substituir o pai.
O VOCALISTA DO LED ZEPPELIN
Robert Plant, aparentemente, sempre teve problema com a autoridade da figura paterna.
Primeiro, só convenceu o pai de que realmente fazia uma atividade econômica quando saiu um nota do Led Zeppelin no jornal "Financial Times".
Segundo, durante o período do Zeppelin, ele sempre foi comportado e obedecia as decisões do grupo, especialmente do líder Jimmy Page.
Por que ele tinha esse comportamento? A origem do Led Zeppelin estava no Yardbirds, que ainda possuía contratos para shows mas havia ficado no grupo só o guitarrista Jimmy Page e o empresário Peter Grant.
No filme "The Song Remains The Same", quando aparece a "fantasia" de Grant, ele é mostrado como um mafioso. Nada poderia ser mais apropriado. Ele cuidava dos bastidores do grupo com mão de ferro. Ninguém ousava enfrentá-lo. Protegia a sua banda, muitas vezes, de forma truculenta passando por cima de outros músicos ou grupos em festivais ou até mesmo sobre as autoridades. Era um homem de negócios e fazia tudo para proteger os quatro músicos - para que eles se concentrassem só em fazer música. O resto era com ele.
Nesse ambiente, nem John Bonham, que era conhecido como "a besta" por causa da sua violência e falta de controle nos bastidores, ousava enfrentar Peter Grant. Havia uma autoridade no Led Zeppelin além dos músicos. Era considerado o quinto elemento do grupo - tanto é verdade, que no filme oficial da banda só aparecem as sequências de fantasias dos músicos e dele, Peter Grant.
Durante os doze anos do Led Zeppelin, Robert Plant foi o vocalista, letrista e se enquadrava perfeitamente no espírito de grupo, sem estrelismo.
Tudo mudou o a morte de John Bonham e o fim do Led Zeppelin.
Robert Plant queria construir uma carreira solo como se o Zeppelin não tivesse existido na sua vida. Nas tours dos primeiros discos solos, ele recusava tocar qualquer música do Led Zeppelin.
Tentou outras sonoridades. Tentou construir outra identidade. Não foi possível.
Tanto nos álbuns como ao vivo, Plant voltaria a utilizar o material do Zeppelin. Em seus shows, as músicas da antiga banda eram as mais esperadas e ele as cantava, exceto "Stairway To Heaven".
O problema do Robert Plant com dependência de uma figura paterna reapareceu quando ele foi convidado a fazer um "unplugged" para a MTV. Não fez sozinho. Convidou Jimmy Page para acompanhá-lo. Dessa parceria, além dos shows, foram produzidos dois álbuns.
Após este período, Plant voltou para a sua carreira solo, tentando se livrar do fantasma de ter sido o vocalista de uma grande banda liderada por Jimmy Page. Chegou ao ponto, em seus shows de 2012, de apresentar versões do Led Zeppelin como se não existisse o som da guitarra - que era a base de tudo.
Robert Plant faz piadas com o passado e menospreza um dos maiores grupos que existiu na história do rock. Entretanto, de fato, continua cantando "Black Dog" ou "Rock and Roll" como se fosse o inexpressivo cantor da banda formada por Jimmy Page para substituir o Yardbirds.
Plant conseguiu manter o emprego no Zeppelin depois das críticas que sofreu na primeira tour pelos Estados Unidos. Não precisou ser mais um "office boy" que ia buscar sanduíches para o Jimmy Page e o Richard Cole (assistente de Peter Grant) numa piscina de hotel. Foi acusado e admitiu que plagiava em algumas letras.
A verdadeira trajetória de Robert Plant não lhe dá autoridade de criticar o Led Zeppelin, o Jimmy Page ou o John Paul Jones, algo que fez inúmeras vezes. O Led Zeppelin deu-lhe a oportunidade de ser um dos ícones do rock. Ele deve isso ao John Paul Jones, Peter Grant, John Bonham e sobretudo ao Jimmy Page.
As bobagens que Plant diz no período da sua carreira solo, ele não ousava falar enquanto o Led Zeppelin estava na ativa. O que ele ridiculariza hoje, ele deveria falar (na época) na cara do Peter Grant, Jimmy Page, John Paul Jones e John Bonham. E coragem para tanto? Existe uma palavra simples que define esse tipo de comportamento: traição.
ROBERT PLANT 2012
Como tocar uma música do Led Zeppelin sem destacar o som da guitarra de Jimmy Page?
Robert Plant é um caso freudiano.
Se quer "esquecer" mesmo o Jimmy Page, não deveria tocar as músicas do Led Zeppelin.
Deveria tocar as músicas do seu grupo anterior - Band of Joy - cuja sonoridade tem mais a ver com o seu estilo atual.
Por que não faz isso? Simples: o apelo comercial do Led Zeppelin é maior do que a da Band of Joy.
O Led Zeppelin é maior do que o Robert Plant e a síntese do Led Zeppelin é o guitarrista Jimmy Page.
Sem participar do Led Zeppelin, Plant estaria até hoje cantando em pubs ingleses.
Portanto, ele deveria AGRADECER ao Jimmy Page e NÃO tentar ESQUECER a sonoridade brilhante das guitarras do Page nas músicas do Zeppelin.
AINDA... ROBERT PLANT...
... sobre essa coisa de quem copiou quem, olha o comentário de Robert Plant, na introdução de uma música, em 2007, no filme "Celebration Day":
"Em 1935, Robert Johnson gravou uma música chamada 'Terraplane Blues' e... isso apareceu em vários outros momentos com vários outros artistas desde então... Talvez Johnson a copiou de outra pessoa, certeza, todo mundo acha isso... Essa é uma do Led Zeppelin estilo 'Terraplane Blues'... O nome da música é 'Trampled Underfoot'...”
LED ZEPPELIN, GROUPIES & SM
Os músicos do Led Zeppelin eram os que mais se relacionavam com as "groupies", em orgias e namoros (apesar de serem casados na Inglaterra). Jimmy Page, por exemplo, se envolveu com Lori Maddox quando ela tinha apenas 14 anos.
Sobre esse período e o guitarrista do Led Zeppelin, Pamela Des Barres afirmou:
"Jimmy carregava chicotes e gostava de infligir algum dano nas meninas. Ele também desenvolveu um hábito de visitar clubes de travestis, vestido em uniforme nazista e aplicava heroína cercado por drag queens. Se brincadeira saísse de controle, Page seria levado de volta para o hotel pelo tour manager e acorrentado num 'toilet' até que ele se acalmar."
No livro "Hammer of Gods" aparece a opinião de Jimmy Page sobre as "groupies":
“As garotas aparecem e posam de starlets, provocando e agindo de maneira arrogante. Se você as humilha um pouco, costumam voltar numa boa. Todo mundo sabe para o que elas vieram.”
Dizer "se você as humilha um pouco", de certa forma, confirma a depoimento de Pamela de Barres. Mais do que isso, como afirmei em outro texto, Jimmy Page gostava de usar um "Nazi SS Storm Trooper Hat" em shows do Led Zeppelin - acessório usado ainda em práticas de sadomasoquismo (SM).
Sobre estas problemáticas, numa entrevista com Tony Barrell em 2010, o guitarrista afirmou:
"Eu tenho certeza que alguns de seus leitores podem ter flertado com o SM. (...) Eu tenho um apetite voraz por todas as coisas desse mundo ou não ('unworldly')."
Em uma resposta bastante vaga, de fato, Jimmy Page não negou o seu interesse pelo SM. Como ele mesmo disse, todos "sabiam para o que elas vieram", ou seja, os músicos se sentiam livres para fazer qualquer coisa com as "groupies".
Tudo ocorreu na década de 1970. Hoje, certamente, com tantas restrições à liberdade do indivíduo, seria difícil ver músicos e "groupies" agirem daquela maneira. Claro que muitos tentaram copiar o Led Zeppelin nas décadas seguintes, tanto em relação à música como no que dizia respeito ao comportamento. Entretanto, a maioria falhou.
ROBERT PLANT & LED ZEPPELIN
Robert Plant, no início de sua carreira solo, queria produzir algo independente do seu passado com o Led Zeppelin. Nos shows, não tocava músicas de sua ex-banda. Os três primeiros álbuns refletem essa fase: Pictures At Eleven (1982), The Principle Of Moments (1983) e Shaken 'n' Stirred (1985).
Plant participaria do Live Aid com Jimmy Page e John Paul Jones. Tocaram três músicas do Led Zeppelin, sem, contudo, utilizar o nome do grupo.
Somente em 1988, sobretudo com a influência de Phil Johnstone, Plant começaria, de fato, a assumir a influência do Zeppelin em sua carreira solo, contando, inclusive, com a participação de Jimmy Page em duas faixas de "Now And Zen".
Depois viria o álbum "Manic Nirvana" (1990) com fotos na capa que poderiam ter sido retiradas de shows da década de 1970.
A "tour" de "Fate Of Nations" (1993) passou pelo Brasil em janeiro de 1994. Vi o show do estádio do Morumbi. Muito bom. Havia uma mistura das canções da carreira solo e de músicas do Zeppelin.
Posteriormente, Plant foi convidado pela MTV para fazer um "unplugged". Sem o fantasma do ex-grupo (e talvez por insegurança mesmo), ele convidou o guitarrista Jimmy Page para participar do projeto. O resultado da parceira foram os álbuns "No Quarter" (1994) e "Walking Into Clarksdale" (1998). "Mighty ReArranger" viria em 2005. No entanto, só em 2007 - e, mais uma vez, Plant não estaria sozinho - viria o premiado e excelente "Raising Sand", com Alison Krauss.
No final de 2007, em 10 de dezembro, o vocalista faria outra reunião com os ex-companheiros para um show de duas horas em homenagem ao Ahmet Ertegun na O2 Arena em Londres. Na bateria, estava Jason Bonham. A novidade seria o uso pela primeira e única vez do nome Led Zeppelin. Foi um grande sucesso, o que levou aos questionamentos de uma possível "tour" (que foi recusada por Plant, que preferiu fazer os shows com Alison Krauss). O produto (CDs/DVDs) de 2007 somente seria lançado em 2012.
Em 2010, veio "Band Of Joy" e recentemente a "tour" com a "Sensational Space Shifters" (que passou pelo Brasil, assim como a "No Quarter Tour").
Próximo passo? Robert Plant afirmou que está chegando numa idade que precisará de ajuda para atravessar a rua. Aposentadoria? Provavelmente não. Foi só mais uma desculpa para não fazer mais shows com os ex-companheiros do Led Zeppelin.
O TEMPO DO ZEPPELIN
O tempo do Led Zeppelin pode ser exato (1968-1980) ou não.
Foram seis semanas de ensaios para o extraordinário show no O2 Arena em 2007.
Foram, depois, mais cinco anos para produzir e lançar o show em filme e CDs. John Paul Jones fez uma referência ao conceito de tempo do Zeppelin, algo como 5 anos significariam 5 minutos.
Apesar de todo o tempo gasto e do sucesso do show de 2007, foi um único show e pronto.
Houve propostas milionárias para uma "tour", mas o vocalista Robert Plant recusou a ideia. Os outros três membros até pensaram nesta possibilidade, mas logo John Paul Jones formaria o Them Crooked Vultures com Josh Homme e Dave Grohl e o projeto não iria para frente.
De fato, Jason, o filho de John Bonham, já havia tocado com o Led Zeppelin algumas vezes, inclusive no dia do seu casamento. Não havia novidade.
Foi o baterista do álbum e da "tour" do "Outrider" do Jimmy Page. Jason Bonham conhece praticamente todos os piratas do Zeppelin e sabe exatamente como o seu falecido pai criava e tocava as músicas. Neste sentido, a sua performance no O2 Arena foi perfeita.
Como estilo próprio, no entanto, Jason nunca foi nem criativo e nem tão competente como o pai - basta ver, por exemplo, o seu solo de bateria em algum show da "tour" de "Outrider".
Ainda no que diz respeito ao sucesso de O2 Arena, merece destaque um depoimento de John Paul Jones: "O show parecia ser o primeiro de uma 'tour'." ("The show was felt like the first show of a tour.")
Não foi o que aconteceu. O Led Zeppelin foi uma banda da década de 1970 formada por quatro músicos que contavam com o apoio fundamental do empresário Peter Grant. Não foi por acaso, afinal, que no filme oficial do grupo em 1976 - "The Song Remains The Same" - apareciam cinco sequências de "fantasias": Grant, Robert Plant, Jimmy Page e John Bonham.
Com as mortes do baterista e do empresário, talvez realmente não teria sentido fazer uma "tour" ou mesmo gravar material inédito.
Assim, mesmo que por motivos pessoais, a decisão de Robert Plant preservou a memória da banda e reforçou o mito de um dos maiores grupos de rock da história.
DAZED AND CONFUSED
Algumas pessoas acreditam que "descobriram a América" ao fazer comparações das músicas do Led Zeppelin com antigas canções de blues.
O caso mais famoso foi o de "Whole Lotta Love". Posteriormente, Robert Plant reconheceu o plágio nas letras e o nome de Willie Dixion passou a constar nos créditos da música.
Escrevi um texto, uma vez, no qual tratava das limitações do letrista Plant diante da genialidade musical de Jimmy Page.
Mas... e "Dazed and Confused"? Escrevi que esse poderia ser plágio de Page na medida em que o guitarrista do Led Zeppelin sempre admitiu que não escrevia letras para as músicas.
Apesar disto, nunca houve processo contra Jimmy Page. Somente em 2010, décadas depois, Jake Holmes tentou processar Page.
Contudo, havia certas contradições no processo.
Primeiro, comparando o que seriam as duas versões, no website TMZ*, é dito: "os versos são diferentes". Ou seja, exatamente na parte que Jimmy Page poderia plagiar, ele foi original.
Segundo, Page sempre teve uma dedicação especial para essa canção. Se, em 1969, ela tinha pouco mais de 6 minutos, na sua versão ao vivo de 1973 - que aparece no filme "The Song Remains The Same" - ela chega a quase meia hora, ocupando um lado inteiro de um dos dois LPs lançados em 1976.
Terceiro, se era cópia, por que esperar mais de 40 anos para processar o guitarrista do Zeppelin? A pergunta e "a resposta" aparecem no mesmo website:
"o advogado de Jake Holmes não quis comentar." ("His attorney had no comment.")*
Sim, é inacreditável. Portanto, para buscar "a verdadeira" autoria de "Dazed and Confused", o susposto músico terá que apresentar um argumentação melhor. Enquanto isso, vale o que sempre existiu: a música e a letra são de um único autor: James Patrick Page.
* http://www.tmz.com/2010/06/29/led-zeppelin-dazed-and-confused-jimmy-page-lawsuit-jake-holmes/
DAVE GROHL & LED ZEPPELIN
Eu sou fã do Led Zeppelin, fui membro de um fã-clube dos E.U.A, "Feathers in the Wind", e coordenei o jornal "The Rover" (1984-1986) aqui no Brasil.
Digo isso pois acho que chega a ser constrangedora a "veneração" de Dave Grohl quanto aos músicos da banda.
É verdade que a primeira vez que vi o Jimmy Page tocar ao vivo em São Paulo (com Robert Plant) fiquei tão impressionado que não lembro coisa alguma do show!!! Depois vi o show do Rio, e foi tudo OK.
Aliás, o meu primeiro disco do Led Zeppelin foi presente do meu pai em 1976 (ano do lançamento do LP). Com o salário do meu primeiro emprego, comprei o "In Through the Out Door" em 1979 (também ano do lançamento do disco).
Bons tempos? Para o Led Zeppelin, provavelmente. Para mim, a barra era muito pesada na década de 1970.
LED ZEPPELIN
Acreditar num discurso imediatamente é ingenuidade.
Avaliar o Led Zeppelin SÓ pelas letras seria como avaliar a brilhante seleção de futebol de 1970 SÓ pela atuação do goleiro Félix, que era o seu ponto mais frágil.
Isso não é crítica, é manipulação.
Na verdadeira crítica, o indivíduo deve analisar os pontos mais fortes da obra de uma artista e demonstrar que eles eram equivocados.
Dizer que o Jimmy Page não era original, é desconhecer o seu passado de músico de estúdio, quando era chamado para tocar aquilo que os músicos de bandas como The Rolling Stones, The Who e The Kinks não conseguiam.
O próprio Robert Plant sempre admitiu que as letras eram a parte fraca da música do Zeppelin. Ele não copiava só os outros, ele plagiava a si mesmo como nas letras de "Since I've Been Loving You" e "Tea For One." A explicação para tanto plágio nas letras estava justamente na criatividade de Jimmy Page, como Robert Plant destacou uma vez:
"Page's riff was Page's riff. It was there BEFORE ANYTHING ELSE. I just thought. 'Well, what am I gonna to sing?' That was it, a nick." (Musician, June 1990, p.47)
Sim, Page CRIAVA a música mas o Plant NÃO criava a letra. Ele copiava. Era isso.
Jimmy Page sempre admitiu a sua incapacidade de escrever letras. Logo, "Dazed and Confuzed" não poderia ser só dele. Esse foi o seu plágio.
THE ROVER
Eu sempre fui fã do Led Zeppelin. Houve uma época que não havia fã-clube do grupo no Brasil. Então, decidi criar The Rover, que foi um fanzine trimestral - existiu entre 1984 e 1986. Eu datilografava o jornal e traduzia as matérias. No final, colocava as fontes e os agradecimentos quanto aos que me ajudavam naquele volume.
Havia as "newsletters", com uma folha apenas. Elas eram enviadas quando havia algo especial, como uma entrevista e alguma notícia de última hora. Eu assinava um jornal norte-americano chamado Feathers in The Wind, que era uma fonte importante sobre as atualidades dos músicos do Zeppelin.
No período - 1984-1986 -, o computador pessoal não era comum e não havia internet. Eu estudava inglês, francês e alemão, mas ainda cometia muitos erros em relação ao português - que apareciam no The Rover. No Brasil, os shows de bandas internacionais eram raros - o que mudaria com o Rock in Rio em 1985. Estive lá para prestigiar "a noite do heavy metal", com Whitesnake, Ozzy Osbourne, Scorpions e AC/DC.
O surgimento de outros fã-clubes do Led Zeppelin no Brasil e o fim do jornal Feathers in The Wind foram os principais fatores que levaram-me a encerrar as atividades do The Rover.
EGOS E IRONIAS NO ROCK
O Led Zeppelin foi formado por dois experientes músicos de estúdio - Jimmy Page e John Paul Jones - e dois jovens desconhecidos - Robert Plant e John Bonham), sendo que um revolucionaria o jeito de tocar bateria e definiria, de certa maneira, o caminho que o grupo iria tomar (inicialmente, Page havia pensado em formar um grupo mais acústico, "folk").
O mais inexpressivo no começo da banda era o vocalista Plant - tão inexpressivo, que, na época, o assistente do empresário do Led Zeppelin, Richard Cole (sim, aquele indivíduo de bigode que leva uma bronca enorme de Peter Grant no filme "The Song Remais The Same") mandou o vocalista comprar sanduíches para o pessoal do grupo (ver o livro "Hammer of Gods"). Claro que logo essa situação mudaria e Robert Plant seria um dos destaques do Zeppelin e um dos ícones do rock.
Depois do fim da banda, Plant gostava, algumas vezes, de fazer trocadilhos ou falar mal do Led Zeppelin. Talvez ele nunca tenha esquecido a humilhação de Richard Cole... Quando fez o seu primeiro disco solo, "Pictures of Eleven", ele o mostrou para os ex-companheiros Page e Jones. Page aprovou. Jones fez críticas:
"Bem, ah, eu pensei que você poderia ter feito algo um pouquinho melhor, velho amigo." Ao que Plant respondeu: "bem, obrigado. E mais uma vez, eu sou apenas o cantor das músicas." (Guitar World, July 1986, p. 64)
Robert Plant não esqueceria as críticas de John Paul Jones. Quando resolveu fazer o "unpplugged" da MTV do Page e em seguida grava dois álbuns e realizar duas tours, Plant responderia ao baixista do Zeppelin. Sempre que era questionado por que Jones não havia sido convidado para participar do projeto, Plant respondia com alguma piada ou ironia, como "Jones ficou lá fora estacionando os carros..."
Quando Jimmy Page fez o projeto com David Coverdale, Robert Plant o criticou bastante, sobretudo afirmando que Coverdale o imitava e que se o que ele (Plant) fazia na época (do Zeppelin) já era ridículo, imagina o que sobraria para os plagiadores.
Robert Plant exagerava, claro, e não poupava nem a si mesmo. As ironias quanto à importância do Led Zeppelin devem vir do fato de que tudo na banda era criado e controlado por Jimmy Page. Não havia dúvidas de que se tratava do grupo de Jimmy Page. Plant era "apenas o cantor das músicas." Apesar de ter feito letras interessantes, como "That's the Way", "Going to California" e "The Rain Song", o vocalista era acusado de plágio. A sua justificativa seria que nem sempre dava para acompanhar a criatividade musical de Jimmy Page. Ou seja, o guitarrista chegava com a música e ele tinha que criar a letra. Nas palavras do próprio Robert Plant:
"O 'riff' do Page é o 'riff' do Page e pronto. Ele estava lá antes de qualquer coisa. Daí, eu pensava: 'bem, o que eu vou cantar?' Foi isso [com a letra de Whole Lotta Love], um plágio. Ainda bem que agora já foi pago. Na época, houve muita conversa sobre o que fazer. Foi decidido que a música estava tão além do seu tempo... Bem, você só é descoberto quando faz sucesso. Esse é o jogo." (Musician, June 1990, p. 47)
O reconhecimento do talento de Jimmy Page não era feito somente pelos companheiros de banda. Na época em que era músico de estúdio, Page participou de gravações de grupos como The Who e The Kinks. Keith Richards conheceu Page com a ajuda de Ian Stweart (o "sexto" stone) - aliás, Stu foi um dos poucos que participou de um disco oficial do Led Zeppelin. Jimmy Page participou de alguns discos dos Stones na década de 1960, assim como John Paul Jones. Depois do fim do Zeppelin, Richards chamou Page para ajudar no álbum "Dirty Work". Sobre a relação entre os dois, Richards lembrou uma história interessante:
"De fato, para 'Heart of Stone', Jimmy fez a demo original. Andrew [Loog Oldham, produtor] iria passar a música para outra pessoa. Assim, quando decidimos que 'nós' faríamos a música, eu copiei o solo de Jimmy (quase) nota por nota." (Guitar World, July 1986, p. 72)
Falar da história do rock é tratar de egos e de ironias. Talvez por isso seja praticamente impossível pensar numa análise freudiana no que diz respeitos os ícones deste estilo musical...
JIMMY PAGE & KEITH RICHARDS
A minha banda de rock preferida é o Led Zeppelin. Todos os álbuns são perfeitos. Encerraram a carreira no auge e pronto. As apresentações que ocorreram com os membros juntos - como no casamento de Jason Bonham, no Live Aid ou no show da Atlantic Records -, eles recusaram o uso do nome da banda. Somente em 2007, numa homenagem especial, eles usaram o nome do grupo e tocaram uma hora e meia. Foi o evento do ano na Inglaterra. Mick Jagger estava lá, para conferir o show.
Na década de 1970, havia uma rivalidade entre as bandas. No entanto, de fato, o Jimmy Page participou, como convidado, de alguns discos dos Rolling Stones, tanto nos anos 1960 como nos anos 1980. Ele tem a admiração de Keith Richards.
Felizmente, eu tive a oportunidade de ver os dois guitarristas tocarem ao vivo. Vi o Jimmy Page duas vezes e o Keith Richards cinco, todas aqui no Brasil. Em relação aos Rolling Stones, em 2006, eu havia comprado os ingressos para ver o show deles em Frankfurt, mas não foi possível fazer a viagem.
Não vi o Led Zeppelin, nem o Yardbirds, nem The Firm. Nunca vi o John Paul Jones tocar ao vivo - adoro o seu disco "Zooma", a música "Drum n' Bass" é perfeita.
OLIVEIRA, Selmane Felipe de (2014) Considerações sobre o Led Zeppelin. http://profelipe.weebly.com/zeppelin.html
PREFÁCIO
Escrevi, entre os anos de 2011 e 2014, vários textos sobre o Led Zeppelin. Resolvi, aqui, reunir todos num único bloco. Pode ser encontrada uma ou outra citação repetida (da revista Musician - por exemplo) na medida em que eu queria defender uma ideia diferente. Mesmo assim, optei em manter tudo como foi escrito originalmente. Talvez existam contradições, afinal, são textos opinativos. O que permanece claro, no entanto, é que eu considero o Led Zeppelin a maior e a melhor banda de rock de todos os tempos.
Selmane Felipe de Oliveira, Junho de 2014.
OBVIEDADES SOBRE O LED ZEPPELIN
Apesar de serem músicos talentosos, dificilmente o Led Zeppelin passaria despercebido no universo do rock n roll. Jimmy Page e John Page Jones eram músicos de estúdios, que prestaram serviços para diversas bandas de rock nos anos 1960, como The Rolling Stones e The Who, entre outros.
Robert Plant e John Bonham não eram famosos e eram bastante jovens. Jimmy Page, criador e líder incontestável do Led Zeppelin, no início, não sabia qual linha musical seguir: algo mais “folk” ou alguma coisa mais pesada. Quando Page ouviu John Bonham pela primeira vez, claro, estaria definido o som do grupo.
A ideia de formar a banda vinha de uma necessidade prática: Jimmy Page era guitarrista no Yardbirds e os outros músicos desistiram da banda e ainda faltavam shows a cumprir na Escandinávia.
Page e o empresário do Yardbirds decidiram convocar os novos músicos para cumprir o contrato.
Os primeiros shows, com a formação do Led Zeppelin, foram, assim, sob o nome New Yardbirds. O grupo teria que se apresentar com outro nome só mais uma vez e foi na Alemanha, no início da carreira porque uma senhora da tradicional família associada ao Zeppelin não admitia o uso do nome em shows no país. Com o sucesso, isso deixou de ser problema.
Jimmy Page e Peter Grant sabiam exatamente o que queriam para o Led Zeppelin. O lugar da banda tinha que ser os Estados Unidos e não a Inglaterra. Sabiam que tinham que trabalhar muito para construir uma identidade para o grupo.
Foram nove “tours” (excursões) pelos Estados Unidos entre 1968 e 1973.
Jimmy Page já era famoso antes do Led Zeppelin. Isso e a experiência do empresário Peter Grant garantiram um excelente contrato com a gravadora Atlantic.
Se na primeira “tour”, a banda passou um pouco despercebida em alguns lugares, depois da segunda excursão, não havia dúvida, todos sabiam da fama do Led Zeppelin.
Para tanto, do ponto de vista empresarial, Peter Grant adotou algumas estratégias: o grupo não apareceria na televisão (que tinha um som péssimo na década de 1970), não seriam lançados compactos (quem quisesse, teria que comprar os álbuns), fretou um avião (“The Starship”) que daria mais liberdade para o grupo nos Estados Unidos, todos deveriam evitar a imprensa e os músicos eram intocáveis (mesmo considerando as confusões envolvendo coisas como magia negra, violência, mortes, sadomasoquismo, garotas menores de idade e orgias).
O segundo álbum do Led Zeppelin foi gravado na estrada, o que significaria que, ali, seria sistematizada a imagem da banda: som pesado, letras sexuais e “blues”.
O disco mais as lendas em torno das histórias de bastidores do grupo não deixavam dúvida: nascia um mito.
O contexto histórico era a favor ao Led Zeppelin, afinal, acabara fase “paz e amor” dos anos sessenta e a nova década “pedia” novos estilos para uma nova juventude.
Não tinha como errar. E não houve erro. Led Zeppelin e década de 1970, em termos de rock n roll, tornaram-se sinônimos.
THE POWER STATION & LED ZEPPELIN
Quando ainda fazia faculdade, eu era bem radical em termos de gostos musicais: adorava som pesado e odiava “pop music”. Isso foi até um amigo, na lanchonete da universidade, elogiar o Power Station. Ele também era fã do Led Zeppelin e eu disse que ele tinha ficado louco porque os músicos do Duran Duran representavam a metade do Power Station. Ele insistiu: “cara, eu sei, mas essa banda é boa e pesada.”
Resolvi ouvir e gostei e comecei a deixar o preconceito musical de lado. Publiquei um anúncio numa revista chamada “Som Três” e escrevi que queria ter contato com pessoas que gostassem de determinados grupos, entre eles o Power Station. Para a minha surpresa, recebi diversas cartas com fotos de garotas fãs do Duran Duran. Elas eram as duranies.
Adorei, claro, afinal, algumas eram muito bonitas. Na época, me encontrei com elas principalmente em São Paulo. Fique com algumas e até cheguei a namorar uma delas. Quando o Duran veio ao Brasil em 1988, eu já sabia tudo sobre a banda (fui ao show no Rio) e foi um momento especial para todos.
Em resumo, muitos não entendem como que alguém que é fanático pelo Led Zeppelin pode ouvir uma música tão simples e “pop” como a do Duran. No meu caso, esse foi um dos motivos.
Um detalhe: o baterista do Power Station chamava-se Tony Thompson. Quando os músicos do Led Zeppelin decidiram se reunir pela primeira vez após o fim do grupo (no projeto Live Aid em 1985) escolheram o Tony Thompson para ser o baterista. O Phil Collins participou também mas porque, por algum motivo, ele queria participar de vários shows do evento tanto nos Estados Unidos como na Inglaterra. O cara mesmo era o Tony Thompson, tanto é verdade que os músicos do Led Zeppelin ensaiaram com ele para uma possível volta do grupo. O projeto foi interrompido após um acidente sofrido por Tony Thompson.
PETER GRANT & BILL GRAHAM
Bill Graham foi promotor de shows de rock nas décadas de 1960 e 1970. Tinha fama de durão e de se impor nas negociações com os empresários dos grupos de rock, exceto, claro, com Peter Grant do Led Zeppelin.
Os dois se odiavam, mas eles tinham que negociar, afinal, o Zeppelin era a maior banda nos anos 1970 e Graham era o mais importante promotor de shows nos Estados Unidos no período.
Era meio previsível que, numa hora qualquer, um atrito entre os dois iria ocorrer. E aconteceu em 1977. De acordo Chris Welch:
“Foi durante essa turnê que o incidente ocorreu e que rendeu ao grupo má imprensa e um mal-estar dentro da indústria da música. Em 23 de julho em Oakland (Califórnia), Peter Grant, o homem que fazia a sua segurança - John Bindon -, John Bonham e Richard Cole se envolveram num briga séria com um empregado do Bill Graham. Eles foram acusados de agressão e liberados sob fiança.” (The Story of Led Zeppelin. In.: HM Photo Book)
Simples?! Claro que não. Se Graham gostava de manter uma imagem de durão, Peter Grant, na prática, era esse homem, tanto que aparecem cenas dele dando broncas em várias pessoas no show do Madison Square Garden no filme “The Song Remains The Same”. Para defender os interesses do Led Zeppelin, Grant fazia de tudo, até interromper shows de outros grupos em festivais para não atrapalhar a hora de entrada de seus músicos.
Peter Grant era autoritário e violento. Não foi por acaso que quis ser retratado como um mafioso no filme oficial do Led Zeppelin. O seu braço direito – Richard Cole – era pior. Os dois mais o baterista John Bonham protagonizaram várias cenas de violências nos bastidores dos shows do grupo.
Quando ocorriam problemas com o Led Zeppelin (e eram muitos – drogas, orgias, envolvimento com garotas com menos de 18 anos, brigas e ataques violentos até contra jornalistas – que, por sinal, insistiam em falar mal do grupo -, magia negra, destruição de hotéis...), Peter Grant colocava os músicos em limousines e os encaminhavam direto para o avião particular da banda. O empresário ficava e resolvia – normalmente com muito dinheiro – o que precisava ser resolvido.
Jimmy Page tentava amenizar a fama do Led Zeppelin na década de 1970:
"Havia apenas a coisa com Bill Graham e houve só um caso de briga fora do palco. Mas eu não sei como aconteceu. Eu sei que essa coisa de vibração pesada cercou-nos, mas era mais em tom de gozação. De fato, você não poderia encontrar um homem mais gentil do que Peter Grant, mas as pessoas não compreendiam o estilo dele.” (Chris Welch, The Story of Led Zeppelin. In.: HM Photo Book)
Certamente Grant era gentil e fazia tudo por seus músicos. Entretanto (e talvez exatamente por isso), isso não significava ser cordial com os outros fora do universo do Led Zeppelin. Quanto ao incidente relatado por Chris Welch e Jimmy Page, maiores detalhes aparecem no livro “Hammer of the Gods”:
“Durante dez anos, Peter Grant e Bill Graham acusavam um ao outro serem só blefes. Em 23 de julho, a noite do primeiro show de Oakland, houve finalmente um confronto entre eles. Tudo começou com o filho de Peter Grant, Warren, que estava acompanhando a turnê. Havia uma placa escrita à mão (dizendo) 'Led Zeppelin' na porta de um dos trailers, e o jovem Grant pediu a um dos seguranças de Bill Graham se ele poderia levar a placa. De acordo com Richard Cole, o segurança empurrou Warren para mantê-lo distante. Bonzo, fora do palco por um momento, viu, aproximou-se, amaldiçoou o segurança e o chutou algumas vezes antes de voltar ao palco. Em seguida, foi dito ao Peter Grant que alguém tinha machucado seu filho, e Grant e John Bindon levaram esse segurança para dentro de um trailer, enquanto Richard Cole vigiava tudo do lado de fora. A equipe de Graham veio em auxílio do colega e foi espancada por Cole quando tentou entrar no trailer. Quando a equipe de Graham finalmente entrou no trailer, havia sangue para todo o lado, sendo que o segurança havia sido vítima de uma prolongada e firme surra. Ele, então, foi levado para um hospital.” (Stephen Davis, Hammer of the Gods, p. 197)
O Led Zeppelin ainda tocou mais duas noites no mesmo lugar. Peter Grant obrigou Graham a assinar um documento tirando a responsabilidade da equipe do Led Zeppelin no espancamento do segurança. Na medida em que tal documento não tinha valor jurídico, Graham tentou processar os envolvidos. O resultado final saiu só no ano seguinte:
“Em fevereiro de 1978, por meio de seus advogados, John Bonham, Peter Grant, Richard Cole e John Bindon procuraram se defender das acusações decorrentes do episódio no Oakland Coliseum em julho do ano anterior. Todos os quatro foram considerados culpados e obrigados a pagar multas e as penas foram suspensas. Desde que os quatro não foram obrigados a comparecer no tribunal, as acusações contra eles, de fato, nunca foram ouvidas. Bill Graham ficou furioso porque, mais uma vez, o Led Zeppeln tinha se safado perante a lei.” (Stephen Davis, Hammer of the Gods, p. 200)
Na verdade, o que importa mesmo é que todo esse clima era típico dos anos 1970. Aliás, é por isso que o Led Zeppelin tornou-se símbolo da década. As tentativas de reunir o grupo não deram certo não só por causa da morte de John Bonham – que era “o motor da máquina” – mas também pela falta de Peter Grant.
Deve ser considerado ainda que os anos 1970 acabaram. O mundo mudou. O estilo de vida do Led Zeppelin não caberia mais nas décadas seguintes. E, muito importante, ficou a lenda com uma trilha sonora perfeita. Isso não é pouco no universo do rock n’ roll.
GUITARRISTAS & VOCALISTAS
São raras as bandas que não dependem dos seus vocalistas. Quando foi lançada a edição especial de Exile On Main Street, Keith Richards achava que os Rolling Stones deveriam fazer uma tour para comemorar. Mick Jagger discordou. Não houve tour.
Jimmy Page, recentemente, após muito trabalho, lançou edições especiais dos três primeiros álbuns do Led Zeppelin. Ele também achava que o grupo deveria se reunir e fazer shows. Robert Plant, na prática, rejeitou a ideia. Page perdeu a paciência e disse numa entrevista ao The New York Times:
"Foi-me dito no ano passado que Robert Plant falou que não tinha nada para fazer em 2014, e o que os outros dois vocês achariam disto? Bem, ele sabe o que os outros caras pensam. Todos gostariam de fazer mais shows com a banda. Ele está apenas jogando jogos, e eu estou farto disso, para ser honesto com você. Eu não canto, então eu não posso fazer muita coisa. Tudo parece, portanto, muito improvável, não é? "*
É verdade. Dificilmente a tour acontecerá. Robert Plant tem seus motivos, alguns talvez nem sejam tão conscientes assim, como quando, para compreender os acidentes sofridos por sua família na década de 1970 (inclusive com a morte de seu filho Karac), disse que a má sorte do grupo na época seria culpa do envolvimento de Jimmy Page com a magia negra; ou ainda, quando era hostilizado pelos outros no início da banda, época que foi muito criticado pela imprensa dos Estados Unidos e que quase perdeu o emprego de vocalista do Led Zeppelin:
"Dos quatro membros do Led Zeppelin, Robert Plant foi o mais brutalmente criticado (...) Cole relembra: ‘Foi uma coisa muito real se Robert ficaria mesmo no grupo após a primeira turnê, porque ele não parecia atender a expectativa de Pagey. Na época, havia uma possibilidade de que ele não faria outra turnê. Essa era a verdade. " **
A situação foi invertida. A palavra final agora depende do Robert Plant (mesmo considerando que o Led Zeppelin foi sempre a banda do Jimmy Page).
(*)http://www.stereogum.com/1682190/jimmy-page-is-fed-up-with-robert-plants-refusal-to-play-led-zeppelin-concerts-meanwhile-theyre-finally-getting-sued-for-ripping-off-stairway/news/
“I was told last year that Robert Plant said he is doing nothing in 2014, and what do the other two guys think? Well, he knows what the other guys think. Everyone would love to play more concerts for the band. He’s just playing games, and I’m fed up with it, to be honest with you. I don’t sing, so I can’t do much about it. It just looks so unlikely, doesn’t it?”*
(**) Stephen Davis, Hammer of Gods, p. 64.
"Of the four members of Led Zeppelin, it was Robert Plant savagely critized. (...) Cole recalls: 'It was a very touch-and-go thing whether Robert would even be in the group after the first tour, because he didn't quite seem to make it up to Pagey's expectation. At the time, there was a possibility he woudn't do another tour. That was the truth."**
LED ZEPPELIN: SÍMBOLO DA DÉCADA DE 1970
Não existe dúvida quanto ao Led Zeppelin ser o símbolo da década de 1970. O grupo representava o oposto da geração “Paz & Amor” dos anos 1960.
Em sua trajetória, a banda esteve envolvida com violência (a maior parte envolvia o baterista John Bonham), sexo com as fãs (uma das namoradas do guitarrista Jimmy Page, na época, tinha só 13 anos de idade), misticismo (magia negra) e a condução dos negócios lembrava o autoritarismo da máfia (não foi por acaso, aliás, que foi dessa maneira que o empresário Peter Grant quis ser retratado no filme oficial “The Song Remains The Same”.
O filme “Laranja Mecânica” gerou bastante polêmica nos anos 1970. O motivo seria “o elogio” da ultraviolência do personagem principal, Alex, interpretado pelo ator Malcolm McDowell no filme do Stanley Kubrick. John Bonham se identificou tanto com o personagem que mandou fazer uma roupa idêntica a do filme e a usava nos shows do Led Zeppelin.
A identificação com o nazismo também chamava a atenção. Jimmy Page, em vários shows, fazia questão de se vestir como um oficial do “Reich”.
O nome do grupo, porém, em nada tinha a ver com essas problemáticas. Tratou-se de uma sugestão do baterista Keith Moon, que gostaria de formar um grupo que fosse, ao mesmo tempo, “pesado e capaz de voar”. O guitarrista desse grupo (imaginado por Moon) seria o Jimmy Page.
As letras das músicas do Led Zeppelin não apresentavam elogios à violência. Ao contrário, canções como “Going To California” ainda retratavam o período de “Paz & Amor”:
“Decidi fazer um novo começo,
Indo para a Califórnia com uma dor no meu coração.
Alguém me disse que há uma garota por lá
Com amor em seus olhos e flores em seu cabelo”*
Já o misticismo aparecia constantemente nas letras do grupo (e mesmo nos símbolos dos músicos, nas fotos dos álbuns e no roteiro do filme “The Song Remains The Same”). Não seria possível dissociar o grupo dos boatos de magia negra, o que era reforçado por algumas letras ambíguas.
Talvez o livro que mais reforce o que foi Led Zeppelin na década de 1970 tenha sido “Hammer of Gods”. A fonte principal das informações foi Richard Cole, braço direito do empresário Peter Grant. Deve ter ocorrido exagero numa história ou em outra, mas, claro, mesmo isso só reforçaria o mito que foi criado em torno da banda e de sua trajetória os anos 1970.
AS REUNIÕES DO LED ZEPPELIN
Todos sabem que a morte do baterista John Bonham decretou o fim do Led Zeppelin. Depois vieram as carreiras individuais e algumas tentativas de reunir o Zeppelin. Robert Plant, que sempre apareceu como o responsável pelo insucesso de tal empreitada, já disse que o problema não seria só com ele e que ele estaria disposto a fazer shows com a banda em 2014 (caso Jimmy Page e John Paul Jones aceitassem). Jones, porém, afirmou que não poderia porque estaria compondo uma ópera.
Essa história de não reunir o grupo, aparentemente, tem mais a ver com fatores externos à vontade dos próprios músicos. Em outras palavras, Page, Jones e Plant tentaram algumas vezes reunir o grupo para shows, mas sempre acontecia algo que impedia a realização do projeto.
Em 1985, houve a maior expectativa da reunião do grupo (que não usou o nome Led Zeppelin) no projeto Live Aid (os bateristas foram Phil Collins e Tony Thompson).
Com o sucesso do show, em 1986, Page, Jones, Plant e Tony Thompson ensaiaram algumas horas no Bath Studios com a intenção de reunir a banda. O projeto não deu certo na época por causa de um acidente de carro sofrido por Tony Thompson.
Em 1988, haveria uma reunião (com Jason Bonham) para a comemoração dos 40 anos da gravadora Atlantic. Em abril de 1990, eles tocaram juntos novamente no casamento de Jason Bonham. Em junho, Jimmy Page participou do show do Plant em Knebworth. Na época, Plant tentou reunir o grupo com o baterista Mike Bordin do Faith No More. No entanto, não deu certo mais uma vez porque o Page não ficou satisfeito com a performance de Bordin.
Em 1994, o Robert Plant veio ao Brasil pela primeira vez (eu vi o show no Morumbi em São Paulo). Aconteceu, neste ano, o projeto para MTV “No Quarter Unledded”, com Page e Plant. Os dois saíram para a “tour” e vieram para a América do Sul em 1996. Eu vi os shows em São Paulo e no Rio de Janeiro.
Page e Plant gravaram mais um álbum, o “Walking To Clarksdale”. Não vieram ao Brasil, mas tocaram nos Estados Unidos e na Europa, mas as datas dos shows da Austrália e do Japão foram canceladas porque o Robert Plant disse que estaria cansado do projeto.
Na revista inglesa Classic Rock (January 2001, p. 58), Jimmy Page afirmou:
“Robert disse que não quer cantar as canções do Led Zeppelin, mas eu adoro tocar a música do Zeppelin. Por mim, deveríamos estar por aí tocando as canções do grupo.”
Após a desistência do Plant, Jimmy Page reuniu com The Black Crowes para vários shows, o que resultou no álbum duplo Jimmy Page & The Black Crowes – Live At The Greek.
Em termos de reunião do Led Zeppelin, a história voltou em 2007 (usando o nome do grupo pela primeira vez), quando os músicos ensaiaram por semanas e tocaram um “set” completo que, posteriormente, foi lançado em CD e DVD, com grande sucesso. Na bateria, estava Jason Bonham.
PAUL RODGERS & JIMMY PAGE
Paul Rodgers foi vocalista do Free (década de 1960) e do Bad Company (anos 1970). Essa última banda foi uma das contratações da Swan Song, criada pelo Led Zeppelin e por seu empresário Peter Grant.
Houve uma época que o Zeppelin estava sem fazer shows e o Jimmy Page e o Robert Plant participaram de alguns shows do Bad Company. Na década de 1980, eu tive uma cópia de um pirata do grupo de Paul Rodgers nos anos 1970. No final, Jimmy Page participava tocando na música “Rock Me Baby”. Inacreditável!!! Era óbvia e maravilhosa a sonoridade da guitarra de Page (o que, claro, compensava todo o pirata do Bad Company). Na época, troquei esse e mais duas cópias de outros piratas com uma garota dos Estados Unidos. Em troca, ela enviou todas as letras do Led Zeppelin escritas a mão.
Jimmy Page, em 1980, com a perda de John Bonham e o fim do Led Zeppelin, entrou de vez no mundo das drogas. Ficou um bom tempo sem tocar guitarra.
Ao vivo, Page voltaria a tocar nos shows da ARMS, com Jeff Beck e Eric Clapton. O guitarrista do Led Zeppelin encerrava o show com uma versão acústica (e fantástica) de Stairway To Heaven (só guitarra, sem vocais). Foi neste período que tocou novamente com Paul Rodgers e resolveram criar uma banda, The Firm, que gravou dois álbuns na década de 1980.
Parece que quando Paul Rodgers fez um show solo no Brasil, ele não tocou músicas do The Firm. Pouca Importa. Nos shows da carreira solo de Jimmy Page, ele tocava músicas de todas as suas fases como Yardbirds, Led Zeppelin e, claro, The Firm.
Paul Rodgers voltou a ser notícia quando ocupou o lugar (se é que isso seria possível) do Freddy Mercury no Queen. Gravaram CD inédito e fizeram shows sob o nome de “Queen + Paul Rodgers” (na verdade, o baixista John Deacon não entrou nesta furada).
Jimmy Page, uma vez, chegou a afirmar que, em termos técnicos, o Paul Rodgers era melhor do que o Robert Plant. Talvez. Mas falta ao vocalista do Bad Company aquilo que sobraria no vocalista do Led Zeppelin: carisma (e isso conta muito no universo do rock n’ roll).
JIMMY PAGE – OUTRIDER 1988
Vi o Jimmy Page (com Robert Plant) duas vezes ao vivo, em São e no Rio de Janeiro em 1996. O meu sonho, porém, era ver um show da carreira solo do Page, como a “tour” que ele fez para o “Outrider” em 1988, quando ele tocou músicas de diferentes fases de sua carreira, como Yardbirds, Led Zeppelin, The Firm, além de músicas da trilha sonora de “Death Wish II” e, claro, músicas do “Outrider”.
Depois disto, Jimmy Page tocou e gravou com outros músicos. Gosto bastante do projeto “Coverdale-Page”, do ao vivo Jimmy Page & Black Crowes, do filme “Might Get Loud” (com Jack White e The Edge), dos álbuns Jimmy Page & Robert Plant e, claro, do CD-DVD “Celebration Day”.
Contudo, para quem é realmente fá do músico, como é o meu caso, nada seria tão satisfatório como ver um show solo dele, com Page tocando canções de todas as suas fases, mostrando a sua contribuição para o universo do rock n’ roll.
O CASO DE “WHOLE LOTTA LOVE”
Primeiro, Robert Plant admite que a polêmica foi por sua causa, nas letras, e que a música de Jimmy Page nada teria a ver com o plágio (hoje o nome do Willie Dixion já aparece nos créditos:
“O som do Page sempre foi o som do Page. Ele estava lá antes de qualquer coisa. Diante da música do Page, eu pensei: ‘bem, o que eu vou cantar?’ Foi só isso.” No original: “Page’s riff was Page’s riff. It was here before anything else. I just thought, ‘Well, what am I going to sing? That was it, a nick.” (Musician, June 1990, p. 47)
Segundo, Robert Plant reconhece a importância da música e por isso tenta justificar o plágio nas letras:
“‘Whole Lotta Love’ representou um avanço no rock ‘n’ roll. Se a outra não tivesse sido roubada, a música não pareceria tão boa. O erro foi não dar os créditos ao Dixion na época.” (Musician, June 1990, p. 47)
Terceiro, Robert Plant admitiu ainda que copiou o estilo de Steve Marriot em “Whole Lotta Love”:
“Foi engraçado ouvir o Robert admitindo que ele imitou o estilo de Steve Marriott em ‘Whole Lotta Love’. Não é engraçado que Jimmy queria tanto que o Steve Marriott fosse o vocalista e ao invés disso conseguiu um imitador do Steve Marriott?” (April 25, 2014. By: http://www.ledzeppelinnews.com/)
Pode parecer que fico no pé do vocalista do Led Zeppelin. Mas eu acho a banda perfeita!! Eu só não gosto quando o próprio Plant fala mal do Zeppelin por saber que a grande estrela e responsável pelo som da banda era o Jimmy Page.
Aliás, acho razoável o Robert Plant recusar fazer shows com Page, Jones e o Jason Bonham utilizando o nome do Led Zeppelin. Isso não é só porque a sonoridade e a criatividade de John Bonham eram únicas. Muitos esquecem a importância do empresário Peter Grant na história do Led Zeppelin. O mito em torno do grupo não aconteceria sem a maneira “particular” de Grant lidar com os negócios da banda.
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Sobre a reunião do grupo, o assunto seria discutido novamente em 2013, mas de uma forma diferente. Robert Plant admitiu, no programa “60 Minutes”,* que voltaria a reunir com Jimmy Page e John Paul Jones.
Na época, quem descartou a possibilidade foi Jones, afirmando que tinha que compor uma ópera. A seguir, as palavras de Robert Plant na entrevista:
“Os outros dois são de capricórnio... Eles estão confortáveis em seus próprios mundos e deixaram para mim o papel de... [‘bad guy’?] Eu não sou o garoto mal da história... [mas você é para os fãs do Led Zeppelin quando o assunto é reunir o grupo...] Nós necessitaríamos falar com os dois capricornianos porque eu não tenho nada para fazer em 2014... [voltaria a fazer shows com o Led Zeppelin?] Yeah, se você encontrá-los (Jimmy Page e John Paul Jones)... Sim.”*
(*) Robert Plant to Jimmy Page – I am available in2014.http://www.youtube.com/watch?v=erQZRlFeGOM
JASON BONHAM E O LED ZEPPELIN
Imagine ter aprendido a tocar bateria com o seu pai, John Bonham, e ter convivido na infância e na adolescência com “tios” como Jimmy Page, John Paul Jones, Robert Plant e Peter Grant. Jason Bonham foi esse garoto.
Deve ser considerado que na sua perspectiva, Bonzo era o “dad” que vivia com a família numa fazenda na Inglaterra e, durante alguns meses, viajava para trabalhar com a sua banda. Isso quer dizer que Jason (e nem o resto da família) fazia ideia do que efetivamente acontecia nos bastidores dos shows do Led Zeppelin, quando Bonzo transformava-se em “The Beast” (por causa dos excessos com bebidas, drogas, mulheres e brigas).
Jason conhece os piratas do grupo e o que eles tocaram em quase todos os shows. Ele é meio uma enciclopédia do Led Zeppelin. Nem podia ser diferente. Aqui está o seu dilema. Ele nunca se libertará da “figura paterna”. Talvez nem queira.
Após algumas experiências depois do fim do Led Zeppelin (inclusive ter criado um grupo com Paul Rodgers, The Firm), Jimmy Page gravou o seu disco solo “Outrider” e saiu em uma “tour” pelos Estados Unidos. Robert Plant cantou em uma faixa do álbum. Page havia participado também dos discos solos do Plant, que naquela época (1988) começava a se livrar do trauma do passado e começava a cantar músicas do Zeppelin em seus shows. O baterista do projeto do Jimmy Page era o Jason Bonham.
Se for comparar, é completamente diferente a atuação de Jason nos shows de “Outrider” e sua performance no evento do O2 Arena em 2007. Fica claro que ele era o músico ideal para tocar em qualquer show que se usasse o nome “Led Zeppelin”. Ele sabe tudo sobre a banda e é um ótimo baterista. Entretanto, quando ele faz um solo de bateria dele mesmo no show de “Outrider”, em termos de criatividade, o que se vê ali seria muita limitação e nem de longe poderia ser comparado com as inovações do pai (principalmente ao vivo) em “Moby Dick”.
Jason nunca será John Bonham. Robert Plant, de certa forma, explicou isso a ele quando definiu o que era o Led Zeppelin. Não precisava. Provavelmente Jason (contrariando a teoria freudiana) nunca tenha acreditado, de fato, que poderia substituir o pai.
O VOCALISTA DO LED ZEPPELIN
Robert Plant, aparentemente, sempre teve problema com a autoridade da figura paterna.
Primeiro, só convenceu o pai de que realmente fazia uma atividade econômica quando saiu um nota do Led Zeppelin no jornal "Financial Times".
Segundo, durante o período do Zeppelin, ele sempre foi comportado e obedecia as decisões do grupo, especialmente do líder Jimmy Page.
Por que ele tinha esse comportamento? A origem do Led Zeppelin estava no Yardbirds, que ainda possuía contratos para shows mas havia ficado no grupo só o guitarrista Jimmy Page e o empresário Peter Grant.
No filme "The Song Remains The Same", quando aparece a "fantasia" de Grant, ele é mostrado como um mafioso. Nada poderia ser mais apropriado. Ele cuidava dos bastidores do grupo com mão de ferro. Ninguém ousava enfrentá-lo. Protegia a sua banda, muitas vezes, de forma truculenta passando por cima de outros músicos ou grupos em festivais ou até mesmo sobre as autoridades. Era um homem de negócios e fazia tudo para proteger os quatro músicos - para que eles se concentrassem só em fazer música. O resto era com ele.
Nesse ambiente, nem John Bonham, que era conhecido como "a besta" por causa da sua violência e falta de controle nos bastidores, ousava enfrentar Peter Grant. Havia uma autoridade no Led Zeppelin além dos músicos. Era considerado o quinto elemento do grupo - tanto é verdade, que no filme oficial da banda só aparecem as sequências de fantasias dos músicos e dele, Peter Grant.
Durante os doze anos do Led Zeppelin, Robert Plant foi o vocalista, letrista e se enquadrava perfeitamente no espírito de grupo, sem estrelismo.
Tudo mudou o a morte de John Bonham e o fim do Led Zeppelin.
Robert Plant queria construir uma carreira solo como se o Zeppelin não tivesse existido na sua vida. Nas tours dos primeiros discos solos, ele recusava tocar qualquer música do Led Zeppelin.
Tentou outras sonoridades. Tentou construir outra identidade. Não foi possível.
Tanto nos álbuns como ao vivo, Plant voltaria a utilizar o material do Zeppelin. Em seus shows, as músicas da antiga banda eram as mais esperadas e ele as cantava, exceto "Stairway To Heaven".
O problema do Robert Plant com dependência de uma figura paterna reapareceu quando ele foi convidado a fazer um "unplugged" para a MTV. Não fez sozinho. Convidou Jimmy Page para acompanhá-lo. Dessa parceria, além dos shows, foram produzidos dois álbuns.
Após este período, Plant voltou para a sua carreira solo, tentando se livrar do fantasma de ter sido o vocalista de uma grande banda liderada por Jimmy Page. Chegou ao ponto, em seus shows de 2012, de apresentar versões do Led Zeppelin como se não existisse o som da guitarra - que era a base de tudo.
Robert Plant faz piadas com o passado e menospreza um dos maiores grupos que existiu na história do rock. Entretanto, de fato, continua cantando "Black Dog" ou "Rock and Roll" como se fosse o inexpressivo cantor da banda formada por Jimmy Page para substituir o Yardbirds.
Plant conseguiu manter o emprego no Zeppelin depois das críticas que sofreu na primeira tour pelos Estados Unidos. Não precisou ser mais um "office boy" que ia buscar sanduíches para o Jimmy Page e o Richard Cole (assistente de Peter Grant) numa piscina de hotel. Foi acusado e admitiu que plagiava em algumas letras.
A verdadeira trajetória de Robert Plant não lhe dá autoridade de criticar o Led Zeppelin, o Jimmy Page ou o John Paul Jones, algo que fez inúmeras vezes. O Led Zeppelin deu-lhe a oportunidade de ser um dos ícones do rock. Ele deve isso ao John Paul Jones, Peter Grant, John Bonham e sobretudo ao Jimmy Page.
As bobagens que Plant diz no período da sua carreira solo, ele não ousava falar enquanto o Led Zeppelin estava na ativa. O que ele ridiculariza hoje, ele deveria falar (na época) na cara do Peter Grant, Jimmy Page, John Paul Jones e John Bonham. E coragem para tanto? Existe uma palavra simples que define esse tipo de comportamento: traição.
ROBERT PLANT 2012
Como tocar uma música do Led Zeppelin sem destacar o som da guitarra de Jimmy Page?
Robert Plant é um caso freudiano.
Se quer "esquecer" mesmo o Jimmy Page, não deveria tocar as músicas do Led Zeppelin.
Deveria tocar as músicas do seu grupo anterior - Band of Joy - cuja sonoridade tem mais a ver com o seu estilo atual.
Por que não faz isso? Simples: o apelo comercial do Led Zeppelin é maior do que a da Band of Joy.
O Led Zeppelin é maior do que o Robert Plant e a síntese do Led Zeppelin é o guitarrista Jimmy Page.
Sem participar do Led Zeppelin, Plant estaria até hoje cantando em pubs ingleses.
Portanto, ele deveria AGRADECER ao Jimmy Page e NÃO tentar ESQUECER a sonoridade brilhante das guitarras do Page nas músicas do Zeppelin.
AINDA... ROBERT PLANT...
... sobre essa coisa de quem copiou quem, olha o comentário de Robert Plant, na introdução de uma música, em 2007, no filme "Celebration Day":
"Em 1935, Robert Johnson gravou uma música chamada 'Terraplane Blues' e... isso apareceu em vários outros momentos com vários outros artistas desde então... Talvez Johnson a copiou de outra pessoa, certeza, todo mundo acha isso... Essa é uma do Led Zeppelin estilo 'Terraplane Blues'... O nome da música é 'Trampled Underfoot'...”
LED ZEPPELIN, GROUPIES & SM
Os músicos do Led Zeppelin eram os que mais se relacionavam com as "groupies", em orgias e namoros (apesar de serem casados na Inglaterra). Jimmy Page, por exemplo, se envolveu com Lori Maddox quando ela tinha apenas 14 anos.
Sobre esse período e o guitarrista do Led Zeppelin, Pamela Des Barres afirmou:
"Jimmy carregava chicotes e gostava de infligir algum dano nas meninas. Ele também desenvolveu um hábito de visitar clubes de travestis, vestido em uniforme nazista e aplicava heroína cercado por drag queens. Se brincadeira saísse de controle, Page seria levado de volta para o hotel pelo tour manager e acorrentado num 'toilet' até que ele se acalmar."
No livro "Hammer of Gods" aparece a opinião de Jimmy Page sobre as "groupies":
“As garotas aparecem e posam de starlets, provocando e agindo de maneira arrogante. Se você as humilha um pouco, costumam voltar numa boa. Todo mundo sabe para o que elas vieram.”
Dizer "se você as humilha um pouco", de certa forma, confirma a depoimento de Pamela de Barres. Mais do que isso, como afirmei em outro texto, Jimmy Page gostava de usar um "Nazi SS Storm Trooper Hat" em shows do Led Zeppelin - acessório usado ainda em práticas de sadomasoquismo (SM).
Sobre estas problemáticas, numa entrevista com Tony Barrell em 2010, o guitarrista afirmou:
"Eu tenho certeza que alguns de seus leitores podem ter flertado com o SM. (...) Eu tenho um apetite voraz por todas as coisas desse mundo ou não ('unworldly')."
Em uma resposta bastante vaga, de fato, Jimmy Page não negou o seu interesse pelo SM. Como ele mesmo disse, todos "sabiam para o que elas vieram", ou seja, os músicos se sentiam livres para fazer qualquer coisa com as "groupies".
Tudo ocorreu na década de 1970. Hoje, certamente, com tantas restrições à liberdade do indivíduo, seria difícil ver músicos e "groupies" agirem daquela maneira. Claro que muitos tentaram copiar o Led Zeppelin nas décadas seguintes, tanto em relação à música como no que dizia respeito ao comportamento. Entretanto, a maioria falhou.
ROBERT PLANT & LED ZEPPELIN
Robert Plant, no início de sua carreira solo, queria produzir algo independente do seu passado com o Led Zeppelin. Nos shows, não tocava músicas de sua ex-banda. Os três primeiros álbuns refletem essa fase: Pictures At Eleven (1982), The Principle Of Moments (1983) e Shaken 'n' Stirred (1985).
Plant participaria do Live Aid com Jimmy Page e John Paul Jones. Tocaram três músicas do Led Zeppelin, sem, contudo, utilizar o nome do grupo.
Somente em 1988, sobretudo com a influência de Phil Johnstone, Plant começaria, de fato, a assumir a influência do Zeppelin em sua carreira solo, contando, inclusive, com a participação de Jimmy Page em duas faixas de "Now And Zen".
Depois viria o álbum "Manic Nirvana" (1990) com fotos na capa que poderiam ter sido retiradas de shows da década de 1970.
A "tour" de "Fate Of Nations" (1993) passou pelo Brasil em janeiro de 1994. Vi o show do estádio do Morumbi. Muito bom. Havia uma mistura das canções da carreira solo e de músicas do Zeppelin.
Posteriormente, Plant foi convidado pela MTV para fazer um "unplugged". Sem o fantasma do ex-grupo (e talvez por insegurança mesmo), ele convidou o guitarrista Jimmy Page para participar do projeto. O resultado da parceira foram os álbuns "No Quarter" (1994) e "Walking Into Clarksdale" (1998). "Mighty ReArranger" viria em 2005. No entanto, só em 2007 - e, mais uma vez, Plant não estaria sozinho - viria o premiado e excelente "Raising Sand", com Alison Krauss.
No final de 2007, em 10 de dezembro, o vocalista faria outra reunião com os ex-companheiros para um show de duas horas em homenagem ao Ahmet Ertegun na O2 Arena em Londres. Na bateria, estava Jason Bonham. A novidade seria o uso pela primeira e única vez do nome Led Zeppelin. Foi um grande sucesso, o que levou aos questionamentos de uma possível "tour" (que foi recusada por Plant, que preferiu fazer os shows com Alison Krauss). O produto (CDs/DVDs) de 2007 somente seria lançado em 2012.
Em 2010, veio "Band Of Joy" e recentemente a "tour" com a "Sensational Space Shifters" (que passou pelo Brasil, assim como a "No Quarter Tour").
Próximo passo? Robert Plant afirmou que está chegando numa idade que precisará de ajuda para atravessar a rua. Aposentadoria? Provavelmente não. Foi só mais uma desculpa para não fazer mais shows com os ex-companheiros do Led Zeppelin.
O TEMPO DO ZEPPELIN
O tempo do Led Zeppelin pode ser exato (1968-1980) ou não.
Foram seis semanas de ensaios para o extraordinário show no O2 Arena em 2007.
Foram, depois, mais cinco anos para produzir e lançar o show em filme e CDs. John Paul Jones fez uma referência ao conceito de tempo do Zeppelin, algo como 5 anos significariam 5 minutos.
Apesar de todo o tempo gasto e do sucesso do show de 2007, foi um único show e pronto.
Houve propostas milionárias para uma "tour", mas o vocalista Robert Plant recusou a ideia. Os outros três membros até pensaram nesta possibilidade, mas logo John Paul Jones formaria o Them Crooked Vultures com Josh Homme e Dave Grohl e o projeto não iria para frente.
De fato, Jason, o filho de John Bonham, já havia tocado com o Led Zeppelin algumas vezes, inclusive no dia do seu casamento. Não havia novidade.
Foi o baterista do álbum e da "tour" do "Outrider" do Jimmy Page. Jason Bonham conhece praticamente todos os piratas do Zeppelin e sabe exatamente como o seu falecido pai criava e tocava as músicas. Neste sentido, a sua performance no O2 Arena foi perfeita.
Como estilo próprio, no entanto, Jason nunca foi nem criativo e nem tão competente como o pai - basta ver, por exemplo, o seu solo de bateria em algum show da "tour" de "Outrider".
Ainda no que diz respeito ao sucesso de O2 Arena, merece destaque um depoimento de John Paul Jones: "O show parecia ser o primeiro de uma 'tour'." ("The show was felt like the first show of a tour.")
Não foi o que aconteceu. O Led Zeppelin foi uma banda da década de 1970 formada por quatro músicos que contavam com o apoio fundamental do empresário Peter Grant. Não foi por acaso, afinal, que no filme oficial do grupo em 1976 - "The Song Remains The Same" - apareciam cinco sequências de "fantasias": Grant, Robert Plant, Jimmy Page e John Bonham.
Com as mortes do baterista e do empresário, talvez realmente não teria sentido fazer uma "tour" ou mesmo gravar material inédito.
Assim, mesmo que por motivos pessoais, a decisão de Robert Plant preservou a memória da banda e reforçou o mito de um dos maiores grupos de rock da história.
DAZED AND CONFUSED
Algumas pessoas acreditam que "descobriram a América" ao fazer comparações das músicas do Led Zeppelin com antigas canções de blues.
O caso mais famoso foi o de "Whole Lotta Love". Posteriormente, Robert Plant reconheceu o plágio nas letras e o nome de Willie Dixion passou a constar nos créditos da música.
Escrevi um texto, uma vez, no qual tratava das limitações do letrista Plant diante da genialidade musical de Jimmy Page.
Mas... e "Dazed and Confused"? Escrevi que esse poderia ser plágio de Page na medida em que o guitarrista do Led Zeppelin sempre admitiu que não escrevia letras para as músicas.
Apesar disto, nunca houve processo contra Jimmy Page. Somente em 2010, décadas depois, Jake Holmes tentou processar Page.
Contudo, havia certas contradições no processo.
Primeiro, comparando o que seriam as duas versões, no website TMZ*, é dito: "os versos são diferentes". Ou seja, exatamente na parte que Jimmy Page poderia plagiar, ele foi original.
Segundo, Page sempre teve uma dedicação especial para essa canção. Se, em 1969, ela tinha pouco mais de 6 minutos, na sua versão ao vivo de 1973 - que aparece no filme "The Song Remains The Same" - ela chega a quase meia hora, ocupando um lado inteiro de um dos dois LPs lançados em 1976.
Terceiro, se era cópia, por que esperar mais de 40 anos para processar o guitarrista do Zeppelin? A pergunta e "a resposta" aparecem no mesmo website:
"o advogado de Jake Holmes não quis comentar." ("His attorney had no comment.")*
Sim, é inacreditável. Portanto, para buscar "a verdadeira" autoria de "Dazed and Confused", o susposto músico terá que apresentar um argumentação melhor. Enquanto isso, vale o que sempre existiu: a música e a letra são de um único autor: James Patrick Page.
* http://www.tmz.com/2010/06/29/led-zeppelin-dazed-and-confused-jimmy-page-lawsuit-jake-holmes/
DAVE GROHL & LED ZEPPELIN
Eu sou fã do Led Zeppelin, fui membro de um fã-clube dos E.U.A, "Feathers in the Wind", e coordenei o jornal "The Rover" (1984-1986) aqui no Brasil.
Digo isso pois acho que chega a ser constrangedora a "veneração" de Dave Grohl quanto aos músicos da banda.
É verdade que a primeira vez que vi o Jimmy Page tocar ao vivo em São Paulo (com Robert Plant) fiquei tão impressionado que não lembro coisa alguma do show!!! Depois vi o show do Rio, e foi tudo OK.
Aliás, o meu primeiro disco do Led Zeppelin foi presente do meu pai em 1976 (ano do lançamento do LP). Com o salário do meu primeiro emprego, comprei o "In Through the Out Door" em 1979 (também ano do lançamento do disco).
Bons tempos? Para o Led Zeppelin, provavelmente. Para mim, a barra era muito pesada na década de 1970.
LED ZEPPELIN
Acreditar num discurso imediatamente é ingenuidade.
Avaliar o Led Zeppelin SÓ pelas letras seria como avaliar a brilhante seleção de futebol de 1970 SÓ pela atuação do goleiro Félix, que era o seu ponto mais frágil.
Isso não é crítica, é manipulação.
Na verdadeira crítica, o indivíduo deve analisar os pontos mais fortes da obra de uma artista e demonstrar que eles eram equivocados.
Dizer que o Jimmy Page não era original, é desconhecer o seu passado de músico de estúdio, quando era chamado para tocar aquilo que os músicos de bandas como The Rolling Stones, The Who e The Kinks não conseguiam.
O próprio Robert Plant sempre admitiu que as letras eram a parte fraca da música do Zeppelin. Ele não copiava só os outros, ele plagiava a si mesmo como nas letras de "Since I've Been Loving You" e "Tea For One." A explicação para tanto plágio nas letras estava justamente na criatividade de Jimmy Page, como Robert Plant destacou uma vez:
"Page's riff was Page's riff. It was there BEFORE ANYTHING ELSE. I just thought. 'Well, what am I gonna to sing?' That was it, a nick." (Musician, June 1990, p.47)
Sim, Page CRIAVA a música mas o Plant NÃO criava a letra. Ele copiava. Era isso.
Jimmy Page sempre admitiu a sua incapacidade de escrever letras. Logo, "Dazed and Confuzed" não poderia ser só dele. Esse foi o seu plágio.
THE ROVER
Eu sempre fui fã do Led Zeppelin. Houve uma época que não havia fã-clube do grupo no Brasil. Então, decidi criar The Rover, que foi um fanzine trimestral - existiu entre 1984 e 1986. Eu datilografava o jornal e traduzia as matérias. No final, colocava as fontes e os agradecimentos quanto aos que me ajudavam naquele volume.
Havia as "newsletters", com uma folha apenas. Elas eram enviadas quando havia algo especial, como uma entrevista e alguma notícia de última hora. Eu assinava um jornal norte-americano chamado Feathers in The Wind, que era uma fonte importante sobre as atualidades dos músicos do Zeppelin.
No período - 1984-1986 -, o computador pessoal não era comum e não havia internet. Eu estudava inglês, francês e alemão, mas ainda cometia muitos erros em relação ao português - que apareciam no The Rover. No Brasil, os shows de bandas internacionais eram raros - o que mudaria com o Rock in Rio em 1985. Estive lá para prestigiar "a noite do heavy metal", com Whitesnake, Ozzy Osbourne, Scorpions e AC/DC.
O surgimento de outros fã-clubes do Led Zeppelin no Brasil e o fim do jornal Feathers in The Wind foram os principais fatores que levaram-me a encerrar as atividades do The Rover.
EGOS E IRONIAS NO ROCK
O Led Zeppelin foi formado por dois experientes músicos de estúdio - Jimmy Page e John Paul Jones - e dois jovens desconhecidos - Robert Plant e John Bonham), sendo que um revolucionaria o jeito de tocar bateria e definiria, de certa maneira, o caminho que o grupo iria tomar (inicialmente, Page havia pensado em formar um grupo mais acústico, "folk").
O mais inexpressivo no começo da banda era o vocalista Plant - tão inexpressivo, que, na época, o assistente do empresário do Led Zeppelin, Richard Cole (sim, aquele indivíduo de bigode que leva uma bronca enorme de Peter Grant no filme "The Song Remais The Same") mandou o vocalista comprar sanduíches para o pessoal do grupo (ver o livro "Hammer of Gods"). Claro que logo essa situação mudaria e Robert Plant seria um dos destaques do Zeppelin e um dos ícones do rock.
Depois do fim da banda, Plant gostava, algumas vezes, de fazer trocadilhos ou falar mal do Led Zeppelin. Talvez ele nunca tenha esquecido a humilhação de Richard Cole... Quando fez o seu primeiro disco solo, "Pictures of Eleven", ele o mostrou para os ex-companheiros Page e Jones. Page aprovou. Jones fez críticas:
"Bem, ah, eu pensei que você poderia ter feito algo um pouquinho melhor, velho amigo." Ao que Plant respondeu: "bem, obrigado. E mais uma vez, eu sou apenas o cantor das músicas." (Guitar World, July 1986, p. 64)
Robert Plant não esqueceria as críticas de John Paul Jones. Quando resolveu fazer o "unpplugged" da MTV do Page e em seguida grava dois álbuns e realizar duas tours, Plant responderia ao baixista do Zeppelin. Sempre que era questionado por que Jones não havia sido convidado para participar do projeto, Plant respondia com alguma piada ou ironia, como "Jones ficou lá fora estacionando os carros..."
Quando Jimmy Page fez o projeto com David Coverdale, Robert Plant o criticou bastante, sobretudo afirmando que Coverdale o imitava e que se o que ele (Plant) fazia na época (do Zeppelin) já era ridículo, imagina o que sobraria para os plagiadores.
Robert Plant exagerava, claro, e não poupava nem a si mesmo. As ironias quanto à importância do Led Zeppelin devem vir do fato de que tudo na banda era criado e controlado por Jimmy Page. Não havia dúvidas de que se tratava do grupo de Jimmy Page. Plant era "apenas o cantor das músicas." Apesar de ter feito letras interessantes, como "That's the Way", "Going to California" e "The Rain Song", o vocalista era acusado de plágio. A sua justificativa seria que nem sempre dava para acompanhar a criatividade musical de Jimmy Page. Ou seja, o guitarrista chegava com a música e ele tinha que criar a letra. Nas palavras do próprio Robert Plant:
"O 'riff' do Page é o 'riff' do Page e pronto. Ele estava lá antes de qualquer coisa. Daí, eu pensava: 'bem, o que eu vou cantar?' Foi isso [com a letra de Whole Lotta Love], um plágio. Ainda bem que agora já foi pago. Na época, houve muita conversa sobre o que fazer. Foi decidido que a música estava tão além do seu tempo... Bem, você só é descoberto quando faz sucesso. Esse é o jogo." (Musician, June 1990, p. 47)
O reconhecimento do talento de Jimmy Page não era feito somente pelos companheiros de banda. Na época em que era músico de estúdio, Page participou de gravações de grupos como The Who e The Kinks. Keith Richards conheceu Page com a ajuda de Ian Stweart (o "sexto" stone) - aliás, Stu foi um dos poucos que participou de um disco oficial do Led Zeppelin. Jimmy Page participou de alguns discos dos Stones na década de 1960, assim como John Paul Jones. Depois do fim do Zeppelin, Richards chamou Page para ajudar no álbum "Dirty Work". Sobre a relação entre os dois, Richards lembrou uma história interessante:
"De fato, para 'Heart of Stone', Jimmy fez a demo original. Andrew [Loog Oldham, produtor] iria passar a música para outra pessoa. Assim, quando decidimos que 'nós' faríamos a música, eu copiei o solo de Jimmy (quase) nota por nota." (Guitar World, July 1986, p. 72)
Falar da história do rock é tratar de egos e de ironias. Talvez por isso seja praticamente impossível pensar numa análise freudiana no que diz respeitos os ícones deste estilo musical...
JIMMY PAGE & KEITH RICHARDS
A minha banda de rock preferida é o Led Zeppelin. Todos os álbuns são perfeitos. Encerraram a carreira no auge e pronto. As apresentações que ocorreram com os membros juntos - como no casamento de Jason Bonham, no Live Aid ou no show da Atlantic Records -, eles recusaram o uso do nome da banda. Somente em 2007, numa homenagem especial, eles usaram o nome do grupo e tocaram uma hora e meia. Foi o evento do ano na Inglaterra. Mick Jagger estava lá, para conferir o show.
Na década de 1970, havia uma rivalidade entre as bandas. No entanto, de fato, o Jimmy Page participou, como convidado, de alguns discos dos Rolling Stones, tanto nos anos 1960 como nos anos 1980. Ele tem a admiração de Keith Richards.
Felizmente, eu tive a oportunidade de ver os dois guitarristas tocarem ao vivo. Vi o Jimmy Page duas vezes e o Keith Richards cinco, todas aqui no Brasil. Em relação aos Rolling Stones, em 2006, eu havia comprado os ingressos para ver o show deles em Frankfurt, mas não foi possível fazer a viagem.
Não vi o Led Zeppelin, nem o Yardbirds, nem The Firm. Nunca vi o John Paul Jones tocar ao vivo - adoro o seu disco "Zooma", a música "Drum n' Bass" é perfeita.